29.10.06

Porto X Benfica - Até ao lavar dos cestos...

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Onzes e estratégias
Tal como havia acontecido no clássico de Alvalade, Jesualdo deixou as surpresas para o seu rival. Desta vez no entanto, jogando no Dragão, o treinador optou por manter o seu figurino natural introduzindo Anderson no lugar de Meireles. A estratégia do Porto passava por entrar forte no jogo, com um pressing mais alto e agressivo do que é costume e com alguma assimetria na dinâmica dos flancos – sobre a direita, Lisandro jogava mais próximo de Postiga, ficando Lucho com maior responsabilidade de auxiliar Fucile nos duelos defensivos. Do outro lado Quaresma, bem mais agarrado à linha, tinha a missão de, não só provocar os desequilíbrios no 1x1, como também fechar junto de Cech sempre que o Benfica atacava sobre esse flanco.

Do lado encarnado, Fernando Santos transformou a singularidade da ausência de Micoli numa revolução plural. Surpreendentemente, a mobilidade ofensiva do 4x3x3 deu lugar a um 4x2x3x1 mais geométrico, com Paulo Jorge e Simão sobre os flancos e Nuno Gomes na posição 10, largando Kikin para o meio dos centrais. Poder-se-á concordar ou não com a opção de Santos mas nunca acusar o treinador de falta de arrojo: Que outro treinador se atreveria a retirar um elemento de meio campo para colocar mais um elemento ofensivo num jogo desta natureza?
De resto, o Benfica foi desde o primeiro minuto uma equipa fiél aos seus princípios que assentam sobretudo num pressing alto e numa posse de bola em progressão que procura nos flancos as referências para os desequilíbrios. A alteração esquemática teve apenas como objectivo um encaixe mais ajustado ao adversário.

O Jogo e a sua Dinâmica
Como referi, as estratégias de ambas as equipas assentavam em abrir as hostilidades com um pressing alto que permitisse obter o domínio do jogo desde o apito inicial. Há, no entanto, uma diferença essencial – e que importa aqui referir – no que respeita à operacionalização destas intenções: enquanto que o pressing do Porto era feito tendo, quase sempre, como referência os espaços e a bola (pressing zonal), o Benfica optou por fazê-lo tendo em conta o homem (pressing homem-a-homem) – daí a preocupação de Fernando Santos com o tal “encaixe” no esquema adversário. Esta diferença concepcional foi determinante na definição da vantagem conseguida pelo Porto. O pressing zonal permitiu que os azuis-e-brancos colocassem mais gente na zona da bola quando defendiam e usufruíssem de mais espaços quando atacavam (mais facilmente conseguiam alargar o campo de ataque, quer em profundidade, quer em largura). Assim, a batalha de pressings foi vencida por Jesualdo e o seu método zonal – em 20 minutos o Porto conseguiu dois golos e parecia ter a partida “no bolso”!

Após a entrada de sonho no jogo e com o placar em 2-0 não restava ao Porto mais do que deixar que fosse o Benfica a correr riscos para depois, em transição, os aproveitar. Ora é nesta situação que a formação de Jesualdo tem revelado, esta temporada, dificuldades: Quando a equipa tenta dar compacidade ao bloco, baixando as linhas perde igualmente agressividade na disputa dos lances, permitindo que os adversários abusem da posse de bola. A esta limitação, já usual, o Porto juntou uma outra: a referida dinâmica da ala direita não conseguia dar o apoio necessário a Fucile, expondo as fragilidades do lateral no 1x1.
O Benfica mexeu, colocou Simão a 10, com Nuno Gomes e Mantorras na frente e, se até ao golo de Katsouranis o Porto tinha tido algum a propósito nas suas acções ofensivas, a partir da cabeçada do grego o Dragão entrou num estado de ansiedade imobilizadora, que parecia antecipar o empate. O jogo parecia sentenciado mas haveria espaço para uma última ironia: Fucile, o “elo mais fraco” de todo jogo fez uso da sua principal arma, o lançamento longo, para lançar a confusão que haveria de ser aproveitada por Bruno Morais, esquecido por Nuno Assis.



Uma última palavra para dois jogadores: Anderson lesionou-se e deixou o Porto sem explosão ofensiva. Esta foi também uma constatação de Jesualdo no final do jogo, sem que tivesse, no entanto, explicado porque não fez entrar Jorginho em vez de Raúl Meireles. Finalmente, uma nota para Bruno Moraes: para além do golo teve, nos curtos minutos em que esteve em campo, uma prestação de altíssima qualidade.

Lance Capital: "Menosprezar" Quaresma
Um dos problemas que têm os processos defensivos centrados no adversário (marcação homem-a-homem) é a não criação de situações de superioridade numérica perante jogadores tecnicamente evoluídos. Enfrentar Quaresma nestas condições pode ser quase um suicídio, tal o reportório de soluções que o “cigano” tem ao seu dispor – Nelson que o diga!
















- Quando a bola ressalta para a esquerda, Quaresma tem possibilidade de enfrentar Nelson no 1x1 (1). Entretanto, Petit está em plenas condições de auxiliar o seu companheiro (2) pois não está a ocupar nenhum espaço importante nem a bloquear qualquer linha de passe.

- O duelo decorre com Nelson a tentar impedir Quaresma de ganhar a linha (3). Petit apenas observa (4).

- Quando Quaresma encontra espaço para rematar, Petit ainda esboça um último esforço, mas é tarde (5). O resto, é talento!

- Note-se que Quaresma tinha, momentos antes protagonizado um lance em tudo idêntico a este. Na altura foi Katsouranis quem “menosprezou” o talento do cigano não acorrendo ao auxílio a Nelson.



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27.10.06

Dinamo de Bucareste - Máquina de Vencer

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Quando se olha para a classificação de final de Setembro do Ranking “jogo directo” de Clubes Europeus a grande surpresa surge na equipa que ocupa o 2º Lugar dessa tabela, o Dinamo de Bucareste. Como é explicado nesse post, a pontuação das equipas do país dos Cárpatos está inflacionada pelo facto do seu campeonato ir já bastante adiantado – nesta altura leva já 12 jornadas disputadas. Acontece porém que esse é um aspecto que só ajuda a dimensionar o feito do Dinamo: em 12 jogos, 12 vitórias!

Se é certo que a competitividade do campeonato Romeno pode apenas atenuar a enfatização do sucedido (ainda que este país esteja apenas a uma questão de meses de, inevitavelmente, ultrapassar Portugal no ranking da UEFA), não deixa de ser inédito o feito aqui assinalado. Nem o dominador Olympique de Lyon, nem o super-favorito Celtic, nem mesmo a descontextualizada Juventus se podem orgulhar de um currículo perfeito nas respectivas ligas. A título de curiosidade, é preciso recuar até à última das divisões nacionais para, em Portugal, encontrar uma formação com o mesmo orgulho: o o Caldas na III divisão série D (apenas com 6 jogos disputados). Ainda no âmbito das curiosidades, recorde-se a entrada fulgurante do Sporting em 90/91 quando, sob o comando de Marinho Peres, conseguiu atingir 11 vitórias nas primeiras 11 jornadas do campeonato.

A questão que se coloca é, afinal, quem é este Dinamo de Bucareste? Ora bem, a resposta pode não ser tão entusiasmante como se poderia pensar... Orientada por Mircea Rednic – um ex-defesa do Standard de Liege que actuou no Italia 90 – esta formação conta essencialmente com a experiência de alguns nomes consagrados do futebol Romeno dos anos 90:
Vio Ganea - ponta de lança ex-Estugarda de 33 anos e melhor marcador da equipa
Claudiu Niculescu – avançado de 30 anos, especialista em livres
Catalin Munteanu – médio criativo de 27 anos, ex-Español de Barcelona e em tempos considerado a grande promessa do futebol Romeno
Denis Serban – médio criativo de 30 anos, ex-Valencia

O conjunto do Dinamo conta ainda com a presença de alguns nomes mais jovens que poderão ser os principais beneficiados caso esta aventura tenha seguimento:

Zé Kalanga – extremo Angola de 22 anos, bem nosso conhecido
Cristian Pulhac – defesa lateral de 22 anos com 1 internacionalização
Cosmin Moti – central de 22 anos que esteve quase a dar o salto no defeso
Stefan Radu – actualmente a grande promessa do clube. Tem apenas 20 anos e, não sendo muito alto (1,78m) faz as posições de defesa central ou lateral esquerdo. É apontado como o “novo Chivu”

O Dinamo de Bucareste está também presente na taça UEFA (onde já realizou 6 jogos, tendo vencido 5 e empatado apenas 1 com o Beitar de Jerusalem), integrando o grupo B juntamente com o Tottenham, Bayer Leverkusen, Club Brugge e Besiktas. Em termos de momentos altos, o destaque vai inteirinho para as vitórias nos dérbies da capital da Roménia – com o Rapid (3-1) e com o Steaua (1-0, com um golo já nos descontos a bater o Português Carlos). Neste particular, fica aqui um video da vitória frente ao Steaua (que é agora 2º na liga, já a 12 pontos de distância), juntando-se-lhe um outro já mais antigo e que recorda a vitória (0-1) no estádio da Luz na primeira eliminatória da Taça UEFA de 99/00 – o Benfica viraria depois a eliminatória com o (0-2) de Bucareste...




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24.10.06

Sporting - Porto: "Reset" ao Campeonato

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O primeiro dos clássicos versão 06/07 teve o condão de juntar os dois líderes da tabela e, também, duas formações com ressacas mal curadas das noitadas da Champions. Paulo Bento surpreendeu – quem sabe temendo o efeito que o peso do relvado pudesse ter no desenrolar da partida – e lançou os “guerreiros” Paredes e Custódio para a batalha do meio campo. De resto, a organização do losango, com Paredes à direita e Moutinho à esquerda, não era mais do que parte de uma estratégia que visava essencialmente inclinar o jogo sobre a esquerda. Foi por esse lado que o Sporting canalizou sempre o seu jogo, utilizando a dinâmica do triângulo formado por Tello, Moutinho e Nani (desinspirado e, sobretudo cansado) e contando ainda com o apoio ocasional de um dos avançados. Por aqui se explica o facto de ter sido pelo sector canhoto que o Sporting conseguiu não só o seu golo mas também as suas melhores ocasiões.


O Porto, por seu lado, entrou em Alvalade de uma forma bem mais previsível. A ausência de Anderson foi, como antevisto por tudo que era jornal, colmatada com a entrada de mais um elemento de recuperação. Parece estar identificado um hábito de Jesualdo: sempre que o grau dificuldade aumenta fora do Dragão, o "professor" faz uma revisão defensiva na composição do meio campo (depois de Arsenal e Braga, o Porto teve um primeiro empate, sofrido e conseguido já com Jorginho em campo). De resto, a estratégia passava por uma ocupação racional dos espaços que permitisse, depois, fazer uso da sua principal característica – a circulação de bola em transição – como forma de servir trio da frente...


Da operacionalização das estratégias resultou um Sporting mais perigoso, essencialmente porque na sua fase de criação a equipa apresentou processos colectivos bem sistematizados. O já referido abuso do flanco esquerdo (que teve continuidade na aposta por Carlos Martins) foi um problema sempre que a fase de construção leonina levou a melhor (neste particular, destaque-se a maior agressividade dos “leões” que ganharam a maior parte das bolas divididas). Do outro lado, o Porto mostrou-se mais forte na construção, com uma excelente circulação de bola (que aproveitou também uma noite mais cansada do “pressing” leonino) a variar constantemente de flanco e a oferecer aos seus flanqueadores (principalmente Quaresma) o tempo e o espaço para protagonizar o 1x1. Dos azuis-e-brancos ficou, no entanto, a sensação de uma dependência excessiva das acções individuais no último terço do campo. Perante um Sporting fatigado e com dificuldades na transição defensiva durante o último quarto de hora, o Porto não foi capaz de fazer uso de algumas situações privilegiadas para criar perigo.


Lance Capital – Quando a superioridade numérica não é suficiente

O lance do primeiro golo da partida elucida como é importante uma ocupação eficaz dos espaços, não sendo suficiente uma superioridade numérica no processo defensivo. Aliás, também o golo do Porto aconteceu numa zona em que os defensores tinham superioridade numérica, sendo que, nesse caso, a ansiedade colectiva deu lugar a uma precipitação desnecessária...





- No momento em que acontece o lançamento o Porto coloca apenas 2 jogadores numa zona em que o Sporting terá 3 intervenientes (1). A colocação de Pepe (2) é meramente posicional, não tomando o central parte activa no desenrolar do lance. Facilmente o Sporting vai criar uma situação de cruzamento...

- O previsível acontece, e na altura em que Nani opta por cruzar (3), Bruno Alves parece obcecado com a marcação a Liedson, libertando uma zona fundamental nas suas costas. Entretanto, Djaló parece controlado por Paulo Assunção (4).

- Um simples movimento de Djaló permite-lhe explorar uma zona fundamental e desprotegida (5). O golo é uma eminência.

- Nesta situação, o Porto tem 5 jogadores na área contra 3 do Sporting. O défice posicional dos defensores vai, no entanto, permitir que Djaló finalize numa zona proibida...




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20.10.06

Sporting - Bayern - Além da má sorte...

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Os títulos de dois dos diários desportivos foram explícitos:

“Merecia Melhor” – O Jogo
“Mereciam Mais” – Record

Paulo Bento e os seus miúdos foram então absolvidos pela imprensa na ressaca da derrota de 4ªFeira à noite. Um perdão raro em juízes normalmente tão implacáveis e sustentado por uma suposta ingratidão dos deuses do futebol. Parece-me, no entanto, que a injustiça não terá sido a única explicação para o desfecho da partida...
Um dos aspectos mais explorados pelo Sporting de Paulo Bento é a combinação nas alas. Sem extremos de raiz, a equipa faz descair constantemente 3 ou 4 jogadores para aquele sector, criando situações de superioridade e aproveitando espaços, quer junto à linha, quer em desmarcações interiores. Esta capacidade basculante do meio-campo e ataque tem também relevância nos momentos de pressão que a equipa identifica. Mandam os compêndios que o pressing seja idealmente feito junto às laterais, sendo aí tendencialmente mais eficaz uma vez que há menos espaço de manobra para o jogador em posse. Acontece porém que os leões se bateram com uma equipa de grande qualidade e que conseguiu tornar essa suposta dificuldade numa arma do seu ataque. O que se passou nos primeiros 30 minutos do jogo de Alvalade foi uma autêntica lição bávara de como tirar a bola da zona de pressão. Os esforços (meritórios, diga-se) dos jogadores verde-e-brancos eram constantemente frustrados com a bola a chegar ao flanco oposto onde o lateral (Sagnol ou Lahm) tinha espaço para atacar. Outra característica fortíssima – e já bastante conhecida – que os alemães apresentaram foi a capacidade aérea dos seus avançados – o que não teria feito o ataque leonino na segunda parte caso contasse com uma tal capacidade de choque no jogo aéreo?
É verdade que uma pontinha mais de sorte poderia ter sido suficiente para que o Sporting chegasse à vitória, mas não creio que se deva reduzir à fortuna a justificação do destino deste jogo. O Bayern e o seu futebol não merecem...

Lance Capital: A Bomba de Schweinsteiger
Se o Sporting foi, na generalidade, absolvido da derrota de Quarta, já Ricardo não teve tanta sorte... Há uma tendência na opinião pública portuguesa para responsabilizar os guarda-redes como se de “homens aranha” se tratassem. Dificilmente se identifica um mau posicionamento de um defesa, mas uma luva mal esticada nunca escapa! Francamente, parece-me descabida qualquer responsabilização do “Labreca” no lance do golo mas, uma coisa é certa, se há português que deve ser capaz de pronunciar Schweinsteiger sem gaguejos, certamente será Ricardo!

Para uma compreensão mais correcta do lance podemos ter em conta os seguintes dados que estimei através de uma análise que tem por base as dimensões oficiais do relvado de Alvalade:

Distância percorrida pela bola: 33 metros
Tempo do remate: 1,30 segundos
Velocidade média: 91 km/h

Lembrando, em jeito de comparação, um famoso golo de Benni McCarthy na Luz que deixou Moreira estupefacto:

Distância percorrida pela bola: 35 metros
Tempo do remate: 1,35 segundos
Velocidade média: 94 km/h






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16.10.06

Porto SAD - A falência de um modelo de gestão

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A Porto SAD comunicou recentemente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários um prejuízo de 30,4 Milhões de Euros relativo ao exercício de 2005/2006. Mais do que um resultado desastroso este é um resultado esperado para quem vem acompanhando o desastre da gestão portista, no que respeita às contas do seu futebol. Ainda no mesmo documento são apresentadas algumas justificações para o deslize como o “falhanço” europeu, uma provisão de 5,35 M€ relativa ao não cumprimento das obrigações contratuais do Dinamo de Moscovo e a manutenção dos principais valores do plantel. Não vou percorrer cada um dos pontos, mas posso adiantar que – segundo a minha visão – estas não são mais do que “desculpas de mau pagador” de uma SAD que não soube percorrer atempadamente o caminho do equilíbrio económico e financeiro. O futebol do Porto sustenta hoje excentricidades próprias de países bem mais competitivos em termos de geração de receitas do que o nosso modesto e atrofiante futebol português.

Este é um caminho que o Porto terá de percorrer, inevitavelmente nos próximos anos (dificilmente se fará em apenas 1 ou 2 anos uma vez que envolve contratos de longa duração) e que passa pela diminuição acentuada dos custos com o pessoal. O objectivo deverá ser sempre que o seu futebol possa ser rentável (ou pelo menos ter lucro zero) sem que proceder à venda de activos valiosos – os seus melhores jogadores. Para que se tenha ideia do que estou a falar, basta verificar que os custos com o pessoal da SAD do Sporting foram, em 2005/2006, de 17,5 €, ou seja metade daquilo que apresentou o Porto – se o futebol tivesse uma lógica estritamente financeira, dir-se-ia que a equipa do Porto do ano passado era 2 vezes melhor do que a do Sporting...

A situação da Porto SAD (e estou apenas a falar das contas das SAD, ou seja do futebol, e não de clubes na sua globalidade) esgota a ideia de que é possível adoptar modelos arrojados de gestão das SAD, investindo na valorização dos activos para depois garantir mais valias com as suas vendas. O caminho passa, isso sim, por um ajustamento entre custos e proveitos operacionais, havendo assim uma independência quase total das mais valias provenientes das vendas de passes de jogadores. O problema para os clubes portugueses tem a ver com a escassez de receitas operacionais que o futebol luso é capaz de gerar. Esta limitação faz com que sejam disponibilizados poucos fundos para a gestão dos planteis, tornando-os tendencialmente menos competitivos do que os seus concorrentes europeus. Soluções? Abandonem os jogos de poder e concentrem-se em arranjar um modelo competitivo capaz de atrair maior atenção do público. Assim teríamos as televisões e os patrocinadores a pagar mais pelo mesmo e os clubes a serem economicamente mais competitivos e, por isso, tendencialmente melhores...

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12.10.06

Polónia - Portugal - Quando se joga de "Smoking"

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O calendário era exigente – especialmente tendo em conta a pré época limitada pela alongada presença no Mundial – mas exigia-se mais... As viagens nórdicas indiciavam, desde logo, dificuldades causadas por adversários para quem o físico e a velocidade ditam leias sobre os virtuosismos técnicos – assim foi. Na Dinamarca era a brincar, na Finlândia ficamos com menos 1, mas na Polónia foi apenas... mau!

A teia de Beenhakker
Qualquer resultado que não fosse a vitória deixaria os Polacos desde já muito longe do apuramento. Esse aspecto aliado ao prestigio mundial que do adversário tornou a partida num vulcão de enorme intensidade emocional para os Polacos. O velho Leo não foi de modas e colocou a sua equipa a jogar em apenas 30 metros, dando a iniciativa a Portugal e montando um bloco super-agressivo entre a linha de meio-campo e a sua área (a linha de fora de jogo tinha como objectivo que Portugal nunca “alongasse o campo” até essa zona). Com Portugal em posse de bola e a perde-la na “teia-Polaca”, lançar-se-ia depois o ataque em transições rápidas e rectilinias.

Se o problema de Beenhakker poderia ser como chegar ao primeiro golo, os Portugueses rapidamente o resolveram... Dois erros clamorosos desequilibraram a balança emocional da partida e, de repente, o vulcão Polaco estava em erupção. Com pouco espaço para jogar exigia-se que Portugal tivesse a clarividência para circular a bola em largura, obrigar os Polacos a correr e, depois, explorar o tal espaço valioso que eles deixavam nas costas do “fora de jogo” – não o fez. Pior do que isso (na minha opinião) foi a falta de agressividade demonstrada – o pouco espaço útil que havia para jogar no meio campo Polaco, aumentava as divididas entre os jogadores. Nessas condições é essencial que haja agressividade e determinação nos duelos, sob pena de quase invariavelmente os ver perdidos. Talvez influenciados pelo “Maillot” negro e justo que vestiam, nunca houve atitude de “fato de macaco” do lado Luso e isso foi a grande vantagem dos Polacos, especialmente depois de conquistada a vantagem no placard.

Após a partida... o sangue! Scolari recebeu criticas várias mas poucas, digo eu, com algum nexo: Será que Portugal perdeu por causa das declarações cautelosas (e justificadas, pelos vistos) do Seleccionador? Será que foi a escolha de Petit em vez de Maniche? Ou talvez os 10 minutinhos mais que Nani poderia ter jogado?... Não me parece. Se ao menos se falasse da agressividade, da concentração ou da atitude demonstrada, talvez alguém pudesse ser beliscado, assim...

Lance Capital – Quando se esquece a zona...



Cada vez mais se tem falado no tipo de marcação que é feito pelas formações do futebol moderno: homem-a-homem, zona, zona-mista, zona pressionante, etc. Actualmente, as grandes equipas previligiam nos seus processo defensivos a referência da zona e da bola em deterimento da referência homem. No primeiro golo da Polónia ocorreu um erro deste tipo de abordagem à jogada por parte de Petit...

- Quando a jogada se inicia está criado um triângulo Polaco de atracção a Nuno Valente, puxando o lateral esquerdo para a linha e abrindo um espaço no interior – Note-se o distanciamento entre a zona da bola (1) e o trio mais recuado (2). Nesta situação, Petit está mais preocupado com a ocupação do espaço central do que a basculação lateral.
- O espaço criado é aproveitado pela entrada do jogador Polaco, surgindo aqui o erro na abordagem de Petit... O trinco que ocupava inicialmente a zona central, procura um acompanhamento desesperado do adversário (3). Ao mesmo tempo, Ricardo Rocha efectua o movimento de cobertura da zona explorada (4). Está criada uma situação de 2x2 na centro, sem protecção da zona de área.
- No momento do cruzamento, Petit está numa posição comprometedora (5), sem capacidade para auxiliar a zona central. Curiosamente, Miguel parece antecipar o que se vai seguir abrindo os braços em desespero perante a descompensação naquela zona (6). Smolarek vai amortecer para um jogador que aparece na zona livre e o resto é o que se sabe...


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11.10.06

Gonzalo "Pipita" Higuaín - ser ou não ser como Trezeguet?

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Nome: Gonzalo “Pipita” Higuaín
Nacionalidade: Argentina/Francesa
Data de Nascimento: 10/12/1987 (18 anos)
Clube Actual: River Plate



Se há duelos que suscitam curiosidade do ponto de vista da intensidade emocional que os envolve, um deles é certamente o “el Superclásico” de Buenos Aires. Seja no “Monumental”, seja na “Bombonera”, o ambiente é sempre de uma fervorosidade imensa, ao ponto de quase nos contagiar apesar das poucas imagens a que, invariavelmente, somos limitados. Neste Domingo coube ao River fazer as vezes de anfitrião da festa. A formação de Passarella não se fez rogada e, em casa, venceu por 3-1.

A história recordará o encontro, no entanto, não pelo resultado mas por um nome: Gonzalo “Pipita” Higuaín, foi este o nome que levou os excêntricos comentadores “gauchos” à rouquidão. Um “taconazo” e uma “gambeta” foram suficientes para que o jovem de 18 anos decidisse a partida, apontando assim 2 dos 3 golos que o River conseguiu nessa tarde. Nestas coisas dos talentos, há sempre lugar às inevitáveis comparações... no caso de Higuaín, torna-se ainda mais óbvio.

Nascido na cidade francesa de Brest, onde o seu pai, Jorge, actuava como defesa do clube local, Gonzalo apenas regressou à Argentina aos 10 anos, adquirindo assim uma nacionalidade dupla e da qual nunca se desfez. O “pibe” surpreendeu ao recusar representar os escalões jovens da selecção “alviceleste”, justificando não estar preparado para abdicar da nacionalidade gaulesa. Perante o eminente desabrochar do talento, não tardaram os ecos vindos de França, visando a colagem ao sucesso do caso de David Trezeguet. Os Argentinos, esses, nem querem ouvir falar dessa hipótese e parecem determinados a dar outro destino a “Pipita” que, acedendo às crescentes pressões, já admitiu estar emocionalmente muito mais próximo da pátria gaucha, uma vez que nem sequer fala francês...

Como jogador, Higuaín actuava originariamente nas costas dos avançados. No entanto, a sua revelação no futebol sénior tem sido como avançado – tendo já ele próprio admitido ser essa a sua preferência. Alto, rápido e com um drible de “gambeta” larga, tem sido apelidado de “Káká das Pampas”, numa alusão às semelhanças fisionómicas com o craque do Milan. Entretanto, o futuro de Higuaín tem sido bastante especulado, sobretudo depois do MSI ter comprado 50% do seu passe: Milan, Inter e Inglaterra foram os destinos mais vezes apontados para o futuro próximo de um jogador que se diz “Contente” por permanecer próximo das margens do Rio da Prata.

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8.10.06

Ranking "jogo directo" de Clubes Europeus - Setembro 06/07

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O Sporting é, sem surpresa, o clube Português mais bem classificado do primeiro 'Ranking "jogo directo" de Clubes Europeus' da época 06/07. Numa classificação liderada pelo Francês Olympique de Lyon, os Leões surgem no 9º lugar à frente de alguns colossos europeus como o Milan, Real Madrid ou Bayern Munique. FC Porto e Benfica ocupam, respectivamente, a 21ª e 33ª posições da classificação.


Em relação ao Ranking final de 05/06 note-se a entrada das equipas Romenas em lugar das suas congéneres Gregas – a Roménia ascendeu recentemente ao 7º posto do Ranking da Uefa. De resto, a grande surpresa (aparente) na classificação de Setembro deriva precisamente da presença de equipas Romenas nos primeiros lugares. Esta situação encontra uma explicação simples no facto do campeonato daquele país ter já 10 jornadas disputadas o que concede uma maior pontuação doméstica às suas equipas.


Ver Ranking de Setembro (Top 100)

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4.10.06

FC Porto - O problema da passividade

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A entrada de Jesualdo no Porto foi também a rotura com a filosofia de jogo até aí instituída. Mais do que o sistema (caracterizado pela defesa a 3) pretendia-se tornar a equipa mais apta no momento da perda de bola, concedendo-lhe maior equilíbrio. A alteração tinha como objectivo – apregoava o “Professor” – fazer do Porto 06/07 uma formação mais adaptada à exigência dos grandes confrontos. Pois bem, com pouco mais de um mês de trabalho, o Porto da “era Jesualdo” revela preocupante incapacidade de resposta sempre o nível de exigência aumenta...

Os sintomas problemáticos – especialmente a passividade do bloco – já aqui haviam sido atempadamente anunciados. O que me surpreendeu verdadeiramente foi a dimensão dos mesmos! A dupla derrota do “Dragão” teve nas alterações à estrutura base um ponto comum. No entanto, as estratégias montadas por Jesualdo foram diferentes: O 4x3x1x2 de Londres tinha como objectivo lançar Quaresma – em transição – nas costas do lateral, poupando-o dos acompanhamentos defensivos. Já em Braga, o que se pretendia era apenas dar mais consistência à zona central, mantendo 2 alas bem abertos – 4x2x3x1.

O jogo passivo
Frente ao Arsenal, Jesualdo trocou a operacionalidade dos processos pela estratégia específica para a partida... Do habitual 4x3x3, retirou o extremo direito e colocou Cech como interior esquerdo. O objectivo, mais do que defender, era atacar. Ou melhor, contra-atacar... Quaresma – quando sem bola – actuaria sobre a esquerda mas mais próximo de Postiga. A função dos 2 era, assim, pressionar mas sem acompanhar as descidas dos defesas contrários. Desta forma, o lateral direito dos “Gunners” (flanco oposto ao de Gallas e, por isso, aquele que seria teoricamente mais débil) seria convidado a subir sem que tivesse o habitual acompanhamento defensivo do extremo. Era aí que seria “encurralado” pela basculação de Cech. Com a lateral aberta o Porto poderia assim lançar Quaresma em transição, atraindo um dos centrais para fora da sua zona. Além disso, o reforço do meio campo com o ala Checo libertaria Lucho para auxiliar mais de próximo Bosingwa sobre a direita (para onde descai habitualmente Henry). Anderson tinha uma missão de ligação entre os 2 da frente e o bloco mais recuado – Jesualdo confiava nas “cavalgadas” do miúdo para surpreender os londrinos assim que recuperada a bola.

À estratégia, o que sobrava em astúcia faltou em operacionalidade... Para implementar as transições programadas havia primeiro que recuperar a bola - algo quase nunca conseguido. A falta de agressividade azul-e-branca tornou a posse de bola do Arsenal numa arma demasiado poderosa. A formação de Wenger é uma das mais fortes nesse capítulo no panorama mundial e conseguiu, sem massacrar, ser uma equipa assustadoramente dominadora. Para atestar da dócil atitude dos Dragões poder-se-ia olhar para qualquer um dos golos do jogo. A estatística parece-me, no entanto, suficientemente esclarecedora:

- 9 Faltas cometidas (o registo mais baixo de toda a jornada 2 da Liga dos Campeões)
- 0 Faltas sobre os dianteiros Henry, Rosicki e Van Persie.
- 70% de tempo útil de jogo.

Lance Capital – O equilíbrio passivo
Trazer aqui um lance que permita identificar a falta de agressividade portista nos últimos jogos não é difícil. Vários são os lances que serviriam de exemplo, entre eles qualquer um dos golos sofridos por Helton. Apresento, porém, o golo de Henry por ser aquele que em minha opinião melhor elucida o falhanço da estratégia de Jesualdo para aquele jogo...


- O livre na zona defensiva do Arsenal é cobrado rapidamente. A bola circula de imediato para a direita com o passe de Fabregas para Hleb (1). Eboué apresta-se para fazer o acompanhamento ofensivo (2), perante o olhar de Quaresma – com ordem para não defender os avanços do lateral.
- Eboué parece bloqueado pela presença de Cech (3). O Porto tem, neste momento, a equipa equilibrada e em franca superioridade numérica. A participação de Henry (4) parece francamente improvável.
- Surpreendentemente, Cech nunca chega a ser auxiliado (apesar da superioridade numérica) e Eboué encontra tempo e espaço para cruzar, sem ser sequer estorvado (5). Neste momento, o equilíbrio tornou-se numa situação de 1x1 na área... Henry não vai desaproveitar (6)...


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3.10.06

Benfica - A predisposição dos lenços

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Após a derrota com Manchester United surgiram os primeiros sinais de uma contestação generalizada a Fernando Santos. Mais do que uma reacção à falta de resultados ou às deficiências qualitativas que futebol encarnado apresenta, trata-se – no meu entender – da manifestação de uma predisposição dos adeptos face ao treinador e ao seu “nome”. Sobre esta situação, sustento a minha opinião em três pontos:

(1) Os problemas do futebol encarnado são evidentes, não o nego... Mas os efeitos da “novela Simão”, quer no ajuste do plantel ao modelo ideal, quer no equilíbrio emocional do grupo serão da responsabilidade do treinador? Será justo “endeusar” a Direcção (prestes a ser reconduzida) ao mesmo tempo que se crucifica o treinador após 1 mês de temporada?
(2) Não será a reacção da massa adepta benfiquista pré condicionada pelo “nome” do treinador? Seria ela a mesma fosse o protagonista um Trappattoni, Koeman ou... Eriksson?

(3) As afirmações que dizem de Santos um treinador sem estatuto para o Benfica parecem-me, no mínimo, pouco fundamentadas: O “Engenheiro” fez em 4 temporadas, ao serviço dos outros grandes, sempre pelo menos 73 pontos, ainda que tenha sido apenas campeão 1 vez. Nas últimas 10 épocas apenas Camacho conseguiu superar esse registo mínimo, nos 2 anos em que orientou os encarnados (não tendo, diga-se, chegado aos dois melhores anos de Santos, com 79 e 76 pontos).

Não quero vir aqui fazer o papel de “advogado do diabo” e reconheço que é a emoção que traz ao futebol o seu principal tempero. Penso, no entanto, que os adeptos deverão, a bem dos seus clubes, procurar cada vez mais racionalizar as suas emoções. Sem traçar paralelismos onde eles não existem: Já se perguntaram porque é que Mourinho não ficou como treinador do Benfica?...

O confronto dos “Diabos”
No tal jogo dos lenços, o Benfica foi fiel aos seus princípios... Moralizado pela intensidade do momento os encarnados pressionaram muito, colocaram a nu as debilidades do “gigante” inglês e protagonizaram, na primeira parte, o seu melhor período da temporada. Enfeitiçado pela sua própria dinâmica, o Benfica deixou-se no entanto dominar pela emoção. Passou a colocar cada vez mais homens no seu processo ofensivo e esqueceu-se, de repente, com quem estava a jogar. Saha marcou e o que se seguiu foi apenas a reacção natural de uma equipa sem confiança para reagir à inversão da balança emocional de uma partida como aquela.

Lance capital: Quando Saha sacou dos lenços
Muitas vezes fala-se de equilíbrio colectivo e da importância de precaver o momento da perda de bola. O lance que tirou os lenços do bolsos dos adeptos da Luz – o golo de Saha – é um exemplo de como um momento de descompensação pode ser fatal...



- Ataque conduzido sobre a esquerda por Karagounis (1) e com Leo em posição ofensiva (2). O grego vai optar (bem) por mudar o flanco.
- Katsouranis, recebendo de Karagounis larga para Petit. O trinco encarnado opta pelo remate (3) quando tem o apoio de Alcides a surgir sobre a direita (4). Embora não esteja na imagem, Leo permanece “aberto” sobre a esquerda sem tempo de reacção perante a velocidade do lance - O Benfica está momentaneamente descompensado na sua zona defensiva.
- O remate de Petit embate em Paulo Jorge (podia ter sido noutro qualquer, tal a densidade de jogadores naquela zona) e é rapidamente conduzida até à área de Quim. O 2x2 de Ronaldo e Saha impede a aproximação de Luisão a Anderson, afastando os centrais e concendendo mais espaço (5) para Saha trabalhar no 1x1.
- Anderson comete o “erro técnico” de dar o lado de dentro a Saha e este não se faz rugado (6)...

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