Título: O Jogo do Anjo
Autor: Carlos Ruiz
Záfon
Editora: Dom Quixote
Coleção: O Cemitério
dos Livros Esquecidos (nº2)
Sinopse:
Na Barcelona
turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível
recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca
existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.
Com
deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do
Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros
Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia,
através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a
amizade se conjugam num relato magistral.
Opinião:
Com este
volume regressei à Barcelona nas primeiras décadas do século XX, uma cidade
tenebrosa, capaz de uma crueldade imensa, como se do sofrimento se alimentasse.
Regressei às suas ruas labirínticas, aos segredos que encerra por detrás de
fachadas destruídas, e ao inolvidável Cemitério dos Livros Esquecidos. Estabelecido
como uma prequela de A Sombra do Vento,
reencontramos nestas páginas a família Sempere e a sua livraria enaltecendo a
dedicação e paixão aos livros. Afinal, este é sobretudo um livro sobre o poder
e a magia da literatura.
O
protagonista, David Martín, é um jovem escritor amargurado que, após diversos insucessos
no mundo editorial, é incumbido por um enigmático editor, mediante uma
extraordinária quantia monetária, de produzir um livro capaz de fundar uma nova
religião, enquanto se debate com um eterno e malogrado amor. Pelo meio surge
Isabella, uma espécie de discípula na área da escrita e sua ajudante, uma jovem
irreverente, determinada e inteligente. A amizade improvável entre ambos foi o
que mais me encantou nesta obra, devido ao genuíno carinho mútuo que demonstram,
apesar de todas as discussões e tiradas sarcásticas que atiram constantemente um
ao outro.
O autor não
foge ao ambiente gótico retratado no volume anterior, elevando-o a níveis ainda
mais dramáticos. A atmosfera de terror perpetua-se à medida que as mortes,
desgraças e revelações nefastas surgem em catadupa, num ritmo vertiginoso que
apela leitor que abandone a realidade e se sujeite ao pesadelo. Este clima de
paranoia e maldição é avassalador, impossível de ser ignorado. Por diversas
vezes senti as emoções à flor da pele, principalmente em virtude da escrita
notoriamente cinematográfica de Zafón. É um verdadeiro encanto para todos os
sentidos, na medida em que adota uma narrativa melodiosa, soberba, quase
poética!
Ainda assim,
o desenlace misterioso, praticamente em aberto, poderá não agradar a muitos
leitores. Fiquei um pouco frustrada pelo final abrupto mas ao mesmo tempo
encantada por todas as possibilidades que encerra. Nesse aspeto, este livro é
genial em fomentar a discussão e análise acerca do significado desta estória,
aberta a interpretações.
Contrariamente
ao que esperava, este segundo volume encantou-me mais que o anterior, talvez
por me ter apegado mais às personagens, de maneira que vivi, sofri e rejubilei
com elas. Mais uma vez o autor prova com esta obra extraordinária que as
palavras têm poder, que influenciam profundamente as nossas vidas, como que se
contivessem verdadeira magia!
23:46
Publicada por
Unknown