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quinta-feira, 2 de maio de 2013

NÃO ESCREVO POEMAS DE AMOR.




"Essa mulher pensa que é uma pantera

e às vezes quando fazemos amor
ela rosna e funga
e seus cabelos se soltam
e por trás deles ela me olha
e me mostra suas presas
mas eu a beijo de qualquer jeito e continuo amando.
você já beijou uma pantera?
você já viu uma pantera fêmea se deliciando
com o ato do amor?
você nunca amou, meu amigo.
você com suas esquilas e tâmias
e elefantas e ovelhas.
você tem que dormir com uma pantera
você nunca mais vai querer
esquila, tâmias, elefantes, ovelhas, raposas, carcajus,
nada mais a não ser a pantera fêmea
a pantera fêmea atravessando o quarto
a pantera fêmea atravessando a sua alma,
todas as outras canções de amor são mentiras
quando aquela pele macia e escura vier em sua direção
e o céu desabar sobre suas costas,
a pantera fêmea é o sonho se realizando
e não há volta
ou desejo de –
aquela pele sobre a tua,
a busca terminada
e você aprisionado nos olhos de uma pantera."


Charles Bucovisk


Pelo mato iluminado pelo negro da noite sentia pelo caminho os olhos fixos e sangrentos no seu pescoço cheirando seu suor de ansiedade. Aproximando metro após metro.

 Sentia.....
Sim, sentia...
No vento o roscar e a respiração ofegante que se fundiam instintivamente.

Aproximava-se.

Sentia o correr dos passos
Sentia o bater das grandes asas negras no seu corpo feito para flutuar na noite do inferno para o céu.
Sentia o barulho do abrir das grandes garras.

Ofegantes.

Até que, seus passos pararam na noite e abriu seus braços, sua boca e sua alma para recebê-la como um bravo guerreiro que SE entrega na hora marcada a brava morte.

O que se viu foi sombra, foi noite, foi sussurro, foi desaparecimento.



quinta-feira, 3 de junho de 2010

Relato de feitiços contra a morte


"A morte não fede. Só os vivos fedem, só os agonizantes fedem, só os podres fedem"
Charles Bukowski



A primeira vez que a morte veio, eu ainda era imortal. Não a temia, não tinha conhecimento da sua existência, do seu poder e da sua habilidade no comando do meu declínio.


E ELA começou a espreitar e, com olhares autoritários, observar meu dia-a-dia sentada, tomando uísque, no alto de uma montanha. Eu juro que vi seu vulto ao longe, mas, nunca imaginei de quem se tratava...

Foi assim que começou. A morte, já ao meu lado, soprava os meus tranquilizantes ao vento e o ar quente da sua respiraçao me fazia contorcer de dor. Seu cheiro me fez sorver em líquidos verdes. Mas, os orientais chegaram em tempo e com um enorme cano nojento nas minhas vísceras, tal como dizia as escrituras, sugaram-me para longe dela.

Agora era mortal e de longe, no alto as montanhas do horizonte, via seu endereço.

Em um dia de inverno a morte voltou. Primeiro perambulou no meu quintal, decidindo se me levaria em 3 meses, em 2 anos…. Foi nesta época que pendurei minhas importâncias no varal tentando afastá-la. Depois, tudo que me era de valor junto com uma réstia de alho. E ELA entrou porta adentro voluptuosa e dentro da minha casa, ao meu lado, sentia seu ressonar e todos seus ruídos horripilantes que me sugaram o viço dos olhos, a alegria cotidiana e a paz interior e em alguns momentos, me arrepiavam os pelos da nuca, por dias. Não haveria negociação.


A solução foi drástica. O feitiço era único. Desta vez, o tomei o chá feito com todos meus cabelos a meia-noite por 9 meses e por 16 vezes morri um pouco de cada vez e por 16 vezes renasci ainda mais forte.

E assim como estava escrito no livro, ela não se apoderou do meu corpo e nem da minha alma. E o processo tão famoso nestes meios mortais, de AFASTAMENTO DE MORTE AFOITA, foi realizado com sucesso!

Já não temo a morte. Faço como o velho Buk me ensinou: "levo ela no meu bolso esquerdo, às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela".

O velho Buk é um velho safado, mas sabe das coisas... Deu certo, ela só quer me atenção nos seus dias mais sombrios e solitários, a morte é minha amiga do lado esquerdo do peito!


(Velho Buk: leia-se Charles Bukowski e o conselho(levo ela no meu bolso esquerdo, às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela , é um fragmento de O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio )
(Imagem: Frida Kahlo , the two fridas)