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segunda-feira, 13 de março de 2023

Frente Cívica pede ao Governo celeridade na investigação aos abusos da Lei dos Sefarditas

"Catarina Sarmento e Castro",
por 
Agência Lusa, sob licença CC BY 3.0.

A Frente Cívica escreveu esta segunda-feira, 13 de Março, à ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, pedindo urgência na finalização do inquérito que o Governo tem em curso sobre as suspeitas de abusos na atribuição da nacionalidade portuguesa ao abrigo da chamada "lei dos sefarditas". O inquérito, que incide sobre o Instituto dos Registos e Notariado (IRN), investiga as circunstâncias em que o oligarca russo Roman Abramovich adquiriu a nacionalidade portuguesa. As averiguações decorrem há mais de um ano, sem quaisquer conclusões ou avanços conhecidos.

O pedido da Frente Cívica surge na sequência de uma reportagem do jornal francês Le Monde que apresentou o sistema de naturalização ao abrigo da "lei dos sefarditas" como "O novo Eldorado do passaporte português". "A exposição reiterada de Portugal como porto seguro para criminosos internacionais envergonha os portugueses aos olhos do mundo. A repetição cíclica de notícias como esta devia convocar o Estado português ao urgentíssimo esclarecimento dos abusos à “lei dos sefarditas”.", escreve a Frente Cívica, na carta assinada pelo seu presidente, Paulo de Morais, e pelo vice-presidente João Paulo Batalha.

"Mais de um ano depois do início das averiguações internas no IRN, quantas mais notícias sairão na imprensa nacional e internacional, envergonhando o Estado português na Europa, até que tenhamos resultados da investigação em curso? Esta demora incompreensível no esclarecimento da verdade e na responsabilização dos envolvidos por parte do Governo traça o retrato de uma inércia cúmplice com os abusos", lamenta a Frente Cívica. 

A associação pede à ministra da Justiça que assegure a celeridade do processo de averiguações e que, desde já, faça um ponto de situação público sobre o andamento das investigações, incluindo o prazo previsível para a sua conclusão. Pede-se também a suspensão de todos os processos de atribuição da nacionalidade portuguesa ao abrigo desta norma e que, em relação a Abramovich e outras figuras já identificadas em investigações jornalísticas, o Governo ateste a legalidade dos seus processos de naturalização, ou os anule, caso tenham violado a lei. A Frente Cívica pede ainda que seja publicada uma lista de todos os cidadãos naturalizados ou com processos pendentes ao abrigo da "lei dos sefarditas" que se enquadrem na definição de Pessoas Politicamente Expostas.

Anexa-se a carta enviada ao Governo, para conhecimento.



Exma. Sra. Ministra da Justiça,
Prof. Doutora Catarina Sarmento e Castro

Praça do Comércio
1149-019 Lisboa
gabinete.mj@mj.gov.pt

  

Assunto: Naturalização de descendentes de judeus sefarditas

Data: 13 de Marco de 2023

Exma. Sra. Ministra da Justiça,

No final de Fevereiro passado, o jornal francês Le Monde publicou uma reportagem sobre as suspeitas de abusos na naturalização de descendentes de judeus sefarditas portugueses. O artigo[1] – intitulado “Os segredos da corrida aos passaportes portugueses”, na versão publicada online a 27 de Fevereiro, e “O novo Eldorado do passaporte português”, na versão publicada pelo jornal no dia seguinte, 28 – reitera suspeitas antigas sobre o modo como a “lei dos sefarditas” terá sido capturada por uma rede criminosa, ao serviço de oligarcas corruptos e criminosos internacionais, para a venda de passaportes de conveniência.

Estas suspeitas, agora expostas na imprensa internacional, mais uma vez mancham a reputação de Portugal na Europa, sobretudo face às responsabilidades do nosso país como membro do Espaço Schengen. Ontem mesmo, o jornal Público dava conta de mais um potencial beneficiário desta rede, o oligarca russo Gavril Yushvaev, cujo processo de naturalização estará actualmente em tramitação, mau grado tratar-se de um cidadão com cadastro criminal, sancionado pelo Estado ucraniano e referido pelo Estado espanhol há vários anos como tendo relações próximas com o crime organizado[2].

A exposição reiterada de Portugal como porto seguro para criminosos internacionais envergonha os portugueses aos olhos do mundo. A repetição cíclica de notícias como esta devia convocar o Estado português ao urgentíssimo esclarecimento dos abusos à “lei dos sefarditas”. No entanto, questionado em Janeiro passado pela Rádio Renascença[3] acerca da averiguação em curso no Instituto dos Registos e Notariado (IRN), o Exmo. Sr. Secretário de Estado da Justiça, Dr. Pedro Ferrão Tavares, nada adiantou quanto ao prazo para o fim destas averiguações, que decorrem há mais de um ano, sem avanços conhecidos. Essas declarações nada acrescentam à resposta que havia sido enviada à Frente Cívica a 8 de Agosto de 2022 sobre o mesmo assunto, através do Ofício n.º 4825/2022, pela chefe de Gabinete do Exmo. Sr. Secretário de Estado.


Exma. Sra. Ministra,

Mais de um ano depois do início das averiguações internas no IRN, quantas mais notícias sairão na imprensa nacional e internacional, envergonhando o Estado português na Europa, até que tenhamos resultados da investigação em curso? Esta demora incompreensível no esclarecimento da verdade e na responsabilização dos envolvidos por parte do Governo traça o retrato de uma inércia cúmplice com os abusos.

Para que o interesse nacional e a reputação de Portugal não continuem a sofrer, vimos pela presente requerer a V. Exa.:

1-     Que o inquérito em curso no IRN aos processos de naturalização por descendência sefardita seja concluído no mais curto espaço de tempo possível, sendo tornadas públicas as diligências efectuadas e as conclusões a que chegue o dito procedimento;

2-     Que, sem prejuízo da urgência na conclusão desse inquérito, o Governo faça, de imediato, um ponto de situação público sobre o mesmo, indicando, mesmo que brevemente, que diligências foram já tomadas, que dados relevantes foram apurados e qual a expectactiva temporal para a conclusão do inquérito;

3-     Que qualquer decisão de atribuição da nacionalidade portuguesa respeitante a processos de naturalização pendentes seja suspensa até à conclusão do inquérito;

4-     Que o Governo ateste a legalidade da naturalização dos cidadãos já identificados em investigações jornalísticas, nomeadamente Roman Abramovich e Andrei Rappoport; ou que, em caso de ser ilegal ou fraudulenta a naturalização destes cidadãos ou outros, seja suscitada a nulidade do acto e lhes seja retirado o passaporte português;

5-     Que o Governo organize e publique uma lista de beneficiários naturalizados ao abrigo desta norma, bem como de requerentes cujos processos estejam ainda pendentes, que se integrem no conceito de Pessoas Politicamente Expostas.


Somos, com os nossos cumprimentos,


Pela FRENTE CÍVICA,

Paulo de Morais, Presidente

João Paulo Batalha, Vice-Presidente


quinta-feira, 21 de julho de 2022

Frente Cívica quer suspender processos de naturalização pela lei dos sefarditas

Ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro

Associação escreve à ministra da Justiça pedindo urgência no inquérito interno às suspeitas de ilegalidades no Instituto de Registos e Notariado

A associação Frente Cívica escreveu esta quinta-feira, 21, à ministra da Justiça pedindo-lhe que suspenda todos os processos de naturalização pendentes ao abrigo da lei dos sefarditas, enquanto não for completado o inquérito interno anunciado em Janeiro às suspeitas de irregularidades no Instituto dos Registos e Notariado, que culminaram na atribuição da nacionalidade portuguesa ao oligarca russo Roman Abramovich.

A carta, a Frente Cívica lamenta a demora na conclusão do inquérito interno do Instituto dos Registos e Notariado, “numa matéria em que o Estado português está objectivamente sob suspeita, junto da opinião pública e das instâncias internacionais, de ter actuado de forma negligente – ou mesmo conivente – com a venda ilegal de passaportes de conveniência a um cidadão russo actualmente alvo de sanções da União Europeia”.

Por isso, a Frente Cívica pede à ministra Catarina Sarmento e Castro que complete com urgência o inquérito em curso e que, de imediato, faça um ponto de situação público sobre o andamento dessa investigação. A Frente Cívica pede ainda que sejam suspensos todos os processos de naturalização que estejam pendentes ao abrigo da lei que permite a atribuição da nacionalidade portuguesa por descendência sefardita e que seja publicada uma lista dos cidadãos já naturalizados ou requerentes da naturalização que correspondam à definição de Pessoas Politicamente Expostas.

A carta, assinada pelo presidente da Frente Cívica, Paulo de Morais, e pelo vice-presidente João Paulo Batalha, surge na sequência de notícias que davam conta de que, além de Roman Abramovich, também o oligarca russo Andrei Rappoport já terá obtido a nacionalidade portuguesa ao abrigo desta norma e que outros dois oligarcas, Lev Leviev e God Nisanov, estarão a aguardar a decisão dos seus processos por parte do Governo português. A Frente Cívica pede também que, independentemente do apuramento de eventuais responsabilidades disciplinares no IRN, que depende do inquérito em curso, o Governo português confirme a legalidade dos processos de naturalização de Abramovich e Andrei Rappoport ou que, confirmando-se a ilegalidade desses processos, anule a atribuição da cidadania portuguesa aos dois oligarcas.

Abaixo, a carta enviada à ministra da Justiça na quinta-feira, 21 de Julho de 2022.


Exma. Sra. Ministra da Justiça,

Prof. Doutora Catarina Sarmento e Castro

Praça do Comércio

1149-019 Lisboa

 

 

Assunto: Naturalização de descendentes de judeus sefarditas

Data: 21 de Julho de 2022

Exma. Sra. Ministra da Justiça,

A 19 de Abril passado escrevemos-lhe, em nome da Frente Cívica, para expressar a nossa preocupação com o processo de naturalização do oligarca russo Roman Abramovich, ao abrigo da norma que permite a concessão da nacionalidade portuguesa a descendentes comprovados dos judeus sefarditas expulsos do território nacional por édito do Rei D. Manuel I. Expressámos nessa ocasião a nossa preocupação pela forma como o processo de Roman Abramovich foi tramitado e decidido; e manifestámos o nosso sentido de urgência quanto à necessidade de uma rápida conclusão do inquérito aberto a propósito, no Instituto dos Registos e Notariado (IRN).

Infelizmente, desde então não só não tivemos resposta de V. Exa. às nossas fundadas preocupações, como não nos chegou notícia pública de que o inquérito do IRN tivesse chegado a quaisquer conclusões ou apurado quaisquer responsabilidades numa matéria em que o Estado português está objectivamente sob suspeita, junto da opinião pública e das instâncias internacionais, de ter actuado de forma negligente – ou mesmo conivente – com a venda ilegal de passaportes de conveniência a um cidadão russo actualmente alvo de sanções da União Europeia.

É grave que tais suspeitas tardem em ser esclarecidas, mas é mais grave ainda que novas suspeitas se avolumem quanto à tramitação de processos de naturalização semelhantes. Com efeito, o jornal Público, na sua edição desta quarta-feira, 20, reporta que outro oligarca russo, Andrei Rappoport terá já obtido a nacionalidade portuguesa ao abrigo da mesma norma, e dois outros, Lev Leviev e God Nisanov estarão a aguardar a decisão dos seus processos por parte do Governo português[1].

Exma. Sra. Ministra,

É cada vez mais evidente que a naturalização de Roman Abramovich não é um caso isolado e que um número indeterminado de outros processos – potencialmente dezenas ou centenas – levantam as mesmas dúvidas de lisura e legalidade, que estão aliás no centro de uma investigação criminal em curso e que o Estado português tem a obrigação urgente de esclarecer, também no plano político e administrativo.

Assim, vimos pela presente requerer a V. Exa.:

1-     Que o inquérito em curso no IRN aos processos de naturalização por descendência sefardita seja concluído no mais curto espaço de tempo possível, sendo tornadas públicas as diligências efectuadas e as conclusões a que chegue o dito procedimento;

2-     Que, sem prejuízo da urgência na conclusão do inquérito em curso, o Governo faça, de imediato, um ponto de situação público sobre o mesmo, indicando, mesmo que brevemente, que diligências foram já tomadas, que dados relevantes foram apurados e qual a expectactiva temporal para a conclusão do inquérito;

3-     Que qualquer decisão de atribuição da nacionalidade portuguesa respeitante a processos de naturalização pendentes seja suspensa até à conclusão do inquérito em curso no IRN;

4-     Que, como já requerido ao Exmo. Sr. primeiro-ministro em cartas remetidas pela Frente Cívica a 22 de Março e 17 de Maio do corrente, o Governo ateste a legalidade e lisura da atribuição da nacionalidade portuguesa a Roman Abramovich, publicando o parecer da Comunidade Israelita do Porto e demais documentação de prova da descendência sefardita que, sendo necessariamente documentação histórica, não está nem pode estar protegida por sigilo de dados pessoais; ou que, em caso de ser ilegal ou fraudulento o processo de naturalização deste cidadão, seja urgentemente suscitada a nulidade do acto e retirado o passaporte português a Roman Abramovich;

5-     Que o mesmo procedimento seja também aplicado ao processo de naturalização do cidadão Andrei Rappoport;

6-     Que o Governo organize e publique uma lista de beneficiários naturalizados ao abrigo desta norma, bem como de requerentes cujos processos estejam ainda pendentes, que se integrem no conceito de Pessoas Politicamente Expostas.

Somos, com os nossos cumprimentos,


Pela FRENTE CÍVICA,

Paulo de Morais, Presidente

João Paulo Batalha, Vice-Presidente



[1] “Mais um oligarca russo já é português e outros dois esperam por passaporte”, Público, 20/07/2022, acessível em: https://www.publico.pt/2022/07/20/sociedade/noticia/oligarca-russo-ja-portugues-dois-esperam-passaporte-2014282