Uma coisa a
gente precisa aprender na vida, madama: defender, com unhas, dentes e tamancos,
os nossos princípios norteadores de postura e de conduta pessoal. Precisamos
saber nos municiar de instrumentos que preservem e protejam as convicções, os
conceitos, as concepções, os ideais que vamos formatando ao longo de nossas
existências e que traduzem a nossa forma única, pessoal, inequívoca e singular
de sermos. Se eu sou eu e a madama é a madama, é porque alguns princípios e
posturas minhas obedecem às nuances da vivência obtidas pela minha experiência
pessoal. Já as da madama são as da madama e ninguém tem o direito de meter o
taco, tampouco dar pitaco, nem mesmo um mundano cronista, menos ainda um de
segunda. Respeitemo-nos em nossas convicções, e saibamos, nós mesmos, identificá-las
e preservá-las. Mas, para isso, é preciso estarmos sempre alertas. Sempre
alerta, madama minha!
Um exemplo, a
senhora pede? Um daqueles concretos, que ajudam a ilustrar com fatos e feitos
os ditos perfeitos? Sim, tenho um na manga, e bem recente. Lá vai. Tarde
dessas, flagrei-me com meia hora de folga entre um compromisso e outro, dos
tantos que abarrotavam minha agenda, no centro da cidade, e deparei com o dilema
centenário: o que fazer? Municiado de um livro companheiro para todas as horas,
tirei-o da pasta e nos dirigimos em comboio (livro, pasta e eu) até uma
confeitaria posicionada no meio do caminho. Frente ao colorido e sedutor balcão
das delícias, resisti bravamente ao apelo das coxinhas de frango, dos risólis,
das empadas saborosas, das quiches quentinhas, das paradisíacas fatias de
tortas, dos batalhões de quindins dispostos em ordem unida, dos tijolinhos lambuzantes
de massa folhada, dos milk shakes brilhosos, das embarcações de banana split adornadas
com tríades de bolotas sorvetais e... subitamente preocupado com minha saúde...
peguei um singelo, saudável e leve copinho de salada de frutas!
Orgulhoso de
minha postura optante pelo equilíbrio da balança que habita meu banheiro,
dirigi-me ao caixa. Antes de o atendente faturar o pedido, possuído que estava
pelo demônio da tentação gulodícia, ele me perguntou: “o senhor gostaria de
acrescentar chantilly ou sorvete à sua salada de frutas”? Ato reflexo, ao ser
golpeado pela proposta, dei um passo atrás, atordoado, sem reação. Felizmente,
recuperei rápido o autocontrole e consegui fazer o bom senso seguir
predominando. “Não, obrigado”, respondi, e me afastei dali para uma mesinha,
ainda chocado. Afinal, não é fácil defender o território sempre pantanoso das nossas
convicções.
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