quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Boas Festas
sábado, 19 de dezembro de 2009
Mãe Natureza
Mãe natureza a quem muito amo
Que me servis de regaço e consolo
No teu seio me espraio languidamente
Das tuas entranhas eu clamo
Quando ruges com terror do solo
Mostrando o teu poder intensamente
No Mundo de uma selva densa me envolvo
Por caminhos desconhecidos viajo
Na procura do teu ser maravilhoso
Espaços em que o verde e o belo é o meu enlevo
E onde encontro desde a flor ao soajo
Em campos de intenso terroso
Por mares profundos me aventuro
Na procura daquilo que me fascina
A vida de outros seres diferentes
De um outro mundo com futuro
Que vai para além da minha sina
De servir interesses remanescentes
Oh bendita maravilha que és de todos
Tens biliões de filhos espalhados
Como tantos te amam, outros te odeiam
Tu que te renovas de todos os modos
Mesmo para os falsos e falhados
Que são tantos que te enxameiam
Tua bondade vai mais longe que o amor
Teus infindáveis encantos jamais perecerão
Tu que nos dás a água para saciar
O calor que aquece aqueles que têm tremor
A sombra para o sol ardente de verão
As idílicas paisagens para apreciar
Malditos aqueles que não te respeitam
Que se servem de ti sem repugnância
Em troca do vil metal espezinham direitos
Os direitos que todos os povos anseiam
Para ter uma vida em abundância
Que tu sempre concedeste aos eleitos
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Pétalas caídas
De pétalas caídas no caminho
É agora o sentido da minha vida
Quantas rosas deixei envelhecer
Pelo medo que me tolhia cada espinho
Que se atravessa na carne ferida
De cada vez que acordo ao amanhecer
Aquele fogo que outrora me consumia
Não passa agora de uma pequena chama
Prestes a apagar-se pela tua ausência
Está tão fraca e quase não alumia
De nada serve eu ter uma boa cama
Não estando lá aquela que comigo dormia
Quando olvido tua face fria e pálida
Que era sedosa e de cor ruborizada
Sinto um enorme vazio no coração
E recordo aquelas noites até madrugada
Passadas ao teu lado, minha amada
Onde se misturava o amor com a emoção
A vida que antigamente nos uniu
Hoje mantém-nos tão distantes
Foi algo de belo que passou docemente
Um amor sublime que não se sumiu
Mas que já não é como dantes
Por mais que eu me esforce e tente
Choro amargamente a minha desdita
Por não conseguir reaver os teus carinhos
E o toque macio que me percorria
Como o afagar de tua mão bendita
Os ternos e prolongados miminhos
De mulher que sabia o que queria
De raiva e dor são os meus dias
Vivo do murmúrio das tuas juras de amor
Que então me fizeste e não cumpriste
Anseio pela chegada das noites tardias
Pelas manhãs longe de qualquer temor
Para encontrar um amor que me conquiste
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Silêncios
Daquilo que falo e não devo
Do que oiço e não entendo
De tudo o que não dizem os compêndios
Mas sobre os quais eu escrevo
Por vezes ostracizando quem está lendo
O silêncio em meu redor é ensurdecedor
Daqueles que choram por falta de sustento
Dos que não tem alimento do saber
Enquanto outros remoem a dor
Pela falta de um poderoso alento
Ao sentirem que nada podem fazer
Que mundo de silêncios atroz
Que sociedade azeda e amarga enfrentamos
Onde devia haver amor está o ódio
Nosso barco não passa de uma casca de noz
Num mar de ondas em que volteamos
De uma vida que parece um nó górdio
Crianças famintas brincam na rua
Sedentas e andrajosamente vestidas
Olham-nos com temor e estendem a mão
Esboçam um sorriso triste de uma face crua
Já enrugada pelas fortes investidas
De uma vida que apenas conhece o não
O não de uma carência quase total
De vidas esquecidas e amarguradas
Por aqueles que tudo tem e usufruem
Embora sabendo que o seu destino é fatal
Mas não prescindem de pequenos nadas
Para socorrer os que nada tem
Silêncio no negrume de noites malditas
Em que se tornou a vida de muitos seres
Pela falta de pão, amor, justiça, ensino e paz
Algumas das muitas e negras desditas
Que atingem milhões sem haveres
Que o Mundo não cala por não ser capaz
sábado, 10 de outubro de 2009
O pastor
Ainda a noite não se extinguiu
Vês pela janela novo dia a despontar
A chicória está pronta, ainda a ferver
Num prolongado gole ela sumiu
Estás pronto para começar a trabalhar
Desces os degraus da escada a correr
Vais ao curral contar o gado
O cão sentiu e já te acompanha
Abana a cauda só por te ver
É a sua expressão para dizer obrigado
Por mais um dia de campanha
A cancela do redil está aberta
O rebanho atropela-se ao sair
O cão late com grande veemência
Procura manter a ordem e o alerta
Para que nenhuma possa fugir
De uma determinada confluência
Cobertor às costas e de sacola pendurada
Avanças pausadamente terreno fora
Apoiado no cajado com dupla função
Percorres mil caminhos de uma virada
Na procura dos pastos de outrora
Que agora são tão só desilusão
Ao frio e à chuva ou com o calor do sol
Teus dias são sempre iguais
Teu rosto enrugado de vida madura
Revela sacrifícios e penas sem rol
Em trabalho nada parecido com os demais
Mas que é feito de amor e ternura
Conheces todas as tuas ovelhas
Chamas por elas uma a uma
Também o Senhor é Pastor
Sabe e conhece cada uma delas
Tal como tu não perdes nenhuma
Ele as recolhe com todo o amor
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Por do sol
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O horizonte cingiu-se de tons dourados
Com uma réstia de sol a espraiar-se nas águas
Caminho ao longo da praia vagarosamente
Piso a areia fina com mil cuidados
Oiço a água límpida a embater nas fragas
Como pensamentos vagos na minha mente
Perscruto o por do sol no horizonte
Sinto o doce afagar das águas tépidas
Meus pés estão cansados de tanto calcorrear
Começo a sentir suores na fronte
Foi das longas e vertiginosas corridas
Para melhor sentir a brisa do mar
Por momentos deixo-me enlear
Pelo mavioso chilrear das aves nas margens
Enquanto a vegetação se verga ao poder do vento
Meus sentidos captam os ruídos do mar
Em terno e saudoso lamento pelas virgens
A quem concedeu o último momento
Olhando para trás só avisto o areal
Vazio de pessoas que chegaram ao amanhecer
Foi um dia pleno de vida a fervilhar
Movimentos contínuos de um vaivém real
Em lugar aprazível para permanecer
Mas onde agora me encontro isolado a meditar
Sentado e de olhar fixo no por do sol
É a minha posição preferida para reflectir
Penso naquelas crianças mais desvalidas
De todos os continentes e cores sem rol
Que da vida apenas tiveram o porvir
Pois continuam a ser totalmente esquecidas
Como o ser humano é ingrato com o semelhante
Todos ansiamos por maior e melhor bem-estar
Mas olvidamos aqueles que nada têm
Orgulhamo-nos de pertencer à classe pensante
E não somos capazes de soletrar
O verbo amar a favor de outrem
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Rosa simplesmente
Apenas e só uma rosa, és certamente
Tanto podes ser flor como nome de mulher
A dúvida só existe porque são distintas
Distintas na sua essência, efémeras eternamente
Uma posso escolher, a outra quero colher
Só preciso que tu me consintas
Olho enternecidamente tua beleza
Na cor não tens concorrente
Pálida ou viva és sempre diferente
Fazes-me recordar com saudade a realeza
Que outrora foi dona de tanta gente
E para quem hoje é indiferente
Em jovem foste um botão mimoso
O amor da natureza amenizou a tua abertura
A metamorfose deu-se tão lentamente
Qual hino belo, suave e melodioso
De uma longa e trabalhada partitura
Que eleva nossos sentidos ao maravilhoso
Tuas pétalas são macias e perfumadas
Desabrocharam na primavera passada
Não quiseste esperar pelo verão quente
Sentias tuas sementes esmagadas
Querias sorver o ar da madrugada
E ver a luz a esconder-se no poente
Tinhas pressa em ser admirada
Impaciência em ser conhecida
Desejavas abrir teu ser para a vida
Conseguis-te embriagar-me pela calada
Numa manhã jamais esquecida
Em enlace pleno de alma sentida
Teu caule é esperança de abrigo
Teu odor faz esquecer tudo em volta
Teus espinhos tornam-se grilhetas de amor
Enalteço uma rosa sim e por ela brigo
Só tu poderás calar minha revolta
Por não te possuir, mesmo lutando sem temor
sábado, 5 de setembro de 2009
Mar salgado
Quando estás zangado és odiado e temido
Cavalgas em ondas sem qualquer piedade
Deslizas veloz em vagas revoltas
Mas só pretendes fazer soar o teu rugido
Ameaçando aqueles que partem com saudade
Eu que viajo pensativo no convés
De um qualquer barco que zarpou no tempo
Perscruto o longínquo e apenas a ti te fito
Zurzindo por me olhares de revés
E amaldiçoando o contratempo
De viajar a caminho do infinito
Mar que deverias ser de calmaria
Servir de descanso no doce baloiçar
Da longa viagem que desejo terminar
Não sei onde tal me aventuraria
Talvez seguindo o Atlântico possa alcançar
O lugar onde gostaria de ficar
Aprecio deleitosamente o teu azul ondulante
Detesto que ocupes todo o meu ângulo visual
Adoro paisagens sem fim com o verde por fundo
Tu és deveras grandioso e petulante
Enorme e com um espaço abismal
E esqueces que não és senhor do mundo
Admiro-te como dom perene da natureza
Louvo a riqueza que tens e nos concedes
Odeio-te quando tragas homens trabalhadores
Sinto temor e asco pela tua rudeza
Quando não respeitas os que deitam as redes
E com isso causas tantas dores
Oh mar que abraças todos os oceanos
Neles fundes e consolidas teu poder
Hei-de maldizer-te se não te secar
Porque salgado será o fim dos teus anos
Choro penosamente por não poder saber
Se um dia alguém te poderá amar
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Porque existo?
O corpo fica presente mas o espírito divaga
Percorre anos-luz no tempo da imaginação
Sentado à beira mar de um Oceano invisível
Ou no alto escarpado de uma fraga
Procurando alguma réstia de doce emoção
A Vida de um ser humano é feita de arco-íris
Onde rodopiam sem parar os sentimentos
Com cores arrancadas à esperança
Caldeadas em ardorosos desejos pueris
Lutando em todos os momentos
Para fugir de uma cruel lembrança
Recordar a razão de ter nascido
Não é mera filosofia que me desbarata
Qualquer explicação da minha existência
Remete-me para um negrume desconhecido
Que com o tempo me esfarrapa e mata
Sem qualquer alívio de consciência
Só existo mas vivo sem saber porquê
Desconheço a origem do meu ser
Não quero finar sem o saber
Porque vim a este mundo e para quê
Gostaria que me fosse reconhecido perceber
É um direito que penso ter
Para alem das dúvidas sentidas
Fica a certeza da existência em concreto
Só a isso me posso agarrar e tentar potenciar
Olvidando objecções intrinsecamente mantidas
E vivendo um dia a dia que penso correcto
Para não sentir necessidade de me penitenciar
Na vida mantenho e sigo convicções
Pois tenho que me conformar com a realidade
Ser grato a quem me deu a Vida
Mesmo que Ele me imponha restrições
Devo aceitar o Seu amor e caridade
Só assim a Vida poderá ser plenamente vivida
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
A Fome
Mas mulher não tem leite, peito está seco
Não tem arroz nem mandioca para comer
Mãe geme entre dentes e desata a chorar
Seu pranto faz um infindável eco
Levado pelo vento ao amanhecer
Imagem atroz de quem tem fome
Na África, Ásia ou Oceânia
Na grandiosa América ou Europa unida
A escassez de recursos não tem nome
Nem Continente algum foge à razia
De seres a viver à míngua, sem comida
Mãe Natureza que foste criada em harmonia
Que tudo produzes em grande abundância
Quem são os criminosos que te atraiçoam
Que desbaratam a tua sábia bonomia
E permitem tão cruel e vil ganância
Deixando-os com fome e disso te amaldiçoam
A Terra tudo tem que oferece à Humanidade
Ai de vós governantes do Mundo
Que oprimis os povos que dominais
Que não organizais com razoabilidade
A divisão de bens sem fundo
E enriqueceis com os demais
Todo o ser tem direito a viver
Ainda antes de nascer e depois de morrer
São mistérios da própria Vida
Nascemos isolados e vivemos sem o “ter”
Ter de possuir a que teremos de recorrer
Só assim a Vida poderá ser vivida
No nascer somos todos iguais
No viver podemos ser fartos ou carentes
A Vida é nossa, mas não nos pertence
Há homens de poder que tornam fatais
As vidas de outros seres mais prementes
Esquecendo que a imortalidade é que vence
sábado, 1 de agosto de 2009
Amor de uma vida
Sonhei com um amor eterno
Olhei no fundo dos teus olhos
Perguntei-te de forma sentida
Serei eu o teu amor pleno
Ou um mar cheio de escolhos?
Tua resposta foi um balbuciar de palavras
Saída de lábios sedosos, talvez dormentes
Teu coração batia apressadamente
Ouvia-o, qual som macio de clavas
Como murmúrio entre dentes
Com teus cabelos ondulando suavemente
Perante meu olhar interrogativo
Respondes-te com mais convicção:
Amor sabes que te amo acima de tudo
Todo eu estremeci, foi instintivo
Agora fiquei eu sem inacção
Incapaz de articular palavra e mudo
Amor foi antes, mas agora é paixão
É fogo que arde sem cessar
Desejo de te ter perdidamente
Mesmo sem atender à razão
É um querer para tudo ultrapassar
Seremos dois em um indefinidamente
Quando confessamos um amor assim
Só pode ser por uma grande mulher
Feliz daquele a quem ela ama
Seu coração é enorme, não tem fim
Seu corpo é precioso ser
Sua alma é uma sublime chama
Amar é fundir para sempre em convergência
Corpos, almas, gostos e saberes
Aceitar com sapiência o que não agrada
Para encontrar uma linha de conveniência
Na convivência comum com outros seres
Percorrendo o mesmo sentido da estrada
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Princípio e fim
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O fim do ser humano
Começa no início da Vida
Tudo tem um princípio
Obedece sempre a um plano
Tal como uma avenida comprida
Mesmo que nos conduza ao precipício
Uma Vida que para uns tem sentido
Para outros não passa de tempo perdido
Todos a vivem ou deixam passar
Quantos sem a terem vivido
Choram e renovam o pedido
Para não arcar com o seu pesar
A vida tem princípio e fim
É a única certeza indesmentível
Quando eu era jovem já sonhava ser homem
Mas não passava de um garoto a pensar assim
Quando chegou essa idade temível
Pensei: quero que como tal me tomem
Como nos enganamos sem saber
Tanto no pensar como no viver
Percorri tantos anos de ilusões latentes
Sentia o vigor e a alma do querer
Tantas vezes não me soube conter
E aceitar a luta da vida como os valentes
Agora que me dirijo para o fim do caminho
Relembro o tempo intensamente vivido
Não há travessas, becos ou curvas
Que me impeçam de seguir certinho
Sempre num único sentido
Navegando por águas límpidas e nunca turvas
Este espaço de tempo a que damos Vida
É longo para quem não o sabe viver
E curto para os que o conseguem gozar
Uma coisa é certa e compreendida
Não sabemos como sobreviver
Para além deste terreno lugar
terça-feira, 14 de julho de 2009
Deixem-me Viver...
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Não me digam por onde ir
Eu quero seguir o meu caminho
Viver a minha Vida
Pouco me importa o tempo
Só insisto em viver
Não me incomoda o que digam
Que gostem ou critiquem, é-me indiferente
Tracei os meus objectivos com precisão
Quero concretizá-los no tempo
Apesar de não saber se o terei
Quando nasci desconhecia o que queria
Mas também não sabia o que a Vida me daria
Agora sinto-me maduro, mas cansado
Tenho ideias, tracei planos, construi sonhos
Apesar dos inúmeros planos que tracei
Muitos sonhos esboroaram como castelos na areia
Mas nada disso me impede de viver
De lutar por um ideal que em mim albergo
Que me consome de noite e de dia
Que me há-de debilitar e talvez matar
Mas não quero que me digam qual o caminho
Mesmo que de pétalas pejado
Prefiro mil vezes seguir descalço e com cajado
Sentir os pés a sangrar e ter que me arrastar
Sofrer a fome atroz de um despojado
Nada disso impedirá que eu viva a Vida
Aquela Vida que sentiu um grande amor
Que o recebeu com alegria e em festa
Mas que quase agonizou quando o perdeu
Deixem-me viver essa Vida
Que de mim se apartou sem eu saber como
Não sinto saudade por recordá-lo
Apenas quero voltar a vivê-lo
domingo, 5 de julho de 2009
Saber ser
Ainda mal exprimias os sons
Já sentia que eras um ser maravilhoso
Tuas graças eram como estrela celeste
Equivaliam a movimentos e tons
De um corpo que seria mavioso
Cedo cresceste e já gatinhavas
Percorrias espaços sem fim
Teus horizontes eram finitos
A qualquer cadeira trepavas
Sorrias candidamente ou fazias chinfrim
E já fugias aos saltitos
A escola foi o passo seguinte
Tudo em ti irradiava alegria contagiante
Rapidamente aprendeste o essencial
Os anos passaram sem qualquer acinte
Conseguiste algo que era importante
Terminar a aprendizagem inicial
Na Universidade consolidas-te a juventude
O saber era o teu objectivo
Foram anos seguidos de afazeres
Nem tudo foi aproveitado com virtude
Mas aprendeste a viver no colectivo
Para além de inúmeros saberes
Seguir uma carreira foi caminho tormentoso
Lutaste muito, a audácia foi teu lema
Cada dia que passa estás mais madura
Agora sabes quão útil e portentoso
É ter o valor e ousadia plena
Para viver uma vida com compostura
A luta por uma vida melhor é sadia
Nunca percas a sua rota
Agora que conheces o valor da vida
Que procuras o amor no dia a dia
Não troques por uma nota
O sabor amoroso de uma vida
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Irmão vento
Outrora povos te adoraram
Por te considerarem Deus
Não é esse o meu intento
Sei que não te amaram
Mesmo sendo filhos teus
É verdade que não te vejo
Mas sei que existes e que actuas
És um elemento invisível
Reconheço teus atributos sem pejo
Estás em todas as luas
Só isso te torna visível
Brincas com a areia no deserto
Jogas ao esconde com as nuvens
Empurras o velho no caminho
Pregas partidas a quem está perto
Não sabem o poder que tens
Ao fazer um redemoinho
No mar com marés calmas
Proteges os navegantes incautos
Choras como uma criança
Mas se acordas de mau humor, clamas
Ruges em altos gritos
Como quem reclama vingança
És uma força da natureza
Por isso eu te venero
Teu poder é imenso
Apesar de não seres da realeza
Tens fama de ser austero
E um fulgor de vida intenso
Como eu gosto de sentir o teu sopro
Aquele sussurrar em noites quentes
Inebrias-me com ondas de prazer
Penetras-me como um escopro
Não sei se me mentes
Mas que bom seria assim permanecer
domingo, 14 de junho de 2009
Sentir em casa
Meu sentir o pulsar das estrelas
Saindo de casa nela permaneço
Mesmo que debaixo de água submerso
Penso só nas coisas belas
Nunca no fim, mas no começo
******
Em casa sonho, mas saio ao acordar
Pela rua vagueio a pensar
Na procura de um canto na terra
Onde possa voltar a sonhar
Encontrar alguém a quem lembrar
Que procuro a paz em vez da guerra
******
O sentir é uma forma de estar
E em qualquer lugar é benfazejo
Mesmo sem uma casa para cobrir
Um homem procura sempre encontrar
Algo que satisfaça o desejo
Para descansar, comer e dormir
******
O lugar é mesmo indiferente
Sentir bem é um objectivo
Numa ilha deserta desconhecida
É algo deveras mirabolante
Mas sendo quase taxativo
Não é coisa que fique esquecida
******
O ar que respiro faz-me sentir em casa
Porque quero viver com prazer
Mas ainda gostava de viajar
Num foguete espacial da NASA
Ter arrojo suficiente e não estremecer
Visitar novo planeta e voltar
******
Sentir-me em casa estando fora
Não é realidade, é pura ficção
Apesar de tudo eu vou imaginar
Que nunca fui embora
Mas que ainda tenho intenção
De encontrar esse lugar
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Sonho de criança
»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»
Nasci fruto de amor
De um amor feito de sonho
Vontade de dois seres
Que uniram suas vidas sem temor
De um Mundo frio e medonho
Sou filha de dois amores
******
Muitos não queriam que eu visse
A luz de um Mundo Novo
Meus pais quebraram amarras
Ouviram o que Deus lhes disse
Juraram amor de novo
Cantaram e dançaram ao som de guitarras
******
Foi assim que fui recebida
Ainda meus olhos não conseguiam ver
Mas já ouvia risos e palavras de amor
Em festa fui concebida
Com alegria foi saudado o meu nascer
E acolhida pelo Senhor
******
Sou feliz, mesmo carente de afecto
Daqueles que me olvidam e maltratam
Sofro por não ter direitos reconhecidos
Sou um ser frágil que precisa de um tecto
Com falta de alimento me matam
E atropelam todos os meus sentidos
******
Vivo um dia de cada vez
O que hoje tive, amanhã poderá faltar
Sinto tristeza por ser excluída
Peço aos adultos sensatez
Que me deixem correr e saltar
No seu seio ser admitida
******
Quero aprender a ler e escrever
Desejo ser alguém na vida
Por favor me ajudem a conseguir
Se há Deus, não vai esquecer
Esta sede, amargamente sentida
De não saber o que será o meu porvir
Quando uma criança não tem voz na sociedade, nós temos de o fazer por ela. Dou a minha voz àquelas que diáriamente sofrem a falta de amor, alimento, casa e educação.
sábado, 23 de maio de 2009
Negrinha
Branca nasces-te, de negro te revestiram
A natureza te metamorfoseou
Herdaste a pigmentação do pai
Por isso não te mentiram
Mas és fruto de quem te amou
Teu continente é o Mundo
Tua alma é mais branca que a neve
Teu sentir é hino profundo
A um Deus de amor Bailundo
Que em suas mãos te susteve
Salvando-te de um abismo sem fundo
Não te aceitaram pela cor
Escarneceram teus ancestrais
Mas tens todos os direitos
Porque foste gerada do amor
Querida e desejada pelos pais
Perfeita e sem quaisquer defeitos
Na escola brincas-te com os demais
Também sorrias, choravas e aprendias
Convivias com outros desiguais
Tua meninice foi cheia de ais
Suspiravas porque não sabias
Porque descriminaram teus pais
Teu percurso foi uma via estreita
Carregando a indiferença de muitos
A condescendência de alguns
Mas tal foi pequena maleita
Cera destinada a defuntos
Pois não deste importância a nenhuns
És bela entre as mulheres
Teu tisnado é deveras sedutor
Amas tudo aquilo que desejas
Teu coração é manancial de seres
Qual alcova de redentor
Onde geras tudo que almejas
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Peregrino
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Tu que calcorreias os caminhos
Com uma meta bem definida
Não te importas dos espinhos
Que te atraiçoaram a vida
No teu saco levas os pertences
No corpo pouca roupa vestida
Longos percursos tu vences
Com uma passada à medida
Por estradas ou caminhos estreitos
São tudo vias para palmilhar
Com o sol a fazer efeitos
Ou chuva que não pára de molhar
Sempre que segues sozinho
Sobra-te tempo para pensar
Até pisas muito de mansinho
Só para a calçada não magoar
Traças-te a rota bem cedo
Sabes que a distância é enorme
Mas isso não te causa medo
Mesmo quando te dá a fome
Dia após dia continuas andando
Não contas o espaço percorrido
Mesmo sentindo teu corpo cansado
Sabes que a viagem faz sentido
Pouco dormes nas noites escuras
Acordas pelo amanhecer
Recordas docemente as alturas
Da luta do teu sobreviver
No fim de tanto caminhar
Já sonhas alegres momentos
Mas ninguém pode adivinhar
A nobreza dos teus sentimentos
Calçado já não tens
Teus pés pisam o solo duro
Ouves murmúrios e desdéns
Mas caminhas sempre seguro
Finalmente chegas ao altar
Ajoelhas e agradeces a viagem
Em silêncio fitas a Senhora a orar
Teu coração recebeu a Mensagem
É um preito de homenagem à fé dos peregrinos de Fátima. Homens e mulheres que um dia decidiram percorrer a pé, por vezes centenas de quilómetros, a distância das suas terras até à Cova da Iria, para agradecer a Nossa Senhora as graças recebidas.
domingo, 3 de maio de 2009
Amor de Mãe
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Amor que antes de o ser, já o era
Primeiro que desejado, sentido
Nasceu das profundezas do ser
Hibernou no coração de mulher
Amor maior que o universo
Sem passado nem futuro temporal
Amor que gera amor
Fruto sublime de um sentir
Desejo de um viver e morrer
União perene de dois seres
Coração e mente em sintonia
Elevação comum sem o ser
Amor com cores de arco-íris
Sensibilidade de pétala de rosa
Olfacto de perfume deleitoso
Caminho nunca antes percorrido
Vaga ondulante que recebe e dá
Entrega-se na plenitude e se espraia
Amor de alegrias e tristezas
Numa vida que não termina
O sofrimento caldeia a sede
Em turbilhões de ansiedade
Ausência não representa perca
Significa apenas saudade
Amor que dizem ser sentimento
Entrelaça quem o deseja
Aumenta o elo sagrado
Desde dois ao infinito
Qual areia do deserto
Como fogo que queima a alma
Amor que adere suavemente
Macio como algodão em rama
Leve como plumas a esvoaçar
Forte como um abraço
Daqueles que querem amar
Olhando apenas o espaço
Amor que não tem palavras
Apenas gestos, afectos e olhares
Enlevo de um ser que se absorve
Que se esquece de si próprio
Estende as mãos e diz
Anda, contigo sou feliz
É uma homenagem singela a todas as Mães do Mundo.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Anjo ou demónio
És criatura celeste
Teu corpo de branco se reveste
Se desnuda naturalmente
Esperando carícias docemente
Fica ainda mais belo e sensível
Uma visão quase impossível
Porque não sinto tua mão
E piso algo que não é chão
Luto contra o ardor
De sentir um grande amor
Não sei de onde provém
Não gosto de mais ninguém
Estou desesperadamente só
Por compaixão divina tem dó
Não sei para onde possa ir
Tentar fugir do teu sentir
Dentro de mim em permanência
Só existe a tua ausência
Ténue névoa se formou
Minha mente se adornou
Sinto que vou morrer de desejo
Por aquilo que não vejo
Porque abriste tuas entranhas?
Para me deixar saudades tamanhas
Serás anjo ou demónio
Deixas-te confuso meu neurónio
Se fores anjo faz-te luz
Por amor ao céu me conduz
Mas se fores espírito maligno
Deixa-me seguir, mesmo sem tino
Porque meu corpo não levarás
Só meu desdém sentirás
Terás que ser um anjo de luz
Minha alma a isso te reduz
Então sim, seguir-te-ei perdidamente
Não apenas agora, mas eternamente
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Presente conjuga futuro
Sinto-me cansado da vida ou talvez não
O desânimo parece ter surgido abruptamente
Conduzindo o carro sinto a mente pesada
Avanço muito devagar, talvez em contramão
Sozinho, olho para os lados perdidamente
Vejo crianças a brincar no jardim
Suas correrias me recordam a meninice
Seus risos estridentes me alegram
Outrora não sentia essa felicidade em mim
Fui criança triste, apesar da traquinice
Chorei a falta de carinho que outros tiveram
Revejo-me no sorriso da criança que me acena
Olhando para mim com veemência
Seu brilho nos olhos me fascina
Fico parado a vê-la com enorme pena
Não sei se ela terá consciência
De que juventude será a sua sina
Encarno o presente, ela o futuro
Duas etapas da vida humana
Para ela eu posso dizer docemente
Querida vai em frente, cuidado com o muro
Se o queres saltar, utiliza a cana
Porque da queda podes estar ciente
Do futuro não faço previsões
No presente aceito aquilo que tenho
Agora preocupo-me com os jovens
Da vida não quero mais ilusões
Luto com denodo e empenho
Por aquilo que eu não tive e tu tens
O meu passado já não importa
O futuro para mim é coisa de somemos
Tu podes viver feliz nesta Terra
No presente está a abrir-se uma porta
Dá-me a mão e nela entraremos
Afastemos a fome, a doença e a guerra
terça-feira, 14 de abril de 2009
O Prazer
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Que doce acordar hoje tive
Quão feliz foi o meu amanhecer
O sonho que vivi ainda sobrevive
Creio que jamais o irei esquecer
Que quadro belo alguém pintou
E nele me fez entrar para sonhar
Ainda pensei ser uma realidade
Mas foi frustrada ao acordar
Vivi o afã de um grande amor
Não sei onde ou com quem
Lutei desesperadamente e com dor
Por não lembrar agora esse alguém
Verdade é que vivi esse amor de prazer
Algo de sublime que não sei explicar
Simplesmente sei que era uma mulher
Com alma formosa e de encantar
O local era belo, onde, é segredo
Recordo-me estar um sol primaveril
Que raiando por entre o arvoredo
Fazia brilhar teu rosto juvenil
Mulher sem nome perdida no tempo
Ficarás a flutuar como anjo do céu
Jamais sairás do meu pensamento
Mesmo sabendo que nunca serei teu
Seis letras compõem a palavra prazer
Começa por um p e forma par
Condiz com amor em união de ser
Se for verdadeiro não irá acabar
Com prazer todos queremos viver
Seja por amor, egoísmo ou ódio
Ninguém poderá querer morrer
Sem saber o que é subir ao pódio
O altar do amor não está no prazer
Mas é um dos degraus necessários
Sem ele não podemos viver
Com ele cruzaremos hemisférios
Ter prazer nunca pode ser pecado
Mas deve ser alegria, desejo ou gozo
Tem que ser algo de sagrado
Para captar um coração amoroso
O prazer será o que um Homem ou Mulher quiser, eu optei por tratar o mais primário sentimento do ser humano, mas não invalida que muitos outros sejam nobres e desejáveis.
Poema integrado nas Tertúlias Virtuais
quarta-feira, 1 de abril de 2009
RIR......
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Eu estou, tu estás, ele está a rir
Nós estamos, vós estais, eles não estão
Então, estão a fazer o quê? A sorrir!
É mesmo diferente esta expressão
O nome deste poema é RIR
Para mim, para ti e para os outros
A mãe desta palavra vai parir
Pequenos risinhos marotos
Médicos dizem: rir faz bem à saúde
Portanto se não rir, morre mais cedo
Siga o conselho para não ir no ataúde
Das duas, uma, ou ri ou morre de medo
Brincamos, rimos e choramos
É forma de levar vida decente
Mas a verdade é que clamamos
Quando porventura nos dói dente
Quem ri vive mais cem anos
O que não quer rir não sabe viver
A esse aconselho a compra de panos
Para enxugar a falta de prazer
Ri de uma anedota e sê janota
O motivo é supérfluo e de pouca monta
Ri da piada da amiga Carlota
Mas não ligues que ela é tonta
Rir ou sorrir, eis a questão
Soltar uma gargalhada estridente
Ou alongar os lábios como o Gastão
Em esgar, como quem mente
Eu quero sorrir mais e sempre
Esse é o caminho da vida plena
Para viver bem e ter presente
Que rir vale sempre a pena
sábado, 14 de março de 2009
O Desejo
Quero sempre aquilo que desejo
E desejo para além do que quero
Sonho com um amor perfeito
Logo o quero e luto por ele
Só pode ser por uma mulher
Fiz e desfiz amores passageiros
Agora meu coração sente-se cansado
Os anos não lhe deram tréguas
sábado, 7 de março de 2009
Palhaço
Usas vestes coloridas de medidas amplas
Artefactos díspares e curiosos sapatos
Pintas teu corpo com cores de narcisos
Serpenteias as mãos fazendo palas
Fazes de adultos meninos pacatos
ooooo
Homem que mereces uma vénia
Pelo trabalho árduo que executas
Que fazes rir a senhora ilustre
O cavalheiro de cabelo cor sépia
A menina curiosa que escutas
A criança agarrada ao balaústre
ooooo
Teu nome inspira inocência
Não é de baptismo por prudência
Aquilo que te chamam não importa
Tu tens plena consciência
Utilizas toda a tua sapiência
A letra ridículo é palavra morta
ooooo
Tentas fazer rir e nunca choras
Vives uma vida como os outros
Também sobrevives com dificuldade
A luta do teu dia a dia são as horas
Continuas a inventar e dizer piropos
Sempre a brincar és cúmplice da maldade
ooooo
Tua plateia é o mundo
A tenda do circo a tua casa
Recebes tanto o rico como o pobre
Corres, saltas e fazes tudo
À mulher bela arrastas a asa
Sem cuidar se é plebeia ou nobre
ooooo
Teu trabalho é um hino à alegria
Podes sofrer, mas ris abertamente
Teu coração parece ser enorme
Acolhes crianças com simpatia
Despertas alegria naturalmente
És palhaço, homem sem nome
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Rosa vermelha
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Nascida entre tojos na alta montanha
O sol tisnou tuas pétalas
Teu odor suave tomou meus sentidos
Impregnou toda a minha alma
Fez-me transportar a jardins desconhecidos
Vermelho ardente que acaricio
Como mulher bela em pleno estio
Mostras o botão que vai desabrochar
Abres teu coração ao clarear
Expeles o perfume dentro de teu ser
Espreguiças teu caule a verdejar
Sabes que espero esse momento
Deixas-me afagar terna e suavemente
Teu ventre ciosamente recolhido
Tuas pétalas abrem uma a uma
Como jamais eu havia sentido
Estremeço ainda meio adormecido
Flor que jamais serás de jardim
Após te abrires completamente
Darás tudo que tens em ti
Ficarás para sempre desnudada
De coração eternamente aberto
Mesmo que não tenhas mais nada
Vou sentir tua juventude perdida
Depois de tuas pétalas caírem
Ficarás mais amadurecida
Mais carente de que outrora
Então recolher-te-ei em minhas mãos
E tudo o que te resta agora
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Tempo
Palavra na qual tudo cabe e em tudo se dilui
Preciosismo fugaz, mas nunca efémero
Que me levas a lutas permanentes
Por aquilo que meu ser não possui
Onde não conta a qualidade ou número
Tempo que existes impondo tua presença
Sem olhar a queixumes ou sorrisos
Que ora bafejas em hora de sorte
Ou matas quem não têm crença
Tua carruagem me leva a mil paraísos
Por caminhos de vida ou de morte
Tempo de hoje e de outrora
Que viste o meu nascer
Conduziste minha vida fora
Agora controlas a minha hora
Esperas meu tempo de fenecer
Mesmo assim não vais embora
Tempo que somas horas e minutos
Que não dás contas a ninguém
És mau para uma mulher bonita
Carrasco amável para muitos
Que não sentem o teu desdém
Pensando ter vida infinita
Tempo que tudo deves a alguém
Mas que guardas ciosamente
Tudo quanto te pertence ou não
Tempo que esbanjas no harém
Belezas que emergiram precocemente
Alimentadas com prazer e sem pão
Tempo maldito que me confundistes
Num longínquo dia de sol radioso
Quando embarquei naquele navio
E acompanhei colegas tristes
Envergando uniforme verde e sedoso
Em demanda pelo lugar do extravio
Tempo que tudo fizeste para me roubar
Vida que ousaste condicionar
Impediste meu ideal de sonhar
Contra ti lutei até sangrar
Mesmo debilitado em tremendo esgar
Consegui fugir e o caminho encontrar
Hoje mesmo só sinto-me feliz
Por não saber o tempo que tenho
Faça sol, chuva ou sopre um vento medonho
Aqui me encontrarás como um petiz
Cantarolando que o amor é um sonho
Mas sem medo de seres enfadonho
Participando em Tertulias Virtuais
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Amor não esperes
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Amor, se me amas, não esperes
Parti sem nada e sem destino
Na praia verás outros seres
Não eu, que cruel desatino
Amei-te uma vida inteira
Não sabia porque te amava
Agora que fiz tamanha asneira
Só me resta chorar, porque a água lava
Outrora só lamentava
Não poder te amar mais
Não compreendi quando escutava
Teus profundos e infinitos ais
Amor não chores, eu não mereço
Guarda minhas juras antigas
Esconde aquele meu lenço
Que recorda as nossas cantigas
Em segredo eu embarquei
Não podia dizer a ninguém
Tive medo e receei
Que quisesses vir também
Quero recordar-te sentada
Teu olhar mirando o horizonte
Ouvir aquela brisa zangada
Que eu sentia e te batia na fronte
Porque te amava, parti
Não podia dar-te mais
Sabe Deus o que senti
Não esquecerei jamais
Guarda no coração a vida passada
Não olvidarei tamanha graça
Ficarei acorrentado na calçada
Se um dia passares na praça
Mas não me procures em tais lugares
Meu barco não atracará
Prefiro sofrer a dureza dos mares
Porque assim ninguém saberá
Se um dia sofrer forte tempestade
Não terei medo de naufragar
Sei que vou sentir saudade
Morrerei a imaginar teu rosto afagar
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Ode ao infortunado
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És um ser humano como todos nós
Mesmo que não tenhas casa
Que mores debaixo da ponte
Que passes as noites ao frio
Serás sempre criatura divina
É assim que te vejo amigo
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És filho de uma mãe
Ela te gerou como qualquer outro
Te amou quanto ela
Te beijou e afagou de mansinho
Se pouco ou nada tens
Só o deves ao infortúnio do destino
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Quantos passam por ti
Naquela rua mal iluminada
Olham para a caixa de cartão
Nem sabem que estás dentro
Que foges à angustia de ser visto
Por te sentires à margem da vida
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De corpo magro e escanzelado
Arrastas-te pela calçada
Estendes uma mão suja
Pedes tristemente baixinho
Tens fome e talvez sede
Anseias ainda mais por um carinho
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Como a sociedade é ingrata
Possivelmente perdeste o emprego
A família a quem amavas
Não sabe que existes
Que passas o tempo a chorar
Que apenas lembras coisas tristes
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Quem me dera poder compreender-te
Clamar que tudo isto é injusto
Mas de que me vale bradar alto
Se aqueles que deviam proteger-te
Não vêm, não ouvem, não sentem
Passam indiferentes a tudo!
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Novo ou velho
Ano novo que despontas do breu
És recebido com luzes de mil cores
Doze badaladas dão o tom do céu
Para abrir bebidas de doces sabores
O champanhe jorra em cascatas
Bebido por sedentas e roucas gargantas
Ouvem-se cânticos ao som de latas
Em volta do lume até ás tantas
Chegas envolto em manto de neve
Aconchegado pelo gélido ar da noite
Ouves os desejos de quem nunca teve
Casa, agasalho ou lugar onde pernoite
Os ricos comemoram-te em belas salas
Comem, dançam e entoam canções
Os pobres esperam algumas migalhas
Pulam, sorriem e lançam balões
Nasces de noite e começas de dia
Vives doze meses intensos
Afagas os dias como uma melodia
Embalas os minutos imensos
És novo e não prestas vassalagem
Tens orgulho em ser diferente
Esqueces que serás uma miragem
No fim acabarás velho eternamente