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terça-feira, 1 de maio de 2018

Campanha eleitoral de Humberto Delgado de 1958 em tese de doutoramento

Foi ontem que a jornalista da TVI Joana Reis defendeu tese de doutoramento com o título O Modelo de Comunicação Política da Campanha Eleitoral de Humberto Delgado em 1958: uma Campanha Americanizada. Local: Universidade Católica Portuguesa.

Para a agora doutora em Ciências da Comunicação, Humberto Delgado inauguraria em Portugal um novo estilo de aproximação à população, revelado pela forte adesão popular (Viseu, Porto, reunião no café Chave d'Ouro em Lisboa). Ele, que permaneceu alguns anos nos Estados Unidos em cargo diplomático-militar, seguiu de perto as campanhas de comunicação eleitorais de Eisenhower e aplicou-as quando decidiu concorrer à vagatura de presidente da República, após Francisco Craveiro Lopes.

A investigadora e jornalista utilizou documentação inédita, resultante nomeadamente de um fundo pertencente a Álvaro Monteiro, advogado e republicano que já apoiara a campanha de Norton de Matos e que foi doado à Torre do Tombo, levando a investigadora a analisar esses papéis e descobrir o funcionamento da organização da campanha.

Num primeiro momento, a pesquisa envolveu a reconstituição da campanha, após o que procedeu à identificação e análise dos elementos constituintes, para, em terceiro lugar, olhar a campanha dentro de um modelo de comunicação política (da investigadora Pippa Norris). Antes da análise da campanha eleitoral de Delgado, foi feito o levantamento de outras candidaturas de oposição: Norton de Matos (1949) e Quintão Meireles (1952). Houve ainda espaço para interpretar a razão do afastamento de Craveiro Lopes, que não concorreu a um segundo mandato, a escolha de Delgado, após consulta a outro possível candidato, a união da oposição, com desistência do candidato comunista, e a agitação criada pela campanha da oposição. Um dos capítulos da tese debruçou-se sobre a organização e atividades da campanha, a coordenação da campanha (centralizada e descentralizada, com destaque para as comissões locais de Viseu e Porto), voluntariado na campanha, custos e financiamento, material de propaganda, palavras de ordem da campanha e relação com os media. Neste último caso, Joana Reis defendeu que a campanha de Delgado foi bastante influenciada pelo modelo americano, pese embora a não existência de cobertura da televisão (ainda incipiente) e a fugaz aparição em programas radiofónicos, proibidos logo depois.

No último capítulo, a nova doutora refletiu sobre os principais elementos da campanha: o herói da guerra, as palavras de ordem, a mensagem do candidato (em especial a expressão "obviamente demito-o", referindo-se a Salazar), os materiais de campanha, a atenção a públicos específicos, a difusão da mensagem e as dificuldades com a censura, o perfil do apoiante e os elementos de profissionalização na campanha.

Joana Reis é autora de A Transição Impossível: a Rutura de Francisco Sá Carneiro com Marcelo Caetano (2010, Casa das Letras) e Melo e Castro: o Provedor que Dizia Sim à Democracia (2013, Casa das Letras).


[imagem: da esquerda para a direita: Rogério Santos, Paula Espírito Santo, Rita Figueiras, orientadora, Joana Reis, Nelson Ribeiro, presidente do júri e diretor da Faculdade de Ciências Humanas, Isabel Férin da Cunha e Estrela Serrano]

A minha intervenção seria de prolongamento de análise a partir do uso da rádio na campanha e alguma contextualização de vários agentes políticos na época. Na campanha eleitoral à presidência da República em 1958, com três candidatos (Américo Tomás, Humberto Delgado e Arlindo Vicente), Rádio Clube Português abriu espaços de propaganda política. A 15 de maio, na emissão da campanha de Delgado ouviu-se: "os sofrimentos do povo têm o direito de gritar bem alto o seu desespero, mesmo que isso incomode os tímpanos melindrosos da União Nacional ou do próprio Sr. dr. Oliveira Salazar. [...] haveremos de inculpar esses sofrimentos aqueles que deles têm a responsabilidade, enquanto a censura não calar a nossa boca - porta-voz do povo". Alguns dias depois, a direção da estação de rádio publicava um comunicado, a criticar a censura oficial por ter aprovado o texto transmitido. Acabavam aí as emissões da candidatura de Delgado (e também de Arlindo Vicente).

Humberto Delgado fora a escolha da oposição não comunista como candidato à eleição, depois da recusa de Francisco Cunha Leal, que alegou razões de saúde. O engenheiro e militar Cunha Leal fora diretor de O Século, reitor da Universidade de Coimbra, deputado, antigo ministro das Finanças e primeiro-ministro da Primeira República e preso político diversas vezes. Apesar de não ser candidato em 1958, ele escreveu diversos textos, quase manifestos, contra o regime, provocando a polémica, com réplicas e tréplicas com os ministérios do Interior e das Finanças. Cunha Leal apoiara antes as candidaturas de Norton de Matos (1949) e de Quintão Meireles (1952). Ainda em 1968, enviaria uma mensagem de apoio ao congresso republicano em Aveiro. Faleceu em 1970, com 81 anos.

Salazar, habitualmente parco em termos de uso da comunicação social, fez três discursos pela rádio e publicados na imprensa na campanha de 1958: no começo, no final e após as eleições. Na última, contundente, disse que a oposição fizera uma campanha subversiva, pelo que as eleições presidenciais seguintes seriam disputadas com modelo distinto: colégio dentro da Assembleia Nacional. Desse discurso, ficaram frases como "eu compreendo que a censura moleste um pouco os jornais", "de todos os agrupados para o assalto [ao poder], só uns, embora pouco numerosos, têm uma doutrina, uma fé, métodos próprios de ação: são os comunistas" e "sou um homem que está sempre preparado a partir". Isso aconteceu apenas em 1968, quando de doença irreversível.

Após as eleições, Delgado foi exonerado do cargo na Aeronáutica Civil – que o próprio não acreditava acontecer – e Craveiro Lopes elevado a marechal. Jorge Botelho Moniz, o patrão de Rádio Clube Português, ficou doente entre 22 de maio e 12 de junho (problemas cardíacos), com alta após as eleições. Berta Craveiro Lopes, a mulher do presidente da República substituído, falecera depois das eleições, após um derrame cerebral, a ilustrar certamente o ambiente de consternação no lar dos Craveiro Lopes. Depois da tomada de posse de Tomás, Salazar pediu exoneração do cargo, atitude protocolar mas hipócrita, porque era ele que controlava o aparelho de Estado.

O novo presidente convidou-o a formar e renovar o ministério. Dentro de profunda remodelação, Marcelo Caetano, o ministro da Presidência, foi afastado e substituído por Pedro Teotónio Pereira. Para a pasta da Defesa, entrou Júlio Botelho Moniz, o irmão do patrão de Rádio Clube Português. Em 1961, ano horrível para Salazar, Júlio Botelho Moniz encabeçaria uma revolta perdida contra o ditador.

Já nas eleições de 1954, a oposição obtivera espaço radiofónico em Rádio Clube Português. Mas, logo após o primeiro registo, a estação proibiria novas alocuções. E Cunha Leal proferira em Rádio Clube Português uma palestra política em 1952, em apoio da candidatura de Quintão Meireles.

Em 1959, Humberto Delgado refugiou-se na embaixada do Brasil e Henrique Galvão refugiou-se na embaixada da Argentina. Galvão seria o mentor de Delgado. O resto da história é mais conhecido: o assalto ao paquete Santa Maria, chefiado por Henrique Galvão, e o assassinato de Humberto Delgado pela PIDE.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

A rádio ao serviço das candidaturas presidenciais em 1958

Na campanha eleitoral à presidência da República em 1958, com três candidatos (Américo Tomás, Humberto Delgado e Arlindo Vicente), Rádio Clube Português abriu espaços de propaganda política, conforme o recorte ao lado (Jornal de Notícias, 13 de maio de 1958). Alguns dias depois, era publicado um comunicado da estação de rádio à emissão de 15 de maio da campanha de Delgado, em resposta a texto publicado com consentimento da censura oficial, em cuja parte final se ouviu: "os sofrimentos do povo têm o direito de gritar bem alto o seu desespero, mesmo que isso incomode os tímpanos melindrosos da União Nacional ou do próprio sr. dr. Oliveira Salazar. [...] haveremos de inculpar esses sofrimentos aqueles que deles têm a responsabilidade, enquanto a censura não calar a nossa boca - porta-voz do povo" (Jornal de Notícias, 18 de maio de 1958). Acabavam aí as emissões da candidatura de Delgado (e também de Vicente).

Humberto Delgado fora a escolha da oposição não comunista como candidato à eleição após o exercício de Francisco Craveiro Lopes, depois da recusa de Francisco Cunha Leal, antigo primeiro-ministro da I República, por razões de saúde. Este, apesar de não candidato, escreveu diversos textos, quase manifestos, contra o regime, provocando uma polémica, com réplicas e tréplicas com os ministérios do Interior e das Finanças. O nome de Delgado, então diretor-geral da Aeronáutica Civil, foi ventilado e aceite em meados de abril de 1958. Com a desistência de Vicente a favor de Delgado, na contagem de votos no dia da eleição, Américo Tomás teria cerca de 760 mil e Humberto Delgado mais de 235 mil, mas hoje sabe-se da fraude que favoreceu o candidato da União Nacional.

Salazar, parco em termos de uso da comunicação social, fizera três discursos pela rádio e publicados na imprensa, no começo da campanha eleitoral, no final da mesma e após as eleições. Aqui, foi contundente, ao dizer que a oposição fizera uma campanha subversiva, pelo que as eleições presidenciais seguintes seriam disputadas com modelo distinto: colégio dentro da Assembleia Nacional. Desse discurso, ficaram frases como "eu compreendo que a censura moleste um pouco os jornais", "de todos os agrupados para o assalto [ao poder], só uns, embora pouco numerosos, têm uma doutrina, uma fé, métodos próprios de ação: são os comunistas" e "sou um homem que está sempre preparado a partir". Mas isto aconteceria apenas em 1968, quando de doença irreversível.

Após as eleições, Delgado seria exonerado do cargo na Aeronáutica Civil e Craveiro Lopes elevado a marechal. Jorge Botelho Moniz, o patrão de Rádio Clube Português, ficara doente entre 22 de maio e 12 de junho, com alta após as eleições. Berta Craveiro Lopes, a mulher do presidente da República substituído, falecera depois das eleições, após um derrame cerebral. Depois da tomada de posse de Tomás, Salazar pediu exoneração do cargo, atitude protocolar mas hipócrita, porque era ele que controlava o aparelho de Estado, mas o novo presidente convidou-o a formar e renovar o ministério. Dentro de uma profunda remodelação, Marcelo Caetano, o ministro da Presidência, foi afastado, substituído por Pedro Teotónio Pereira. Para a pasta da Defesa, entrou Júlio Botelho Moniz, o irmão do patrão de Rádio Clube Português. Em 1961, ano horrível para Salazar, Júlio Botelho Moniz encabeçaria uma revolta perdida contra Salazar.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Mediatização da política em livro


Com apresentação de Mário Mesquita, foi hoje lançado o livro de Rita Figueiras, A Mediatização da Política nas Redes Sociais (Alêtheia), na livraria da Alêtheia (Rua do Século, Lisboa).

Segundo a autora, docente de comunicação na Universidade Católica, o livro ajuda a compreender os casos políticos. Para ela, a política, independentemente da mediatização, continua a existir. Há um interesse recíproco. A mediatização da política implica que, quanto maior o palco, maior o bastidor, o espaço do escondido, de opacidade, de invisibilidade e de negociação em cada caso político e que medeia o político e o meio de comunicação. Ela escolheu poucas personagens políticas, levando o leitor a reconstruir os seus políticos. Por exemplo, não escreveu sobre Trump, mas o presidente americano está presente na sua ausência. Tema já pensado há muito, foi durante a campanha presidencial que levou à eleição de Trump que Rita Figueiras pensou em escrever o livro.

Mário Mesquita, o apresentador, falou de um livro relevante para a área do jornalismo e da política. Após evidenciar a ampla revisão da literatura, ele indicou que o livro questiona o tempo da política (e dos seus espaços tradicionais como os partidos e o parlamento) e o tempo cada vez mais curto dos media. A televisão primeiro e as redes sociais depois ajudaram à atual reconfiguração da política. Além da temporalidade, o apresentador destacou outros elementos do livro: a conflitualidade, a negociação permanente, a pressão mediática para que o político responda de imediato, sem cuidar de saber se alcança uma boa solução ou não. O tempo do político é contraditório do tempo do decisor. O jornalista torna-se uma espécie de árbitro perante o governo e de outras instituições mais largas como os poderes de Bruxelas. O jornalista habilita o político a usar a argumentação (mas também a retórica e a demagogia) no debate permanente na mediatização. Tal quer dizer que o político precisa de um tempo maior do que o ciclo eleitoral para realizar as suas bandeiras eleitorais mas o tempo político é curto-circuitado pelo tempo do online. Mário Mesquita apontou um novo conceito da autora: a flutuação na força da mediatização. Um exemplo falado foi o dos primeiros-ministros italianos, a partir de Berlusconi, com registos mediáticos inferiores dos seus sucessores. Outro, estudado pela autora, o da mediatização dos presidentes da República portuguesa: Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Omar Shariff

Há dias, os media anunciaram que Omar Shariff estava doente com Alzheimer, incapaz já de conhecer o próprio filho. Ele representou uma geração de cinema e de público de cinema.

Aqui, recordo a sua vinda a Portugal em 1969, a primeira vez que tirava férias em vários anos e em que aproveitou para jogar bridge, a sua paixão pelas cartas (Diário Popular, 18 de abril de 1969). No mesmo jornal, no dia seguinte, outro texto faz-se acompanhar de uma fotografia em que se vê ele a jogar, absorto do que se passava à sua volta. Ele perdeu mas sentiu-se feliz. E avisava que não queria ser importunado antes das treze horas de cada dia.

Nessa época, a vinda de estrelas a Portugal (a rodagem de uma parte de um filme em que O Santo se casa foi também muito badalada em notícias) era uma janela para o mundo além da rotina do regime político. Marcelo Caetano fez uma viagem pelas principais colónias mantidas por Portugal em África. Na chegada a Bissau, a legenda da fotografia indicava que ele "acena para a multidão". As únicas pessoas que se veem é a sua própria comitiva (Diário Popular, 14 de abril de 1969). Logo depois, em Moçambique, ele disse: "Deve ser cada vez mais larga e importante a participação dos povos no governo local" (Diário Popular, 18 de abril de 1969). Por essa altura, anunciava-se que um importante chefe do norte de Moçambique tinha abandonado a Frelimo.

O II Congresso Republicano arrancava em Aveiro, com algumas páginas do Diário Popular sobre o assunto (caso da edição de 16 de maio de 1969), logo depois da quase enigmática nota do gabinete do ministério da Educação sobre o encerramento das aulas na Universidade de Coimbra (Diário Popular, 6 de maio): "Não haverá, assim, qualquer atividade escolar até ao início dos exames". Quem não tivesse outros canais de informação, ignoraria o que se passou. Um pouco mais clara era a notícia de desacatos na Faculdade de Medicina, com a Polícia Judiciária a instaurar inquérito a 50 estudantes (Diário Popular, 27 de maio de 1969). E mais claro ainda o regresso do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. Diria este: "Não é o exílio que custa. O que custa é ser bispo" (Diário Popular, 21 de junho de 1969). O regresso do bispo seria apreciado pelo New York Times, pois isso se integraria "na política de liberalização" de Caetano.

As eleições de 1969 aproximavam-se e Caetano ia revelando as suas ideias: "Não tenciono fazer uma revolução - as alterações virão a seu tempo" (declarações ao New York TimesDiário Popular, 19 de maio de 1969), "O Chefe do Giverno quer andar depressa mas não iludir ou mentir aos seus concidadãos" (dito no Porto, Diário Popular, 21 de maio de 1969), "As revoluções mais fáceis e baratas são as revoluções verbais: deixam-se ficar as coisas e mudam-se-lhe os nomes" (dito ainda no Porto, Diário Popular, 22 de maio de 1969).

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Serviço Público de Media

Hoje, ao final da tarde, Alberto da Ponte, presidente da administração da RTP (à direita na imagem), falou sobre o Serviço Público de Media: Oportunidades e Desafios, na Universidade Católica, conforme eu indicara aqui. Após enunciar quatro tendências globais que afectam o mundo dos media (globalização, fragmentação, digitalização e concentrações), fez uma abordagem ao contexto nacional.


Para Alberto da Ponte, o grande cenário que o país defronta passa por uma nova relação de forças entre criadores e agregadores de conteúdos e distribuidores. Após crítica ao processo de constituição da televisão digital terrestre, onde manifestou dúvidas quanto ao seu futuro, ele acentuou a actual concorrência entre distribuidores de cabo e alertou ainda para a necessidade de alienar parte da produção de conteúdos para especialistas (o que significa redução de parte da produção dentro da RTP).

A sua conferência, que durou cerca de vinte minutos, serviu para falar do que está a ser feito na RTP, no serviço público de televisão e rádio. Em primeiro lugar, identificou o plano estratégico (plano de desenvolvimento e redimensionamento), depois, referiu a próxima assinatura do novo contrato de concessão por 16 anos (até 2030), finalizando com o alinhamento com a EBU (European Broadcasting Union), dentro do programa 2020. Aqui, o posicionamento da RTP atende a cinco áreas de foco: serviço público mais relevante e credível em termos de fonte de informação, mais relevância para públicos jovens, acelerador de inovação e conhecimento, defensor do serviço público de media, transformação da cultura organizacional e da cultura de liderança dentro da RTP.

Destacou ainda a responsabilidade da televisão e rádio públicas em dimensões essenciais: confissões religiosas e actividades desportivas amadoras. Igualmente fez referência a um estudo de imagem da RTP, em que os consumidores de televisão e rádio pública reconhecem a sua qualidade de entretenimento (como os talk shows) e informação e a relação entre custo (taxa paga na factura da electricidade) e benefício. Resiliência, vontade de vencer e inteligência emocional foram as ideias finais da conferência do presidente da rádio e televisão pública.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pílades

Hoje, de manhã, estava a olhar distraidamente televisão, quando vi que, no programa da manhã da TVI, Manuel Luís Goucha entrevistava Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português. O tema era o homem para além do político. A primeira coisa que reparei foi na maquilhagem de Jerónimo de Sousa, necessária para quem vai à televisão mas nunca usada quando se vê o militante comunista numa sessão na rua ou no parlamento. Depois, vi projectar fotografias dele no serviço militar, a família com mulher e filhas, ele a falar de uma visita a uma fábrica depois de 1974, em que lhe chamaram doutor e engenheiro, a explicar a sua visão do comunismo diferente dos regimes realizados na China, na Rússia ou em Cuba.

Dei comigo a reflectir como a política se faz hoje também nos programas populares de televisão, nos talk-shows. Surge uma faceta mais humana, contam-se histórias da vida pessoal, há momentos de quase confissão, ele calmo e sorridente, muito distinto do que se vê nos comícios de bandeiras e de palavras de ordem, a assistência bate palmas. E, sem reparar nisso, lembrei-me da peça actual da companhia de Luís Miguel Cintra, a Cornucópia, Pílades, de Pier Paolo Pasolini. O texto inaugural do catálogo da peça, assinado por Luís Miguel Cintra, fala do princípio da década de 1970, quando em Portugal militares e outras pessoas procuraram fazer a revolução, e dos anos prévios, a que chamou de resistência política. O actor e encenador evoca esse tempo e compara-o quarenta anos depois, dizendo que existe agora um sistema político chamado democracia que é uma mentira. Texto longo de seis páginas, Luís Miguel Cintra tem oportunidade de comparar o filme de Pasolini, Evangelho Segundo São Mateus, com a pintura de Fra Angelico, no que respeita a figuras idealizadas, raras e puras.

Luís Miguel Cintra confessa a sua devoção por Pasolini e, agora, por Fra Angelico, por causa das nuvens do fundo do palco da representação de Pílades. E o actor e encenador vibra com o cenário (Cristina Reis), uma caixa óptica, com uma porta a meio do fundo onde, por vezes, entra muita luz e a radiosa Atena (Rita Durão). Esta quis virar o curso à história de Argos, apoiando o liberal Orestes (Duarte Guimarães) contra o radical Pílades (Dinis Gomes), que viu o seu exército debandar para a cidade que conhecia um desenvolvimento económico e social espantoso. Electra (Sofia Marques), irmã de Orestes, que amara o rei seu pai, era agora fascista.

Pasolini misturou dois tempos, o clássico dos gregos (Ésquilo) e o da Itália pós II Guerra Mundial onde cresceu o consumismo. Atena e as suas Fúrias fizeram, na minha leitura, um bom trabalho de propaganda e convenceram os montanheses e alguns operários a descerem até Argos para observarem de perto como a cidade estava a prosperar. Cintra, para tornar mais complexa a peça, juntou-lhe excertos de duas peças menores de Pasolini (Um PeixinhoProjecto para um Espectáculo sobre o Espectáculo), que provoca dispersão mas, ao mesmo tempo, um encanto estético inesquecível. Ou quando o travesti (Isaac Graça) canta em play-back uma música italiana da época, Ma l'Amore no, cantado por Alida Valli, no final do muito mas muito longo primeiro acto. Alguns espectadores não resistiram e foram-se embora ao intervalo, numa sala longe de estar cheia.

De quando em vez, o coro, como na tragédia grega, aqui sempre colocado na parte de trás do palco, interpela os amigos rivais (Orestes e Pílades), enquanto as quatro principais personagens (Orestes, Pílades, Electra e Atena) percorrem o palco todo e descem nas escadas laterais, onde falam e, até, brigam, culminando com uma violação do radical sobre a fascista. Pasolini escreveu esta peça radical (e incompreendida, apesar de publicada na revista Nuovi Argomenti) em 1966, durante um mês em que esteve de cama por causa de uma úlcera. Nessa altura morria o dirigente do Partido Comunista Italiano, Palmiro Togliatti. Por isso, cruzei a ideia dos dois líderes comunistas, o italiano e o português.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Escócia

Já ontem à noite, se projectava a vitória do não à independência no referendo realizado na Escócia. Com isso, afastava-se o espectro da separação daquela nação dentro do Reino Unido. Os resultados divulgados na última hora, com 55,42% do não arrumam a questão, embora coloquem agora o tema do cumprimento das promessas da elite e governo ingleses.

Há quase duas semanas, quando uma sondagem dava pela primeira vez a previsão da vitória do sim pela independência, os políticos dos três principais partidos marcharam para Edimburgo, na tentativa de inverter a situação. Um assunto discutido há mais de dois anos entrava na agenda mediática e pública com nova ênfase. Algumas das instituições económicas mais fortes com sede na Escócia ameaçaram mudar para a Inglaterra, pressionando os votantes escoceses.

Duas notas. A primeira dá conta do falhanço das empresas de sondagens. Embora sem qualquer votação semelhante anterior, que servisse para comparar, os resultados expressam o modo errado como a análise ao comportamento eleitoral foi acompanhada. Li que várias sondagens foram feitas através da internet, sem salvaguardar elementos essenciais de caracterização dos entrevistados.

A segunda nota lembra o conceito de espiral do silêncio. Quando uma opinião se torna dominante nos media, os indivíduos que estão em desacordo com essa posição entram em silêncio, não querem ser ponto de rotura. À exuberância dos simpatizantes do sim pela independência, os adeptos do não procuraram ser discretos. Ou calaram-se mesmo. Ontem, de manhã à noite, os 85% do total de votantes pode, em plenitude, expressar a sua posição.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Balanços de António Ferro




António Ferro esteve à frente do Secretariado de Propaganda Nacional e do Secretariado Nacional de Informação entre 1933 e 1949. No primeiro texto, Dez Anos de Política do Espírito (1943), Ferro faz o balanço do primeiro decénio da sua actividade. Exposições, prémios, apoios à literatura, artes plásticas, cinema e teatro fizeram parte desse período que chegou quase até ao final da II Guerra Mundial e coincidiu com a mudança de designação do organismo da propaganda do regime.

Os dois outros textos foram editados quando António Ferro cessava funções, onde fez outros balanços e confessa ter contribuído "para a criação de uma consciência cívica e política no povo português". As duas publicações seriam a compilação de conferências e discursos que fez no exercício no SPN/SNI nas artes plásticas, no teatro e no cinema.

terça-feira, 13 de maio de 2014

As fontes de informação em tese de doutoramento

Ontem, na Universidade do Minho, Vasco Ribeiro (à esquerda, de pé, na primeira fotografia; o quarto a contar da esquerda na segunda fotografia) defendeu tese de doutoramento com o título O Spin Doctoring em Portugal: Estudo Sobre as Fontes Profissionais de Informação que Operam na Assembleia da República (fotografias de Luís António Santos).

 

Do que então disse, deixo aqui um resumo. O trabalho apresentado tem muita qualidade, está bem escrito e traz novidades para a investigação – que é o que se pretende num trabalho académico. Tem cinco capítulos, com informação muito útil e alargada no tempo, cobrindo as realidades americana e inglesa e, sempre que possível, portuguesa. Aprendi muito com os capítulos 2, 3 e 4. Constatei a quase inexistência de bibliografia sobre a realidade nacional em termos de assessoria de imprensa. Por outro lado, a leitura da tese levou a rever a minha posição que tinha quanto a um livro português, o de Joaquim Martins Lampreia. Alguns conceitos como interacção e negociação fazem já parte do património intelectual da área da sociologia do jornalismo.

Encontrei a tese da tese entre as páginas 268 e 294, quando traça a matriz de comportamento do spin doctor. Tem quatro pontos principais (grandes objectivos, pré-condições, principais tarefas do processo de spinning, principais técnicas e instrumentos). Às vezes, dá exemplos concretos, práticos, da aplicação dos conceitos, como faz no resto da obra, embora isso diminua a escrita conceptual. A meu ver, alguns tópicos, caso das fugas-plantadas, merecem mais análises. Sobre a metodologia, quando discute a dimensão da amostra (20 entrevistas), ela parece-me de boa dimensão. Pode dizer que há uma dúvida inicial, mas se entrevistou o universo não pode entrevistar mais ninguém. Melhor: obteve as respostas pretendidas. E, logo no começo da tese, refere as limitações da história oral. Sim, há limitações mas ela resolve alguns problemas, em especial quando não há outro tipo de documentos.

domingo, 27 de abril de 2014

Os filhos do Zip Zip

Helena Matos (1961-), para este livro, serviu-se de jornais e revistas da época, com destaque para o Diário Popular, jornal que dava muita atenção ao quotidiano, Diário de Lisboa, O Século, Diário de Notícias e O Século Ilustrado, ao longo da década de 1960 e até 1974. Ela usou outras fontes, como indica no final do livro. O livro, no seu todo, resultou de trabalhos que lhe foram encomendados, em especial a consultoria histórica feita, a pedido da RTP, para a série Conta-me Como Foi. Mais recentemente, ouvi Helena Matos em trabalhos feitos para a Antena 1, onde ela comentava o quotidiano dos portugueses nos anos em volta de 1974, a propósito dos 40 anos de implantação do regime democrático no nosso país.

O título do livro, Os Filhos do Zip Zip, constitui uma referência a um programa de televisão famoso na época e que marcou uma espécie de transição ou, pelo menos, de anseio de mudança política. Esta, como sabemos, veio a fazer-se por via militar e não civil, embora abrisse caminho a uma vasta alteração na sociedade civil.

A obra Os Filhos do Zip Zip divide-se em seis partes, cada uma delas com título apelativo e que reflecte valores partilhados na época: adeus aldeia, nós por cá vamos andando, estranha forma de vida, os desejados, mundo de aventuras, conversas em família. E tem 23 capítulos, onde identifica problemas muito sentidos então: subúrbios, delitos, guerra colonial, Tempo Zip (o programa de televisão e de rádio), questões femininas, amor, rock'n'roll, juventude, notícias sobre mistérios, sangue na estrada, conversas em família de Caetano, "por motivos alheios à nossa vontade" (diapositivo mostrado quando o programa da RTP sofria alguma avaria), primavera marcelista.

Na sua biografia, Helena Matos é apresentada como antiga professora do ensino secundário e jornalista. Dessa dupla vertente de pedagoga e de construtora de notícias surge uma capacidade de expor os temas com vivacidade e mantendo uma narrativa atraente. De produtora de notícias, ela passou a analista de notícias; daí, o recurso sistemático à análise das notícias e ao seu enquadramento histórico, social e linguístico. Isso verifica-se logo na entrada do livro - "Maio de 1973: os eléctricos deixam de circular na Estrada da Luz e também em Benfica. A Casa das Gravatas vai dar lugar a um banco e no Rossio fecha o Hotel Francfort" (p. 16). Logo depois, salta (e explica) para um fenómeno então a ter uma grande expansão: o crescimento urbano para a periferia de Lisboa. Sem o explicitar no texto, ela ilustra essa expansão com um anúncio de J. Pimenta, então um construtor afamado e que ficou conhecido através do slogan "Pois, pois, Jota Pimenta", enunciado a significar que o problema da habitação estava resolvido com os seus empreendimentos.

O texto de Helena Matos tem de ser lido todo, para nos apercebermos das ironias, dos trocadilhos, das "coisas da vida" num país pequeno, pobre e silenciado. Basta atentar num dos cartunes publicados no livro (p. 48), retirado do Diário Popular, conversa entre o merceeiro e a cliente, com aquele a dizer: "É o que eu lhe digo, D. Rita: quando havia batatas, não havia bacalhau. Agora, que há bacalhau, não há batatas". Era o custo de vida. No Natal de 1973, foi difícil arranjar bacalhau. Suspeitava-se que havia insuficiências de distribuição ou especulação (p. 47). Numa altura assim, dizia-se que os preços estavam "pela hora da morte", exactamente o título do capítulo 3 da obra.

Da sua bibliografia, Helena Matos escreveu o livro Salazar, em dois volumes (A Construção do Mito; A Propaganda).

Leitura: Helena Matos (2013). Os Filhos do Zip Zip. Lisboa: A Esfera dos Livros, 359 páginas

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Mural na avenida de Berna (Lisboa)

Retiro algumas informações do texto de Marisa Soares no Público de 13 de Abril último: a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na avenida de Berna, lançou o repto a grafitters da galeria Underdogs (Frederico Draw, Gonçalo Ribeiro Mar, Diogo Machado Add Fuel e Miguel Januário) para pintarem uma parede daquele espaço de ensino.

No meio do espaço, a figura de Salgueiro Maia, um dos heróis de 25 de Abril de 1974, a partir de uma fotografia de Alfredo Cunha. O blogueiro passou no local quando os grafitters estavam a começar o seu trabalho.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tim Suter sobre o serviço público de media

Ontem, integrado na conferência organizada pela RTP, Tim Suter, consultor da BBC para o projecto Vision 2020 da European Broadcasting Union (EBU), falou do que se espera do serviço público de media nos próximos anos (ouvir o início da sua comunicação no podcast abaixo). Por serviço público de media pode definir-se a conjugação e articulação, nos media (rádio, televisão e internet), de serviços de interesse prestados aos cidadãos e às comunidades por parte do Estado na promoção da democracia e no fortalecimento do bem comum.

tim sluter

Tirei algumas notas do que ele disse, nomeadamente as principais características dos media actuais. Estes precisam de estar atentos às múltiplas escolhas, pois diferentes aparelhos e ecrãs chamam a atenção do cidadão e consumidor. De outras características dos media, detive-me em: 1) entrada de novos parceiros e actores de media, 2) concretização do cidadão como criador, 3) o que os indivíduos fazem com os aparelhos de comunicação (blogues, YouTube, jornalista-cidadão), e 4) interatividade dos media.

Tudo isto representa uma grande expectativa em termos de responsabilidade e abertura (incentivar e aceitar contributos). Suter demonstrou as diferenças com um passado recente e identificou a necessidade de redefinir o âmbito do serviço público de media, de encontrar respostas para novas parcerias, atrair as populações mais jovens, adequação às novas tendências de consumo. E centrou a discussão na obtenção de novas formas de financiamento, dado os modelos presentes estarem a esgotar-se, caso do financiamento do Estado. Ao mesmo tempo em que se propõe um retorno à sociedade, a alternativa económica, que julgo inegavelmente neoliberal, é buscar modelos de financiamento orientados para o mercado. Mas não é isto o que as empresas comerciais fazem? Por isso, o equilíbrio - disse ele ou concluí eu do que ouvi dele - entre qualidade e audiência parece resultar numa aposta muito difícil.

Pode acontecer mesmo estarem a fazer-se experiências, desprezando a experiência e o orgulho e a crença individual e de grupo dos profissionais do serviço público e a marca que está representada na empresa de serviço público, que mais tarde vão custar caro. Claro que acredito em outras palavras e ideias de Tim Suter, tais como haver o interesse do serviço público acompanhar as mudanças tecnológicas, liderando-as se possível, conhecer as suas audiências, saber recrutar bem o seu pessoal, estabelecer parcerias sólidas com produtores independentes e empresas concorrentes (em algumas actividades, presumo, seguindo o pensamento de Suter). O mesmo consultor adiantou ainda a importância de criar pluralismo interno e diversificação de conteúdos.

sábado, 16 de novembro de 2013

I Congresso da Sociedade Civil

Durante o dia, no I Congresso da Sociedade Civil, no ISCTE (Lisboa), oito grupos de discussão - ensino e ciência, emprego e empreendedorismo, ordens profissionais, saúde e desporto, família e solidariedade, ambiente e desenvolvimento rural, e cidadania e minorias - estabeleceram uma discussão sobre sociedade civil e serviço público de media (rádio, televisão e internet) a partir de dois pontos, o primeiro ligado à proposta do contrato de concessão em discussão pública e o segundo sobre qual a melhor forma da sociedade civil ter um papel mais interveniente no serviço público de media.

Um documento base do ISCTE [apresentado apenas oralmente] trazia algumas das ideias da proposta do contrato de concessão: quatro novos canais da RTP (sociedade civil, música, educação, infanto-juvenil, que as estações comerciais já contestaram), a perda pela RTP da posição de produtora de conteúdos, passando a uma situação residual. Por outro lado, o documento do ISCTE estimava em 8,5 milhões de euros a concretização do canal de sociedade civil, valor sustentado por comparabilidade com o valor de dois milhões de euros do Porto Canal e cerca de um milhão do CM TV.

sociedade civil

À tarde, oito relatores dos grupos apontariam as conclusões, de que destaco algumas, como o interesse da sociedade civil (instituições públicas e privadas, ordens profissionais, organizações não governamentais, cidadãos) numa maior participação nos media públicos. Uma das questões discutidas foi o binómio canal próprio versus conjunto de programas específicos. Apontou-se o segundo como o mais viável quer financeiramente quer em termos de construção de uma grelha de programas, propondo-se a dinamização dos actuais e com programas formativos, como se fosse uma escola pública, para mostrar e partilhar valores e competências e divulgar obras e boas relações, numa linguagem simples e de proximidade, capaz de alterar mentalidades. Falou-se também de programas com conteúdos apelativos. A criação de um novo canal traria mais segmentação e perda de audiências.

Foi realçada a vontade de manter a RTP, dado ser uma das marcas portuguesas mais fortes (dentro do país, na diáspora e nos países de língua portuguesa), com a consequente defesa do valor produtivo - e a contestação ao projectado contrato de concessão, em especial a sua cláusula 19, que indica a perda da capacidade produtiva da empresa em troca dos papéis de agregadora e distribuidora. A sociedade civil, foi destacado por vários relatores, apresenta ideias e estimula conteúdos mas não tem competências técnicas para produzir conteúdos. Houve quem se referisse a este caderno de encargos como utópico, mas necessário para ser um motor nacional capaz de contrariar o pessimismo e a desconfiança no tempo actual. Sugeriu-se ainda a formalização desta corrente civil de opinião, pelo que se esperam novos passos em breve.

Na sessão de inauguração do congresso, o ministro Poiares Maduro referira três elementos centrais do programa do governo relativamente ao serviço público. O primeiro é o relacionado com o novo contrato de concessão que define a missão estratégica da empresa (produção cultural, produção independente, regulação da qualidade do audiovisual). O segundo ponto identifica a estabilidade do financiamento, com uma prevista transferência consubstanciada no contributo audiovisual (taxa através da factura da electricidade) e independente de decisões anuais do governo. O terceiro e último ponto diz respeito ao modelo de governação da RTP, com a criação de um conselho geral independente, o que vai obrigar a mexer nos estatutos da empresa RTP. Esta nova entidade terá entre as suas funções a nomeação do Conselho de Administração da RTP. Apesar do bom trabalho desenvolvido ao longo do dia por mais de cem participantes, uma crítica feita à organização do evento foi a colocação de informação sobre resultados do congresso ainda antes dele começar, como se lê numa notícia do Expresso de hoje, além de dois comunicados produzidos pela agência Lusa ao longo do dia, veiculando a ideia de viabilidade financeira de um canal próprio para a sociedade civil. Isto não coincide com a apresentação de resultados no final da tarde pelos relatores dos diversos grupos, como escrevi acima.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Congresso sobre censura ao cinema e ao teatro

O Congresso Internacional Censura ao Cinema e ao Teatro, a decorrer nos dias 13 a 15 de Novembro no Edifício I&D, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem já o programa fechado, conforme informação abaixo.

domingo, 18 de abril de 2010

SALAZAR E A BBC

Nelson Ribeiro, que defendeu tese de doutoramento o ano passado, publica agora um artigo na revista Journalism Studies vol. 11, nº 2, de 2010, intitulado "Salazar's interference in the BBC Portuguese Service during World War II", onde salienta os limites da independência jornalística do serviço europeu da BBC durante os anos da Segunda Guerra Mundial (ver vídeo que coloquei no blogue, aqui).

Armando Cortesão, irmão do conhecido historiador Jaime Cortesão, era um refugiado político português em Londres. Trabalhava para o serviço europeu da BBC, mas as influências do governo português - nomeadamente através do embaixador Armindo Monteiro - fizeram com que o comentador e radialista saísse da rádio britânica. Além das boas relações criadas por Armindo Monteiro, o governo de Salazar contava com o coronel Frederick Clement Egerton, que visitara Portugal e escrevia sobre o nosso país e o regime do Estado Novo.

Abstract do artigo aqui. Ver o vídeo com Bob Franklin, a apresentar a edição de Abril de 2010, em que aparece o artigo de Nelson Ribeiro, aqui.

domingo, 13 de setembro de 2009

DEBATES POLÍTICOS

Observação: faço uma suspensão à suspensão do blogue por uma vez para comentar as audiências de debates políticos na televisão.

Os dez debates realizados nos últimos dias entre líderes políticos com vista às eleições legislativas de 27 de Setembro próximo foram dos programas mais vistos pelos telespectadores, equiparados às audiências de telenovelas e transmissões de futebol. Os três mais vistos envolveram o actual primeiro-ministro com, respectivamente, os líderes do CDS-PP, BE e PSD (dias 2, 8 e 12 de Setembro).


Os números das audiências revelam um interesse elevado pela política e pelas eleições que aí vêm. Durante anos, a grande discussão política foi retirada dos canais generalistas e transferida para os canais de cabo associados a cada estação generalista. Os debates vieram ilustrar a renovada importância da discussão política.

Das três jornalistas a moderar os debates, gostei mais do desempenho de Clara de Sousa (SIC), nomeadamente no debate que opôs os líderes do PS e do PSD, partidos com mais possibilidades de ganhar a eleição, pois disciplinou os tempos dos candidatos e colocou a ambos perguntas difíceis. Curiosamente, dos candidatos políticos há uma só mulher, as jornalistas são todas mulheres, o que mostra uma masculinização da política e uma feminização do jornalismo.

Na transmissão dos debates, os canais de cabo especializaram-se na análise aos mesmos. Segui a SIC Notícias em especial, embora espreitasse os outros canais (RTPN e TVI24), onde imperavam jornalistas comentadores, geralmente comedidos nos seus comentários. Os politólogos eram mais escassos mas com igual elevação intelectual, apontando pontos fortes e erros dos candidatos a primeiro-ministro. A SIC Notícias, pelo menos ontem, teve um fórum com telefonemas de telespectadores, com conteúdos militantes, a provar uma luta de votantes com convicções partidárias.

No mesmo canal de cabo, o programa Eixo do Mal, espaço de muita maledicência, os seus intervenientes foram mais claros e com menos contemporização com os candidatos, numa aproximação ao que pensa cada um dos eleitores. Pareceu-me, assim, estabelecer um terceiro círculo, sendo o primeiro o dos debates e o segundo o dos comentadores (canalistas, como chamei abaixo noutra mensagem).

Esperemos que a discussão política seja esclarecedora durante a próxima quinzena. O blogueiro vai regressar à suspensão.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

POLÍTICA E JORNALISMO EM PORTUGAL

Carla Baptista defendeu hoje durante a parte da tarde na Universidade Nova de Lisboa a tese de doutoramento com o título A cobertura da política nos jornais portugueses - do século XIX ao Marcelismo. No pequeno vídeo abaixo, a autora mostra algumas das principais linhas de força do seu trabalho.




Congratulations from London.

domingo, 31 de maio de 2009

COBERTURA DA CAMPANHA ELEITORAL

  • Em época de crise e de contenção orçamental, muitos órgãos de comunicação social estão a fazer contas para minimizar as despesas durante a cobertura da campanha para as eleições europeias. E centram a atenção nos principais partidos, aqueles com assento parlamentar, apesar das várias leis existentes exigirem respeito pelo princípio da igualdade. Mas é uma lei de 1975, traçada longe do cenário dos media actuais, que controla o desvio da imprensa a este princípio. E sobre a televisão privada a lei nada diz em concreto. [...] Mas o facto é que as linhas traçadas neste diploma legal em 1975 [Decreto-Lei 85-D/75 e 14/79], logo após a revolução de Abril, estavam longe do que viria a ser a realidade dos media em Portugal na viragem do século XXI e muito menos previam o que são hoje as necessidades que se colocam à televisão privada. Aliás, este diploma apenas fala dos meios de comunicação social públicos e da imprensa, não havendo sequer um diploma que se dirija ao caso específico da cobertura de campanhas pela televisão [texto de Ana Machado no jornal Público de hoje, página 4 da edição em papel].

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O QUE DISSE O MINISTRO DOS ASSUNTOS PARLAMENTARES NA 8ª CONFERÊNCIA MUNDIAL DE ECONOMIA E GESTÃO DOS MEDIA


Augusto Santos Silva fechou os trabalhos do primeiro dia da conferência.

De entre o que disse, destaco as suas seis linhas de orientação em termos dos media:

1) facilitar a transição para a plataforma digital e para a sociedade em rede,
2) facilitar o desenvolvimento do mercado dos media em toda a Europa dentro de uma perspectiva dupla: actividade privada na imprensa, apoio público (estatal) à televisão e rádio,
3) promover o jornalismo como profissão,
4) criar políticas públicas para promover o uso social dos media,
5) manter o esforço de regulação do sector dos media independente do poder político,
6) promover a participação social na avaliação das políticas públicas.