20 de agosto de 2012

O resgate do fruto




Era demasiado amor. Demasiado grande, demasiado confuso e arriscado, e fecundo, e doloroso. Tanto quanto eu podia dar, mas mais do que me convinha. Por isso se desmoronou. Não se esgotou, nem se acabou, nem morreu, desmoronou-se apenas, veio abaixo como uma torre demasiado alta, como uma aposta demasiado alta, como uma esperança demasiado alta.

Almudena Grandes 
Castelos de Cartão
Venham enfim as altas alegrias.
As ardentes auroras, as noites calmas,
Venha a paz desejada, a harmonia.
E o resgate do fruto, e a flor das almas.
Que venham, meu amor, porque estes dias
São de morte cansada,
De raiva e agonias
E nada.

José Saramago
Provavelmente Alegria

25 de julho de 2012

Alegoria floral


Lylia-Corneli


Um dia irei tirar essa mulher de dentro da flor,
despi-la das suas pétalas, e emprestar-lhe o véu
da madrugada. Então, vendo-a nascer com o dia,
desenharei nuvens com a cor dos seus lábios, e
empurrá-las-ei para o mar com o vento brando
da sua respiração.

Alegoria Floral



19 de julho de 2012

Fruto

Deviantart/Mish00



Este fruto:
amarmos.

Longo gesto o de apanhá-lo
no vento.


  Desassombro






13 de julho de 2012

Vertiginosamente azul

William Manning/Corbis



Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas.

E perdidos no azul nos contemplamos
E vimos que entre nós nascia um sul
Vertiginosamente azul: azul.



Carlos Pena Filho
Desmantelo Azul
Quero conhecer a minha nudez
 e ser o azul da presença.

Uma  voz na Pedra


18 de junho de 2012

Conceito

.......


     Teu corpo:

.........um porto
.........que eterniza
.........meus navios

.........um parto
.........que traduz
.........o meu avesso

.........a parte
.........que arremata
.........meu desejo.
.........Conceito
Que rompam as águas:.........
é dum corpo que falo..........
Nunca tive outra pátria,.........
nem outro espelho,.........
nem outra casa..........


Espelho.....lllll.....




..........

6 de junho de 2012

Um cingir de corpo

Matthew Alan/Corbis


Para sempre me ficou esse abraço. 
Por via desse cingir de corpo minha vida se mudou. 
Depois desse abraço trocou-se, no mundo, o fora
 pelo dentro. Agora, é dentro que tenho pele. 
Agora, meus olhos se abrem apenas 
para as funduras da alma.

Na Berma de Nenhuma Estrada
Ela tinha um rio de seda no abraço...

Senhas/Texto Sentido



 

25 de maio de 2012

Acaso

Weheartit




Nem sempre a neve
cai do céu: às vezes,
explode numa flor.




18 de abril de 2012

Melancolia

Christof Wermter-zefa-Corbis





Breve arquitetura da melancolia.
 Lágrima, apenas.


Eugénio de Andrade
Coração do Dia





9 de abril de 2012

Estrelas

Vicent Van Gogh / Starry Night Over the Rhone


Apaga as estrelas, vem dormir comigo  no esplendor
da noite do mundo que nos foge. 

O último coração do sonho

Porque tu és o meio da manhã
O ponto mais alto da luz
Em explosão.
Guarda a Manhã


30 de março de 2012

A curva da estrada



Num breve encontro entre grandes constelações, Fernando Pessoa poetizou: "Morrer é a curva da estrada. Morrer é apenas não ser visto"; Millôr, então, retrucou: "Só se morre uma vez. Mas é para sempre."; Chico veio no rastro e disse: "Não tenho medo de morrer. Tenho pena."; Então, Jobim, para encerrar a conversa em Sol Maior, cantou: "São as "lágrimas" de março fechando o verão."




ando tão preguicenta com o blog que, para não deixá-lo à deriva e, 
principalmente, em respeito aos amigos que sempre aportam por esses 
rios, resolvi fazer uma dobradinha entre o Facebook e blog para, assim,
 não deixá-lo de todo, sem as minhas digitais.  a passos lentos vou,
 pouco a pouco, retribuindo o carinho das visitas.




21 de março de 2012

Silêncio

Pascal Renaux


Eu nasci para estar calado. A minha única vocação é o silêncio. Foi 
meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para
apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um  único 
silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto,  eu não
 estava pasmado. Estava desempenhado, de alma  e corpo ocupados: 
tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. 
Eu era um afinador de silêncios.
Jesusalém



9 de março de 2012

Ilusão

 
Flickr

O outono o que é para mim o outono?
O outono é a suspeita de que tudo acaba
de que a exaltação do verão é uma ilusão.

Ruy Belo

Meditação Anciã/Todos os Poemas Vol.III


Janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no Verão.

Rui Pires Cabral
Escuro

 

4 de março de 2012

Da minha janela

Inês Queiroz


Eu rabisco o sol que 
 a chuva apagou.

Giz


26 de fevereiro de 2012

Miragem

Marta Glinska

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida 
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.


Miragem


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13 de fevereiro de 2012

Perdoa este amor

Tetra Images/Getty Images



Perdoa a riqueza deste amor
sem sedas nem brocados
a fragilidade deste mundo sem orientes
nem senhas nem tratados
e esta resma de escritos imperfeitos
em que invariavelmente falo de ti
mesmo quando não é de ti que falo.


Poesia Vadia / Inês * Pedro * Amor * Paixão




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