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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

A Derrocada do Estado de Direito

Soa a exagero e a frustração. Ainda bem, porque (se um qualquer deus quiser e permitir) será apenas isso: exagero e frustração.



Não me vou debruçar sobre tecnicalidades (que em Português correcto se diz "expedientes legais criados pelo legislador com o exacto propósito de permitir que quem pode se escape"). Quem tiver paciência e sapiência, que o faça. 

A mim apenas me interessa o que o bom-senso me revela - a mim e a qualquer um que o possua, independente de credo, afiliação política ou clubística: hoje, uma vez mais, fez-se tudo menos Justiça em Portugal.

Um resumo muito ligeiro da situação:

- Todos reconhecem (por força das evidências) da autenticidade dos emails;

- Todos sabemos das provas irrefutáveis das violações do segredo de justiça e outros atropelos cometidos;

- Todos percebemos o irrefutável nexo de causalidade entre o benfica dos sem-vergonha e essas violações;

- Todos sabemos que Paulo Gonçalves era um dos dirigentes máximos dos sem-vergonha, independente do estatuto formal.

Corolário: o benfica dos sem-vergonha cometeu crimes gravíssimos que atentam ao Estado de Direito e obrigatoriamente haveria de ter sido punido por isso. No limite, pelo menos os seus dirigentes haveriam de ser responsabilizados criminalmente - e depois, a "justiça desportiva" que seguisse o óbvio caminho.

Sou Portuense e Portista indefectível, como todos os que me leram sabem. Indefectível. O que a maior parte não saberá é que, acima disso, sou um defensor ainda mais acérrimo da civilidade, da solidariedade, da honorabilidade, da Lei e do Estado de Direito democrático.

O que hoje a "justiça" portuguesa confirmou é um atentado mortal a todas estas minhas inabaláveis crenças. Hoje, ainda mais do que antes, temo pelo futuro do país mas - muito mais - pelo futuro dos meus filhos neste país.

Desenganem-se os Portistas, de que isto é apenas e só sobre o nojento polvo encarnado. Infelizmente, é muito mais do que isso. Neste momento do tempo, o benfica sem-vergonha de Vieira é apenas mais um instrumento/faceta de um grupelho mais ou menos visível mas quase sempre inimputável de bandalhos e BANDIDOS (com todas as letras) que se une por e para proveito próprio, em conluio criminoso e execrável para dominar e viver acima da Lei e do Estado, servindo-se deles apenas e só para a persecução dos seus interesses, em detrimento da tal civilidade e da idealizada persecução do BEM COMUM que cabe a um regime democrático.

Isto é uma espécie de desleixo do grupelho que se sente já fora do alcance de qualquer punição e se dá ao desplante de fazer as coisas assim, em plena luz do dia e sem o mínimo de pudor. Falo de juízes, oficiais de justiça, investigadores do ministério público, PGR, mas também de primeiros-ministros, ministros, deputados, dirigentes partidários, empresários, banqueiros e bancários, directores de informação, jornalistas e jornaleiros, que navegam tranquilamente na infâmia, na insídia e na dissimulação e no encobrimento perante o desinteresse e passividade de todos nós pessoas de bem, desde os mesmos magistrados, políticos e empresários até aos mais humildes varredores de rua (que muito prezo e respeito). 

Isto, meus caros, é uma ameaça ferocíssima ao que pensamos ainda existir em Portugal como Estado de Direito. É a subversão completa das prioridades e das missões mais básicas e fundamentais das instituições e organismos que existem com a única missão de assegurar o cumprimento das leis da República e de punir quem não o faz. 

Isto, meus caros, é a abertura da supostamente intransponível comporta da Justiça para permitir passagem de todo o tipo de banditismo e criminalidade. O que se pode seguir ninguém pode antever. Está escancarada a caixa de Pandora (porque aberta já estava há muito) e o que de lá sairá nem Asimov nem Philip K. Dick poderiam imaginar. 

Na prática, isto leva-me a temer que a justiça passe a ser apenas mais um instrumento ao serviço dos bandidos e contra os portugueses. Quem tiver o azar de afrontar os seus interesses, sofrerá as consequências sem hipótese de defesa ou contraditório. Sei bem que soa a exagero profundo, mas acredito piamente que este é um dos caminhos possíveis de serem trilhados daqui em diante. 

Hoje passei a ter sérias dúvidas quanto à justeza da Justiça neste país. Hoje fiquei com a certeza de que não só não é cega, como vê muito bem ao longe e escolhe a dedo os seus alvos. Hoje, mais do que em qualquer outro dia passado, ganhei medo de criar os meus filhos em Portugal. Pode parecer exagero - espero que seja exagero - mas talvez não o seja.

Aceitar, desistir, emigrar, todas hipóteses possíveis e até apetecíveis. Resistir, contrariar e lutar é muito mais complicado, difícil, incómodo e aparentemente impossível: mas é a única solução que nos sobra enquanto cidadãos desta nação que desejámos continuem a ser de Direito. 

QUANTO A MIM E NO IMEDIATO, UMA COISA VOS GARANTO: ANTÓNIO COSTA E A CORJA QUE REPRESENTA NUNCA, MAS NUNCA MAIS.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




terça-feira, 1 de agosto de 2017

A Verdade Alternativa: Se Outros Calam, Gritemos Nós


Transcrevo na íntegra o comunicado de hoje do Clube, a propósito das mais recentes declarações do cabecilha dos sem-vergonha:

"A VERDADE ALTERNATIVA

No futebol português há umas regras para todos os clubes e uma bolha de exceção para o Benfica, que permite ao clube da Luz viver em permanente regime alternativo, submetendo-se às regras e aos regulamentos da forma que lhe apetece e mais convém. Isto acontece devido à cumplicidade de várias entidades, desportivas e não desportivas, mas agora atingimos um nível de sublimação com o presidente do clube a afirmar sem se rir que desconhece a existência de claques no clube.

Mais do que uma forma ardilosa de procurar eximir-se às responsabilidades de apoiar duas claques ilegais, como são os No Name e os Diabos Vermelhos, Luís Filipe Vieira goza com todos os adeptos de futebol, com as autoridades desportivas e com a polícia, que ainda na última época levantou dezenas de autos devido a incidentes protagonizados pelas duas claques. Aliás, esta situação é conhecida ao mais alto nível, designadamente pelo primeiro-ministro e outros membros do governo, que nos últimos anos assistem a jogos no Estádio da Luz.

E não, não se trata de uma questão semântica, entre grupo organizado de adeptos ou de sócios, as claques do Benfica existem, Luís Filipe Vieira sabe disso perfeitamente, sabe-o tão bem que o Benfica até paga o aluguer de carrinhas para transportar esses adeptos, sabe-o tão bem que o treinador da equipa principal dá os parabéns em conferência de imprensa quando as claques fazem anos. Sabe-o tão bem que cede instalações no estádio às claques, sabe-o tão bem que as claques beneficiam de bilhetes a preços reduzidos…Pior, muito pior, sabe-o muito bem, pois certamente não se esqueceu de que em abril deste ano a claque No Name foi mais uma vez responsável por uma morte de um adepto. Infelizmente, nem este género de tragédias faz esta gente ter um pouco mais de decoro e responsabilidade. E que só acontecem devido à cumplicidade dos sucessivos governos, incapazes de fazer cumprir as leis.
"





Considero-me um democrata, ainda que com reparos; simplesmente não observei até hoje nada melhor. Sou também anti-violência, seja ela de que tipo for. Mas há momentos em que é preciso fazer frente, sem reservas, àquilo que ameaça os nossos valores e as nossas crenças mais profundas.

Não é só o terrorismo que ameaça o nosso modo de vida democrático, português e ocidental. São também os Maduros desta vida, quando indevidamente escoltados e respaldados por quem jamais poderia quebrar o seu juramento de defender o interesse público e a democracia acima de qualquer outra coisa.

Esta corja liderada por este bandido Vieira tomou de assalto todas as instituições relevantes da nossa democracia. Só assim se explica a impunidade com que se exibe todos os dias. Só assim se explica que o cabecilha seja um dos maiores devedores à banca (falida) e nada lhe aconteça. Só assim se explica que a fraca gentalha que nos governa se permita sentar-se e ser vista ao lado do cabecilha. Só assim se explica que as instituições judiciais teimem e tardem a investigar sem reservas tudo o que já se sabe sobre as actividades do cabecilha, dos seus lacaios e dos gangues que patrocina. 

Pode soar a exagero, mas não é. É factual. Estamos já num ponto onde qualquer um se pode interrogar sobre a validade deste regime putrefacto em que vivemos. Como se não bastasse já esta classe política que há anos nos desgoverna, governando-se e aos seus, temos agora um estado-sombra - um narco-estado-sombra - que consagra um regime de excepção e total impunidade aos sem-vergonha

 


Da maneira como vejo as coisas, há duas opções

a) ou as instituições que são os pilares da Democracia expurgam (com celeridade) do seu ventre quem compactua com os golpistas do bigode e retomam o seu normal funcionamento, devolvendo a todos os cidadãos a essencial confiança na sua actuação imparcial e de acordo com as leis da República;

b) ou a situação se mantém e inevitavelmente se agrava pela disseminação da doença, o que obrigará a que todos os que amam a Democracia sejam forçados a clamar por justiça pelos seus próprios meios. 

Pode soar a exagero, mas não é. Quando comecei a sátira Portugalistão, não imaginava que a podridão pudesse ser tão profunda e estar tão enraizada na nossa democracia. Mas está - e acreditem em mim: nada de bom poderá advir deste estado de coisas. 

Todos os grandes fogos começam com uma pequena chama. Eu estou disposto a fazer o que for preciso para que a minha nunca seja uma terra queimada, e vocês?



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




segunda-feira, 3 de julho de 2017

Shame on You - Shame on Us


Tenho andado a conter-me. A prudência que alguns cabelos brancos me doaram assim o aconselha. Esperar antes de falar. Procurar conhecer os factos antes de emitir uma opinião sobre eles. 

O problema é que nestas coisas do futebol raramente se chega alguma vez a conhecer os factos - em especial o português, ainda mais se envolver Jorge Mendes, muito muito mais se envolver o Benfica e ad nauseam se envolver ambos. A opacidade extrema que envolve a gestão das SAD e em particular as transferências, quase obriga a que quem queira comentar, o faça meio às escuras.


" - Tive um pesadelo, Sá. Que para o ano ia com este urso para a segunda liga inglesa..."
 

Começando pelo que mais me interessa e indo directo ao assunto: a transferência de Rúben Neves é uma absoluta VERGONHA para todos os Portistas - e se não é, deveria ser.

Já a da AS me custou a aceitar, mas enfim, o montante é razoável (bom para um jovem talento, baixo para um nº9 que não se limita a ser só isso) e a urgência inadiável de fazer dinheiro a que os nossos estimados administradores nos conduziram a isso (n)os obrigou. É uma pena, porque acredito piamente que o poderíamos vender bem melhor mais adiante. Aliás, se acreditasse na bonomia do Presidente, diria agora que numa única época (por sinal, a melhor da sua curta carreira) o pobre do André desvalorizou 33%, uns míseros €20 milhões. É o mercado, estúpido. 

Fez-se, está feito. Custa mas aceito, até porque queria acreditar que essa venda impediria outras do género. Só que não.

Esta patética venda de Rúben Neves tresanda por todos os lados.

Pela incapacidade/incompetência (riscar o que não interessa) revelada, uma vez mais, pelos nossos estimados administradores quando chega a hora de vender. A comprar, são os maiores da sua rua. A vender, não tendo as costas cobertas por um ou vários "super-agentes", são pequeninos, fraquinhos, mediocrezinhos. Com tanto lastro para despachar, com vários jogadores "cheios de mercado" e pelos quais já se recusaram "ofertas fabulosas", acabaram a exilar mais um jovem Portista cheio de futuro. Um jogador que sente o emblema, que entende o clube como poucos no plantel principal. Um potencial futuro capitão.

Fala-se em "€18 milhões para os cofres da SAD portista". Um valor insultuoso, se me perguntarem. No entanto, sou capaz de apostar que nos corredores da SAD andará quem se vanglorie por ter conseguido "mais três milhões do que o SLB por Bernardo Silva" (e uns dez mais).

Para agravar o insulto, considere-se o destino final: o colossal, promissor e cheio de objectivos Wolverhampton. O dinheiro é todo igual? Talvez seja (para mim não é!), mas é difícil entender que não houvesse outro clube disposto a pagar esta mesma ninharia. Sabem o que é isto? É o alfaiate do Panamá Mendes a dar uso aos seus golden fingers nos estimados administradores da SAD - up theirs! Que desfrutem, pelo menos. De mim, só sobra a vergonha alheia. Shame on them.

Por último, o jogador. Qual será o seu estado de espírito neste momento? Nada santo, aposto. Viu a época praticamente toda do banco, ficou aquém do que seria necessário em termos da sua evolução. Qual foi a solução que o seu altruísta empresário lhe arranjou? Ir para a segunda divisão inglesa, ser orientado pelo mesmo mamífero que o preteriu no ano anterior! Um conto de fadas? Por alguma coisa nunca nas histórias de encantar se falou num mago-padrinho. Lamento sinceramente por ti, caro Rúben. Que tenhas sorte, bem vais precisar.

Para acentuar o gozo, parece que se segue Boly. Uma contratação que nunca chegou a demonstrar o que pode valer porque... o antigo treinador nunca contou muito com ele. Dá-se que o futuro treinador é o mesmo. E eu que pensava que também NES já tinha batido no meu fundo, mas afinal ainda se conseguiu enterrar mais - parece-me um mero servo do amo Mendes, disponível para o agradar em tudo desde que o prato de lentilhas continue a aparecer na sua mesa. Shame on him e shame on us & them (grande, grande música!), que desperdiçamos mais um ano com este indivíduo.

O aperto financeiro não é nem pode servir de desculpa. É algo que já é sabido desde pelo menos o início da época passada - repito, pelo menos desde o início da época passada, sabendo nós que o prazo é bem mais dilatado. Houve muito tempo para fazer as coisas bem. Ou melhor, pelo menos. Uma vergonha, mais uma.


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Elsewhere, terminou a Taça das Confederações.

Fui vendo os jogos da Seleção, ainda que sempre em partilha com outra tarefa qualquer. O jogo de que menos vi foi este último, pelo desinteresse que a disputa do terceiro lugar contra o mesmo México me suscitou, mas também porque apenas 30 segundos após começar a assistir à transmissão da RTP (o "P" é de Portugalistão, obviamente) fui obrigado a ouvir esta pérola de um mamífero comentador: "ahhh Quaresma decidiu mal". Num lance em que tentou a trivela para fazer um golo impossível, à Quaresma. Num lance em tudo semelhante a muitos outros que fizeram dele um dos melhores e mais imprevisíveis jogadores do seu tempo. Num lance que, se tivesse acertado no alvo, o mesmíssimo mamífero seria forçado a disfarçar um ligeiro orgasmo (dada a ligação de RQ7 ao Porto). Em resumo, um lance daqueles que separa os génios do resto. Quaresma é um génio da bola, o tal mamífero é apenas mais um dos outros bitaiteiros daltónicos - mas pago com os nossos impostos. Shame on us




Era uma oportunidade única de conquistar este troféu - duvido que Portugal volte a lá estar presente durante o meu tempo de vida, que é como quem diz, nos próximos cem anos. Caímos merecidamente nos penáltis, acabou-se a "vaca". Ficámo-nos pela participação e pelo honroso terceiro lugar, sempre de cabeça erguida. Nada como regressar à normalidade de santíssima trindade: um patrocinador, um empresário e um treinador qualquer, desde que "alinhado".

No final, ganhou a Alemanha. Dizem que é a equipa B, mas eu discordo. São igualmente bons jogadores, ainda que em fases mais precoces de desenvolvimento. Mas o que releva é a forma como (todos eles) jogam em conjunto, essa sim, a grande arma alemã. 

Uma palavra de estima para o Chile, que proporcionou um belo jogo e quase conseguia levar o jogo para prolongamento. A ter em conta, o progresso de Pizzi. Do que vê com os dois olhos para o mesmo lado.

E um "hã?" para o vídeo-árbitro: vai ser assim? Mais vale acabar com isto já, antes mesmo de começar.

Mas ainda pode sair algo de positivo desta competição: parece que o bom do Héctor esteve em bom plano. Será desta?


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Por cá, o Expresso deu conta de mais um detalhe da sem-vergonhice que transformou o futebol luso num charco imundo e irrespirável (excepto pelos imundos que o criaram). Nada de mais, dizem eles, tudo invenções de jornalistas mal-intencionados.

Desta vez, o irrepreensível Paulo Gonçalves dá conta, na primeira pessoa, de como ele e Nuno "paga o que deves ao McD's" Gomes foram "safos" de uma sanção disciplinar graças a uma abnegada omissão de um senhor delegado da Liga (mais um) em relação a (mais uma) confusão no túnel. Tão abnegada que o senhor delegado "lixou-se" em prol da causa maior, sendo suspenso por 18 meses por falsificar um relatório. Isto a propósito de, oito anos volvidos, os ainda gratos e impolutos dirigentes encarnados, terem acedido a oferecer-lhe mais uns bilhetinhos para ver mais um jogo dos 3 Fs. Nada de grave, nada de especial, all in a day's work. Shame on his mother, for sure.


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O sentimento de impunidade continua ainda bem presente na resposta do senhor assessor jurídico da SAD candeeira. Quase não dá para acreditar em tamanha cara-de-pau. Mas é mesmo assim e assim será, enquanto quem de direito não lhe puser um termo.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



quarta-feira, 28 de junho de 2017

República Popular do Portugalistão - Parte IV


Por instantes, senti-me a ser arrastado pelos braços, por um corredor sombrio. Estava ainda demasiado combalido para retomar os sentidos.

Abri os olhos e vi luzes brancas e redondas directamente por cima de mim. A seguir, vi um sujeito a observar-me com uma pequena lanterna. E ouvi-o comentar para alguém: "Tirando algumas negras, está bem. Em condições para resistir ao vosso "tratamento"". Quis reagir mas voltei a desmaiar.




Quando voltei a mim, estava deitado numa cama estreita. A penumbra não me revelava a totalidade do espaço envolvente, mas não demorei a perceber que estava numa cela. Hesitei entre levantar-me a gritar por alguém ou continuar deitado. A minha cabeça parecia estar em contagem decrescente para a explosão final, tão fortes que eram as pontadas que me agrediam, cadenciadas como um farol em noite de tempestade.

Após uns minutos, levantei-me. O farol desmoronou-se sobre mim e finalmente desapareceu na noite escura. Consegui finalmente raciocinar. Estou preso, meu Deus! O que irá ser de mim? Sou demasiado conhecido, não se atreverão a acabar comigo... Será?

Enquanto me debatia com o que fortuna me reservava, ouvi passos a aproximarem-se.

- Então, senhor B. Gode, já acordou? Estamos cheios de curiosidade para falar consigo. Venha comigo.

Não reconheci a cara, mas aquela voz... sim, já a tinha ouvido, mas onde e quando? Levantei-me e segui-o, após a porta da cela ter sido destrancada pelo guarda que o acompanhava. Era um edifício mal iluminado, quase sem janelas. Se tivesse de apostar, diria que intencionalmente para aumentar o terror dos "convidados".

Passamos duas portas de segurança e entrámos num pequeno gabinete, onde havia uma secretária, um telefone nela pousado, um intercomunicador na parede junto à porta e duas cadeiras. Rigorosamente mais nada.

- Sente-se. Sabe quem eu sou e porque está aqui?
Nesse momento, fez-se luz. A voz era a mesma que tinha ouvido após o acidente. Mas que grande acidente. Lembrei-me do corpo inerte do motorista. Paz à sua alma. Mas o que teria acontecido ao Francisco?

- Não ouviu a minha pergunta? Está com dificuldades de compreensão?
- Ah, não, desculpe. Ainda estou a refazer-me. Lembro-me de ter estado num acidente e pouco mais. Não sei quem o senhor é nem porque estou aqui, detido.
- Não sabe? Curioso. Conhece este perigoso terrorista? - perguntou, exibindo uma fotografia de Francisco Marques.
- Sim, conheci-o recentemente, mas não sabia ser terrorista.
- Então confessa ter estado com um terrorista?
- Sim... quer dizer, não. Sim, estive com esse senhor, mas não, não sabia que é considerado terrorista neste país.
- Ora, não goze comigo. Sou o famoso Carlinhos Daniel, está a perceber? Sou o senhor (in the) Norte, o rei de Paredes! E saiba que antes de ser uma importante patente do nosso querido Portugalistão, fui jornalista - conheço todos os seus truques!

Jornalista? Meu Deus, só posso imaginar o que terá "noticiado" nesses tempos... seguramente, também foi por ele e tantos outros como ele que o General Ventoinhas teve a possibilidade de tomar o poder de assalto.

- Senhor Daniel, eu...
- Coronel!
- Coronel Daniel, eu...
- Senhor Coronel!!

Toca o telefone, perante o espanto de ambos. Como que contrariado, o coronel atende.

- Quem se atreva a interr... ah, senhor general... mil perdões, não imaginava que era o senhor... sim, eu calo-me...
- ...
- ... está aqui comigo, senhor... ah?... sim senhor, imediatamente.

- Parece que é o seu dia de sorte. O General quer conhecê-lo. Vai ser levado de imediato até ele. Está com sorte, mas faça-me o favor de voltar a aparecer lá pelo Porto... adoraria retomar esta nossa conversa...

Gelei. O próprio ditador queria conhecer-me? Mas para quê? Iria fazer de mim o próximo "exemplo"? Aquele suor frio regressou, desta vez na forma de um dique que acabou de se romper.

Segui com um guarda até a um carro e entrei. Após ouvir alguns conselhos do Coronel, o condutor arrancou. Fiquei a matutar na expressão "lá pelo Porto". Já não estávamos no Porto? Onde então? Não demorou muito até que me apercebesse que estava de regresso a Carnidul! Tinha "apagado" de tal forma que nem me apercebi da viagem de regresso.

Menos de quinze minutos depois, chegámos. Ao palácio do governo? Não, a um estádio! Parámos no parque subterrâneo, onde outros dois "guardas" à paisana me aguardavam. Após subir pelo elevador, saímos numa zona ampla, toda ela decorada por diferentes tipos de mármores e, ao fundo, duas grandes portas de madeira. Se era para impressionar, estava a resultar. Senti-me ainda mais pequeno e impotente.

Um dos guardas seguiu na frente e abriu as portas. Entrámos numa pequena sala, decorada num estilo mais tradicional, dominado pelos veludos e madeiras em tons terrosos. Uma sala de espera, sem dúvida. O mesmo guarda bateu na porta seguinte e aguardou pelo assentimento vindo do outro lado antes de a abrir.

- Senhor, está aqui o prisioneiro... muito bem. - voltou-se para trás e apontou-me o caminho.

- Jóni Bigode, quanta honra!
- O...obrigado... é recíproca...
- Então como está essa cabeça? O que passou se? Ouvi dizer que se livrou de boa, grande acidente...
- Bem, obrigado... General?

O ditador Ventoinhas sorriu, abrigado por aquele característico bigode farfalhudo.

- Jóni, é verdadeiramente um prazer conhecê-lo, a sua fama percebe-o!

O General não era conhecido pelo seu domínio da língua, pelo que imaginei que talvez quisesse dizer outra coisa. Em todo o caso, percebi a dica.

- Agradecido, General. Sou um humilde jornalista que procura sempre fazer bem o seu trabalho, nada mais.
- Ora, não seja molesto. Mas gosto que queira fazer bem o seu trabalho - foi por isso que o trouxe até cá aqui. Consta que o andaram a engrominar com ideias falsas sobre o meu trabalho em perol do meu querido país e quero que conheça a verdade.
- Ah... sim, que bom, estou ansioso para a conhecer. A verdade, digo.
- Óptimo! Siga-me.

- Sabe onde vamos?
- Não faço ideia, General.
- Para sua sorte, estamos em pleno Congresso Nacional do Candeeirismo, o principal evento anal da edite de Portugalistão.
- Anual, suponho... com a elite.
- Exacto, foi o que eu disse. Este ano, resolvemos fazê-lo de forma mais modesta, aqui na nossa casa, a casa de todos os cidadãos de bem - o Estádio Nacional Zébio da Silva Tremoço. Sabe, à que passar uma imagem de contenção e sobridade à população. Nada de luxos desnecessários!

Descemos por outro elevador até a um auditório repleto de gente. Ao entrar, apercebi-me dos puxadores dourados das portas que pareciam ser autênticos. E dos milhares de papoilas que forravam as paredes. E do púlpito igualmente dourado. E... de uma cadeira enorme, um trono! Dourado, evidentemente. Tudo muito austero, sem dúvida.

- Deixe-me apresentar-lhe alguns dos homens mais notários da nossa praça...
Começou a debitar nomes, à medida que avançávamos pelas filas do auditório rumo ao palco, sobre intermináveis e artificiais aplauso e gritos de vivas:
- Aqui, alguns dos seus companheiros de profissão mais reputados: Vitor Lerpa e Zé Manel Cagado, d'A Mentirola; Eunuco Ladainha, do Reco... Jójó Camelo, Davi Alfinetes de Peito e Gagá Cristóvão, comentadores independentes... Ui Tantos, da Shit; Otário Alcoviteiro e Tainha Marmanjo, do Lixeiro da Manha... Luís Meteu-os e Galdéria Flopes, do MaisTabaco... Ruipê Trás(te) da BTVI24...

Todos se curvavam à medida que o Ventoinhas passava, estendendo a mão a medo para o cumprimentar, como se de pedintes esfomeados se tratassem. E depois a mim, olhando-me ora de soslaio, ora de forma ameaçadora.

- São uns queridos, todos eles. Mas gandas porfissionais! Agora aqui na primeira fila, algumas figuras do meu governo e da nação: Tony Chamuça, o meu primeiro-ministro de confiança... Dário Cêntimo, ministro do Tesouro... Demónio Metia (ao Bolso), ministro da Electricidade e Cultura... Doutor Cerdo Guerra, ministro da Propaganda... Silvo Tarzan, ministro de... ó Silvo, o que é que tu fazes mesmo? Ó, deixa lá.

- Estes e muitos mais, todos aqui reunidos para aclamar esta grande nação! Agora sente-se aí que eu vou falar à maralha.

Confesso que tive dificuldade em acompanhar o longo e monocórdico discurso. Como se já não bastasse eu dominar mal a língua, o General ainda fazia pior. Enfim, fiquei com a ideia de que mais não disse que Deus é grande e dos candeeiros e aqui o deus sou eu.




No final, duas horas depois, regressámos ao seu sumptuoso gabinete. Ofereceu-me uma bebida e convidou-me a sentar numa zona de sofás.

- Que canseira... mas é assim a vida de um parsidente delicado, sempre a trabalhar pelo seu país! Ficou com uma ideia mais certa do que fazemos aqui?
- Sim General, e agradeço-lhe por isso... mas tenho algumas perguntas que lhe gostaria de fazer... se me permitir, claro.
- Pois sim, faça as parguntas que quiser. Tem cinco minutos.
- Cinco?... Bem, então vamos a isso, sem perder mais tempo.

- No exterior, há quem diga que o General governa o país com mão de ferro, que não tolera oposição, isso é verdade?
- Meu caro, não deveria acarditar em tudo o que ouve. Portugalistão é o país mais democrático do mundo. Não há ninguém que não possa sair à rua e gritar "vivó éssélebê". Não há ninguém que não possa candidatar-se a qualquer cargo público, no estado, no clube ou no partido. Toda a gente pode dar as suas opiniões em favor da causa nacional-candeeirista, toda a gente.
- Mas, General, se me permite... e aqueles que - eventualmente - não se revejam na sua liderança ou nas suas crenças e convicções? É-lhes permitido manifestar-se? Podem concorrer a eleições livres contra si?
- Jóni, não há ninguém de bem que seja contra mim. Eu sou o melhor que o país tem para o liderar, percebe? Todos m'adoram. E quanto ao Bêfica, já se sabe, ganha todos os anos porque é melhor c'os outros. Somos uma referência intarnacional e até nacional! Foi a Nossa Senhora que disse aos três passarinhos de Fátima qu'era assim. E nada pode ir contrá Nossa Senhora, mãe do nosso Senhor!
- Certo... mas já que fala de futebol, como explica que uma equipa tão boa em Portugalistão, a ganhar há décadas de forma consecutiva, nunca consiga bater-se condignamente a nível europeu? Relembro que o FC Porto, por exemplo, quando dominava o futebol aqui no país, também conquistava títulos internacionais...

Fui longe de mais. A expressão calma e sorridente desapareceu num ápice. Em seu lugar, uma cólera ruborizada perfurou-me o olhar.

- Você é mesmo um bisbilhoteiro introvertido. Não quer saber da verdade, apenas liga às mentiras que se espalham por aí. Amanhã regressará a casa, porque aqui já não é bem-vindo. Mas livre-se de me negrenir, tenho agentes em todo o lado...

- Zé da Dezoito! - gritou.
- Sim, General Presidente?
- Leve este senhor ao nosso "hotel" especial, onde ficará até se ir embora. Amanhã, no primeiro voo. Trate-o bem.
- Sim General Presidente.


Desta vez fui conduzido pelo braço. Juraria que o tal Zé me atiraria ao rio, não fosse pela ordem expressa do General. Apesar de tudo, o homem tinha alguma noção do impacto internacional que o meu desaparecimento teria. Graças a Nossa Senhora!

O meu "hotel" era numa prisão. Pelo aspecto, haveria de ser uma ala especial, reservada a presos políticos ou de outra forma importantes, na sede nacional da P.I.R.O.C.A.

Estava já instalado na minha confortável cela (uma suite de luxo, se comparada com a anterior), procurando reavivar todos os detalhes desta inacreditável aventura, quando alguém me chamou.

- Jantar!

Levantei-me e fui até ao postigo aberto, para recolher o tabuleiro.

- Tenha atenção à sobremesa, guarde-a para mais logo.
- O quê?...

Não tive resposta. Pousei o tabuleiro na mesa e comecei a inspeccioná-lo. Sobremesa para mais logo? Vi uma taça com gelatina. Levantei-a e por baixo estava um bilhete: "Johnny, à meia-noite vamos ter consigo, queremos conversar. ass.: Amigos da Democracia."

Lá regressou o arrepio pela espinha acima. Ainda havia mais capítulos nesta louca aventura. Quem seria agora? E como conseguiriam vir ter comigo? Não havia nada a fazer senão esperar. Mas o Tempo, esse bandido, passou a mover-se, trocista, em câmara lenta. Nem consegui desfrutar da minha primeira refeição do dia, com tamanha ansiedade. E a dor de cabeça regressou, como um guerreiro que retorna a casa após uma longa batalha: cheia de vontade de recuperar o tempo perdido. Deitei-me a imaginar.

- Johnny?

Tinha adormecido de novo. Bolas! Já devem ser horas! Levantei-me como mola comprimida que se solta.

- Sim, sou eu. Quem é o senhor?
- Já vai saber. Vamos abrir a porta, prepare-se para me acompanhar. Está pronto? Só temos uma janela de um minuto.
- Ah, sim... estou pronto. Mas com receio. Onde vamos?

Mal a porta se abriu, saí e segui o misterioso amigo da democracia. Poucos segundos depois, estávamos noutra cela, bem maior do que a minha. Em verdade, era mais um apartamento, com várias divisões. Um luxo. Na sala de estar, um grupo aguardava em roda, sentado. Levantaram-se quando me viram chegar.

- Johnny, bem-vindo. Desculpe a pressa, mas só temos um guarda amigo neste turno. Daqui a precisamente uma hora, ele regressará para o levar de volta à sua cela.
- Quem é o senhor?
- Fui Molheira, antigo presidente da Câmara do Porto e convicto Portista. Sou um dos convidados especiais deste "hotel". Os outros são Professor Marmelo, o último presidente da República Portuguesa; Fernando Dois-Gumes, ex-presidente da Federação de futebol e Toninho Olifeira, um grande craque do passado. Ali sentado, está o homem-mito, o melhor de todos nós: o eterno presidente. Eterno no seu legado, porque a sua mortalidade já tem dificuldade em se levantar e em comunicar. Mas está connosco.
- Todos figuras proeminentes do anterior regime, deduzo. E todos silenciados pelo General...
- Correcto, Johnny.
- Mas surpreende-me que... como dizer...
- Estejamos vivos, não é o que quer dizer?
- Sim...
- O trapaceiro-mor é bronco e analfabruto, mas não é estúpido. Na realidade, é muito astuto. Sabe bem que a morte de algum de nós levantaria uma onda de contestação, além de lhe minar por completo a reputação internacional, a pouca positiva que ainda possa ter. Claro que nem todos tiveram a nossa sorte... o Super Gorila, por exemplo, está a fazer um "tratamento à sinusite" nas Berlengas.
- Como estrangeiro, a ideia que tenho é mais de dúvida... de não saber o que se passava cá. Portanto, devo concordar que a reputação do General, vista de fora, é simplesmente nebulosa. Ainda "ninguém" tem a noção exacta do que se passa aqui.
- É precisamente por isso que o trouxemos até aqui, Johnny. Queremos que ouça os nossos testemunhos e os divulgue por todo o mundo. Podemos contar consigo?
- Claro que sim. Se chegar a sair deste país, claro.
- Vai sair, o General não pode arriscar. E nunca vai saber deste nosso encontro.
- Só há um problema, então. Como posso tomar notas e sair daqui com elas? O meu material deve ter sido apreendido, se não se perdeu no acidente. E agora nada tenho para escrever.
- Aqui está o que precisa, Johnny. E não se preocupe com o resto. Está pronto para começar? O tempo urge.
- Vamos a isso.

Cada uma das ilustres figuras partilhou as suas histórias mais relevantes, aquelas que importava contar ao mundo. Como foram afastados dos seus cargos, o que sofreram e como foram capturados. O Tempo, outra vez trocista, passou a correr. Havia ainda muito para perguntar, mas estava na hora. Despedi-me com a promessa de fazer valer a minha palavra. As anotações daquela hora ficaram com o senhor Molheira.

- Uma última pergunta: o Francisco, ele está bem?
- -Sim Johnny, melhor que qualquer um de nós. Boa viagem!

Regressei à cela e tentei dormir. Em vão. Um turbilhão de pensamentos agitava a minha dorida cabeça. Não imaginava a hora estar no avião quando finalmente levantasse voo daqui para fora. Para casa.

Quando o sol já entrava de mansinho pela janela da cela, senti-me finalmente prestes a adormecer. Nisso, a cela abre-se.

- Entra aí, desgraçado. Logo à tarde já ficas com a cela só para ti. Bufo.

Uma figura garbosa entrou pela porta e piscou-me o olho: - Este gorila acha que me assusta. Tranquilo Johnny, é só mais uma visita ao "hotel".
- Quem és tu? - perguntei com a leve fúria de quem acaba de ser ver privado do sono de beleza pelo qual tanto lutou.
Olá, estamos de mau humor...
- Desculpe, é o cansaço... como sabe o meu nome?
- Toda a gente de bem já aprendeu o seu nome, meu caro. Mas onde estão os meus modos... apresento-me: sou Lápis-Lazúli, modesto blogger Portista, agora da Resistência Nortenha, ao seu dispor. Cumprimentamo-nos com um vigoroso aperto de mão.
- É um prazer, Lápis.
- Ouça com atenção: já falta pouco para o virem buscar, mas antes que isso aconteça quero combinar consigo uma coisa...
- Estou a ouvir...
- Hoje em dia, já não consigo publicar nada aqui em Portugal...istão. Tudo é monitorizado e censurado. Mas continuo a ter muitas histórias para contar... Se eu arranjar maneira de lhe enviar essas histórias para o seu email, publica-as?
- Sim, claro que sim! Tudo o que ajude a expor este regime é do meu interesse. Vindo de dentro, melhor ainda!
- Combinado então! Sempre que conseguir, envio-lhe histórias por email, as... Crónicas de Portugalistão. Leia, copie e depois... não apague tudo. Publique!

A porta da cela voltou a abrir-se e o guarda apontou para mim. Estava na hora. Um abraço ao Lápis e parti rumo ao aeroporto. Era tempo de regressar a casa.


Quando finalmente o avião descolou e deixou Carnidul para trás, senti o maior alívio da minha vida. Ia mesmo voltar a casa. Ufa...

Pouco tempo após a descolagem, uma bela e simpática hospedeira aproximou-se:
- Senhor B. Gode, o comandante pediu a sua presença no cockpit, pode acompanhar-me por favor?
- Ah? Eu? A mim? O q...?

Um piscar de olhos interrompeu as minhas dúvidas. Levantei-me e segui-a. Já na zona executiva do voo, onde apenas ressonava uma senhora de idade já avançava, a hospedeira voltou-se e explicou, bem baixinho:
- Senhor B. Gode, sou filha de um famoso Tasqueiro da Resistência, de que eu própria também faço parte. Tenho aqui uma mochila que o senhor se esqueceu de trazer... por favor verifique se não lhe falta nada e sente-se num destes lugares. E tenha uma excelente viagem.

Abri a mochila e lá estava todo o meu material, o antigo e o recente. Tudo o que precisava para contar ao mundo a verdadeira história de Portugalistão.

Sentei-me no meu novo lugar, que naquele momento me pareceu mais confortável do que qualquer outra coisa que jamais havia experimentado. E finalmente adormeci.



(Fim)



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



quinta-feira, 22 de junho de 2017

BenficaGate: os SMS do Presidente e a Fruta Divina


Mais um Universo Porto da Bancada, mais se ficou a saber sobre este polvo candeeiro, corrupto e traficante, sem ponta de pejo ou vergonha na cara.



Com pouca vocação para pastorinho mas muito a propósito da linguagem inaugurada pelo sinistro Adão, Francisco Marques fez ontem três revelações de fazer corar o vigarista mais empedernido.


Primeira revelação

Um tal de Carlos de Deus (parece de propósito...) Pereira, outra figurinha gordurosa e rastejante da corte candeeira à la Figueiredo (Mário ou António, podem escolher) que na altura era somente o presidente da AG da Liga, enviou a 16 de Fevereiro de 2014 um email a Pedro Guerra com ficheiros em anexo que continham a transcrição de centenas de SMS de Fernando Gomes, actual presidente da FPF! Além da óbvia ilegalidade por via da violação de correspondência, é uma demonstração clara da imparcialidade do energúmeno e da vontade de ser, também ele, um "menino querido" do regime.

Acresce ainda que FJM disse haver muitos emails onde o bom do Carlos sossega o Guerra, garantindo que quando decisões fossem tomadas na Liga, ele seria avisado antes dos clubes. A put@ da falta de vergonha parece não ter limite.

Sem coincidência, este foi o mesmo mamífero que rejeitou duas candidaturas à presidência da Liga, deixando o seu Mário Figueiredo como concorrente único às eleições. Vale a pena clicar no link e ler as desventuras, bem como artigos associados.

Quem já o tinha topado em 2014: Tribunal do Dragão.


Segunda revelação

A 2 de Fevereiro de 2017, o Benfica emitiu comunicado a apelar à contenção dos seus adeptos. Esse comunicado foi partilhado entre várias figuras do clube, deduzo que antes de ser emitido, para que pudessem comentar e dar a sua opinião. Foi partilhado por Luis Bernardo, o responsável pelo pelouro e comentado por... Paulo Gonçalves, o tal "portista fanático", da seguinte forma:

"(...) reforçaria somente o seguinte parágrafo "a segurança é também um bem de todos e os recentes e graves acontecimentos noutros estádios - seguramente com consequências disciplinares verdadeiramente punitivas e preventivas - levam-nos a reforçar este apelo". Assim, metemos pressão do CD para sancionar o FC Porto e o SC Braga como deve ser. Como ainda vamos ter que ir a Braga, era bom que houvesse coragem para interditarem a pedreira.".

Não é preciso ser um génio para deduzir que Paulo Gonçalves exerceu ou tentou exercer pressão sobre o órgão disciplinar em questão, o que à luz do Artigo 61º ("Exercício e abuso de influência") do Regulamento Disciplinar da FPF é proibido e sancionado com multa e exclusão da competição entre uma a três épocas. Muito interessante é também o seu ponto 2, cuja leitura recomendo vivamente.


Terceira revelação

"€200 o tempo que quiseres; se for a 3, €400", ilustrado por fotografias de amantes, amadoras e profissionais. De quem, para quem e sobre quem? Do menino querido Nuno Cabral para o imenso Guerra, informações íntimas sobre árbitros! Segundo FJM, são vários os emails trocados entre ambos, com informações do género.

É óbvio qual o intuito de saber e partilhar com os amigos estes segredos sujos dos árbitros: condicioná-los e, se necessário, chantageá-los. Isto sim é um caso de polícia, transcendendo claramente a esfera desportiva (mas onde também pertence). Que um dos visados tenha a decência de dar o seu testemunho.


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São demasiados, demasiados indícios do que realmente se tem passado desde pelo menos 2013 (eu apostaria que bem antes disso) e que não podem continuar a ser ignorados pelas instâncias desportivas.

É sua obrigação agirem, começando por dizer alguma coisa sobre os assuntos, reconhecendo a sua existência e a sua imensa importância. Ou será que alguém ainda acha que a próxima época pode começar com tudo na mesma?

De seguida, devem investigar com rigor e isenção e apurar da verdade dos factos denunciados. 

O FJM disse ter em sua posse os anexos com as SMS do presidente da Federação, o que mais será preciso para que o douto senhor DEIXE DE SE FAZER DE MORTO ?

A PJ deve procurar recuperar os emails "mal" apagados de Pedro Guerra (@slbenfica.pt, não esquecer este detalhe) e interrogar todos os envolvidos. De certeza que não faltará quem ponha a mão na consciência e confesse por fim aquilo que sabe.

Os órgãos disciplinares da FPF e da Liga têm de liderar toda e qualquer investigação a nível desportivo, não se furtando de nenhuma das suas obrigações. Se os actuais dirigentes desses órgãos estiverem comprometidos de alguma maneira, devem ser destituídos de imediato e dar lugar a gente séria, competente e isenta, que chegue com a predisposição - caramba, com a missão! - de investigar e apurar a veracidade de todos os factos já denunciados, de solicitar outros ainda por revelar ao Porto Canal e de retirar as consequências apropriadas dessas averiguações! 

Sim, o Benfica deve ser excluído das competições por tempo a determinar. 

Sim, seria moralmente justo que o Benfica descesse aos escalões não-profissionais e lhe vissem retirados todos os títulos conquistados no período onde decorreram todos os factos apurados.

Já chega de meias-palavras, há deturpação evidente das competições desportivas em favor do Benfica, realizada por pessoas "do" ou "associadas a". O Benfica deve ser responsabilizado na extensão total dos regulamentos desportivos e da Lei portuguesa.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco 



quarta-feira, 14 de junho de 2017

BenficaGate: Crime, Disse Eu


Por ser auto-explicativo o "material" que se segue - todo ele apresentado ontem no Universo Porto - da Bancada, nem vou fazer introdução. Volto no final, para a conclusão.




Atenção: conteúdo explícito, susceptível de provocar nojo e vómitos. Se acabou de ingerir alimentos, recomendo aguardar e voltar daqui a duas horas.



I - E-mails trocados entre Adão Mendes e Paulo Gonçalves, um dos homens-fortes do Ventoínhas e assessor jurídico da SAD do SLB




23 de Setembro de 2014 

AM para PG:

"Anexo três documentos que explicam o que preciso de si. Peço que ponha toda a carne no assador, como eu a ponho todos os dias por nós"

"(...) Sei que consigo vamos ganhar" [o recurso de uma avaliação do filho Renato]

Respostas de Paulo Gonçalves a Adão Mendes:

"Caro Adão Mendes, amanhã tentarei pessoalmente explicar a razão que assiste ao árbitro. (...) Se depender de mim..."

"Este é o documento que foi entregue em mão hoje de manhã"


29 de Setembro de 2014

AM para PG:

"(...) O Vítor Pereira pode ser solução antes do recurso?

"Eu a doutora [sugerida por Paulo Gonçalves para patrocinar o recurso para o CJ] somos amigos. A questão é ser o glorioso a apadrinhar a questão e não alguns anti-cristos"

"Temos de ganhar isto e se o doutor puser a carne toda, sei que ganhamos. O chefe [Ventoínhas?] está comigo para tudo.

PG para AM:

"(...) Vou pensar melhor e fazer uns contactos e amanhã falamos."


30 de Setembro de 2014

AM para PG: "O Vítor Pereira já respondeu ao recurso do Renato e alegou que vai levar o caso ao plenário. Era a altura de o...

PG para AM: "Vamos então..."


9 de Outubro de 2014

AM para PG:

"O nosso amigo Manuel Mota recorreu de nota negativa no jogo (...). Temos de lhe dar nota positiva. Ele e eu apelamos ao doutor"

"Sobre o Renato [Mendes, filho de Adão Mendes], o Vítor Pereira nada disse até hoje."

"Não podemos dormir, vem aí o esfolar do cabrito

PG para AM: "Caro amigo, obrigado pela informação. Abraço forte." 


6 de Junho de 2016

AM para PG: "Junto envio lista dos melhores candidatos assistentes. Força nisso e cuidado. Teste escrito (...) [elencada lista de cinco árbitros, com o filho Renato em segundo] Por esta ordem, estes são os melhores e nada pode falhar



II - E-mails trocados entre Nuno Cabral (ex-árbitro de qualidade duvidosa, delegado da Liga à data dos factos e acutalmente funcionário da FPF), o omnipresente Paulo Gonçalves e o próprio Ventoinhas.



31 de Março de 2014

NC para LFV e PG"[Assunto: arbitragem] Caríssimo presidente e doutor Paulo, para vosso conhecimento e análise. Forte abraço" [envio de anexos desconhecidos]

PG para NC: "Bom trabalho, excelente.

NC para PG: "Obrigado amigo doutor. Apenas quero ser um menino querido para vocês e fazer bem o meu trabalho e que o homem confie em mim tal como o doutor. Abraço"


23 de Junho de 2014

NC para PG: "Destes 15, vão 12 a estágio para o próximo ano. [referindo-se a árbitros de segunda categoria, eventualmente passíveis de serem promovidos após o estágio; este email é um reencaminhamento de outro, do árbitro João Pinheiro que na altura ainda não era de primeira categoria e ia para estágio, e que por sua vez tinha recebido o e-mail original de um funcionário da FPF, Mauro Quaresma]



III - E-mails trocados entre Nuno Cabral, Paulo Gonçalves, o então presidente da Liga Mário Figueiredo e o amigo Ventoinhas



29 de Janeiro de 2014

NC para PG: "Amigo doutor, 3 dos delegados dos jogos da polémica da Taça da Liga estão nomeados. Sou o único delegado até ao momento que não fiz Primeira Liga.

PG para MF, reencaminhando o original de NC: "Mário, a ser verdade. será que o homem é feio ou incompetente? É o único delegado que ainda não fez nenhum jogo da Primeira Liga e já foi nomeado 11 vezes para Chaves. Qualquer dia vai ser treinador do Chaves he he he"

MF para PG: "Paulo, só tu para me fazeres sorrir um bocado. Ele está pronto? Vem fazer um jogo aqui ao Porto? Só tens que dizer. Um abraço "


2 de Abril de 2014

MF para LFV: "Caro Luís, segue em anexo as declarações de António Salvador (...). Por favor tem calma que sempre tenho estado e estive do teu lado. Um abraço"

LFV para MF: "Inda querem-me faser atrazado mentol"


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Alguém de boa fé pode duvidar por um segundo que isto é uma amostra (pequeníssima, imagino) do que é o polvo de que tanto se fala?

Alguém, com pelo menos um QI de sobrevivência, pode duvidar que isto são indícios concretos e irrefutáveis de que o Benfica tem a seu soldo uma horda de lacaios, disseminados por todo o futebol português e para lá dele, com a missão de o beneficiar ilicitamente?

Alguém ainda se admira que os apelide como o clube dos sem-vergonha?

Não sei se alguma vez haverá alguma investigação séria sobre tudo isto. E havendo, não sei se alguma vez se encontrarão provas admissíveis em tribunal que levem a uma mais do que merecida condenação. 

Nem se alguma vez, alguém nos órgãos disciplinares do futebol, levará a cabo igual demanda. E levando, se encontrará provas que permitam aferir da culpa do Benfica e dos personagens envolvidos. 

Mas o que eu sei, sem qualquer sombra de dúvida, após ter conhecimento destes e-mails, é que o Benfica montou uma máquina de corrupção e tráfico de influências que, desde há vários anos, controla e manipula a arbitragem e os órgãos que gerem o futebol profissional, e assim desvirtua, ilicitamente e em seu favor, as competições futebolísticas em que está envolvido.

São vigaristas, são corruptos, corruptores e corrompidos. São traficantes de influências (e algo mais, como bem sabemos). São batoteiros, além de caloteiros. São uma fraude e deveriam ser julgados e condenados à luz da Lei. Presos. 

O que seria justo e decente, era haver um CalcioCaos em Portugal. Não se lembram? Foi isto. Entre outros condenados, a Juventus desceu de divisão e perdeu os títulos de campeão de 04/05 e 05/06 "apenas" por ter influenciado indevidamente a nomeação de árbitros em 2004/05. E o seu director-geral de então ficou impedido de exercer funções desportivas durante cinco anos.

Pausa para reflexão.

Lamento profunda e sinceramente por todos os benfiquistas que, por serem honestos e pessoas de bem, começam agora a despertar para esta realidade suja e mentirosa. E agora, vão continuar a exibir o "rumo ao..."? Ao quê? Ao espelho? Ao desespero? 

Já não dá para assobiar para o lado: quem continuar a glorificar as "conquistas" deste Benfica, terá de reconhecer ser tão vigarista como os seus dirigentes.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




quinta-feira, 8 de junho de 2017

Agora Apague Tudo



Somos uns bazófias, somos uns pavões amestrados, somos uns vigaristas inchados, somos Benfica. AGORA APAGUE TUDO*.

Em resumo, foi isto que Francisco J. Marques divulgou ontem no Universo Porto - da Bancada. Uma alegada troca de e-mails (escrevo alegada porque, até ao momento, não tive acesso aos documentos que suportam a denúncia) entre uma figurinha sinistra e ranhosa, daquelas que vive na penumbra e se alimenta de restos putrefactos, que dá pelo nome de Adão Mendes (ou será mentes) e o inefável e paquidérmico Pedro Guerra.


 


O nível de estupidez e soberba que se exige para enviar um email deste teor é bem revelador do sentimento de impunidade que grassa no culto de Carnide. A ligeireza e o desplante com que a figurinha associa a arbitragem à Igreja é sintomático da sua menoridade intelectual.

Mas o que mais releva disto é uma certa tendência para a desagregação do culto. Porventura, terão conseguido um nível tal de "compromisso lampiânico" por parte de todos os sectores da sociedade, que se terão desleixado na sua soberba, tão característica daquela seita.

Admitir, por escrito, que o "primeiro-ministro" LFVieira (deveria ser o Papa, para manter a coerência, mas isso seria pedir demasiado, certo?) "conquistou com muito trabalho" o "espaço" que garante que "hoje, o Benfica manda mesmo" e "hoje, quem nos prejudicar, sabe que é punido" é de alguém claramente estúpido ou que se julga acima da lei. Ou ambas.

Não menos relevante é a data do suposto email, que nos remete para o primeiro ano deste tetra da treta. Ele há cada coincidência...

O omnipresente Baluarte Dragão não tardou a cascar na maralha, inaugurando a muy feliz designação BENFICAGATE (pessoalmente, gosto mais de ler benfi_cagate), destacando-se uma "análise" sua que compara os jogos apitados pelos 8 acólitos e os apitados pelos outros, supostamente mais ou menos agnósticos. 




"Vamos ter os padres que escolhemos e ordenamos nas missas que celebramos". E quem são esses oito magníficos? Ei-los!


+FCPorto

Acresce ainda que, num outro email, o Adão dos Infernos confessa que foi ele que captou Manuel Mota para a arbitragem profissional. E o preparou, evidentemente. Seguindo as instruções do "primeiro-ministro".

Para complementar a pintura, seria também interessante analisar o que os recém-ordenados andaram a fazer, os famosos "padres"-proveta. Fico a aguardar, baluartes.

Se o que o insuspeito (pela devoção) Expresso noticiou é mesmo verdade, pode ser que alguma coisa resulte disto. Uma pequena investigação que não saia da quadratura do círculo e possa descansar no arquivo morto com a maior brevidade. Só para dizer que existiu e tal. Ou, por improvável milagre, ser realmente investigado e levado até às últimas consequências, que é como quem diz, até à cabeçorra do polvo, o tal de bigode farfalhudo.

Será que em vez de um rato enfezado, a montanha vai parir filetes de polvo? Ver para crer.


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Enquanto nada se resolve, eis que a caldeirada se vai cozinhando em lume brando. Hoje, de fininho, a FPF divulgou a classificação dos árbitros relativa a 2016/17. Quem quiser descarregar o documento, pode fazê-lo clicando aqui.

Jorge Sousa foi primeiro (cumpriu sempre nos jogos decisivos sem penalizar a seita), Soares Dias segundo (ai, aquele derby em Alvalade...) e, pasmem-se, o papa-campeonatos Carlos Xistra completou o pódio.

Continuando, o quarto classificado foi o sempre fiel Bruno Paixão, logo seguido pelo Ferrari vermelho. Só depois aparece Hugo Miguel, o artista de Braga, maravilhosamente auxiliado pelo 4º árbitro que não fala francês Tiago Antunes.

Outras classificações de relevo: a salvação do péssimo Rui Costa (big brother was watching for you), bem como do abençoado Manuel Mota e, para fechar coberto de doce ridículo: o homem dos roubos de Capela ficou isento de classificação, assegurando assim mais uma época ao serviço do "primeiro-ministro". Quão absurdo se pode ser neste país?

Ah, coitado do Antunes, acabou mesmo por descer, tal como o filho do dono da tasca de Fafe. Mas não tenham pena deles, muito em breve hão-de estar a video-inclinar disfarçados de gente séria e competente, vai uma aposta?



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



*Sim Júlia, foi de ti que roubei o título. Sorry.




sábado, 20 de maio de 2017

República Popular do Portugalistão - Parte III


A noite demorou uma pequena eternidade antes de, exausta, se render à alvorada do novo dia. Estava demasiado ansioso pelo que me esperava, a ponto de não ser capaz de dormir mais que uma hora de cada vez. A cada despertar, a mesma exclamação indignada perante o veredicto digital do despertador do quarto: Ainda?

Finalmente soou, destruidor, quando estava já confortável no abraço de Morfeu. Raios para isto! O crepúsculo ainda reinava sobre Carnidul, mas nada me faria parar até estar fora da porta do hotel.



 
Antes de se despedir, o motorista de ocasião do dia anterior tinha sido perfeitamente claro e conciso nas instruções. Pela manhã, encontraria na recepção um envelope deixado ao meu cuidado. A partir daí, "tudo deveria ficar claro", disse-me antes de arrancar.

A curiosidade era demasiada e fui directo ao envelope. Num misto de excitação e receio, mantive-o selado até estar discretamente sentado num dos recantos do salão do pequeno-almoço. Olhei em volta, duas vezes seguidas, e abri-o mal confirmei que ninguém me observava.

Um bilhete de comboio. De facto, era tudo o que precisava de saber. O destino era obviamente o Porto e a partida estava marcada para as... de repente, o mundo desabou sobre mim. A partida estava marcada para as oito da manhã, na estação de Carnidul - Santa (Leonor) Pinhónia! Sem conseguir precisar ainda a dimensão da minha tragédia, mirei o telemóvel: 7h41.

Saltei da cadeira e passei a voar pela atónita maître, gesticulando que me explicaria mais tarde. Não sei se percebeu ou não, mas soube-me bem fazer-lhe aquilo. Petits revanches que dão sabor à vida.

Às 7h43 já buscava ansiosamente por um táxi na esquina mais próxima, procurando assim aumentar a probabilidade de sucesso. Passou um, ocupado. Outro, ocupado. Outro, vazio mas já com destino, tal a indiferença perante os meus gestos descontrolados. 7h47 e nada. Vou perder o comboio, não acredito! E vou perder a oportunidade... Não! Não vou desistir.

- Desculpe, senhora, sabe-me por favor indicar para que lado fica a estação de Santa Pinhónia? 
- Bem, assim de repente...
- É longe daqui? - interrompi.
- Não, não é muito... uns quinze minutos...
- A pé?
- Não, credo! De carro!
- ...
- E para que lado fica, se for a pé?
- Bem, deixe ver, é para ali - apontando - Sempre em frente e vá perguntando...

7h50. Sabia que a pé jamais chegaria a tempo. Olhei em redor e nem um táxi em vista. Tinha de tentar o impossível. Após uma rápida avaliação de algumas parelhas carro/condutor paradas no semáforo à minha frente, fiz a minha opção.

- Desculpe - disse com a maior calma que consegui pelo vidro entreaberto. - Lamento incomodá-lo, mas estou numa situação de extrema urgência... Reparando que as minhas palavras provocaram algum interesse no alvo, continuei sem me deter:
- Fui-avisado-em-cima-da-hora-que-tinha-de-embarcar-para-o-Porto-de-comboio-às-8-da-manhã-para-uma-missão-importantíssima-cujo-conteúdo-não-posso-revelar-mas-que-lhe-garanto-ser-mesmo-mesmo-importante-e-se-o-senhor-não-me-ajudar-não-tenho-hipótese-de-lá-chegar-a-tempo-e-assim-concluir-a-minha-missão-importantíssima-e...
- Tasse méne, entra aí q'eu levo-te, bacano...
- Obrigado...

Já dentro do carro, dei por mim a pensar "por que raio escolhi este tipo?". Um puto gingão, com ar de activista universitário sem pressa para concluir a primeira cadeira, aliás demasiado relaxado para aquela hora do dia...
- Atão méne, tás fixe?
- Ah sim, tudo bem. Agradeço-lhe muito pela ajuda. 
- Ya méne, na boa. Tásse...
- Acha que chegamos a tempo?
- O tempo é relativo, tázaver?
- Sim... não, neste caso não é. O comboio sai as 8h da estaç...
- Pode sair, pode não sair. E saindo, vem outro a seguir. Takireasy!
- ...
- Fumaí um tarolo p'a relaxar, méne! É da boa, marca Ventoinhas, tázaver? (riso troglodita)
- ...
- Tás abananado... pensavas que o Ventoinhas era só da branca, né? Nah, é gama completa... du best!
- Por favor amigo, o mais rápido que conseguir, sim?

A medo, voltei a olhar para o telemóvel. 7h56. Estava frito

Cheguei a Santa Pinhónia quando o relógio da estação já marcava 8h04. Tudo perdido. Dirigia-me cabisbaixo para o balcão de informações quando se ouviu nos altifalantes da gare: "Vai partir da linha nº1 o comboio T(r)eta-Pendular com destino a Porto - Campanhã". Mal queria acreditar! Disparei em direcção às plataformas de embarque, procurando orientar-me enquanto corria. Lá estava ela, à distância, a nº1 - e nela, o meu objectivo. Enquanto me aproximava já rejubilante, eis que se ouve o apito e o revisor começa a agitar a bandeira. Nããoooooo... Agora não me vão fazer isso!

- ALTO! SOCORRO! AJUDA! AAAAAALTO!

O grito foi da tal ordem estridente que até o revisor o ouviu, lá do longe. De imediato, sinalizou para o condutor. Consegui.

Nem nove da manhã eram e já tinha esgotado toda a minha energia para o dia. O que viria a seguir? O meu estômago fez questão de responder, lembrando-me que ainda estava em jejum. Fui até à carruagem-bar saciar-lhe o apetite e regressei ao meu confortável lugar. Encostei a cabeça por um momentos. Quando voltei a dar por mim, estávamos parados em Coimbra, a cerca de cem quilómetros do destino.

Tinha sido retemperante aquela soneca imprevista, mas agora a adrenalina estava de regresso para não mais arredar pé. A expectativa de conhecer Francisco Che Marques, famoso líder da Resistência Nortenha, tomou conta do meu pensamento. Como seria? Como me iria receber? Em que alhadas me ia meter agora? Rapidamente, recentrei o foco no meu trabalho, na reportagem que queria fazer. Peguei no bloco de notas e comecei a desenhar a entrevista. Sem que desse por isso, estávamos nas Devesas, a penúltima estação. A partir daí, guardei o bloco e deixe-me arrebatar pela vista enquanto atravessava o rio. Douro, como as suas gentes, dizia-se.




Quando desci do comboio, o estômago voltou a dar sinal de vida. Desta vez, em forma de formigueiro regado a suores frios. Sim, estava com medo. Sozinho no capital do Norte rebelde.

Eu saí, todos os demais passageiros saíram e aos poucos a plataforma foi-se esvaziando, até que só lá restava eu. Nada suspeito, pensei, aqui sozinho e sem comboios a chegar. Resolvi descer as escadas rolantes para a passagem inferior, a ver se me deparava com alguma coisa fora do comum. 

Mal comecei a descer, um encapuzado - vindo do nada! - colou-se ás minhas costas e segredou: "No fim das iscadas, bira à direita e bai até ao fundo e sobe até à rua, carago. Shhh, nem uma palabra!"

Ao chegar à rua que passava nas traseiras da estação, detive-me, procurando pela minha boleia. Ninguém parecia interessado em mim, excepto dois lixeiros junto ao seu camião de trabalho, a uns vinte metros do outro lado da rua. Deveriam estar a chegar, pensei. Voltei a cruzar o olhar por todo o espectro visível e nada. Só os lixeiros continuavam a olhar para mim, embora não fixamente. Como se tivessem receio de... Será? Fixei o olhar num deles e rapidamente veio o ligeiro abanar da cabeça, convidando-me a aproximar.

Segui-os até à traseira do camião, que estava junto a um muro, abrigada de olhares curiosos. 
- Bista isto, rápido. Depois suba aqui e agarre-se. Shhh, nem uma palabra!

Pela primeira vez na vida, vesti uma farda de colector de resíduos, como agora se designa nos meus N.A.T.A. de origem. Subi a uma pequena plataforma numa das laterais da traseira e agarrei-me com todas as forças no local apropriado. Se me pudessem ver agora, Johnny B. Gode a andar à guna na traseira de um camião do lixo... e estava a adorar!

Não sei quanto tempo demorou até chegarmos a um amplo parque de cimento onde descansavam outros guerreiros do combate à sujidade, perfeitamente alinhados, inertes, à espera de um condutor que os devolvessem à vida. O odor era intenso, mesmo se não especialmente desagradável. Estaríamos, por certo, nas instalações da empresa de recolha de lixo.

O meu camião deteve-se, finalmente. Ainda não tinha tido tempo para descer e logo ouvi "Siga-me, cabalheiro. Shhh, nem uma palabra!"

Começava a mexer comigo aquele shhh. Lembrei-me da maître, novamente. Vaca, toma lá que já almoçaste. E sorri, perante o espanto daqueles por quem passava no momento.

Já dentro de um dos grandes armazéns, disseram-me para subir umas escadas metálicas, ao cimo das quais se situavam os escritórios. Já lá em cima, apontaram-me para uma determinada porta.

- Entre Johnny, tenho estado à sua espera.
- Francisco Che Marques?
- O próprio. Que tal essa viagem?
- Bem, obrigado.
- Quase perdia o comboio, não foi? Mas safou-se e está aqui, que é o que interessa.

Como é possíbel, perdão, possível? Toda a gente tem redes de espionagem neste país? A figura do famoso líder da resistência aparentava ser tudo menos implacável e assustadora. Um tipo perfeitamente normal, pareceu-me.

- Senhor Francisco, é uma honra...
- Ora, deixe-se disso Johnny, você é que é a lenda aqui. Jornalista de renome mundial, vários trabalhos distinguidos com os prémios mais importantes, um verdadeiro craque, como costumávamos dizer. Mas siga-me, que aqui não é seguro.

Descemos as mesmas escadas por onde tinha subido, à nossa espera estava um automóvel, vidros escurecidos e impenetráveis na parte traseira. Entrámos ambos para o banco de trás e o condutor arrancou.

- Em que lhe posso ser útil, Johnny?
- Bem, na verdade, eu é que lhe quero ser útil. Ou melhor, ao seu país. Quero fazer uma reportagem que mostre a todo o mundo o que se passa de verdade em Portugalistão. E para isso, conto com a sua ajuda. Explique-me o que se passa aqui. Porque existe uma Resistência. Resistem a quê ou a quem?
- O a quem é óbvio, não? Ventoinhas, o Burlão. E a todo o seu regime opressivo e ditatorial, que instalou em Portugalistão desde há vários anos.

- Entendo que tudo começou com o futebol...
- Sim, primeiro foi o futebol. Na altura, chamávamos-lhe O Polvo, tal a dimensão da rede tentacular que montou de forma a controlar todos os órgãos que tutelavam a modalidade, em benefício do NeNfica, o clube do seu e de outros regimes passados.

- E o que se passou a seguir?
- Apesar da gravidade, cingia-se ao plano desportivo, pelo que ninguém antecipou o que se seguiria. O sucesso do "modelo" foi de tal ordem e a promiscuidade com outras instituições e figuras já era tamanha, desde a polícia de investigação aos procuradores e juízes, passando pelos políticos que os nomeavam, que o finório sabujo conseguiu convencer meio-mundo de que conseguiria replicar o sucesso da sua "gestão" na liderança do próprio país!

- Mas como? Sem eleições?
- Sem eleições! Um primeiro-ministro que alegadamente sufocou engasgado com uma chamuça, um presidente compulsivamente internado por suposta esquizofrenia e, de repente, criaram-se condições para o aparecimento de um líder transitório, nomeado pelo parlamento (ele próprio já dizimado em função das "crenças"), para conduzir o país até um novo processo eleitoral. Processo esse que nunca aconteceu, porque entretanto Ventoinhas se fez general e assumiu o controlo do exército.

- Incrível... como foi possível tudo isso? As pessoas não se revoltaram? Não saíram à rua para se manifestar?
- Pois, parece impossível, não parece? Falta aqui uma peça fundamental para entender o puzzle: os media. Ainda no NeNfica, já Ventoinhas controlava praticamente todos os meios, fossem eles jornais ou televisões. Não foi difícil convencê-los a não "dar cobertura" aos seus movimentos de bastidores, antes contando histórias para embalar a populaça - que, para piorar, é maioritariamente do NeNfica, pelo que mais fácil foi deixarem-se seduzir.

- Uau... mas diga-me, nenhum meio se opôs a isto? Ninguém tentou expor a verdade?
- Claro que sim. Houve sempre quem resistisse até não ser mais possível. Olhe, os Mártires da Sábado, já ouviu falar?

- Mártires de Sábado? Não...
- DA Sábado. A Sábado era uma revista que se atreveu a publicar um artigo sobre o Ventoinhas, quando era apenas presidente do NeNfica, que dava conta das suas burlices e consequentes problemas com a Lei. Um erro fatal.

- Fatal? Como assim?...
- Na altura da publicação, Ventoinhas não reagiu. Mas guardou memória e rancor. Um dos seus primeiros actos públicos após usurpar o poder foi prender e fuzilar todos os que conseguiu encontrar da redacção da Sábado.

- Que horror...
- Sim, mas além da satisfação da vingança, serviu de aviso para todos. Não iria tolerar oposição.

Quedei-me uns momentos em silêncio, como que a absorver a monstruosidade da coisa. E o real perigo que efectivamente corria em estar ali. Mas com o "Che" estaria seguro. Voltei à conversa.

- E o Francisco, como se juntou à Resistência?
- Eu não me juntei, eu fundei-a, juntamente com mais alguns companheiros Portistas. Ainda liderava a comunicação do Clube quando o golpe se deu. Percebi de imediato que seria uma das primeiras vítimas, se fosse encontrado. Eu e muitas dezenas de companheiros abraçamos a clandestinidade desde então.

- E o clube, o FC Porto, ainda existe?
- Sim... mas não. Todos os verdadeiros Portistas que estavam no Clube foram presos ou perseguidos. No entanto, como o NeNfica precisava de adversários para derrotar, Ventoinhas instalou homens da sua confiança na liderança - no Porto e em vários outros clubes.

- Uma farsa, portanto.
- Sim, aliás já antes era, só que agora é oficial. Ironicamente, o actual presidente do meu Porto é o filho do nosso grande líder, o melhor presidente de sempre de toda a história do futebol mas cujo actual paradeiro é desconhecido. O filho, esse, é o fantoche perfeito para o papel.

De repente, um estouro vindo de baixo do carro, uma travagem demasiado brusca e o motorista perde o controlo do carro, que embate numa qualquer superfície e depois capota em cambalhotas sucessivas. Ambos seguíamos sem cintos de segurança, pelo que fomos de imediato projectados. Quer dizer, eu sei que fui. Mas a minha "viagem" foi curta, bati com a cabeça no encosto do banco da frente e logo de seguida num vidro lateral, perdendo os sentidos.

Lembro-me de ter acordado ainda dentro do carro capotado, cheio de dores por todo o corpo, com maior prevalência na cabeça. Ao virar o pescoço, vi o condutor, inerte e ensanguentado. Do Francisco, nem sinal.

De repente, uma voz autoritária e trocista pareceu dirigir-se a mim.

- Ora então quem temos aqui? Mas se não é o jornalista bisbilhoteiro! O general está ansioso por conhecê-lo...

Voltou a erguer-se e comunicou pelo rádio que segurava. Alô, Alôo, central. Daqui Coronel Carlinhos Daniel, da P.I.R.O.C.A. Porto. Apanhámos o melro e temos um pardal morto, mas o filho do dragão escapou-se de novo.

Voltei a desmaiar.


(fim da terceira parte)



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco