Tal como havia acontecido no clássico de Alvalade, Jesualdo deixou as surpresas para o seu rival. Desta vez no entanto, jogando no Dragão, o treinador optou por manter o seu figurino natural introduzindo Anderson no lugar de Meireles. A estratégia do Porto passava por entrar forte no jogo, com um pressing mais alto e agressivo do que é costume e com alguma assimetria na dinâmica dos flancos – sobre a direita, Lisandro jogava mais próximo de Postiga, ficando Lucho com maior responsabilidade de auxiliar Fucile nos duelos defensivos. Do outro lado Quaresma, bem mais agarrado à linha, tinha a missão de, não só provocar os desequilíbrios no 1x1, como também fechar junto de Cech sempre que o Benfica atacava sobre esse flanco.
Do lado encarnado, Fernando Santos transformou a singularidade da ausência de Micoli numa revolução plural. Surpreendentemente, a mobilidade ofensiva do 4x3x3 deu lugar a um 4x2x3x1 mais geométrico, com Paulo Jorge e Simão sobre os flancos e Nuno Gomes na posição 10, largando Kikin para o meio dos centrais. Poder-se-á concordar ou não com a opção de Santos mas nunca acusar o treinador de falta de arrojo: Que outro treinador se atreveria a retirar um elemento de meio campo para colocar mais um elemento ofensivo num jogo desta natureza?
De resto, o Benfica foi desde o primeiro minuto uma equipa fiél aos seus princípios que assentam sobretudo num pressing alto e numa posse de bola em progressão que procura nos flancos as referências para os desequilíbrios. A alteração esquemática teve apenas como objectivo um encaixe mais ajustado ao adversário.
O Jogo e a sua Dinâmica
Como referi, as estratégias de ambas as equipas assentavam em abrir as hostilidades com um pressing alto que permitisse obter o domínio do jogo desde o apito inicial. Há, no entanto, uma diferença essencial – e que importa aqui referir – no que respeita à operacionalização destas intenções: enquanto que o pressing do Porto era feito tendo, quase sempre, como referência os espaços e a bola (pressing zonal), o Benfica optou por fazê-lo tendo em conta o homem (pressing homem-a-homem) – daí a preocupação de Fernando Santos com o tal “encaixe” no esquema adversário. Esta diferença concepcional foi determinante na definição da vantagem conseguida pelo Porto. O pressing zonal permitiu que os azuis-e-brancos colocassem mais gente na zona da bola quando defendiam e usufruíssem de mais espaços quando atacavam (mais facilmente conseguiam alargar o campo de ataque, quer em profundidade, quer em largura). Assim, a batalha de pressings foi vencida por Jesualdo e o seu método zonal – em 20 minutos o Porto conseguiu dois golos e parecia ter a partida “no bolso”!
Após a entrada de sonho no jogo e com o placar em 2-0 não restava ao Porto mais do que deixar que fosse o Benfica a correr riscos para depois, em transição, os aproveitar. Ora é nesta situação que a formação de Jesualdo tem revelado, esta temporada, dificuldades: Quando a equipa tenta dar compacidade ao bloco, baixando as linhas perde igualmente agressividade na disputa dos lances, permitindo que os adversários abusem da posse de bola. A esta limitação, já usual, o Porto juntou uma outra: a referida dinâmica da ala direita não conseguia dar o apoio necessário a Fucile, expondo as fragilidades do lateral no 1x1.
O Benfica mexeu, colocou Simão a 10, com Nuno Gomes e Mantorras na frente e, se até ao golo de Katsouranis o Porto tinha tido algum a propósito nas suas acções ofensivas, a partir da cabeçada do grego o Dragão entrou num estado de ansiedade imobilizadora, que parecia antecipar o empate. O jogo parecia sentenciado mas haveria espaço para uma última ironia: Fucile, o “elo mais fraco” de todo jogo fez uso da sua principal arma, o lançamento longo, para lançar a confusão que haveria de ser aproveitada por Bruno Morais, esquecido por Nuno Assis.
Uma última palavra para dois jogadores: Anderson lesionou-se e deixou o Porto sem explosão ofensiva. Esta foi também uma constatação de Jesualdo no final do jogo, sem que tivesse, no entanto, explicado porque não fez entrar Jorginho em vez de Raúl Meireles. Finalmente, uma nota para Bruno Moraes: para além do golo teve, nos curtos minutos em que esteve em campo, uma prestação de altíssima qualidade.
Lance Capital: "Menosprezar" Quaresma
Um dos problemas que têm os processos defensivos centrados no adversário (marcação homem-a-homem) é a não criação de situações de superioridade numérica perante jogadores tecnicamente evoluídos. Enfrentar Quaresma nestas condições pode ser quase um suicídio, tal o reportório de soluções que o “cigano” tem ao seu dispor – Nelson que o diga!
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