Mostrando postagens com marcador Vinícius de Moraes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vinícius de Moraes. Mostrar todas as postagens

26 de fevereiro de 2012

Miragem

Marta Glinska

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida 
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.


Miragem


O link dos comentários ficará desativado por um certo período. 



21 de dezembro de 2009

Poema de Natal

















Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Po
r isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinícius de Moraes



Aos que partiram mas ficaram. Aos presentes, ainda que ausentes.
Aos ausentes sempre muito presentes, e a todos os amigos que navegaram
pelo
s meus rios
ao longo desse ano e que deixaram, num eterno flutuar,

as mais suaves e delicadas expressões de carinho..



Imagem: Zoe/Corbis


23 de junho de 2008

Apesar de tudo...


  













Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
...
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito.
...
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é.
...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinícius de Moraes
O Haver


Imagem: Volkmar Brockhaus/zefa/Corbis