Sê livre



Marieta pensava nas compras que faria todas as semanas na feira que se fazia na praça aos domingos, compraria frutas frescas, legumes de excelente qualidade e cuidadosamente levaria pra casa as especiarias de que a Amante gostava.

Em sua memória, existia uma gaveta onde ela delicadamente cuidava de depositar os nomes das hortaliças e dos temperos preferidos de sua namorada.

Marieta desejava sair da casa dos pais, e possuir uma casa, um apartamento, um canto que fosse seu, onde ela pudesse viver com Júlia, a namorada que estava ao seu lado havia pouco mais de um ano.

Marieta a amava e sentia um ciúme imenso dela. Não a proibia de nada, dizia sempre, mas no fundo das suas rasuras internas, ela adoraria que Júlia não fizesse coisas que a aborrecia.

“Vaidade, de vaidade, tudo é vaidade”, diz Eclesiastes no Velho testamento da bíblia cristã, - e o ciúme possessivo, o que é, senão, vaidade?

Amor, Marieta descobriria com o tempo, nada tem haver com vaidade, com decorar os gostos da outra e realizá-los, enjoar a pessoa de tanto a satisfazer,

Amor tem haver com Liberdade, com deixar a porta aberta, com permitir que a outra ande descalça e vá percebendo que embora ela ame as hortaliças, você não toma chá com ela! 

E que também, Júlia não combina com Marieta, não pela sonoridade dos nomes, mas pela vaidade, pelo ciúme, pela posse, pela opressão.

Amor é leveza, é liberdade, nada tem haver com vaidade.

Só é Amor se te liberta, 
do medo de ser inteiro e do outro.

Comentários

Joyce disse…
Um texto suave, sobre amor e liberdade... Sempre imaginei o amor assim, você não precisa ser idêntico a pessoa, sua individualidade é importante para nutrir o amor que constrói juntos.

Gostei muito do texto =)

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