O
dia acordou soturno. Mas era a oportunidade para as últimas compras. Os livros,
os livros. E não apenas os livros, que
havia mais gente de que me fui lembrando. E, ao dobro dos livros juntei outras
minhoquices agradáveis. Portanto, estou em consonância com os portugueses que
afirmaram pretender gastar mais este ano que no ano transacto (não sei onde foi,
mas afirmaram; como todos sabem, a tv nunca se engana, é fonte fidedigna). Alto
lá. Há aqui uma diferença fundamental entre mim e o geral portuga. É que eu
pretendia gastar menos e gastei mais. Quem sabe, eles intentam gastar mais e
acabam a economizar. Tudo é possível.
Pois foi uma canseira, mas comprei uns
livrinhos supimpas. Resisto a tudo excepto comprar livros para outrem e não me auto-oferecer
um. Por sorte, tinha umas prendas de
aniversário para levantar na Bertrand. Que jeito me deram. Agora vou pedir às
minhas amigas para depois me emprestarem os livros que lhes vou ofertar:). Bom,
dois deles pertencem-me, comprei-os para mim, eu, me, migo. Viva! E ainda
acrescentava uns cinco ou seis, mas o valor dos cheques esgota num ápice e o
subsídio de Natal é para o Natal. Ponto. Parágrafo.
E
portanto. Ora deixa cá ver. Por entre pingos de chuva e poças de água lá vim
carregada de sacos até ao carro. Mas antes, no Metro, em conversa de empata
tempo com uma senhora desconhecida (há desconhecidos muito simpáticos e
precisamos falar com alguém, não é), reparei que a moda nos presentes familiares
é assim uma troca (ao acaso) sem graça nenhuma e cujo único objectivo será dar
cada pessoa apenas um presente (a senhora admoestou os meus sacos, imaginem). Sem
querer ofender ninguém, e muito menos ela que era uma simpatia florida, isso era
o que fazíamos no almoço de Natal do trabalho. Éramos mais de cem, entre
profissionais e funcionários; marcava-se um tecto para os presentes e depois
havia uma troca por meio de adivinhas, provérbios, cidades, sei lá. E o
engraçado eram os provérbios, as adivinhas...que os presentes apenas serviam para
oferta em quermesses. Mas na minha família não se joga aos afectos. Ninguém
oferece por ter de dar – aliás há pessoas que nunca oferecem. Mas tenho grande
prazer em verificar que os meus filhos também se dão ao trabalho de comprar e oferecer presentes à família na noite da
consoada. E a esse gesto o meu coração deleita e eu mudo-me em Cinha Jardim sem
os tiques de menina colunável e penso, “meus ricos filhos”. Sem que o saibam,
porque nunca isso nos serve de assunto, fazem de mim uma mãe rica.
E
é isto. Por hoje.
Boa! Então eu também tenho dentro de mim uma Cinha Jardim que liberto sempre que me apetece. Os meus ricos filhos merecem tudo menos que esta mãe consumista o ano todo, se sujeite às confusões natalicias. Até lhes ralho, se se atrevem. Nada de 7compras, nada material. Muitos beijos e abraços, grande noitada plena de paródia
ResponderEliminarIsso sim. Tão bom.
Boa noite, Bea.
Sabe Nina, provavelmente a sua infância foi muito diferente da minha; e a sequência da sua vida também. As prendas na minha família para além do afecto que carregam são também uma ajuda ao que não se tem e gostava de ter. Nada é supérfluo ou ineficaz. Não damos o que gostaríamos de dar, damos o que podemos dar, mas é sempre bem recebido. E se não for? Não acredito que não seja.
EliminarE a minha noite de consoada não é de paródia embora tenhamos grande prazer em estarmos juntos.
Boa noite:)
Comprou uns livrinhos supimpas?
ResponderEliminarE não quer dizer quais foram?
Eu também tenho uns vales da Bertrand mas ainda não consegui ir lá. Ontem saí da cama com febre para ir à farmácia e também para comprar umas coisinhas urgentes e receio que isso não me tenha feito nada bem :( mas o Ambrósio falhou-me - e por acaso até me estava a apetecer um ferrero rocher ;)
Este ano o Menino Jesus (ou o Pai Natal, sei lá...) resolveu presentear-me com duas gripes seguidas, já lhe disse que uma era suficiente :)
Boas leituras, bea.
🎄
Porque não,Maria, não são secretos: comprei dois de Tolentino Mendonça, um para mim e outro para uma amiga; o último do professor Júlio Machado Vaz, para mim; Dois da senhora de nome esquisito que ganhou o nobel este ano, para duas das minhas amigas (se calhar troco o Tolentino e fico com um da nobelizada); O mito de Sísifo de Camus para um sobrinho que gosta de ler; "O nervo óptico" de Maria Gaínza para a minha sobrinha; E para uma amiga que gosta de Virgínia Woolf, "Um quarto que seja seu".
EliminarAi o palerma do Ambrósio, então quando faz falta é que não aparece?! Ora esta. Melhorinhas. Duas gripes de seguida podem querer dizer defesas baixas...Ná, o Menino Jesus não pode ter sido, ele é um querido, não sabe fazer maldades; além disso, que eu saiba e como cantam e contam os pastores da Comercial, só fez bem a toda a gente (sem ser expulsar os vendilhões do templo, o que também não é propriamente um mal, a gente tem que zelar pelo património, não é?).
Portanto: há-de ter sido o Pai Natal que é velho e tosse e espirra, e às vezes já se esquece de espirrar e tossir para o braço como ensinam na tv. E depois olha, deixou a moléstia no ar. E pimba, a Maria agarrou-a logo. Ora bolas.
Nos tempos mais próximos as minhas leituras são estilo pequenos bochechos. Mas já comecei. Logo no Metro:).
Boa noite
Nós sempre presenteámos e fomos presenteados mas quando descobrimos que não precisamos de gastar o nosso subsídio com presentes... acabámos com esta troca de presentes há já uns anos!!!
ResponderEliminarMas gosto de ver o brilho de quem recebe... Ah lembrei que ofereço ao meu neto do coração 😉🤔😘
As famílias sendo muito iguais são todas diferentes:).
EliminarHá quem só dê às crianças, Gracinha. Mas os meus irmãos são como filhos e os sobrinhos, como netos. E twnho muita gente no coração, avós emprestadas, amigas mais velhas e gente que precisa companhia e algum mimo. Coisas.
Apesar do dia dezesseis ter estado soturno, a crónica saiu com graça.
ResponderEliminarConstato que a forma como cada um observa o Natal, a festa de Natal e as prendas é uma matéria em que raramente se está de acordo, e tanto enfada a quem alinha os desalinhados, como a quem desalinha os alinhados. Portanto não me pronuncio sobre a minha porque a época não é para desencontros.
Admirei-me sim ter comprado um Nobel; pensava que não era de modas, mas o poder do marketing e da publicidade são terríveis, não é verdade? Ao fim e ao cabo não vivemos isolados. Foi o do arado ou das viagens?
Não sei se lhe disse que gosto de circo (acabo de descer na sua consideração :) e talvez um dia lhe conte a história do porquê.
Até lá, deixo-lhe uma piada em jeito de anedota, para manter a boa disposição:
- Viste o convite que te enviei para o circo de Natal?
- Vi, mas é para levar crianças de 6 anos.
- E não consegues arranjar ninguém que te empreste uma para levares?
- Eu?! Não conheço ninguém com filhos pequenos...
- Pois, só conheces gente com gatos, assim não dá!
Só comprei um nobel por ser nobel e dei-me mal. Digamos que a minha intuição apostou nesta senhora vá-se lá saber porquê; um dos motivos é que gosto de dar obras que ainda não leram e é pouco provável que a tenham lido:), o outro é só mesmo apostar, ter uma fé na mulher. Comprei os dois livros que referiu, Joaquim. Vamos ver se o meu feeling acertou.
ResponderEliminarMas eu não tenho nada contra circos, embora não goste. Até já tive uma conversa muito interessante com uma garota daquelas do trapézio. Mas na verdade o circo não é lugar que me apeteça. Tenho pena dos cães, dos cavalos, do palhaço pobre que leva pancada do outro de toda a maneira e feitio. Se há leões acho-os tristes, os tigres parecem drogados e se não parecem assustam, nem olho para os equilibristas porque receio que caiam...enfim.
pá...sou muito básica, não entendi a piada. Ou então não tem piada:).
Bom dia
AQUI, já não é permitido apresentar animais no circo. E o palhaço pobre não leva pancada do palhaço rico, porque não há palhaços pobres ou ricos, são todos palhaços. A magia do circo encanta crianças e adultos. Os preços dos bilhetes já encantam menos!!!
EliminarNunca achei o circo mágico. Bom, talvez não seja bem verdade; Por vezes, na minha terra, pernoitavam e ficavam uns dias (até a GNR os expulsar) circos de gente pobre, suja e faminta. Tínhamos pena deles, dávamos comida e roupa às crianças que andavam sujas, esguedelhadas e ranhosas; lembro-me de um em que havia um bebé roxo de frio e que as mulheres foram a correr buscar cobertores e roupas velhas; a pobreza é compassiva com a miséria. Seria um Menino Jesus não datado. Uma tarde a música no altifalante anunciava o espectáculo para a noite. A magia era que pais e filhos viravam artistas; tinham as meias rotas e os tufos da saia a desprender, mas a garotinha parecia outra, e, no arame e no trapézio era um prodígio de agilidade que eu temia a cada minuto que caísse. Íamos todos ao circo "para ajudar". Quando comecei a frequentar circos sérios, aqueles com lona em bico, lembrei aquela criança que se equilibrava lá tão em cima a céu aberto e cuja única rede eram os olhos do pai e da mãe cá em baixo. Mas ela com as estrelas do céu e a lua nas costas abria os braços magrinhos e sorria para nós a agitar as palmas das mãos antes de atravessar sobre a corda com as sabrinas rotas e sujas na biqueira. Tudo desimportâncias, ali, ela era a maior. E no dia seguinte, com os maus modos habituais, a Guarda vinha certificar-se de que partiam.
EliminarNão sei Teresa, julgo até que, por vezes, senão sempre, somos pequenos títeres. Não será preciso um circo vindo de fora, cada um já tem o seu.
Mas que não se sacrifiquem os animais, aquelas chicotadas batiam-me na alma:).
Conhece o "Cirque du Soleil"?
EliminarClaro que é deste tipo de circo de que estou a falar.
Chicotadas nos animais também batiam-me na alma!!!
Confesso, que prefiro gastar o meu dinheiro para o bilhete de um bom concerto, como por exemplo, para ouvir a Oratória de Natal de Bach.
Aguardo o dia 17.
Gostei de saber que oferece livros no Natal. Também o faço.
ResponderEliminarAs suas crónica têm humor e eu gosto imenso de a ler…
Que tenha um Natal cheio de conforto e um ano de 2020 com tudo o que deseja.
Um beijo.
Obrigada, Graça. Posso retribuir com o que leio escrito por si:). Ofereço livros, pois:). Apenas a quem gosta de ler. Já ofereci a todos, mas não resulta e fico com pena dos livros que dei, teriam boa cama em minha casa.
ResponderEliminarMuito bem! Actualmente só damos às crianças (netos) e filhos. Mesmo estando com outros familiares. Temos é o amigo invisível que é quase o mesmo que a troca de prendas. Assim só compramos uma.:)
ResponderEliminar-
--> Nas brumas do tempo ...
Beijo e uma boa noite!
Boa noite, Cidália.
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