Na arena onde se luta pelo Poder, não há golpes proibidos, tudo sendo permitido, segundo critério de muitos lutadores. O mais frequente é o das afirmações falsas, das promessas enganosas, das provocações do tipo «balão de ensaio» à espera da reacção da opinião dos cidadãos para saber se pode avançar-se ou se há que recuar. Tais afirmações e promessas por vezes são de tal ousadia que não lembram a ninguém decente, e nelas são incluídas, por exemplo as despudoradas promessas eleitorais. Perante isso, o povo mais esclarecido perde confiança nos políticos
Isto não é característica de um ou outro político, pois está generalizado, não só por cá como pelo mundo, com graus de intensidade mais acentuado em regimes menos maduros. Ainda recentemente o presidente brasileiro Lula da Silva, quando visitou Cuba, talvez com a intenção de ser agradável a Fidel Castro, com 81 anos e afastado das funções há 17 meses por motivos de doença, relançou a especulação sobre o eventual regresso deste a um papel mais activo no regime cubano, declarando que a saúde deste estadista estava «impecável» e que estava «pronto a assumir um papel político».
Entretanto Fidel, que não esconde a sua candidatura ao parlamento cubano, disse num artigo publicado pela imprensa local que a sua saúde lhe permite escrever, mas não exprimir-se em público. «Não disponho de uma capacidade física suficiente para falar directamente aos habitantes da localidade onde fui inscrito como candidato às eleições do próximo domingo. Faço o que posso: escrevo» «Agora que disponho de mais tempo para me informar e meditar sobre o que vejo, apenas posso escrever».
Um homem cujo valor lhe permitiu sobreviver no centro do furacão gerado pela guerra fria entre os EUA e a URSS, com a agravante de estar geograficamente situado na vizinhança da potência oposta à sua preferida, mostra que o Poder e o carisma não são incompatíveis com a franqueza de confessar publicamente as suas debilidades. Com a minha conhecida imparcialidade de análise, nada me impede de ver em cada pessoa os seus defeitos e virtudes e Fidel evidenciou, agora, esta virtude que deve servir de exemplo a políticos com mentalidades atrasadas que vivem de virtualidades.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Fidel não teme ser sincero
Publicada por A. João Soares à(s) 09:14
Etiquetas: Fidel, franqueza, humildade, sinceridade
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