Mesmo em Estados capitalistas, em que a economia fica a cargo das empresas, o dinheiro do contribuinte, vai salvar o grande capitalista, para evitar que a crise se torne demasiado dramática. Este tema é abordado de forma pouco vulgar pelo notário reformado já aqui conhecido João Mateus, numa carta ao DN, no dia 18. A seguir à carta, transcreve-se o texto nela referido.
Caro D.N.
Admito que esta carta possa ser rotulada de mania de escrever, mas é-me impossível deixar de vos dizer que vejo como da maior relevância a 1ª parte do vosso editorial de hoje [ver a seguir]. Era preciso dizer alto e bom som que o rei vai nu.
O pavor do politicamente incorrecto impede quem tem alguma posição no xadrez do pensamento de dizer que algo parecido com o princípio de Peter leva o 'capital', quando não controlado, a atingir o limite da asneira. Se é verdade que só a iniciativa privada é apta para gerar o desenvolvimento, e até Lenine o reconheceu ao aceitar as pequenas hortas privadas, a verdade é que o Estado tem um papel a desempenhar no controle da sua actuação.
E a dura realidade é que o Estado, mesmo de esquerda, com o pavor de ser acusado de politicamente incorrecto, se agachou perante um 'capital' dia a dia mais descontrolado. Não cumpriu a sua obrigação natural de mandatário do eleitor, de que só se lembra na altura das eleições, e o tal 'capital', atingido o ponto da ruptura, vem, como de costume, pedir socorro ao Estado, que, com o dinheiro do contribuinte, vai salvar o grande capitalista que, escondido atrás do pequeno accionista, tem sempre o 'seu' a salvo.
Fica só uma pergunta: Para quando a responsabilização dos governantes deste Mundo pelos seus erros como agora, cá, se entendeu por bem fazer para os Magistrados?
Cordialmente
João Mateus--Viseu
Texto referido na carta:
A difícil escolha entre o mercado e o Estado
Os comentários foram oscilando entre o aplauso e a crítica à medida que se sucederam as decisões das autoridades norte-americanas face a sucessivas crises no sector financeiro do país. Os defensores da liberdade de mercado a todo o preço aplaudiram a recusa do Tesouro dos EUA em evitar a falência do banco de investimentos Lehman Brothers; deixaram passar como estando na fronteira do aceitável o resgate das duas gigantescas instituições de crédito hipotecário Freddie Mac e Fannie Mae, por elas, desde a sua formação, beneficiarem do beneplácito estatal.
Mas agora, na ausência de uma consolidação negociada no mercado, guardam um embaraçado silêncio perante os 85 mil milhões de dólares de "dinheiro dos contribuintes" que Henry Paulson (o equivalente ao nosso ministro das Finanças) cedeu à seguradora AIG, evitando assim a declaração da insolvência desta.
O embaraço entende-se. Não há princípio algum da cartilha liberal-fundamentalista que admita um tal comportamento. Pela simples e pragmática razão de que os governos, para além do que possam clamar para eleitor ouvir, agem segundo as circunstâncias. No caso, a sete semanas das eleições nos EUA, era impensável pôr em risco 74 milhões de pensões.
O silêncio resulta do seguinte: se, em última instância, é sempre o Estado (com o tal dinheiro dos contribuintes) que salva as multinacionais da ruína, como pode então voltar a exigir-se sempre menos Estado e mais liberdade irrestrita para o mercado, quando o vento do crescimento económico sopra de feição?
sábado, 20 de setembro de 2008
Erário para salvar empresas em crise
Posted by A. João Soares at 17:08 0 comments
Labels: capitalismo ou socialismo, crise, erário
domingo, 18 de novembro de 2007
Governantes abusam do erário
Em 14 do corrente, o jornalista Manuel António Pina referiu na última página do DN um mau uso dos dinheiros públicos.
Mão amiga trouxe-me o recorte do artigo com o título «parabéns portugueses» de que extraio algumas linhas, por serem interessantes no sentido de comprovarem, mais uma vez, o desrespeito, despudor e ausência de escrúpulos dos políticos em relação aos dinheiros que nos são sacados através de crescentes impostos.
Diz que o Ministério da Justiça «comprou cinco limusinas de luxo, uma para o ministro, duas para os secretários de Estado, outra para o presidente do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça (mais que justificadamente, pois esta só já tinha uns velhíssimo Audi A6 e Peugeot 404 de 2003) e mais uma para a secretaria-geral».
Refere também outra notícia que lhe «dava conta de que o OE gastará, em 2008, 3,4 milhões de euros (mais 15,4% do que este ano) com viagens de deputados». E cita mais aspectos interessantes que não transcrevo, para não perder mais tempo a digitar, porque o tempo é dinheiro e este é muito pouco para os impostos!
Temos que pagar a crise para eles se gaudiarem.
Mas, pensando melhor, talvez isto não passe de más línguas. Não se pode exigir que a secretaria-geral do Ministério, os secretários de Estado e o Ministro se desloquem em carros tão velhos e de fraca potência como os agentes da polícia e da GNR, nem tão obsoletos como as viaturas blindadas Chaimites e as espingarda automáticas G3 do Exército. Estes que apertem o cinto e se conformem com as fracas performances no cumprimento das suas missões!!!
Temos que compreender (!) que, para haver justiça, legal e social, neste pobre País, temos que reverenciar um ministro que se sinta feliz e ufano da sua posição. E, para ser feliz, o Sr. Alberto precisa imperiosamente de luxos básicos, coerentes com a sua condição de ex-colonialista de Macau, onde foi brilhante (!) e impoluto (1), de elemento influente do denominado grupo de Macau, de ex-MAI onde ficou célebre com o espectáculo dos «secos e molhados» e com a frase «esta não é a minha polícia», e, agora, de ministro da Justiça onde se fez notar com a guerra às férias judiciais, do fecho de tribunais no interior do País, da despenalização de «pequenos» crimes, do novo, brilhante (!) e incontroverso (!) Código do Processo Penal e, também, da nomeação da assessora Susana Dutra de quem os jornais muito falaram sem pretenderem beliscar a honorabilidade da licenciada, pois o alvo era o despudor de seu pai.
Teve o referido Sr. a «coragem» de garantir publicamente que não existem escutas telefónicas ilegais, como se alguém possa ser tão genial ao ponto de dar garantias credíveis de que, em qualquer sector da vida nacional, não existam acções ilegais! Os próprios tribunais só tomam conhecimento de ilegalidades muito após a sua ocorrência e desde que haja denúncia, queixa ou rumor público.
A sua obstinação na «reforma» jurídica ficou bem patente quando, há dias, disse que a sua política irá para a frente, mesmo que a oposição tenha opinião adversa!
Quanto às limusinas de luxo, ficou bem patente que o Sr. Alberto tem absoluta necessidade de sinais exteriores de valor intelectual e cultural, neste caso, constituídos por boas máquinas de quatro rodas de topo de gama obtidas à custa dos pagadores de impostos cujo cintos já têm falta de mais furos para apertar, dado que a grave crise criada e alimentada por tais políticos sem escrúpulos cuja vaidade os impede de ver à frente do nariz, os deixou na miséria e quase sem estômago.