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31/10/2012

Último Capítulo

Passamos o Domingo descansando em Chaval, agradabilíssima cidade...
Fizemos as coisas de sempre, quando o dia era de descanso, lavamos as roupas, fomos à lan house mandar notícias aos nossos progenitores e assistimos ao clássico sansão na Band! Felipão ficou deveras feliz ao saber que veria seu time do coração duelar contra o time dos craques Paulo Henrique Ganso e Neymar...

No dia seguinte nos preparamos para o nosso último dia de pedal! Felipe ainda seguiria por muitos quilômetros sozinho, ou melhor, acompanhado pelas aventuras da estrada e pelas pessoas incríveis que se conhece quando se abre o coração. Eu, infelizmente, via minha jornada se aproximando de seu fim, afinal havia restrições financeiras, acadêmicas e físicas que me impediam seguir no pedal dos sonhos.

Jantamos 1 Kg de camarão por 10 reais se não me engano, só me lembro que achamos muito justo o preço! Em seguida passeamos pela cidade por um bocado, antes de nos entregarmos a uma belíssima noite de sono.

Na manhã seguinte pedalamos de Camocim a Chaval, foram 57 km em 4 horas e meia. Pensamos que o pedal seria mais rápido e simples, mas com o vento contra e o sol de rachar mantivemos apenas 12 km/h de média esse dia. Ademais, as coisas do Felipe caíam da Silver Hammer constantemente. Meu pé também doeu muito esse dia em função da ferida que já vinha aumentando há alguns dias. O domingo que passamos em Chaval não cicatrizou a ferida, com efeito talvez tenha até piorado. Uma senhora me deu um remédio na praça na noite anterior, dizendo que era sei lá o que, mas que tava no vidro de não sei o que lá, e que eu podia confiar que ela era enfermeira. Enfermeira eu acredito que ela era, mas se o remédio melhorou ou piorou meu pé nunca saberei, só sei que durante esse último dia de pedal eu tinha uma bela cratera em meu pé, cultivada ao longo de toda a viagem, e que agora se enchia desse remédio não-identificado para formar uma piscina, com a qual eu bastante me diverti...

Chegando em camocim vimos a deslumbrante vista de tatajuba, foi a paisagem mais linda de toda a viagem, embora os lençóis também tenham sido incríveis! Daqui já é possível sentir o cheiro de jeriquaquara. A paisagem mudou demais de Chaval para Camocim, impressionante como as coisas mudam depressa mesmo no lombo da magrela, num dia de sol, com vento contra, buraco no pé, sem dinheiro, lenço e documento.

Passamos a noite em Camocim e no dia seguinte pegamos uma balsa e depois uma toyota para Jeriquaquara, onde ficamos alguns dias curtindo a viagem louca que tínhamos acabado de fazer.


                          (Jeriquaquara - Pedra Furada)


De Jeriquaquara tomamos um ônibus para Fortaleza, onde também ficamos mais alguns dias para conhecer a cidade.

De Fortaleza Felipe seguiu viagem, adoraria relatar se soubesse o que aconteceu...

Todavia, para a mim, a viagem acabou ali.

Vão-se as viagens, ficam-se as fotos e o diário...

02/12/2011

Dia 12: Luís Correia - Chaval

 



O Piauí tem uma extensão de mar tão curta que se pode pedalar em um dia, e foi o que fizemos.





Saímos de Luís Correia (PI) às 10 da manhã, pois tivemos que resolver várias coisas relativas às bicicletas de manhã. O trajeto era o mais longo que percorremos na viagem, posto que pedalamos 70Km nesse dia, 70Km estes, diga-se de passagem, que foram mais fáceis do que os 35Km de praias e dunas entre Caburé e Paulino Neves, nosso último dia de pedal pelos pequenos lençóis.
Entre 10 e 11:45 da manhã fizemos 30Km, parando numa lanchonete imediatamente antes de começar o dilúvio. Comemos pastéis deliciosos enquanto esperávamos a chuva que durou o primeiro tempo de uma partida de futebol. Quando o juiz apitou para o intervalo, nos despedimos dos camaradas que nos serviram água fresca e guloseimas, e pedalamos sem parar por mais de 2 horas. 
Em algum lugar entre Luís Correia e Chaval superamos a marca dos 200Km de pedal, vários quilômetros depois cruzamos a fronteira do Piauí com Ceará.



























Chegamos em Chaval (CE) na hora do almoço, ou pelo menos na hora do nosso almoço, que é sempre imediatamente após chegar na próxima cidade, faminto e exausto.
Foi demais! A estrada foi show, com uma vista inesquecível.
Ao fundo, as dunas e o mar, embalando nosso pedal do sonhar...

03/11/2011

Dia 11: Tutóia - Luís Correia

Em Tutóia, a cidade do camarão em potencial e do macarrão real, descobrimos que a estrada que tomaríamos rumo a Luís Correia estava alagada e intransitável. Depois do desafiador Maranhão ficamos mais cautelosos e resolvemos não arriscar. Maranhão de bicicleta traduz-se numa constante reformulação de planos.  Ali vale a frase que meu avô sempre dizia:
"Planejar é a arte de improvisar a cada instante". 
Aquilo que foi planejado ontem, hoje é impossível. E o que amanhã parece simples, será bem mais complicado. 
Vencemos o primeiro estado, não sem cicatrizes e sequelas, mas tudo vale a pena quando a duna não é pequena, como disse uma pessoa aí... Perdemos algum tempo, mas ganhamos mais do que poderíamos esperar.
Fomos para o porto da cidade e passamos cerca de 4 horas interrogando cada barco que ancorava sobre seu destino. Dos mais de 20 barcos entrevistados, apenas um seguia na mesma direção que nossas bicicletas, todavia a resposta não foi muito animadora:
"Estamos indo para o piauí, se quiserem podem ir com a gente, mas ficaremos 30 dias em alto mar antes disso".
Não tínhamos tanto tempo assim para pescar, e, finalmente, desistimos de seguir a barco, desmontamos nossas bicicletas e tomamos um ônibus.
Acaba hoje o Maranhão e começam os United States of Piauí, como diria Badi...

19/10/2011

Dia 10: Paulino Neves - Tutóia



Hoje o pedal foi bem tranquilo, 36 Km de estrada, só na manha. Finalmente a areia deu lugar ao chão, pedalamos numa média de 13 km/h. 
Saímos 11 horas da manhã e chegamos por volta de 16, atrasamos a saída em algumas horas como de costume.
Paramos numa venda para água e sombra entre 13 e 15, tomei 1 litro de "coca" já que era a única coisa disponível e eu já estava com alguma fome.


Tutóia nos foi anunciada (por nossas pesquisas ao google) como a cidade do camarão,
e nossas expectativas vinham se amontoando em torno desta cidade e de nosso jantar em potencial, que nunca iria se concretizar por chegarmos à cidade numa época em que o camarão estava em falta. 
Mas, como diria o ditado que nunca ouvi: "Quem não tem camarão come macarrão".
Que assim seja.
De agora em diante temos apenas estrada pela frente, e o pedal promete ser mais rápido e fácil.
Nos encontramos muito próximos à fronteira com o Piauí, e deixaremos o Maranhão para trás em breve, embora o Maranhão não nos vá deixar tão cedo.
As dunas são areias passadas...

A igrejinha na praça da vida que passa...


19/09/2011

Dia 9: Barreirinhas - Paulino Neves

                                                     (Barreirinhas - Caburé)


Descemos o Rio Preguiças de barco até Caburé, o primeiro vilarejo dos pequenos lençóis, a viagem durou cerca de 3 horas. No caminho conhecemos duas italianas e fomos conversando sobre diversas coisas no caminho, descobrimos que conhecíamos melhor o rock progressivo italiano que as duas, fato que as chocou, ficavam perguntando porque nós conhecíamos tantas bandas italianas e afirmamos que gostávamos muito de progressivo, e que os italianos eram feras no assunto, citamos as bandas Premiata Forneria Marconi , Il Balletto de Bronzo, Museo Rosembach e várias outras, das quais conheciam apenas a primeira, sem dúvida a mais famosa.


                                        (menino curioso com minha bicicleta)

De qualquer forma foi uma viagem agradável com um visual maravilhoso. Chegamos em caburé 2 horas da tarde, preparamos os alforjes nas bicicletas e pedalamos pela praia rumo a Paulino Neves. O objetivo dessa vez era bem mais tranquilo que o primeiro, se os grandes lençóis possuem cerca de 70 km de extensão, já os pequenos lençóis tem menos de 20 km.





Entre Caburé e Paulino Neves são 26 km. Os primeiros 17 foram fáceis, contornamos os pequenos lençóis pela praia com uma média de 11 km/h, de forma que em menos de 2 horas havíamos avistado a torre que nos diziam ficar na cidade de paulino neves. Checamos no GPS e parecíamos de fato estar alinhados com a cidade, que não fica à beira do mar, mas 9 km para "dentro". Após um pouco de hesitação encontramos o caminho que nos levava à cidade, e essa foi a parte dura da viagem. Entre a praia e a cidade praticamente empurramos a bicicleta, muita areia fofa e algumas dunas, ainda passamos por alguns lagos rasos, que quase encostavam nas mochilas da bicicleta e sempre gerava alguma apreensão, embora fossem mochilas impermeáveis. Chegamos em Paulino Neves às 6:30, exaustos, famintos, mas com uma felicidade imensa de ter percorrido boa parte dos grandes lençóis e a totalidade dos pequenos lençóis. Chegando à cidade pedalamos no chão duro pela primeira vez desde que se iniciou nossa viagem, e, depois de tanta areia, foi uma das maiores alegrias da viagem! A bicicleta andava tão rápido e com tão pouco esforço, que parecia pilotar uma moto.
A palavra exaustão ganhou um novo significado nesse dia, e a doutrina budista que crê que o real prazer é sempre precedido por sacrifício começa  afazer sentido.
Viajar de bicicleta é uma maravilhosa rotina de cansar e descansar. Os lençóis foram duríssimos, de agora em diante é pedalar na estrada, e deve ser mais fácil.
Muito louco, sinto calafrios por todo o corpo em função de finalmente tomar um banho e me sentar em uma cadeira. O prazer de descansar ganha novo significado que acabo de descobrir, nos termos do budismo.




24/08/2011

Dia 8: Barreirinhas (Descanso)

Depois de pedalar tanto nas dunas, tínhamos algumas obrigações pendentes com relação às nossas magrelas, e aproveitamos o dia para fazer algumas coisas necessárias, como:
1) Lavamos as bicicletas
2) Levei minha bicicleta numa borracharia para o camarada me dar uma força, minha corrente já tinha quebrado tanto na viagem que a corrente ficou muito curta, e não tava trocando as marchas direito. Por 2 reais o camarada arrumou um pedaço de corrente e emendou na minha corrente, fazendo minha troca de marchas voltar ao normal.
3) Lavei minhas roupas às margens do Rio Preguiça (que amanhã desceremos de barco para dar sequência à viagem).
4) Comprar diversas coisas no mercado, compramos pincel, por exemplo, para limpar as correntes da bicicleta, comprei castanhas do pará, pilhas etc...

Enfim, foi um dia de descanso e de dar uma geral nas bikes, primeiramente, e também em nós mesmos, que não tomávamos um banho de verdade há uns bons dias.
Desde que saímos de São Luís, ou o Dia 1 da viagem, não tínhamos visto ainda um chuveiro, apenas o banho de cumbuca da casa do Adiel, nos dois dias que ficamos por lá, enfim, passamos uma semana pedalando pelas dunas, igual bichos do mato, tentando fazer fogueira, alimentando junto aos pescadores, sem banho, dormindo em redes, mas, sobretudo, crescendo e nos aproximando, ainda que de maneira fugaz, de nossa própria essência.

A foto abaixo foi tirada em barreirinhas (a bola vermelha na imagem), e ficamos parados um tempinho olhando para a foto discutindo o que havíamos feito já, e o que faríamos a seguir...



Nessa foto da pra recapitular rapidamente nossa aventura pelos lençóis.

A parte em preto foi percorrida de caminhonete.
Em amarelo foi o que pedalamos.
Em azul foi barco. 
O primeiro ponto de nossa aventura nos lençóis foi primeira cruz, local que chegamos de no dia 3 de nossa viagem, já que no primeiro dia pedalamos de São Luis para São José do Ribamar e no segundo dia tomamos um Barco que levou 12 horas entre São José do Ribamar e Primeira Cruz.
No desenho também escrevi um número que corresponde a onde dormimos em cada um dos dias.
Foram duas noites na praia, duas noites na casa do Adiel, e duas noites em Barreirinhas.
O plano agora é descer o Rio preguiça de barco (em azul no desenho) e pedalar entre Caburé e Paulino Neves, ou, em outras palavras, contornar os Pequenos Lençóis.
Felipão me disse: "Ah bicho doido, os Grandes Lençóis nós não terminamos, mas os Pequenos Lençóis nós vamos contornar!!!" 

Nossa ideia original, quando planejamos a viagem, era tomar um ônibus em São Luís para Barreirinhas, e a partir daí começar nosso pedal.
Durante nossos primeiros dias, em São Luís, mudamos de ideia e resolvemos tentar contornar os Grandes Lençóis totalmente, até Atins. 
Todavia, como se viu ao longo dessa história, conhecemos Adiel, mudamos de caminho, e agora estamos em Barreirinhas. Se soubéssemos de antemão o tempo que seria necessário para atravessar os Grandes Lençóis não teria sido problema, pois estaríamos mais munidos de mantimentos.

Aprendemos todavia, que planejar é a arte de se surpreender a todo instante, e que, em uma viagem de bicicleta, nem sempre escolhemos o caminho que iremos percorrer, mas, muitas vezes, somos escolhidos pelo caminho...


11/08/2011

Dia 7: Rancharia - Barreirinhas






Pedalamos nas dunas novamente, eu praticamente empurrei. Havíamos acabado de bater um prato daqueles e o sol estava de rachar. Desta vez com grau bem maior de dificuldade, areia mais fofa e dunas mais inclinadas, principalmente a primeira, que pode ser vista no post anterior atrás do campinho de futebol, a foto abaixo foi tirada em cima da primeira duna que subimos e aponta na direção que seguimos.
Adiel havia nos informado que o vilarejo por onde a Caminhonete passava era bem próximo, todavia, com a dificuldade do caminho levamos uma hora para percorrer apenas 3 km de ladeiras com areia fofa.



Chegando em Lavado embarcamos na caminhonete que foi se enchendo pouco a pouco ao longo dos vilarejos pelos quais passava. Foram aproximadamente 5 horas de viagem até Barreirinhas. No princípio era apenas eu, Felipão e um porco vivo dentro de um saco, que reclamava deveras da viagem (creio que estava com enjoo). Mas, com o passar da viagem, lotamos a traseira da caminhonete, de forma que nossos joelhos e a bunda daqueles que assentavam a nossa frente formavam um só corpo. Poderia até ir adiante, e dizer que todos os passegeiros da Toyota se interligavam como um lençol.
Uma só massa,
Várias vidas,
Infinitos destinos.


03/08/2011

Dia 6: Rancharia (Descanso)

                                  
(Casa do amigo Adiel)


Casa, comida e roupa lavada. Hoje a esposa do Adiel até lavou nossas roupas! 
Claro que ela não abriu nossos alforjes e lavou tudo que tínhamos, mas, sem percebermos, pegou aquelas roupas que havíamos usado no dia anterior e deixado fora da mochila e lavou, para nossa surpresa.
Rancharia é um vilarejo formado por 7 famílias e 7 casinhas parecidas com a de Adiel.
A bondade no coração daquele que nos acolheu é ímpar. 
"Somos todos irmãos, temos que nos ajudar", ele nos disse.




Não precisávamos pedir nada, bastava pensar e nosso desejo era automaticamente atendido. 
E um olhar por poucos segundos para o cajueiro era suficiente para fazer o menino subir a árvore e colher a fruta desejada nos mais profundos pensamentos.
Comemos bem, caminhamos um pouco e batemos uma bola...

           
(campinho honesto)

Hoje foi um dia de descanso. Fora a pelada, que nunca é brincadeira, sem querer trombei com um cabra do meu time e joguei ele no chão, o pessoal morreu de rir, apresentei a eles a raça uruguaia,  conceito que os radinhos de pilha ainda não lhes haviam transmitido. De manhã teve o culto de domingo. O conteúdo da missa foi idêntico ao da minha igreja, mesmos salmos e músicas. A diferença era a igreja, casinha de palha e pés descalços sobre a areia, e o povo, que preserva alguns traços indígenas. Outra diferença era a informalidade da missa, conduzida de uma maneira muito menos rígida, embora se perceba claramente o alto grau de religiosidade deste povo. Aquela imagem me fez pensar no processo de catequização dos nativos e a imposição dos valores europeus em terras tão longínquas. 
Aqui a história é viva!

 

23/07/2011

Dia 5: Beira do Mar - Rancharia


 Acordamos e comemos mais do mesmo, isto é, o delicioso peixe com arroz do jantar nos fez nova visita no café da manhã, para nossa surpresa. Nos disseram para comermos bem pois teríamos um longo pedal até o vilarejo onde moravam, perguntaram se pedalávamos bem: 
" Vocês se garantem? "
Respondi que tínhamos costume de pedalar, mas que seria a primeira vez que o faríamos nas dunas, de qualquer forma disse para ele não se preocupar que as pernas são finas mas são ligeiras!
Fizemos uma viagem incrível cima das dunas. Pedalamos 20 km entre 1 e 4:30, mas paramos para nadar e buscar água (desta vez limpa graças ao know-how de nossos amigos, que também sugeriram esvaziar o pneu da frente de nossas bicicletas, o que melhorou nossa pedalada pacas! No dia anterior pedalamos com média de 8 km/h, hoje, com os pneus esvaziados, andamos a 11 km/h em média).


                                     
Durante nosso pedal passamos por três vilarejos, já que nossos quatro amigos moravam em locais distintos; Morraria, Pataca e Rancharia, nosso destino, onde mora Adiel, que sorri na foto abaixo. 
Adiel foi quem nos sugeriu logo de cara segui-los até onde moravam, foi quem tomou a iniciativa todo o tempo e sou muito grato pela hospitalidade dessa figura! 
Antes de chegar a sua casa nos informou que a caminhonete que nos levaria a Barreirinhas só passa uma vez na semana, na segunda-feira, e que ficaríamos na casa dele de sábado (hoje) para segunda...
Não estava em nossos planos descansar, pois já nos sentíamos um pouco atrasados no nosso planejamento, mas não tínhamos outra opção, e passar o domingo em seu vilarejo, conhecendo melhor os lençóis era uma opção também bastante agradável...
A esposa de Adiel preparou um belo jantar no fogão a lenha (aqui não existe eletricidade) para a penca de filhos do casal, eu e Felipe nos enquadraríamos nessa categoria durante o fim de semana, e, assim que escureceu esticamos nas redes e nos preparamos para dormir,  de modo que por volta de 8 horas os sonhos prevaleciam.  
Estamos numa casinha de palha, em redes, com as pernas esticadas, e vivendo uma experiência completamente inusitada...




09/07/2011

Dia 4: Pedalando nas Dunas

Passamos a noite em redes na cabana que encontramos. Foi uma das noites frias que já passei, por não ter roupas de frio, enrolei a toalha nas pernas e quase não preguei os olhos durante a noite, muita muriçoca e um clima de deserto que, a noite, faz esquecer que estamos em pleno Maranhão!
Claro que a noite mal dormida valerá a pena na manhã seguinte.
Acordamos as 6 da manhã e o visual compensaria semanas mal dormidas, se fosse esse o trade-off.
Esperamos a maré baixar para que pudéssemos iniciar o pedal, já que a areia estava ainda muito fofa quando acordamos. Fizemos alongamentos e os preparativos necessários para o pedal, como colocar a água que fervemos na noite anterior dentro das caramanholas. Em algumas misturamos a água com maltodextrina, aliás esse foi nosso café da manhã deste dia.
Pelas informações (suspeitas) que tínhamos, o pedal contornando os parque dos lençóis maranhenses, até atins, deveria durar cerca de 4 horas de pedal, logo pensávamos que iríamos chegar em atins no Dia 4, melhor ainda, planejamos almoçar em Atins, chegando lá por volta de 3 horas da tarde, doce ilusão. Caso não se concretizasse, tínhamos um pacote de macarrão reserva para o almoço.

A areia era difícil de pedalar, andávamos a 8 Km/h . Pedalamos 2 horas e 52 minutos entre as 9 da manhã e 1 hora da tarde (descontados as paradas para descansar).  Foram 23 km que valeram 50. Pela primeira vez na viagem minha perna se tornou bicolor.
Não sabíamos qual a distancia total, por volta de 1 hora da tarde estava completamente exausto, e foi a única vez durante toda a viagem que um de nós dois disse que não aguentava mais (no caso eu).
Eu: Felipão, não tô aguentando mais camarada, vamo descansar...
Ele: Vamo lá, só mais 10 minutinhos...
(3 minutos depois eu atinge um ponto de cansaço inédito, daqueles em que realmente não é possível dar mais um passo, ou pedalada, que agora já se confundem, e falei com o felipão: "Não aguento mais, vamos descansar", desci da bike e me atirei no chão da praia!)
Cheguei a dormir meia hora entre 1 da tarde e 1 e meia no sol de rachar! Felipe também dormiu, até sonhamos (provavelmente com sombra...) !!!
Depois do sono pedalamos um pouco mais e encontramos pescadores que nos informaram que havíamos percorrido aproximadamente 1/3 do caminho (isso deduzimos, naturalmente).
 (Nossos 4 herois, preparando o cozido - "Prepara logo esse cozido, os homi tão com fome", um dizia ao outro)


Os pescadores não sabiam quantos Km faltavam para travosa, então perguntamos a eles:
Mas do ponto em que estamos qual está mais próximo: Travosa (de onde partimos) ou Atins. E não tiveram dúvida em dizer que foi atins. Felipão tentou aumentar nosso grau de informação: "Se daqui até Trovosa for igual a 1, daqui até atins é igual a quanto ?" Queríamos, afinal, saber quantos km faltavam e sabíamos que tinhamos andado quase 30 km já...  Naturalmente não compreenderam a regra de três que felipe lhes propunha.
Nos propuseram que acampassemos próximo à cabana deles e que no dia seguinte os seguíssemos até o vilarejo onde moravam, no interior do parque dos lençóis. De lá poderíamos pegar uma Toyota para Barreirinhas, então achamos uma ideia interessante e topamos.

(Arrumamos nossa barraca onde eu me encontro localizado, bem ao lado da barraca deles, com a esperança que esse motinha de areia cortasse o vento à noite...  ahhhhh tá! )

Enquanto arrumamos nossa barraca eles foram pescar e voltaram com grandes oferendas do mar,
certo é que nunca comi tanto peixe na minha vida quanto aquele dia. Foi uma troca de experiências muito legal que tivemos com nossos 4 novos amigos, que também tinham bicicletas. Nos disseram que o dia seguinte seria bravo, pois pedalaríamos atravessando as dunas, subindo e descendo!!! Não sabíamos que isso era possível, mas nos disseram que nessa época do ano (de chuvas) a areia fica mais dura e se torna possível pedalar em boa parte delas, embora seja necessário constantemente descer e empurrar a bicicleta.
Ficamos felizes com a rota de fuga que havíamos arrumado, e fomos dormir cedo e descansar as pernas para o próximo dia! A noite foi fria novamente, mas não tanto quanto a primeira, dado que agora estávamos dentro da barraca.
À noite, da praia, pudêmos ver de longe as luzes das cidades mais próximas. Vimos um clarão que representava Barreirinhas, um para Santo Amaro e outro para Atins. Pela distância das percebemos que havíamos acertado em abortar nossa missão e dormimos com uma rota de fuga para o dia seguinte.

(Felipe diz: "Você pode segurar minha bicicleta para eu tirar uma foto" 
Pescador nº 3 responde que sim, mas sua cara deixa dúvidas sobre sua disposição...)

30/06/2011

Dia 3: Primeira Cruz - Travosa

                                                                                                                                                                   
(Na toyota entre Primeira Cruz e Travosa)

Continuando o post anterior, esperávamos no coreto as toyotas chegarem, cada uma com seu destino. Nossa ideia inicial era ir para Santo Amaro, mas nos informaram ser mais interessante ir para Travosa, de onde pedalaríamos a beira mar, contornando o parque do lençóis maranhenses, até atins (ou não).
A viagem até Travosa durou cerca de 2 horas, atrasou um pouco em função de termos batido de frente com outra caminhonete no caminho (não se preocupe, yellow submarine e silver hammer não sofreram nenhuma contusão).
Chegamos meio dia em travosa, um vilarejo bem pequeno e de areia muito fofa. Empurramos as bicicletas a procura de um mercado e um lugar para almoçar. Tinha exatamente um mercado e um local para almoçar, no primeiro compramos alguns alimentos já que iríamos acampar entre Travosa e Atins, no segundo conseguimos um almoço honesto e nos fartamos pois o dia seria duro. No caminho para o "restaurante" aconteceu um fato muito curioso (leia-se uma casinha na qual a simpática moça estava disposta a negociar uma refeição por uma quantia modesta, ofereci 10 pra nós dois e ela respondeu: "pode ser 12 por causa da coca?", claro que aceitei, me dando conta de minha recém-adquirida pão durisse). Enquanto empurrávamos as bicicletas veio um menino curioso a olhar e começou a nos seguir. Conheci pela primeira vez um fenômeno chamado "progressão geométrica de crianças". O menino curioso virou dois, assim como os dois rapidamente se desdobraram em 4. Só sei que meninos caíam das árvores como frutas maduras e brotavam da areia tal qual carangueijos, e, num piscar de olhos, se acumularam duas dúzias de meninos, que nos seguiram até o restaurante.
Após o almoço, e sem tempo para fazer o "quilo", rumamos em direção à praia! Um dos meninos que nos acompanhara nos levou parte do caminho entre o vilarejo e o mar, quando chegamos na primeira duna ele disse: "agora é só ir atravessando as dunas até chegar no mar". Foi uma árdua caminhada empurrando as bicicletas através de intermináveis dunas de areia muito mole que não permitiam pedalar. Creio que atravessamos entre 10 e 15 dunas, e chegamos a beira mar por volta das 3 horas. Estávamos bem cansados então pedalamos só um pouco pra curtir um pouquinho a paisagem maravilhosa!!! Pedalamos apenas 4 km e decidimos parar em uma das várias cabanas de pescadores que existiam na praia, todas inóspitas:

 
(Hotel a beira mar, 5 estrelas) 

Em função da falta de suprimentos que encontramos no mercado, iniciamos nossa jornada com água e comida limitadas, mas com a certeza de que água não seria o problema. Acontece que entre o mar e as dunas formam-se pequenos lagos de água da chuva, que fervemos assim que chegamos no nosso hotel para beber no dia seguinte. Quanto a comida tínhamos, além de 2 pacotes de macarrão e 1 extrato de tomate, 1 pacote de maltodextrina (carboidrato para reposição energética), além da minha promessa que iria caçar algum animal tipo um carangueijo baseado nos conhecimentos que adquiri assistindo "A prova de tudo", no Discovery Channel. Claro que os bichinhos me fugiram. 
Bem, após fervermos água para o dia seguinte, cozinhamos macarrão e jogamos extrato de tomate por cima, sinceramente duvido que qualquer restaurante italiano possa me servir uma melhor macarronada que a que comemos. É claro que todo o esforço do dia, e a paisagem exuberante, temperavam nosso prato.

 
                                                                   
     (Redes king-size armadas. Tinha até uma piscina artificial dentro de nosso quarto)

Na foto da pra ver as duas bicicletas. Em primeiro plano está a minha. Vou detalhar o que estou carregando: 
O único alforge que usei na viagem foi o Alforge Impermeável de 32 litros da empresa nacional Arara Una. O produto, e também a empresa, merecem todos meus elogios. Com apenas este produto, que sai a um preço modesto, fui capaz de transportar tudo que precisei durante a viagem. E quando peguei uma chuva torrencial na cabeça, a promessa da Impermeabilidade se cumpriu, tendo em vista que tinha aparelhos eletrônicos como mp3 e gps que saíram ilesos, de fato não entrou uma gota no alforge.
Além dos dois alforges (cada uma de 16 litros), pendurados um de cada lado da bicicleta, estava carregando uma barraca, que se encontra entre os dois, minha mala bike que está embaixo da barraca e não pode ser vista na foto, e um Ukulele em cima da barraca (pequeno instrumento havaiano a la cavaquinho). Como havíamos parados estão pendurados meu capacete e meu par de tênis na foto, mas durante o pedal isso é tudo que vinha sendo carregado no lombo da magrela.

Ao escurecer deitamos nas redes e tocamos algumas canções dos Beatles, eu no ukulele e o felipão na flauta doce, que, nos lençóis maranheses, e à luz do luar, garanto soa mais doce. Se fosse possível, teríamos dormido escutando a nossa própria música, mas não posso reclamar, pois o silêncio dos lençóis soam como uma orquestra.


26/06/2011

Dia 2: São José do Ribamar - Primeira Cruz



No dia seguinte pegamos um barco em direção à cidade de Primeira Cruz, que se encontra próxima aos lençois maranhenses.
Nos informaram que a viagem levaria no máximo 5 horas, mas foi uma viagem de 12 horas.
Eu tinha 3 bananas, o felipe tinha 4 laranjas... Mais tarde aprenderíamos que, no Nordeste, deve-se sempre multiplicar o tempo e a distância por 3 se quiser saber qual o verdadeiro tamanho do trajeto... Chegamos às 4 da manhã em Primeira Cruz e esperamos o sol e a padaria abrirem...

(O "sol" na foto é uma falha da foto... nós, e as muriçocas, ainda aguardávamos sua ilustre presença)


De qualquer forma foi uma viagem tranquila. Havíamos almoçado bem antes de partir, e, como dormimos boa parte da viagem, os mantimentos que levamos foram suficientes.
Chegando em Primeira Cruz, nos informaram que podíamos pegar uma caminhonete (ou Toyota no jargão local) por volta de meio dia na qual seguiríamos para travosa, de onde nosso pedal nas dunas teria início.
Fez-se a luz, o pão e a caminhonete, e, com todos os contratos do dia firmados pudemos seguir viagem,
mas deixa esse assunto pro próximo post que já estou invadindo o terceiro dia da viagem.

(De frente pra igreja, no coreto da praça, tocávamos violão a esperar a garoa passar (e a toyota chegar), clássico não?)

24/06/2011

Dia 1: São Luís - São José do Ribamar

 
Acordamos, montamos nossos alforges nas bicicletas pela primeira vez e pé na estrada!
No nosso primeiro dia de pedal viajamos de São Luís do Maranhão até São José do Ribamar.
Não acordamos tão cedo, pois teríamos apenas 35 km pela frente, todavia acabamos por demorar acima do esperado já que a corrente da minha bicicleta arrebentou duas vezes no caminho, acho que ficamos mais tempo arrumando a corrente do que pedalando... De qualquer forma foi um pedal tranquilo, chegamos na cidade por volta de 14 horas e almoçamos. Durante o almoço perguntei a duas moças sentadas na mesa ao lado se sabiam de alguma pousada na cidade. Responderam que não conheciam, que achavam pouco provável haver algum, mas que poderíamos dormir na casa delas. Claro que aceitamos!
Além da generosa oferta de um lugarzinho para esticar a rede e passar a noite, nos informaram sobre a origem do nome da cidade. Certa vez os habitantes da cidade encontraram uma imagem do santo São José boiando no mar, o santo virou o padroeiro da cidade e a "oferenda dos mares" deu nome à cidade, pelo fato de estar sobre o mar ou "em RIBA" do MAR, o nome da cidade acabou por virar São José do Ribamar.
Por fim, a Safira, nossa anfitriã, ainda leu minha mão e passou um prognóstico muito positivo sobre nossa viagem, afirmou com convicção:
"tudo é reto, tudo é plano. Este é o seu ano. Tudo vai dar certo na viagem de vocês porque nada acontece com quem vai de coração aberto!"
Embora eu seja um tanto quanto cético em relação a futurologia, bolas de cristal e similares, as palavras que ela disse foram uma injeção de ânimo e confiança em relação a viagem apenas iniciada.
A programação para o dia seguinte era pegar um barco e sair da ilha rumo ao continente, estavamos ansiosos por colocar nossas bicilicletas nas praias dos lençois maranheses e pedalar sem restrição...
Finalmente começa a viagem que, em minha mente, já se iniciara alguns meses antes...



  (Estátua dedicada a São José)

21/06/2011

Diários de uma Bicicleta - Aquecimento

    
 (na foto: Yellow Submarine e Silver Hammer, as magrelas em São Luís, ainda sem os alforges)

Fiz uma viagem de bicicleta pelo nordeste com um amigo em janeiro de 2011. 
Colocarei algumas fotos da viagem junto com um pequeno diário que fiz durante a viagem, não haverá muitos detalhes mas será possível ter uma ideia do percurso que realizamos e da fascinante experiência que é realizar uma viagem deste tipo.
Certamente foi a coisa mais excêntrica que já realizei e tenho certeza que foi apenas a primeira de muitas.

A viagem teve a duração de um mês e pedalamos entre São Luis do Maranhã e Fortaleza. 
No trajeto pegamos barcos, ônibus e caminhonetes, de forma que pedalamos pouco mais de 300 km do trajeto e no restante pegamos carona nos veículos motorizados supracitados. 

Após voar de Belo Horizonte para São Luís do Maranhão, realizamos a primeira etapa da viagem, foram 5 dias de preparativos finais, tínhamos que resolver algumas pendências em relação às bicicletas, incluindo comprar algumas peças e acessórios, montar a bicicleta e os alforges (mochilas que ficam na bicicleta) etc, além disso havia o natural interesse em conhecer a cidade, famosa por ser a "capital brasileira do reggae", posso dizer que não ficamos nem um pouco decepcionados.
Pedalamos cerca de 50km dentro da cidade nesses dias, conhecendo suas praias e sua gente, sem falar no seu charmoso centro histórico que pode ser visto na foto abaixo.
Assim que ficou tudo acertado, subimos na magrela e pé na estrada! 
Como São Luís situa-se no centro de uma ilha, a idea era pedalar até uma cidade portuária da ilha, no caso São José do Ribamar, e dali tomar um barco para o continente, de onde poderíamos pedalar através das praias dos lençois maranhenses rumo à fortaleza, mas isso são cenas de outros capítulos...



                                           (Centro histórico de São Luís do Maranhão)

Hóspedes