Há
dois anos que comemoro a passagem de ano na companhia de uma amiga muito
querida. Perdi-a durante cerca de quatro lustros (ena, tanto lustro).
Entretanto, a vida acertou, desacertou, nasceram e cresceram filhos. De repente,
resolvi, talvez em urgência de origem divina (acredito nestas coisas), procurá-la
de novo. Encontrei-a em momento bem difícil, mas, nela mesma, igualinha a
antes. Esta garota, com quem sempre sintonizei por sermos talvez almas gémeas,
única lembrança que me comoveu e fez chorar numa aula - facto que a própria
desconhece mas deixou os alunos estupefactos -, amenizou os meus dias e tornou
mais leves e desejadas as idas à capital. Dela guardo ternas recordações,
passou a ferro o meu vestido de noiva, acompanhou os meus dias de praia – temos
insana loucura por imersão em água de mar –, cantou comigo as mesmas canções -
literal e metaforicamente – a caminho da praia do nosso contentamento, jantámos
juntas vezes sem conta nas cantinas da universidade e, durante anos, depois do
lauto jantar de cantina, atravessámos o rio e passámos comuns fins de semana em
companhia, feitos de penúria, cantigas (passou-me algumas letras como de Yesterday
e Sounds of silence que ainda conservo), leitura e confidências. Pois este ano
já eu desesperava mansamente (sou de desesperos não incomodativos) quando, eis
que, no meu telemóvel que sofre de abandono sistémico, está um sms já com
atraso. Dela. Que vem. Que o camarão grelhado. E tal. E que pode importar-me o
resto?! Tê-la assim, à beirinha de mim, é cumprimento de desejo que já murchara. Viva! Iremos ambas a meu pai levar um mimo, vamos encher a cozinha
com o fumo dos camarões, zelar pela frescura do vinho que não bebo, dizer
baboseiras inofensivas e vestir-nos a preceito para o jantar (no ano passado envergonhou-me,
a marota). A minha amiga é assim, aparece-me com roupas a preceito escondidas
na malinha. Mas este ano não me apanha descalça. Isso é que não. E Viva 2020!!!
A
todos os que passaram e pararam na minha janela. Aos perseverantes que me
fizeram grata companhia. Aos que melhor me conhecem e sabem. A quem mitigou a
minha solidão, me deu algum carinho e estendeu a mão
Muito
Obrigada. E que 2020 nos encontre por aqui e nos reserve boas surpresas. Dentro.
E, sobretudo, fora da net:).
Bem
hajam