Por manifesta falta de tempo não tenho participado nos debates em redes sociais ou outros meios sobre o problema moral da eutanásia. Antes de tudo o problema da eutanásia não é político, nem legal, mas moral. Exatamente por ser um problema difícil é que não sabemos que legislação aplicar a um problema tão complexo. E como problema moral que é, deem lá as voltas que quiserem mas é, antes de tudo, um problema filosófico. Claro que isso não impede as pessoas de terem opiniões sobre o problema. Afinal de contas os problemas da filosofia são problemas fundamentais da existência e é natural que as pessoas tenham mais opiniões sobre problemas filosóficos do que sobre buracos negros, conexões neuronais ou teoremas matemáticos. Daí não se segue que não exista um debate na especialidade. Ele existe. E não é feito nem por políticos, nem opinion makers, nem grupos de direitos disto e deveres daquilo. É feito a alto nível, academicamente e por filósofos. Ora, se é certo que não os conseguimos acompanhar de todo (nem eu que tenho formação intermédia em filosofia), também é igualmente certo que é errado promover um debate no qual a especialidade é completamente posta de lado, que é o que me parece estar a acontecer em Portugal, como de resto já aconteceu com o problema moral do aborto no passado. Assim o debate fica morto logo à partida porque os protagonistas do mesmo não têm a verdade por horizonte, mas correspondem a grupos de interesse particulares. Na verdade não há debate algum. Há uma berraria e um medir de forças para ver quem no final sai vencedor. Isto não é minimamente didático nem ajuda absolutamente em nada as pessoas que não têm grande formação em filosofia e em filosofia moral a compreender o debate. Também não vou aqui explorar (falta de tempo, já disse, pois este problema exige bastante esforço de exposição e compreensão) todos os argumentos a favor e contra. Mas vou exibir um esquema que fiz, baseado no texto que deixo aqui neste link, que mostra que existem pelo menos 6 tipos distintos de eutanásia e que se partirmos para o debate (como acontece) sem fazer estas separações, acaba por ser uma conversa de surdos pois as pessoas no fundo estão a falar de coisas bastante distintas, apesar de aparentemente semelhantes. Claro que podemos ser contra todo e qualquer tipo de eutanásia. Ou a favor. Mas mesmo que a nossa posição seja essa (e quem conhece as separações dificilmente é contra todos os tipos ou a favor de todos os tipos), temos de partir para o debate com estas divisões bastante claras na nossa cabeça, pois elas envolvem juízos morais por vezes muito diversos. Espero deste modo dar um pequeno contributo para que o debate seja mais limpo e organizado. Até porque há tipos de eutanásia que já se praticam de algum modo. O texto do Link deve ser lido pois ajuda bastante e não é muito extenso. No FES, aqui neste link, tenho disponível uma pequena bibliografia que é bastante rica a debater posições por vezes bastante diversas, mas todas elas com algum aprofundamento.
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