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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"A Filha da Floresta" de Juliet Marillier [Opinião Literária]




Título: A Filha da Floresta
Autora: Juliet Marillier
Editora: Bertrand Editora
Coleção: Sevenwaters (nº1)





01:57 Publicada por Unknown 8

domingo, 15 de dezembro de 2013

"Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" de George Orwell [Opinião Literária]





Título: Mil Novecentos e Oitenta e Quatro
Autor: George Orwell
Editora: Antígona




21:35 Publicada por Unknown 10

domingo, 25 de agosto de 2013

"O Cirurgião" de Tess Gerritsen [Opinião Literária]

Título: O Cirurgião
Autora: Tess Gerritsen
Editora: Bertrand Editora
Coleção: Rizzoli & Isles (nº1)

Sinopse:
Anda um assassino em série à solta nas ruas de Bóston. Os cadáveres encontrados indiciam uma brutalidade extrema: as vítimas são cortadas com um bisturi, os úteros são removidos e as suas gargantas cortadas. A polícia desespera para encontrar pistas para travar aquele a quem a imprensa já apelidou de o Cirurgião. Jane Rizzoli, uma detective dura e implacável e a única mulher na Brigada de Homicídios, está determinada a travá-lo. Thomas Moore, o outro detective encarregue do caso, encontra semelhanças perturbadoras com uma outra série de crimes ocorridos dois anos antes numa outra cidade. Poderá tratar-se-á do mesmo assassino? O problema é que o suspeito foi morto por uma das suas vítimas, a doutora Catherine Cordell, uma reputada médica actualmente a residir em Bóston. Será que o pesadelo de Catherine ainda não terminou? Terá o assassino regressado para acabar o que começou?

Opinião:
Esta foi a minha estreia com Tess Gerritsen, uma das escritoras mais aclamadas no género policial. E francamente não poderia ter sido melhor! Há algum tempo que não tinha a oportunidade de ler um policial que me cativasse tanto, que perpetuasse uma leitura tão viciante que a acabei num dia!
Em primeiro lugar, o enredo é absolutamente intrigante: uma onda de assassínios brutais muito semelhantes à atividade de um serial killer que já se encontra morto. A estória mantém o suspense até ao final, levando o leitor a desvendar pouco a pouco as peças de um puzzle único e perturbador.
A autora não se coíbe na componente descritiva. Afinal, este é um assassino que remove o útero às suas vítimas ainda vivas, apenas para depois as degolar e observar enquanto se afogam no próprio sangue. Todos os detalhes mais grotescos são bem explícitos, numa narrativa gráfica que certamente não aconselho aos mais suscetíveis. No entanto, foi este realismo sobre a natureza humana, capaz de uma crueldade inimaginável, que talvez me tenha cativado mais, revolvendo o meu estômago e despertando o meu lado mais emotivo.
De igual modo, a autora aborda a temática da violação e violência contra as mulheres de uma forma brilhante. A caracterização das vítimas deste trauma, protagonizada pela personagem Catherine Cordell, parece-me bastante realista, demonstrando a maneira de (sobre)viver após a violação mais intima que alguém pode sofrer. Por conseguinte, considero este um excelente retrato da forma como as mulheres que sofreram de abuso sexual encaram o mundo que as rodeia, como se vêm a si próprias, e como a sociedade as trata.
Como qualquer thriller médico, a componente técnica é bastante predominante nesta obra. Como estudante de enfermagem não tive qualquer problema com a maior parte dos termos utilizados mas percebo que será um obstáculo para a generalidade dos leitores. Ainda assim, penso que esta vertente descritiva nos procedimentos é mais notória no início do livro e que será fácil para o leitor se embrenhar na estória numa fase posterior.
Por fim, são as personagens complexas e fascinantes que dão vida a este enredo fenomenal. Desde Catherine Cordell, uma médica que viveu um verdadeiro pesadelo e que vive numa batalha diária contra os seus medos, a Thomas Moore, um detetive calmo e ponderado, que fará de tudo para restituir a felicidade que Catherine perdeu. Adorei observar o desenvolvimento do relacionamento entre ambos, foi ternurento e simplesmente perfeito.
Quanto a Jane Rizzoli, esta surpreendeu-me pela complexidade da sua personalidade: é uma mulher que aparenta força e determinação, mas, ao contrário do que seria de esperar, é absurdamente insegura. A sua infância enquanto irmã renegada no meio de dois rapazes e o seu trabalho num mundo de homens que raramente respeitam as suas opiniões, Rizzoli torna-se numa mulher amarga, rancorosa e com pouca auto-estima. Não será certamente uma protagonista que promova empatia, mas é uma das mais interessantes que já encontrei.
O próprio assassino é uma das personagens mais apelativas deste livro. Com o acesso ao seu ponto de vista em vários capítulos, conseguimos perceber as suas intenções, motivações e a sua inteligência. É fascinante e ao mesmo tempo mórbido sentir a sua paixão pelos crimes que comete, mas é assim que percebemos a verdadeira maldade que lhe corre nas veias. Um assassino impiedoso cuja aparência tão vulgar me arrepiou diversas vezes, fazendo-me refletir sobre até que ponto conhecemos verdadeiramente quem nos rodeia.
Esta foi sem dúvida uma obra desconcertante, uma leitura impossível de parar, que demonstra como as aparências podem iludir e que o mal se esconde nos sítios mais improváveis.
16:12 Publicada por Unknown 14

sábado, 17 de agosto de 2013

"Insurgente" de Veronica Roth [Opinião Literária]

Título: Insurgente
Autora: Veronica Roth
Editora: Porto Editora
Coleção: Divergente (nº2)

Sinopse:
A tua escolha pode transformar-te - ou destruir-te. Mas qualquer escolha implica consequências, e à medida que as várias fações começam a insurgir-se, Tris Prior precisa de continuar a lutar pelos que ama - e por ela própria.
O dia da iniciação de Tris devia ter sido marcado pela celebração com a fação escolhida. No entanto, o dia termina da pior forma possível. À medida que o conflito entre as diferentes fações e as ideologias de cada uma se agita, a guerra parece ser inevitável. Escolher é cada vez mais incontornável... e fatal.
Transformada pelas próprias decisões mas ainda assombrada pela dor e pela culpa, Tris terá de aceitar em pleno o seu estatuto de Divergente, mesmo que não compreenda completamente o que poderá vir a perder.
A muito esperada continuação da saga Divergente volta a impressionar os fãs, com um enredo pleno de reviravoltas, romance e desilusões amorosas, e uma maravilhosa reflexão sobre a natureza humana.

Opinião:
Após Divergente, o primeiro volume de uma saga que introduz um mundo distópico segregado em cinco fações, não esperava uma continuação tão fantástica, envolvente, absolutamente viciante!
Perante um clima de grande tensão, em plena guerra entre fações, esta sociedade anteriormente tão perfeita desfaz-se em bocados enquanto fações são destruídas e pessoas mortas para satisfazer a ambição e arrogância dos seus líderes. Por conseguinte, as personagens surgem mais duras, mais determinadas, sem lugar para piedade ou misericórdia se pretendem sobreviver.
Também Tris está mudada. Cega de dor e culpa pelas escolhas que tomou no final do volume anterior, esta protagonista terá de lutar contra os seus medos e inseguranças. Tris é, para mim, a personagem mais realista de todas, retratando a imperfeição da humanidade. Mais do que um produto da sua educação na Abnegação, mais do que a sociedade espera de si enquanto Intrépida, Tris é Divergente e encerra em si mesma coragem e determinação, medos e insegurança, egoísmo e uma tremenda capacidade de amar. No fundo, uma personalidade holística, a essência do ser humano.
Quatro, por sua vez, mantém o seu encanto, ainda que, na minha opinião, tenha sido ultrapassado por Tris neste volume. A ligação entre ambos é testada inúmeras vezes ao longo da estória, trazendo profundidade a esta relação.
A componente romântica não é, contudo, o foco desta estória. O enredo aprofunda cada vez mais a origem desta sociedade distópica, desvendando pouco a pouco os segredos e mentiras que a construíram. São finalmente exploradas a fundo as restantes fações, levando o leitor a perceber o seu funcionamento interno. A narrativa é intensa, avassaladora, repleta de ação, reviravoltas surpreendentes e revelações chocantes. A autora não tem receio de fazer as suas personagens sofrer, tornando esta uma obra dura, cruelmente realista.
Esta é uma das poucas vezes em que posso dizer que um segundo volume me entusiasmou mais do que o primeiro! Veronica Roth superou em grande medida as minhas expectativas, elevando a estória para um patamar mais obscuro e intenso. E o desenlace final? Extraordinário! Sem querer revelar demasiado (e acreditem, há muito para revelar), posso tirar uma conclusão deste final: nada nesta estória voltará a ser como dantes! 
17:22 Publicada por Unknown 2

quarta-feira, 31 de julho de 2013

"O Jogo do Anjo" de Carlos Ruiz Zafón [Opinião Literária]

Título: O Jogo do Anjo
Autor: Carlos Ruiz Záfon
Editora: Dom Quixote
Coleção: O Cemitério dos Livros Esquecidos (nº2)

Sinopse:
Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais. 
Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.

Opinião:
Com este volume regressei à Barcelona nas primeiras décadas do século XX, uma cidade tenebrosa, capaz de uma crueldade imensa, como se do sofrimento se alimentasse. Regressei às suas ruas labirínticas, aos segredos que encerra por detrás de fachadas destruídas, e ao inolvidável Cemitério dos Livros Esquecidos. Estabelecido como uma prequela de A Sombra do Vento, reencontramos nestas páginas a família Sempere e a sua livraria enaltecendo a dedicação e paixão aos livros. Afinal, este é sobretudo um livro sobre o poder e a magia da literatura.
O protagonista, David Martín, é um jovem escritor amargurado que, após diversos insucessos no mundo editorial, é incumbido por um enigmático editor, mediante uma extraordinária quantia monetária, de produzir um livro capaz de fundar uma nova religião, enquanto se debate com um eterno e malogrado amor. Pelo meio surge Isabella, uma espécie de discípula na área da escrita e sua ajudante, uma jovem irreverente, determinada e inteligente. A amizade improvável entre ambos foi o que mais me encantou nesta obra, devido ao genuíno carinho mútuo que demonstram, apesar de todas as discussões e tiradas sarcásticas que atiram constantemente um ao outro.
O autor não foge ao ambiente gótico retratado no volume anterior, elevando-o a níveis ainda mais dramáticos. A atmosfera de terror perpetua-se à medida que as mortes, desgraças e revelações nefastas surgem em catadupa, num ritmo vertiginoso que apela leitor que abandone a realidade e se sujeite ao pesadelo. Este clima de paranoia e maldição é avassalador, impossível de ser ignorado. Por diversas vezes senti as emoções à flor da pele, principalmente em virtude da escrita notoriamente cinematográfica de Zafón. É um verdadeiro encanto para todos os sentidos, na medida em que adota uma narrativa melodiosa, soberba, quase poética!
Ainda assim, o desenlace misterioso, praticamente em aberto, poderá não agradar a muitos leitores. Fiquei um pouco frustrada pelo final abrupto mas ao mesmo tempo encantada por todas as possibilidades que encerra. Nesse aspeto, este livro é genial em fomentar a discussão e análise acerca do significado desta estória, aberta a interpretações.
Contrariamente ao que esperava, este segundo volume encantou-me mais que o anterior, talvez por me ter apegado mais às personagens, de maneira que vivi, sofri e rejubilei com elas. Mais uma vez o autor prova com esta obra extraordinária que as palavras têm poder, que influenciam profundamente as nossas vidas, como que se contivessem verdadeira magia! 
23:46 Publicada por Unknown 0

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Os Céus de Montana" de Nora Roberts [Opinião Literária]

Título: Os Céus de Montana
Autora: Nora Roberts
Editora: Saída de Emergência [Chá das Cinco]

Sinopse:
Quando Jack Mercy morreu deixou um rancho no valor de muitos milhões de dólares. Agora, as suas três filhas - cada uma nascida no seio de um casamento diferente e sem ligação com as irmãs - reúnem-se para ouvirem a leitura do testamento. Mas as jovens ficam chocadas ao descobrirem que, antes de qualquer uma delas poder herdar a sua parte, terão de viver em conjunto no rancho durante um ano. Será isso possível sendo irmãs...mas completamente estranhas? Cedo vão ter de descobrir, pois ao herdarem o rancho também herdaram um antigo inimigo. E se o azedume e as feridas antigas as dividirem, serão destruídas sem piedade.

Opinião:
Nesta obra Nora Roberts apresenta não um, mas três romances poderosos e encantadores, acompanhados por um toque de suspense e um drama familiar rico e intrigante.
As três protagonistas – três irmãs com personalidades bem distintas e praticamente desconhecidas umas para as outras – são forçadas a conviverem e lidarem com as sombras do passado que ameaçam destruir a felicidade que construíram. Willa é determinada, com atitudes por vezes grosseiras e uma personalidade difícil de lidar. Apenas se preocupa com o seu rancho mas perante as dificuldades abre o seu coração à sua nova família e ao amor. Tess, por sua vez, é uma guionista em Hollywood, uma mulher elegante, moderna e um pouco fútil mas que aprende que o melhor da vida se encontra no que por vezes nos parece insignificante. E, por último, Lily: uma mulher doce com uma personalidade passiva e vítima de violência doméstica, que encontra em Montana um refúgio e finalmente adquire a força e determinação que sempre lhe faltaram. Todas estas mulheres florescem ao longo da estória, na companhia de três magníficos homens capazes de ver para além das barreiras emocionais que as três irmãs levantam para se protegerem.
Por conseguinte, temos três relações distintas, com ritmos diferentes, mas com igual encanto. Honestamente, não consigo eleger o meu par romântico favorito neste livro, simplesmente porque são os três tão adoráveis! No entanto, gostaria que tivessem sido mostrados mais momentos especiais de cada casal, mas em apenas um livro acaba por ser impossível dar tanto destaque a tantas personagens.
Quanto à narrativa, Nora Roberts prova ser mestre em manter o suspense até à última página. Adorei o facto de serem dois vilões a trabalharem paralelamente, ocultos pelos atos um do outro.
De igual modo, fiquei completamente arrebatada pelas descrições exímias dos cenários de Montana e pela explicação do trabalho numa quinta de criação de gado. O leitor é imerso neste mundo e é difícil resistir à vontade de largar tudo e tentar encontrar um lugar como este! Esta é sem dúvida uma das mais belas estórias criadas pela autora, que permanecerá na minha mente por muito, muito tempo…
21:52 Publicada por Unknown 2

terça-feira, 21 de maio de 2013

"O Nome da Rosa" de Umberto Eco [Opinião Literária]

Título: O Nome da Rosa
Autor: Umberto Eco
Editora: Gradiva

Sinopse:
Um estudioso descobre casualmente a tradução francesa de um manuscrito do século XIV: o autor é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que narra, já em idade avançada, uma perturbante aventura da sua adolescência, vivida ao lado de um franciscano inglês, Guilherme de Baskerville.
Estamos em 1327. Numa abadia beneditina reúnem-se os teólogos de João XXII e os do Imperador. O objecto da discussão é a pregação dos Franciscanos, que chamam a igreja à pobreza evangélica e, implicitamente, à renúncia ao poder temporal.
Guilherme de Baskerville, tendo chegado com o jovem Adso pouco antes das duas delegações, encontra-se subitamente envolvido numa verdadeira história policial. Um monge morreu misteriosamente, mas este é apenas o primeiro dos sete cadáveres que irão transtornar a comunidade durante sete dias. Guilherme recebe o encargo de investigar estes possíveis crimes. O encontro entre os teólogos fracassa, mas não a investigação.
 
Opinião:
Nunca um livro abrangeu de uma forma tão perfeita os componentes mais diversos: uma excelente caracterização histórica, as constantes e exigentes reflexões filosóficas, uma crítica social pujante e, acima de tudo, um verdadeiro enredo policial intenso e profundamente intrigante.
Umberto Eco desenvolve um retrato histórico sublime da Europa no século XIV, do quotidiano numa abadia beneditina, ao mesmo tempo que, com um engenho inigualável, cria uma investigação criminal complexa, capaz de capturar a atenção do leitor até à última página. Todo o ambiente de intriga e suspeita que rodeia a Abadia à medida que as mortes se sucedem é retratado com mestria. Os pormenores são vitais nesta estória, pequenas pistas são fornecidas de uma forma subtil e, quando todos os detalhes se unem no final, compõem a imagem de uma cadeia de acontecimentos macabros e potenciados por uma mente profundamente perturbada.
Paralelamente, são abordadas questões sempre atuais da condição humana: a desigualdade social, o preconceito perante a homossexualidade, a ambição desmedida, a riqueza e poder desmesurados da Igreja, e a manipulação generalizada do povo. 
A premissa mais explorada nesta obra é, na verdade, a seguinte: será que Jesus Cristo riu? Algo nunca demonstrado pelos Evangelhos e um comportamento aparentemente incompatível com a dimensão da sua missão como Filho de Deus. Uma questão aparentemente irrelevante, quase jocosa, que o autor critica impiedosamente, mas que dá azo a um debate aceso e constituirá a chave para deslindar o enigma das sete mortes. É no âmbito destas discussões filosóficas entre os teólogos da época que o leitor certamente se sentirá mais perdido. Confesso que não domino grande parte das questões culturais abordadas e, por isso, foi necessária uma grande ginástica mental e alguma paciência para seguir a linha de pensamento descrita. De igual modo, a falta de tradução para as frases em latim constituiu outro entrave à leitura, na medida em que sinto que perdi grande parte da subtileza do discurso e da natureza das críticas que o autor pretendia transmitir. Mesmo assim, foi muito interessante acompanhar estes debates que fomentaram a minha reflexão crítica. Acredito que esta leitura será um verdadeiro deleite para quem aprecie – e seja versado em – disciplinas como a história, filosofia e religião.
As personagens são, também, o grande trunfo do autor, principalmente Guilherme de Baskerville. Recorrendo somente à sua mente perspicaz, o irmão Guilherme ensina ao jovem Adso a importância da reflexão e do pensamento lógico. É verdadeiramente impressionante a maneira como o seu intelecto produz saltos lógicos tão obscuros que deixarão qualquer leitor embasbacado. De igual modo, é um protagonista com o qual se desenvolve uma empatia instantânea, principalmente pelo papel de mentor que estabelece com Adso e os laivos de humor que caracterizam os seus momentos de orgulho perante as suas descobertas.
No entanto, para mim, a protagonista é sem dúvida a biblioteca da abadia, com todos os segredos que encerra. A alma de toda a obra, um verdadeiro labirinto do saber e a essência de todo o mal do qual a abadia padece. É através da biblioteca que Umberto Eco tece uma grande crítica à sociedade da época: será que o conhecimento deve ser acessível a todos ou deverá permanecer enclausurado num labirinto, disponível apenas para uma elite exclusiva?
É fantástico como um livro tão denso, repleto de conteúdos complexos, consegue, ao mesmo tempo, perpetuar um ritmo fluído e incentivar o leitor a virar as páginas na ânsia de desvendar os seus segredos. Uma leitura que aconselho vivamente aos amantes da história e filosofia, mas também a todos aqueles que se queiram deslumbrar com um enredo intrinsecamente delineado, onde o mais ínfimo detalhe constitui uma peça fulcral no mosaico de intrigas e enigmas que Umberto Eco magistralmente arquitetou.
22:56 Publicada por Unknown 6

terça-feira, 7 de maio de 2013

"Morte no Nilo" de Agatha Christie [Opinião Literária]

Título: Morte no Nilo
Autora: Agatha Christie
Editora: Edições Asa
Coleção: Obras de Agatha Christie (nº30) / Hercule Poirot (nº15)

Sinopse:
A tranquilidade de um cruzeiro ao longo do Nilo é ensombrada pela descoberta do cadáver de Linnet Ridgeway. Ela era jovem e bela; e tinha tudo… até perder a vida! Hercule Poirot apercebe-se de que, a bordo do navio, todos os passageiros são possíveis assassinos: pelas mais diversas razões, todos tinham algo a apontar a Linnet. Mas quem terá sido levado ao acto extremo de a alvejar? Ainda que tudo aponte para a mesma pessoa, o detective cedo descobre que naquele cenário exótico nada é exactamente o que parece.

Opinião:
Mais uma obra que me deixou rendida à escrita de Agatha Christie: fluída e maravilhosamente simples, ao mesmo tempo repleta de subtis indícios que constroem todo o mistério. Ambientada no exóticos cenários do Egito – um país pelo qual nutro um eterno fascínio –, esta estória deixou-me completamente envolvida. Ao virar de cada página dava por mim a analisar personagens, a colher pistas e a procurar motivos, tudo para tentar deslindar quem desferiu o derradeiro golpe assassino. Só a Rainha do Crime me consegue envolver tanto numa investigação criminal!
Nesta obra é apresentado um leque de personagens extremamente variado e rapidamente nos apercebemos que todos têm uma ligação à vítima, Linnet Ridgeway. Apesar da sua generosidade, simpatia e encanto natural, todos parecem ter um motivo muito particular para a matar. É nesta atmosfera de desconfiança e ressentimento que o famoso e genial detetive Hercule Poirot terá de pôr à prova as suas capacidades enquanto perito na mente humana.
Como já seria de esperar, não consegui descobrir o assassino. A revelação final foi uma surpresa total e todos os pequenos pormenores, aparentemente irrelevantes, quando juntos e explicados por Poirot fizeram todo o sentido! Indubitavelmente uma das minhas obras favoritas de Agatha Christie!
17:00 Publicada por Unknown 4

domingo, 28 de abril de 2013

"A Dança dos Dragões" de George R.R. Martin [Opinião Literária]

 
Título: A Dança dos Dragões
Autor: George R.R. Martin
Editora: Saída de Emergência
Coleção: Crónicas de Gelo e Fogo (nº9)

Sinopse:
O Norte jaz devastado e num completo vazio de poder. A Patrulha da Noite, abalada pelas perdas sofridas para lá da Muralha e com uma grande falta de homens, está nas mãos de Jon Snow, que tenta afirmar-se no comando tomando decisões difíceis respeitantes ao autoritário Rei Stannis, aos selvagens e aos próprios homens que comanda. Para lá da Muralha, a viagem de Bran prossegue. Mas outras viagens convergem para a Baía dos Escravos, onde as cidades dos esclavagistas sangram e Daenerys Targaryen descobre que é bastante mais fácil conquistar uma cidade do que substituir de um dia para o outro todo um sistema político e económico. Conseguirá ela enfrentar as intrigas e ódios que se avolumam enquanto os seus dragões crescem para se tornarem nas criaturas temíveis que um dia conquistarão os Sete Reinos?

Opinião:
Neste volume regressam as personagens que tanto amamos, mas nenhuma está a salvo num enredo que se adensa e com tantas reviravoltas!
A Dança dos Dragões enquadra-se num espaço temporal paralelo aos volumes anteriores (O Festim dos Corvos e O Mar de Ferro), o que por vezes pode ser confuso. Por vezes senti-me algo frustrada por querer saber o que acontecerá a seguir mas compreendo a necessidade de abordar todos estes acontecimentos que não foram explicados nos livros prévios. Afinal de contas, é neste volume que regressam algumas das minhas personagens favoritas!  
Finalmente descobrimos o que aconteceu na Muralha, nas terras para além dela e nas Cidades Livres. Jon Snow continua a ser uma das minhas personagens prediletas e neste volume ganha mais destaque pelo seu cargo como Comandante da Muralha. Apesar de jovem, Jon demonstra uma extraordinária maturidade, coragem e determinação. Também Daenerys enfrenta grandes dificuldades durante o seu governo em Meeren. Aprecio a sua vulnerabilidade, o facto de não ser perfeita e cometer grandes erros, o que a torna mais humana e cativante. Por outro lado, foi bom rever Tyrion, com o seu humor mordaz e fabulosa perspicácia, apesar da sua faceta atual: quebrado e atormentado pelo fantasma do seu pai.
Embora com um ritmo mais lento, as surpresas e os desenvolvimentos chocantes permanecem uma característica inerente a esta saga. As intrigas continuam e é crucial dispor de alguma atenção aos diálogos para perceber as revelações nas entrelinhas. Mais do que nunca fui levada a especular sobre o desenlace final e a sensação de que este se aproxima e será excecional é inevitável!
21:40 Publicada por Unknown 2

terça-feira, 16 de abril de 2013

"Sombras do Passado" de Tana French [Opinião Literária]

Título: Sombras do Passado
Autora: Tana French
Editora: Civilização Editora
Coleção: Brigada de Investigação Criminal de Dublin (nº3)

Sinopse:
Um momento decisivo - aos dezanove anos - definiu o rumo de vida de Frank Mackey: quando a sua namorada, Rosie Daly, não compareceu a um encontro em Faithful Place e, dessa forma, não fugiu com ele para Londres como tinham planeado. Frank não voltou a ter notícias dela.
Vinte anos mais tarde, Frank vive ainda em Dublin e trabalha como polícia infiltrado. Cortou todos os laços com a sua família disfuncional. Até ao dia em que a irmã lhe telefona a dizer que encontraram a mala de Rosie. Frank embarca numa viagem ao passado que o leva a reavaliar tudo aquilo que ele crê ser verdade.

Opinião:
Neste terceiro volume da coleção que caracteriza a Brigada de Investigação Criminal de Dublin, acompanhamos a jornada de Frank Mackey, uma personagem secundária em A Semelhança, que finalmente tem aqui o seu destaque.
O enredo é cativante, na medida em que aborda um crime cometido há duas décadas, envolvendo segredos do passado e mistérios escondidos nas memórias da adolescência do protagonista. Por conseguinte, a narrativa é permeada por analepses, estabelecendo a ponte perfeita entre as trevas que ensombraram o bairro de Faithful Place há cerca de vinte anos e que insistem em permanecer na atualidade. Apesar destes constantes saltos temporais, a narrativa mantém um ritmo intenso, ávido e estimulante.
O protagonista, Frank, é uma personagem forte, bem delineada, cujo carácter pujante e determinado são fulcrais para o desafio que tem pela frente: confrontar o seu passado, colocando em dúvida tudo o que tomara como certo. Foi certamente interessante observar a maneira como a sua infância e a sua família disfuncional o moldaram, tanto no bom como no mau sentido. Estamos, pois, perante uma questão pertinente: será que alguns traços de personalidade são apenas genéticos, ou o meio em que nos desenvolvemos terá a sua influência em potenciar algumas das nossas características e escolhas? Apreciei bastante a abordagem neste contexto de temas como o alcoolismo, a violência doméstica, a negligência parental, fatores que determinaram a vida de Frank e dos seus quatro irmãos, cada um à sua maneira.  
Mais uma vez, a autora emprega a sua escrita muito particular: honesta, algo crua, com algum humor, que promove um maior realismo e naturalidade nos diálogos. A autora mantém o suspense até ao final da obra, pois, mesmo que a chave para a resolução do mistério seja revelada algo precocemente, o leitor está tão agarrado à estória e às personagens que não conseguirá pousar o livro até chegar ao final.
Em suma, penso que Tana French atingiu o seu auge nesta obra, ao construir um policial intenso e estimulante, estabelecendo em paralelo uma reflexão interessante sobre a influência da família no desenvolvimento da personalidade e o facto de nunca podermos verdadeiramente escapar ao nosso passado.
00:32 Publicada por Unknown 4

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"O Segredo da Casa de Riverton" de Kate Morton [Opinião Literária]


Título: O Segredo da Casa de Riverton
Autora: Kate Morton
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Como sobrevivem os que presenciam a tragédia?
Verão de 1924
Na noite de um glamoroso evento social, um jovem poeta perde a vida junto ao lago de uma grande casa de campo inglesa. Depois desse trágico acontecimento, as suas únicas testemunhas, as irmãs Hannah e Emmeline Hartford, jamais se voltariam a falar.
Inverno de 1999
Grace Bradley, de noventa e oito anos de idade, antiga empregada da casa de Riverton, recebe a visita de uma jovem realizadora que pretende fazer um filme sobre a morte trágica do poeta.
Memórias antigas e fantasmas adormecidos, há muito remetidos para o esquecimento, começam a ser reavivados. Um segredo chocante ameaça ser revelado, algo que o tempo parece ter apagado mas que Grace tem bem presente.
Passado numa Inglaterra destroçada pela primeira guerra e rendida aos loucos anos 20, O Segredo da Casa de Riverton é um romance misterioso e uma emocionante história de amor.

Opinião:
Este é um romance fluído e apaixonante, que alterna entre memórias do passado e episódios do presente de uma forma concisa, sem causar confusão. Assim, o leitor vai tendo acesso ao mistério subjacente à narrativa: o que verdadeiramente aconteceu naquela noite de Verão de 1924.
A estória é contada pela perspetiva de Grace, uma antiga criada da casa de Riverton. Esta é uma das melhores personagens do livro, na medida em que assistimos à sua evolução ao longo do tempo, incluindo a sua atitude sonhadora e observadora que potencia a descoberta de muitos dos segredos que envolvem a família Hartford. A sua relação com Hannah Hatford é sublime, evidenciando a importância da amizade verdadeira nas nossas vidas.
Um dos aspetos mais cativantes deste romance é a caracterização da Inglaterra no início do século XX. Kate Morton retrata esta época de uma forma brilhante, incluindo o conflito entre o vitorianismo rígido e tradicional do século anterior e a nova agitação social associada às inovações artísticas, num país destroçado pela 1ª Guerra Mundial. Todos estes acontecimentos históricos afetam a família Hartford, permitindo que o leitor viva este período com grande intensidade. É impossível não ficar encantado com as descrições da vida neste século, quase que nos sentimos parte da narrativa.
Além disso, este livro prima pela aura de mistérios e segredos que rodeia a Casa de Riverton. Todos os momentos ou diálogos nesta narrativa parecem repletos de segundas intenções, de fantasmas do passado que pairam sobre todas as personagens. A narrativa parece constantemente encaminhar-se para uma tragédia que demora a chegar, mas que sabemos que abalará toda esta família. Até que finalmente chegamos àquela noite de Verão de 1924, em que descobrimos a verdade por trás da morte do poeta e as repercussões nas vidas de todas as personagens. Assim se estabelece um desfecho surpreendente e arrebatador, que não deixará ninguém indiferente.
Kate Morton é uma autora que sabe como tocar verdadeiramente nas emoções do leitor. Ao longo deste livro, bebi das suas palavras em longos tragos, sem pressas, com o intuito de saborear todas as intrigas e nuances nos diálogos, todas as pequenas peças do puzzle que se acabam por encaixar perfeitamente. Recomendo a sua leitura sem reservas!
22:46 Publicada por Unknown 13

quinta-feira, 4 de abril de 2013

"O Homem Pintado" de Peter V. Brett [Opinião Literária]

Título: O Homem Pintado
Autor: Peter V. Brett
Editora: Gailivro
Coleção: Ciclo A Noite dos Demónios (nº1)

Sinopse:
Por vezes, há boas razões para recear a escuridão…
Aos onze anos, Arlen vive com os pais numa pequena quinta, a meio dia de viagem da aldeia isolada de Ribeiro de Tibbet. Quando a escuridão cai sobre o seu mundo, uma estranha névoa ergue-se do chão, com uma promessa de morte aos que forem suficientemente loucos para enfrentarem a escuridão crescente. É que existem demónios famintos que se materializam da névoa e se alimentam dos vivos. A partir do momento em que a sua vida é despedaçada pela praga dos demónios, Arlen vê-se forçado a perceber que é o medo, e não os demónios, a dominar verdadeiramente a humanidade.
Na pequena aldeia de Outeiro do Lenhador, o futuro perfeito de Leesha é destruído pela traição e por uma mentira. Publicamente humilhada, ela acaba a recolher ervas e a cuidar de uma anciã mais temível que os nuclitas. No entanto, a sua desgraça transforma-a na guardiã de um saber antigo e perigoso.
Órfão e mutilado pelo ataque dos demónios, o jovem Rojer encontra conforto no domínio das artes musicais de um jogral, descobrindo que o seu talento único lhe confere um poder inesperado sobre a noite.
Juntos, estes três jovens oferecem à humanidade uma última e fugaz hipótese de sobrevivência.

Opinião:
Num mundo repleto de escuridão, em que o anoitecer acarreta um perigo inimaginável, o autor delineia uma estória arrebatadora, com um ritmo alucinante e personagens encantadoras. O world-building é credível e entusiasmante e a mitologia bastante original. Demónios do fogo, do vento, da madeira, da rocha, da água, são todos representantes da força da natureza, criaturas temíveis e impiedosas, cujos atos sangrentos constituem a vertente mais negra desta obra. Outro aspeto singular é a arma de defesa contra estes seres: as guardas, símbolos mágicos que, quando irrepreensivelmente desenhados em rede e embutidos numa superfície (de preferência sólida, resistente e imune aos elementos), fornecem um escudo de proteção. Aguardo os próximos volumes para uma explicação mais detalhada sobre a sua origem e verdadeira essência.
É neste contexto algo sombrio que o leitor acompanha as vidas de três jovens: Arlen, Leesha e Rojen, ao longo das suas respetivas infâncias, adolescências e início de vida adulta. Arlen é um jovem com uma aptidão inata para a técnica das guardas, cujo sonho é ser Mensageiro. Já Rojer é um aprendiz de Jogral que, apesar do defeito numa das mãos, é capaz de encantar qualquer um com o seu violino. E, como não poderia faltar, Leesha, uma rapariga de princípios morais férreos, com um grande coração e uma vontade incansável de ajudar os outros através do seu talento como herbanária. Os três partilham uma infância conturbada, pontuada por tragédias pessoais marcantes, assim como uma determinação e coragem extraordinárias. Nascidos em terras distantes umas das outras, as suas peripécias e desventuras levá-los-ão ao seu propósito: o momento em que as suas vidas se cruzam e, com as suas habilidades distintas, cumprem o seu destino como defensores da humanidade. Estas são três personagens absolutamente cativantes, com quem criei uma empatia instantânea, razão pela qual dei por mim constantemente a velar pela sua proteção e sobrevivência. Mesmo as personagens secundárias são interessantes e diversificadas, exploradas o suficiente para envolver o leitor nas relações entre si e na dinâmica da estória.
Apesar de englobar uma dimensão cronológica bastante extensa, incluindo uma grande parcela das vidas das personagens, este livro apresenta saltos temporais que ajudam a reduzir a quantidade de informação irrelevante para o leitor. Tudo o que o autor narra possui relevância quer para a estória em si, quer para o desenvolvimento das personagens. Assim, embora imponha respeito pela sua envergadura, não é uma obra extensa ou maçadora. Pelo contrário, considero que estes buracos na história das personagens permitem o adensar de algum mistério e aumentar a intensidade do ritmo da ação. Os capítulos estão bem organizados, alternando entre as três personagens principais, o que torna a leitura mais dinâmica e envolvente e impulsiona leitor a continuar para saciar a sua curiosidade.
Com uma narrativa fluída e envolvente, o autor é capaz de cativar desde o início com o ambiente mágico, a diversidade cultural dos territórios, o próprio mistério relacionado com a origem dos demónios, cujo véu é levantado pouco a pouco. Todos estes detalhes contribuem para uma leitura empolgante e com significado. A própria mensagem que apreendi da personagem de Arlen é muito pertinente: por vezes, os demónios mais difíceis de enfrentar são aqueles que trazemos dentro de nós. E a esses sim, não podemos escapar.
22:55 Publicada por Unknown 2