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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A greve é uma arma

Como arma que dizem ser, a greve deve ser utilizada com muito sentido de responsabilidades, muita sensatez, escolhendo bem os alvos, o objectivo a atingir, enfim, em termos militares, «o inimigo», e usando de boa pontaria para evitar os danos colaterais. Pelo facto de um militar, um agente da autoridade ou um civil possuidor de licença de uso e porte de arma, poder usar esta, não pode nem deve aplicá-la contra inocentes e em situações de menor gravidade. A «arma» greve deve ter um uso adequado.

Numa empresa, se os trabalhadores têm motivos para reclamação e a administração não os ouve, não dialoga, não cede às reclamações justas e sensatas apresentadas educadamente, a greve poderá ter lugar com intenção de, lesando os interesses da empresa, chamar a atenção para o facto de esta estar a lesar os dos trabalhadores. Mas, mesmo neste caso, os organizadores da greve devem começar por ponderar se os prejuízos que irão causar à empresa não virão a reflectir-se nas suas condições de trabalho, porque a empresa funciona num conjunto interactivo formado pelo capital, pelo trabalho, pelos fornecedores, pelos clientes e pela população local.

Mas no caso de se tratar de uma empresa prestadora de serviços públicos como é o caso dos transportes, actualmente em greve, o factor mais importante é o conjunto e variedade de inconvenientes causados aos utentes que são apenas pagantes e vítimas de qualquer deficiência de funcionamento do serviço a que têm direito.

O direito do utente deve ser considerado em patamar superior ao dos trabalhadores e da administração da empresa.

No artigo Elites estão caladas por lhes faltar independência, diz Alexandre Soares dos Santos este empresário acusa as forças vivas de se remeterem ao silêncio o que as impede de se unirem na defesa de causas comuns. Subentende a necessidade de unir esforços à procura de soluções, sem medo de retaliação. Na realidade, esse medo deve ser expurgado e dar lugar a coragem e um pouco de «heroísmo». A propósito, ontem na estação da CP ouvia-se dizer com certo calor: o que eles precisam é que meia dúzia de valentes venham aqui com martelos destruir tudo isto.

Afinal qual é o objectivo desta grave? Contra quem? Para prejudicar quem? Qual o inimigo para quem usam a arma da greve? Infelizmente a resposta é: são os simples e humildes utentes, muitos que pagaram os passes e se vêm privados do direito que ele lhes deve conferir. E ficava a pergunta: Porque não desencadeiam a sua guerra, com boa pontaria, contra aqueles que consideram seus inimigos?

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Greve irracional

A maioria dos trabalhadores que costuma utilizar os transportes públicos para se deslocar para o seu local de trabalho é prejudicada pelas greves dos transportes que esta semana nos está a massacrar. Qual a racionalidade de tal forma de os transportadores mostrarem o seu «direito»? Certamente os sindicalistas não fazem a greve propositadamente para atingir os inocentes que dela sofrem as piores consequências!

Poderão alegar que essa forma de luta é contra as entidades patronais. Mas para isso teria sido mais eficaz uma greve de zelo ou a recusa de cobrar bilhetes o que até favorecia os utentes. Poderão também alegar que é para mostrar o seu desagrado aos políticos. Mas tal como no caso, também os políticos pretensamente visados nada sofrem com a greve. E para sensibilizar os políticos têm os exemplos da Tunísia e do Egipto com menos ou mais fraca intensidade.

Os sindicalistas devem procurar ser racionais e pensar bem nos objectivos pretendidos, e nas formas de os conseguirem, com os menores custos para os inocentes que, em caso de irracionalidade, acabam por ser os únicos verdadeiramente lesados. Não perderiam tempo se lessem o artigo Pensar antes de decidir. É só fazer clic neste link.

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Transportes também vão subir de preço

De notícia do PÚBLICO extrai-se: «O ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mendonça confirmou hoje que haverá um “aumento de cerca de 3,5 por cento para os passes sociais e de 4,5 por cento para as tarifas, no seu conjunto”

É mais um sinal que deve suscitar as maiores preocupações da parte de cerca de 90% da população e levá-la a meditar sobre a situação em que foi colocado o País.

Neste dito «Estado social», a «austeridade», consequência de má gestão pública durante anos, constitui um roubo multifacetado ao bolso vazio dos pobres, que se vêm lesados ou mesmo privados de benefícios sociais, de salários e, por outro lado, vêm as suas despesas acrescidas para serem mantidos os lucros de empresas de serviços públicos, desde bancos a transportes, e as benesses dos seus administradores, consultores, accionistas, etc. Isto não dá boa imagem a tal estilo de «Estado social» de que os governantes se gabam e em que o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, em vez de ser reduzido, se torna maia largo e mais profundo.

Mas os defensores do sistema não convém se esquecerem de que, quando a justificada ira do povo atingir um grau insustentável, não há muralhas nem fossos que o impeçam de conquistar a fortaleza e aniquilar o inimigo público. Pelo caminho que as decisões superiores estão a tomar, esse momento está cada vez mais próximo. Tenham cuidado. Pensem antes de decidir. Pensem mais nas pessoas do que nos euros dos ricaços.  Libertem-se um pouco das grandes pressões dos detentores do poder do dinheiro que os dominam puxando os cordelinhos, e pensem nos 90% de cidadãos, eleitores, clientes, consumidores e nas condições em que está a viver a maioria da população que tão desprezada e sacrificada tem sido. 



Não esqueçam que o voto de cada pobre vale tanto como o de cada rico.

Imagem da Net

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quinta-feira, 26 de março de 2009

Traição contínua

Notícia do Público transcrita do blog Estado Sentido:

As linhas do Corgo (Régua a Vila Real) e do Tâmega (Livração a Amarante) estão encerradas "por tempo indeterminado" desde ontem à noite, numa ordem dada em cima da hora pela administração da Refer que, em segredo, acordou com a CP um serviço de substituição rodoviário. O motivo oficial é a reabilitação daquelas linhas, mas a empresa não tem qualquer calendarização para iniciar os trabalhos, não dispõe dos projectos para tal e não abriu qualquer concurso público.

Ontem à noite, o maquinista da automotora que costuma ficar na estação de Vila Real recebeu ordens para a trazer de volta à Régua antes da meia-noite, numa operação que faz recordar a forma como há 16 anos encerrou a linha do Tua (entre Mirandela e Bragança) com as composições a regressarem vazias durante a noite para evitar a contestação das populações.

O PÚBLICO apurou que a Refer e a CP preparavam esta operação há já alguns meses, mas decidiram não a divulgar, preferindo fazê-lo em cima da hora. Ontem, às 21h, os sites das duas empresas não traziam ainda qualquer informação sobre esta suspensão. A ordem apanhou de surpresa os ferroviários da estação da Régua e da Livração que, subitamente, ficaram a saber que hoje já não haveria comboios para Vila Real e Amarante. Para a CP, que também omitiu estas alterações aos seus clientes, esta situação é vantajosa visto que o serviço é deficitário e poupa agora no combustível e no desgaste das composições, com a vantagem de ser a Refer a pagar os autocarros de substituição.

Comentário de João Pedro no blog Estado Sentido:

Mais uma prova da absoluto desrespeito da CP e da REFER pelos seus utentes, uma atitude que se está progressivamente a tornar rotineira. Depois de encerramentos contínuos de inúmeros troços de linha férrea, desde o fabuloso Sabor até vários percursos alentejanos, e quando se prepara, embora ainda não o admita, para eliminar a linha do Tua, um património único na Europa, a notícia da "suspensão" das linhas do Tâmega e do Corgo caiu que nem uma bomba entre os habituais utilizadores. Pela calada da noite, como quaisquer vulgares bandoleiros, aqueles que tinham obrigação de velar pelos caminhos de ferro acabaram com eles num ápice. A história da "suspensão indeterminada" é truque velho, demasiado datado para que alguém acredite, fora os desonestos.

Enquanto isso, discute-se o traçado do TGV, se entra em Lisboa pelo Norte ou pelo Sul, se passa ou não no aeroporto, se vai a Vigo ou a Ayamonte. O TGV é um dos Bezerros de Ouro do regime, tal como o EURO 2004 era "o desígnio nacional". Promete o futuro radioso à mão de semear por meros 40 Euros, depois de milhares de hectares expropriados, incontáveis discussões e projectos, milhões de Euros gastos nisto tudo e nas inevitáveis derrapagens.

E o ambiente, as energias renováveis, o cumprimento dos protocolos de redução das emissões de CO2, tudo alardeado com ar beatífico e de aluno cumpridor, quando o interior e o miolo das grandes cidades se esvazia inexoravelmente para os subúrbios dos blocos de betão de má qualidade decorados a marquises ensebadas no meio de campos semi-agrícolas. Para isso, constroem-se barragens concessionadas previamente à EDP, que podiam ser evitadas caso se aumentasse a potência de outras, destruindo-se património humano e natural, com a falsa promessa de que vão atrair turismo e emprego (isto é, construção civil), quando na realidade apenas "secam" tudo à sua volta, quais eucaliptais.

As linhas férreas foram uma forma de vencer as barreiras entre o litoral e o interior, penetrar nas serranias e nos planaltos, quebrar o isolamento de populações desde tempos imemoriais confinados ao seu horizonte montanhoso. Um projecto ambicioso, levado a cabo desde o Fontismo até aos últimos anos da Monarquia, em que os Reis iam pessoalmente à inauguração destes novos troços que mudaram o país para melhor, fosse no Carregado ou nas Pedras Salgadas. Agora, a república em que vivemos resolve unilateralmente e por interposta empresa pública acabar com meios de transporte, que além de ligarem populações carentes de outros meios de comunicação, eram já um património histórico testemunhando a vontade intrépida de ultrapassar obstáculos, como o haviam sido os Descobrimentos e o Douro vinhateiro. A isto tudo a CP obedece sem pestanejar, traindo o compromisso com os seus utentes, continuando a prestar-lhes maus serviços pelos mesmos preços sem sequer ouvir-lhes as queixas (o Intercidades não tem serviço de bar há seis meses). É bem o exemplo do que não deve ser uma empresa pública. Infelizmente, é a regra, e não a excepção.

Ainda me posso dar por feliz por ter conhecido a linha do Corgo, mesmo que amputada da sua metade até Chaves. Tinha planos para conhecer as do Tâmega e do Tua, mas infelizmente essas esperanças goram-se agora. Já não poderei conhecer essas velhas composições, as paisagens únicas que atravessam, nem os rostos das pessoas traídas pelos seus governantes, para quem não passam de pormenores do seu feudo de "progresso" e inimputabilidade.

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