Não espero respostas. Você não precisa responder a todos os textos que lhe envio.
Eu só escrevo para você porque acredito que sempre haja ainda mais uma frase, mais um advérbio modificando o rumo da nossa prosa desgovernada e imprecisa.
Não tenho nenhuma pretensão... nenhuma forma de cobrança.
Só escrevo para você para que você saiba que ainda invento regências para os verbos que aprendi a declinar depois que você substituiu o sujeito das nossas conjugações, tirou os plurais dos nós e mudou toda sintaxe da minha oração.
Não. Eu não escrevo para você supondo que você vai perder seu tempo lendo as minhas mal-intencionadas linhas. Não vislumbro um sinal de concordância entre nossos discursos desencontrados e antagônicos em sua essência.
Você não precisa retribuir nenhuma das minhas mensagens. Não precisa assinar recibo de recebimento nem nada. Você não precisa dizer nada.
Porque eu só escrevo para você para não desaprender a técnica... é só um exercício de memorização. Porque eu não quero esquecer nenhuma das tantas felicidades que descrevemos juntos, numa folha em branco. Escrevo porque não posso apagar a história intensa que traçamos. Um no outro. Outro no um. (Sei de cada um dos nossos adjetivos, de todos os nossos predicados... e é tão mais elegante escrever na primeira pessoa do plural!)
Você não precisar responder.
Você não precisa retribuir.
Você não precisa concordar.
Você só precisa existir para eu me inspirar... e escrever para você.
domingo, 30 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
(destr)oços do ofício
Não, este texto não deveria estar registrando minhas impressões. Mas o verbo insiste em trair minha indiferença e me faz analisar experiências profissionais com total passionalidade. Justo eu, que prezo pela correção da sintaxe, me vejo envolvida nas construções assustadoras da sua prosa inquieta. Tento controlar as flexões e os reflexivos pronomes das personagens que você manipula em mais um dos seus clichês. Faltam concordâncias, há excesso de intervenções e prosódias. Num único parágrafo, você erra a regência e eu contextualizo suas falhas em orações menos subordinativas. Mas seu discurso me confunde os conceitos e abala minha certeza. Misturo-me, então, aos figurantes que você escolheu como convidados para assistir com imobilidade ao desenrolar da sua narrativa inconstante. Oscilo diante da transitividade de suas ações. Sujeito-narrador. Você escreve para mim várias cartas sem remetente declarado. Eu não leio suas críticas dissimuladas nos comentários efusivos que você acrescenta às notas de rodapé que não explicam o comportamento inconjugável da terceira pessoa do plural no último capítulo desse romance.
("Elas" sou eu em variações múltiplas de papéis.)
Resolvo a questão elaborando um poema sumário e redefino o foco:
Quem é você, afinal,
(entre todos os eus que constrói)
só mais um predicado ou meu herói?
("Elas" sou eu em variações múltiplas de papéis.)
Resolvo a questão elaborando um poema sumário e redefino o foco:
Quem é você, afinal,
(entre todos os eus que constrói)
só mais um predicado ou meu herói?
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
como é difícil pôr um ponto-final numa história de reticências
Hoje, ao ler a poesia de todos os dias, eu percebi que os verbos estavam conjugados em nosso tempo. Pretérito imperfeito. E a constatação do meu imperativo rondava os sujeitos omissos nas frases que costumávamos apreciar.
Era uma vez uma poeta que se apaixonou pelo poema inacabado. E o verso ficou em branco. E a rima perdeu a graça. Era uma vez um poeta que amou uma borboleta (ou teria sido uma flor?) em segredo. E seu verso emudeceu. E sua rima perdeu o controle.
Hoje, quando eu abri meu caderno para rascunhar mais uma saudade de você, eu notei a folha envelhecida. Eu amassei os pronomes contidos em nossas páginas. E tentei inverter o sentido da metáfora metendo-a dentro do vazio ocupado pelo silêncio da sua verve, com as sílabas dissonantes que você calou.
Era uma vez um verbo em Pessoa, em preciso navegar, a concordância impessoal... Era uma vez a febre e o desejo do "Corpo" drummondiano... que já fora presente. Era uma vez todo um arsenal de finais felizes mutilados... Era uma vez um enredo perfeitamente articulado ao desfecho de nossas limitadas impossibilidades textuais. A gramática de nossas línguas alterada por declinações e cenas mal pontuadas. Era uma vez um predicado incompleto. Uma vírgula separando elementos indissociáveis nas veredas daquele ser tão inexpressivo. Era uma vez uma história dentro do romance que o passado não leu...
Era uma vez uma poeta que se apaixonou pelo poema inacabado. E o verso ficou em branco. E a rima perdeu a graça. Era uma vez um poeta que amou uma borboleta (ou teria sido uma flor?) em segredo. E seu verso emudeceu. E sua rima perdeu o controle.
Hoje, quando eu abri meu caderno para rascunhar mais uma saudade de você, eu notei a folha envelhecida. Eu amassei os pronomes contidos em nossas páginas. E tentei inverter o sentido da metáfora metendo-a dentro do vazio ocupado pelo silêncio da sua verve, com as sílabas dissonantes que você calou.
Era uma vez um verbo em Pessoa, em preciso navegar, a concordância impessoal... Era uma vez a febre e o desejo do "Corpo" drummondiano... que já fora presente. Era uma vez todo um arsenal de finais felizes mutilados... Era uma vez um enredo perfeitamente articulado ao desfecho de nossas limitadas impossibilidades textuais. A gramática de nossas línguas alterada por declinações e cenas mal pontuadas. Era uma vez um predicado incompleto. Uma vírgula separando elementos indissociáveis nas veredas daquele ser tão inexpressivo. Era uma vez uma história dentro do romance que o passado não leu...
sábado, 10 de novembro de 2012
pra você o meu melhor
Quando quero falar de você, procuro a melhor palavra, mas não sei qual o melhor momento. Para falar com você, busco sempre o melhor adjetivo, mas não sei qual a melhor construção. Quando quero encontrar você, escolho o melhor lugar, mas não sei se estou no melhor caminho. Se o assunto é você, teço a melhor trama, mas não sei se bordo a melhor cena. Sei, sim, que se é você que está em jogo, invisto minhas melhores intenções
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
enterrando os mortos (que vivem dentro de mim)
Dentro de mim, a chama das paixões até se mantém acesa. Há qualquer coisa que sustenta a combustão apesar da falta de oxigênio. Um elemento químico natural e mais escasso também. Por dentro tudo é vida, fogo, luz.
Na vida real, no entanto, do lado de fora dos meus sonhos inconscientes e inoportunos, faço um buraco, escavo meu interior solitário e descontente com a falta de sol nos dias. Não está chovendo... por fora, não. Minha chuva interna é que não cessa e oculta a luminosidade dos desejos impossíveis.
Para diminuir meu sofrimento, concentro o pensamento nos homenageados do dia. Comemoro tudo o que foi interrompido e maltrato o passado com vestígios de ironia. Saúdo os mortos. Mas apenas os que ainda não morreram. Visito o cemitério em que deixei as esperanças. Depositei tantas alegrias em terrenos movediços e áridos. Penso na possibilidade de acordar esses defuntos, almas a vadiar pelo meu mundo onírico e descontínuo de realidade.
No entanto, agora já está tudo em decomposição... paixões são inflamáveis e viram cinzas. E eu insisto em enfeitar túmulos decadentes onde apodrecem paixões inesquecíveis.
Na vida real, no entanto, do lado de fora dos meus sonhos inconscientes e inoportunos, faço um buraco, escavo meu interior solitário e descontente com a falta de sol nos dias. Não está chovendo... por fora, não. Minha chuva interna é que não cessa e oculta a luminosidade dos desejos impossíveis.
Para diminuir meu sofrimento, concentro o pensamento nos homenageados do dia. Comemoro tudo o que foi interrompido e maltrato o passado com vestígios de ironia. Saúdo os mortos. Mas apenas os que ainda não morreram. Visito o cemitério em que deixei as esperanças. Depositei tantas alegrias em terrenos movediços e áridos. Penso na possibilidade de acordar esses defuntos, almas a vadiar pelo meu mundo onírico e descontínuo de realidade.
No entanto, agora já está tudo em decomposição... paixões são inflamáveis e viram cinzas. E eu insisto em enfeitar túmulos decadentes onde apodrecem paixões inesquecíveis.
domingo, 28 de outubro de 2012
deslembranças
O que dói não é estar distante.
O que dói, machuca e não tem remédio que cure é a sensação corrosiva de que foi tudo sem sentido. Que tudo não teve nada de aproveitável, nada para permanecer, pra ficar.
O que dói não é o silêncio transitoriamente perene.
O que dói é a mudez involuntária, que cala o desejo latente, que omite a fala reveladora do mais puro sentimento guardado por dentro, num interior inalcançável.
Já houve dias em que eu me senti mais triste. Já houve momentos em que eu estive mais desesperada com esse silêncio perpetuado a cada fim de semana em que você enfatiza sua ausência. Já houve tempo também em que eu nem pensava nisso! É "eu-era-feliz-e-não-sabia", como você escreveu outro dia (há muito tempo!!).
Mas hoje eu só queria uma válvula de escape que me fizesse fugir da paranoia que é saber que você ainda existe. Hoje eu só queria devolver sílaba por sílaba das suas declarações inconsequentes. Queria depositar na sua caixa de correspondência todas as respostas que você se recusa a formular. Hoje eu queria empurrar pra debaixo do seu travesseiro todas as lágrimas que molham minha fronha nas noites que você não visita meus sonhos. (Eu sei que isso é por demais piegas, mas me dou o direito de cair nesse poço de clichês batidos, pois essa dor que dói é o lugar-comum das nossas mentiras e dissimulações.)
O que dói, machuca e não tem remédio que cure é a sensação corrosiva de que foi tudo sem sentido. Que tudo não teve nada de aproveitável, nada para permanecer, pra ficar.
O que dói não é o silêncio transitoriamente perene.
O que dói é a mudez involuntária, que cala o desejo latente, que omite a fala reveladora do mais puro sentimento guardado por dentro, num interior inalcançável.
Já houve dias em que eu me senti mais triste. Já houve momentos em que eu estive mais desesperada com esse silêncio perpetuado a cada fim de semana em que você enfatiza sua ausência. Já houve tempo também em que eu nem pensava nisso! É "eu-era-feliz-e-não-sabia", como você escreveu outro dia (há muito tempo!!).
Mas hoje eu só queria uma válvula de escape que me fizesse fugir da paranoia que é saber que você ainda existe. Hoje eu só queria devolver sílaba por sílaba das suas declarações inconsequentes. Queria depositar na sua caixa de correspondência todas as respostas que você se recusa a formular. Hoje eu queria empurrar pra debaixo do seu travesseiro todas as lágrimas que molham minha fronha nas noites que você não visita meus sonhos. (Eu sei que isso é por demais piegas, mas me dou o direito de cair nesse poço de clichês batidos, pois essa dor que dói é o lugar-comum das nossas mentiras e dissimulações.)
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
num só som
Das horas que vagam à espera calma de um telefonema, restam apenas silêncios imensuráveis e taquicardias constantes. Assim é que os dias passam por mim sem inspiração pulsante, sem desordenadas orações. Tudo o que crio é um não dizer instantâneo, que preenche a folha em branco com máculas e lágrimas. A trilha sonora do momento é também o silêncio. Verbos sem voz ativa calam-se nas linhas do texto que não flui. Não há predicados que façam a concordância possível para os hiatos de solidões que fogem dos padrões sintáticos. A simetria das letras se desconstrói em meio a tantas desintegrações de termos. Nem mesmo os apostos se opõem ao vício pontual imposto pelas vírgulas engasgadas. Discursos intransigentes transgridem o tom profícuo do silêncio que reverbera dentro das minhas fantasias frustradas. Nada discorre. Nada me ocorre. Nada. Silêncio é tudo. E tudo é silêncio. Só. Silêncio.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
da falta de inspiração...e excesso de PIRAÇÃO...
Vontade de gastar a ponta dos dedos nesse teclado até sangrar. Não é por acaso que você me faz tanta falta!
As palavras delicadas me abandonaram... partiram na companhia de seu escasso tempo para nós dois. Não reclamo por não dividir a cama quentinha com seu corpo todas as noites. Não me queixo por não compartilhar a água do mesmo banho purificando nosso amor. Não sou de lamentar.
Mas é que vezenquando você deixa um vazio tão grande no meu abraço caloroso em demasia... que eu até me sinto oca.
(ai... a rima traiçoeira já me pede sua boca...rs)
domingo, 26 de agosto de 2012
para um domingo qualquer
Dia da criação acontecer... e a palavra anda solta dentro do pensamento estático no assunto proibido. (VOCÊ). Devo falar seu nome baixinho, porque ninguém pode ouvir meu amor. Eu, que costumo ser tão efusiva, me ponho dissimulada mente a escrever seu nome nas linhas do meu corpo. Eu, que costumo gritar os verbos de dentro em todas as conjugações, rabisco em letras minúsculas o quanto você me faz feliz.
...............................
Preciso confessar: hoje roubei as orquídeas do jardim alheio
porque a flor que eu esperava não veio
e eu queria uma cor mais viva no interior do meu dia
.................................................
O seu silêncio corrói minha poesia. E eu, que gosto tanto da inspiração dos domingos, prendo a respiração... arranco as folhas do livro que escrevemos juntos... e queimo mais um dia da sua ausência.
domingo, 19 de agosto de 2012
sob nuvens
Começo o dia abrindo os olhos para me certificar mais uma vez do silêncio que você deixa na caixa de entrada do meu correio eletrônico. Sei que passei dos limites e entupi a sua lixeira com apelos, lembranças, pedidos inócuos de atenção... Você deve estar achando que sou louca (palavras que você também me escreveu retornam agora pra você com um acréscimo de fatalidade).
Para atenuar meu desespero, passo os olhos pelas notícias publicadas nos perfis amigos... sim, é fato, o dia está lindo lá fora. Enquanto a falta de chuva obstrui os pulmões dos cidadãos de bem, eu transbordo essa chuva particular, isso ajuda a umedecer as mucosas da narina e impede que eu sucumba com falta de ar... você escorrendo pelo meu rosto (foi a maneira que eu encontrei de tirar você da cabeça... de dentro de mim... dos meus pensamentos insensatos e corroídos pela ausência de uma palavra sua).
E se eu tentasse lhe dizer meus desastres emocionais nesta manhã clara de domingo? Você ouviria meu pedido? Nem todas as nuvens anunciam tempestades.., Às vezes elas são apenas desenhos malfeitos de momentos felizes... às vezes as nuvens são apenas deformações de desejos inteiros de felicidade... desmanchando-se num céu sem horizontes a vislumbrar...
Desculpe, mas eu não consigo (d)escrever minha dor.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
resiliência
E depois, quando nada parece mais fazer sentido... ela se lembra de uma característica que pode defini-la: resiliência. E até isso a fazia efêmera como a flor!
Tudo o que doía... ia, agora, pelos ares, em voos harmoniosos... por campos outros. Sorria. E era seu velho novo sorriso!
Foi como uma tempestade de sorrisos... regando seu tímido jardim...
Porque agora é hora de voltar a sorrir... reagir... deixar a deformidade num canto do passado, de preferência dentro do baú.
O verdadeiro tesouro está aqui: presente.
Ah... "o que passou passou" e os próximos dias são de sol, risos e flor!
Tudo o que doía... ia, agora, pelos ares, em voos harmoniosos... por campos outros. Sorria. E era seu velho novo sorriso!
Foi como uma tempestade de sorrisos... regando seu tímido jardim...
Porque agora é hora de voltar a sorrir... reagir... deixar a deformidade num canto do passado, de preferência dentro do baú.
O verdadeiro tesouro está aqui: presente.
Ah... "o que passou passou" e os próximos dias são de sol, risos e flor!
terça-feira, 14 de agosto de 2012
fim de férias (II)
Agora, que me despeço da ociosidade e da esterilidade criativa,
posso olhar para dentro e tentar me livrar do peso desses dias. Aprendi a contar
os dias com você, no dia em que me ensinou a real matemática do tempo. E, durante
esse tempo desprovido de noções cronológicas, observei, insensata, o tempo
passar. Não descansei o pensamento nem um segundo sequer. Mesmo tendo consciência
de que o que passou ficou para trás, mesmo sentindo a falta de sorriso nas
gargalhadas que furtivamente soltei...
Só agora, que a rotina começa a ocupar seu lugar no
nosso espaço incomum de viver, eu sinto os ombros ainda mais doídos, a voz mais
silenciosa, o coração descompassado na constante arritmia. Denso, o olhar também
vaga pelos dias condenados à amargura.
Uma tristeza antiga me acena da janela... a brevidade
da íris que você regou e viu florir... a felicidade em registros fotográficos
(sem os negativos, tudo agora é revelação!).
Tudo é passado simples. Mas você conjuga o verbo no
tempo errado, e põe no meu presente sonhos irrealizáveis de poesia e saudade. Como
seu eu pudesse reeditar o romance perdido...
(No fim, a melhor coisa que me aconteceu nestas férias foi o fim delas!)
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
abstinência
Alucinadamente cometo incursões à caixa de correspondência. De meio
em meio minuto. Nada de email. Nenhuma resposta abranda essa ânsia desesperada
de esperar. A distância, que torna a incomunicabilidade mais acessível aos
meios, ironicamente faz menos alcançáveis os emails nas pastas disponíveis por
essas bandas não muito largas. Falha da memória não programável, que armazena
automaticamente os arquivos que desejamos remover e processa nossos
dispositivos, que se batem, rebatem, em bytes infinitamente insignificantes e
de duração questionável.
Quando o abominável F5 não apresenta aplicabilidade, outros
spams chegam ao meu novo endereço eletrônico. Por um ou dois segundos, os olhos
se distraem na caixa de entrada do todo-poderoso Outlook. Alarme falso.
Envelope amarelo fechado, remetido por sabe-se lá quem ponto com, sem o conteúdo desejado, vai direto para a lixeira.
Aproveito para acalmar a taquicardia relendo as mensagens
recebidas de usuários menos passionais. Pego atalhos e caio em outras redes, lá onde outros perfis sorriem. O encontro tão
ao alcance do teclado. Imagens digitalizadas na memória primitiva são expostas
e compartilhadas com amigos comuns com quem não nos relacionamos mais... As impressões
digitais permanecem facilmente reconhecíveis.
Novo clique no botão “atualizar”... e sou salva pela queda
da conexão.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
fim de férias
E os dias agora seguem vazios do seu olhar. Acordo. No meu quarto de não dormir, as nossas ações ainda desobedecem ao silêncio imposto pela distância de todos esses sussurros, que gritam nos meus ouvidos na hora em que me deito sobre a sua ausência. Sob o edredom macio seu cheiro incendeia meus gestos... (foi com as piores intenções que decidi envolver sua pele em meus lençóis e carências naquela tarde vadia).
Hoje há um sol brilhando insuportavelmente lindo no quintal... e longe de mim, muito próximo a você, eu sei das cercas vivas que adornam a paisagem nostálgica da nossa incompletude. Insustentável. Lembro, penso, deliro. Uma necessidade perene de sonhar e ser feliz me sacode. Um tanto desequilibrada e ingênua, me aproprio das fantasias que plantamos mutuamente. O solo parecia fértil. Regamos nossos sonhos e eles não brotaram onde os semeamos. No entanto, sua íris floresce no meu jardim todas as manhãs, quando abro a janela e não encontro seu corpo ao meu lado.
A vida implora vida. Eu chovo torrencialmente para que essas dias renasçam.
No seu diário, apenas nomes enumerados à revelia se amontoam... Minha alcunha não frequenta sua lista de presenças indispensáveis.
Hoje há um sol brilhando insuportavelmente lindo no quintal... e longe de mim, muito próximo a você, eu sei das cercas vivas que adornam a paisagem nostálgica da nossa incompletude. Insustentável. Lembro, penso, deliro. Uma necessidade perene de sonhar e ser feliz me sacode. Um tanto desequilibrada e ingênua, me aproprio das fantasias que plantamos mutuamente. O solo parecia fértil. Regamos nossos sonhos e eles não brotaram onde os semeamos. No entanto, sua íris floresce no meu jardim todas as manhãs, quando abro a janela e não encontro seu corpo ao meu lado.
A vida implora vida. Eu chovo torrencialmente para que essas dias renasçam.
No seu diário, apenas nomes enumerados à revelia se amontoam... Minha alcunha não frequenta sua lista de presenças indispensáveis.
terça-feira, 24 de julho de 2012
tempo
"Ele me deu um beijo na boca" e não disse nada. Pisou no meu descuidado céu da boca e mostrou que as estrelas também podem brilhar no avesso das lembranças. Ele pousou suas retinas sobre minha nostalgia corpórea e desvendou minhas entranhas... e silenciou minha fragilidade eloquente com seus verbos em riste. Ele perversamente resgatou meus sonhos e deslizou seus dedos em meus cabelos tentando rearranjar os pensamentos pervertidos que o tempo teimava em oxidar. Ele lambeu a ferrugem do meu desespero e com palavras mansas me incendiou. E eu estou ainda agora à procura da minha memória, do meu passado, estou ainda à procura de mim.
domingo, 24 de junho de 2012
prorrogação (ou morte súbita)
O dia começa como se fosse um dia qualquer, inútil às divagações descabidas que perambulam livremente. Um único propósito me mantém estimulada nesse clássico domingo.
Fico à espreita, escondida entre as cortinas da sua janela, clichê sempre exposto à minha imaginação. Você off, sempre ausente. Sinto-me mais à vontade para criar o cenário que quiser para o seu lazer. No entanto, seus momentos de descontração, descanso... tudo é inatingível e sua sombra intocável não deixa rastros pra que eu possa me perder nas suas horas vagas.
Diante da timidez do sol, planejo, meço, arquiteto. Faço de tudo para chamar sua atenção. Pelo telão de um boteco da Vila, acompanho o futebol. Comemoro o primeiro gol do seu time com um grito agudo pra que você me ouça, me veja, me venha...
É... hoje eu acordei a fim de entrar nessa disputa. Quero competir com seus interesses gerais e arriscar todo meu latim para me garantir como titular dessa posição. Cansei de ficar na reserva, meu caro. Essa partida é pra ser decidida como a final de um campeonato.
Aposto todas as minhas fichas nesse confronto. E mais uma vez deixo o tom previsível do meu ataque no aquecimento. Escolho a ingenuidade como tática. Avanço pelo campo do seu léxico (reconhecidamente superior) com minha linguagem pueril. Tento neutralizar suas manobras linguísticas, sua habilidade verbal. Mas você dribla minha intenção de trapacear; anula meu melhor lance. Lanço mão dos meus subterfúgios para enfrentar a sua fala adversária e numa jogada de mestre você me joga pra escanteio.
Jogo a toalha, descarto sua expulsão. Então, você penetra minha pequena área, a defesa desatenta não atua. Sem impedimento claro, você ataca e marca um gol de placa (acertando em cheio meu coração).
Fico à espreita, escondida entre as cortinas da sua janela, clichê sempre exposto à minha imaginação. Você off, sempre ausente. Sinto-me mais à vontade para criar o cenário que quiser para o seu lazer. No entanto, seus momentos de descontração, descanso... tudo é inatingível e sua sombra intocável não deixa rastros pra que eu possa me perder nas suas horas vagas.
Diante da timidez do sol, planejo, meço, arquiteto. Faço de tudo para chamar sua atenção. Pelo telão de um boteco da Vila, acompanho o futebol. Comemoro o primeiro gol do seu time com um grito agudo pra que você me ouça, me veja, me venha...
É... hoje eu acordei a fim de entrar nessa disputa. Quero competir com seus interesses gerais e arriscar todo meu latim para me garantir como titular dessa posição. Cansei de ficar na reserva, meu caro. Essa partida é pra ser decidida como a final de um campeonato.
Aposto todas as minhas fichas nesse confronto. E mais uma vez deixo o tom previsível do meu ataque no aquecimento. Escolho a ingenuidade como tática. Avanço pelo campo do seu léxico (reconhecidamente superior) com minha linguagem pueril. Tento neutralizar suas manobras linguísticas, sua habilidade verbal. Mas você dribla minha intenção de trapacear; anula meu melhor lance. Lanço mão dos meus subterfúgios para enfrentar a sua fala adversária e numa jogada de mestre você me joga pra escanteio.
Jogo a toalha, descarto sua expulsão. Então, você penetra minha pequena área, a defesa desatenta não atua. Sem impedimento claro, você ataca e marca um gol de placa (acertando em cheio meu coração).
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Sugestão para o início de um novo romance
As palavras misturam-se na gramática dos dias e se perdem entre atualizações, crases, crises. Nenhuma hifenização no meu uni-verso alcança a complexidade das estruturas fixas que a sintaxe do seu vocabulário impõe. Suas imagens (re)correntes. Vislumbro uma frase desfeita pelo seu sujeito omisso, mas nenhum predicado me ocorre com tanta concordância como a sua dificuldade de ação. Você se inscreve continuamente numa ficção desenvolvida e narrada na terceira pessoa... que nunca é conjugada no tempo monótono do seu discurso.
domingo, 3 de junho de 2012
Tento aproveitar o domingo para refletir...
As palavras me vêm como tempestade... em golpes violentos. Só
o “não” cabe nas respostas para as perguntas que ele deixou de verbalizar
quando me invadiu com seu olhar inquiridor.
Com o costume manipulador, ele a manusear meus instintos...
eu resistindo. Ele a burlar os contratos de civilidade... eu protocolar.
Nosso acerto de contas não dá desconto: mais um caso
encerrado.
O que ainda nos mantém próximos? O que nos distancia?
Mesmo quando ele para o trânsito para me atravessar, segura
minha nostalgia nas mãos e promete sonhos pendurados na janela do meu quarto
vago. Uma luz. Ele ofusca meu ímpeto sagaz, faz de mim seu brinquedo
improvisado numa noite quase fria. O sereno a nos atenuar os impulsos. O que
ele sente? Nunca me coube saber. Sente? Agora nos encontramos diante de um
precipício verbal: o silêncio não causa constrangimento, e isso (para mim)
revela certa intimidade consentida. Mas eu descarto o momento. Enrijeço o
verbo. Sufoco o riso espontâneo que iluminava nossa fala descuidada.
E na pior das hipóteses, permito que ele me entenda nas
entrelinhas, minhas rimas vazias, meus versos inacabados, meus hiatos de
frases.
De repente, ele sente!
O que será que ele sente?
segunda-feira, 14 de maio de 2012
só mais um capítulo
De todas as
impossibilidades, você era a única certeza. E você ficou. E se manteve: alvo
das paixões inatingíveis. Você com sua franqueza sedutora e seus horizontes
repletos de promessas jamais cumpridas. Armadilha absolutamente previsível,
nem posso acusar o destino de tal desgraça. Não há álibi que sustente minha falta
de racionalidade.
De todas as
inconstâncias, você era a ausência mais perene. E foi você que permaneceu.
Entre silêncios, vácuos e abismos... você ininterruptamente se fez faltar,
fazendo da sua rara presença o prêmio almejado.
E eu esperei seu corpo, esperei suas palavras... justificativas e mais
argumentos. Mas a história já estava encerrada. Eu só fechei os olhos
pra que a realidade não ofuscasse minha teimosia.
De todas as
mentiras, você só verdade. Das farsas e falsas tragédias, você: drama complexo.
Enredo traiçoeiro, mesmo quando explicitados os papéis representados. A cena.
Você, simples figurante, abre as cortinas e arranca aplausos. Eu me impressiono
sempre com sua performance romanesca.
De todos os
roteiros irrealizáveis, você era o desfecho concretamente inviável. Assumiu o
script e redirecionou os atos. Entrou em cena e roubou o foco do palco. Criou
situações imperfeitas para os conflitos que a tela pedia... e com perfeição se
transformou no herói da minha novela, quando, desde o primeiro instante, eu
sabia que você é vilão.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
passado a limpo
Você sabe que eu fico sempre à espreita. Aguardando, pretensiosa, sua correspondência diária selada com um beijo, seu sorriso em envelope lacrado. Procuro por você em livros, jornais, revistas, entrevistas, letras de músicas, cartas, poemas, pôsteres, portais, outdoors, Outlook, Orkut, Facebook, MSN, Twitter, Google, blogs, em todos os papéis e spams.
Você sabe que meus desejos, literalmente sem escrúpulos, subordinam sua liberdade de expressão. Eu atravesso seus canais de comunicação. Ilicitamente, visito seus amigos, vasculho sua agenda, seus contratos, seu currículo, sua ficha catalográfica.
Você percebe que eu reviro seu vocabulário, sabe que violo seus capítulos, rasgo o verbo que dialoga com a primeira pessoa da sua antologia. Abro mão da ética e, sem habilidade, manipulo suas frases feitas e deixo minhas impressões digitadas em suas páginas.
Você releva minha incompetência prosaica, a superficialidade do meu discurso, a desclassificação dos meus gêneros textuais, meu impetuoso hábito de tirar seu foco narrativo do meu ponto de vista.
Você sabe que suas locuções intransitivas e transitórias produzem orações intransigentes e excitam minha inquisição sintática. Por isso, contesto o contexto dos seus vícios de linguagem, cometo plágio, imito seu estilo e reordeno seus predicados. Eu arquiteto planos para seus projetos e me protejo em seus rascunhos.
Mas você conhece a limitação da minha verve. Sabe que eu me inspiro em você, aspiro as ideias que você defende, depois conspiro e, sozinha, piro. Então, eu conjeturo estruturas poeticamente viáveis para sua insegurança estilística e engravido das palavras que você cria. Seus neologismos apenas acentuam as intrigas que você compila.
Eu reconsidero sua narrativa e gero minhas próprias expectativas. Busco, nos seus argumentos, o lugar-comum em que eu caiba sem legendas nem tradução. Incorporo eruditos clichês e me adapto ao seu roteiro original. Figuro entre seus devaneios coadjuvantes, enceno a megera que extirpa sua imagem de herói. Represento a fada inconsequente do seu storyboard. Eu reinvento nossos dramas.
Você sabe que minha falta de imaginação não condiz com o desenlace desse romance. Eu me intrometo em todas as interrogações do happy end que você excluiu. O parágrafo em que o felizes-para-sempre é tangível mesmo que não haja mais história. Mas você finge não entender minha proposição e profere o inexorável ponto-final.
No entanto, eu resgato as lembranças empoeiradas das entrelinhas que se demoraram em silêncio e reescrevo a versão mais bem-sucedida do nosso epílogo. A enunciação de uma cumplicidade que planeja desfechos mais plausíveis para essa novela.
Você sabe que eu edito suas emoções, corto da epígrafe fragmentos que você publica para uma anônima musa, sem dedicatória. Meu ciúme capitular ultrapassa as margens da sua folha de rosto e eu me embaraço nos traços das personagens boçais que você esboça. Eu ressuscito fantasmas da sua biografia. Subverto a moral da sua fábula... Perco a noção do tempo e estabeleço outras demoras fora de hora.
Você sabe que me enredo no enredo que você tece. Engendro episódios surreais para as mil e tantas cenas de suspense dos contos que você fantasia. Misturo o vermelho da minha veia poética ao negrume do seu filme de terror, e você até sente o arrepio que me tira a concentração enquanto acordada eu sonho estar no primeiro ato da tragédia que você anuncia.
Você sabe que eu sempre volto e retorno ao círculo vicioso do nosso duelo pré-textual e, com sorte, viro o jogo e roubo-lhe o mote. E discorro sobre sua textura bruta, a pedra implacável que você guarda com cuidado no subterfúgio do seu narrador inconsciente.
Você sabe que eu censuro os termos chulos do seu ensaio. Julgo seus sujeitos mal conjugados e condeno a inverossimilhança dos seus atos. Por fim, me prostro diante dos sentidos subliminares da sua alegoria.
Você sabe que meus desejos, literalmente sem escrúpulos, subordinam sua liberdade de expressão. Eu atravesso seus canais de comunicação. Ilicitamente, visito seus amigos, vasculho sua agenda, seus contratos, seu currículo, sua ficha catalográfica.
Você percebe que eu reviro seu vocabulário, sabe que violo seus capítulos, rasgo o verbo que dialoga com a primeira pessoa da sua antologia. Abro mão da ética e, sem habilidade, manipulo suas frases feitas e deixo minhas impressões digitadas em suas páginas.
Você releva minha incompetência prosaica, a superficialidade do meu discurso, a desclassificação dos meus gêneros textuais, meu impetuoso hábito de tirar seu foco narrativo do meu ponto de vista.
Você sabe que suas locuções intransitivas e transitórias produzem orações intransigentes e excitam minha inquisição sintática. Por isso, contesto o contexto dos seus vícios de linguagem, cometo plágio, imito seu estilo e reordeno seus predicados. Eu arquiteto planos para seus projetos e me protejo em seus rascunhos.
Mas você conhece a limitação da minha verve. Sabe que eu me inspiro em você, aspiro as ideias que você defende, depois conspiro e, sozinha, piro. Então, eu conjeturo estruturas poeticamente viáveis para sua insegurança estilística e engravido das palavras que você cria. Seus neologismos apenas acentuam as intrigas que você compila.
Eu reconsidero sua narrativa e gero minhas próprias expectativas. Busco, nos seus argumentos, o lugar-comum em que eu caiba sem legendas nem tradução. Incorporo eruditos clichês e me adapto ao seu roteiro original. Figuro entre seus devaneios coadjuvantes, enceno a megera que extirpa sua imagem de herói. Represento a fada inconsequente do seu storyboard. Eu reinvento nossos dramas.
Você sabe que minha falta de imaginação não condiz com o desenlace desse romance. Eu me intrometo em todas as interrogações do happy end que você excluiu. O parágrafo em que o felizes-para-sempre é tangível mesmo que não haja mais história. Mas você finge não entender minha proposição e profere o inexorável ponto-final.
No entanto, eu resgato as lembranças empoeiradas das entrelinhas que se demoraram em silêncio e reescrevo a versão mais bem-sucedida do nosso epílogo. A enunciação de uma cumplicidade que planeja desfechos mais plausíveis para essa novela.
Você sabe que eu edito suas emoções, corto da epígrafe fragmentos que você publica para uma anônima musa, sem dedicatória. Meu ciúme capitular ultrapassa as margens da sua folha de rosto e eu me embaraço nos traços das personagens boçais que você esboça. Eu ressuscito fantasmas da sua biografia. Subverto a moral da sua fábula... Perco a noção do tempo e estabeleço outras demoras fora de hora.
Você sabe que me enredo no enredo que você tece. Engendro episódios surreais para as mil e tantas cenas de suspense dos contos que você fantasia. Misturo o vermelho da minha veia poética ao negrume do seu filme de terror, e você até sente o arrepio que me tira a concentração enquanto acordada eu sonho estar no primeiro ato da tragédia que você anuncia.
Você sabe que eu sempre volto e retorno ao círculo vicioso do nosso duelo pré-textual e, com sorte, viro o jogo e roubo-lhe o mote. E discorro sobre sua textura bruta, a pedra implacável que você guarda com cuidado no subterfúgio do seu narrador inconsciente.
Você sabe que eu censuro os termos chulos do seu ensaio. Julgo seus sujeitos mal conjugados e condeno a inverossimilhança dos seus atos. Por fim, me prostro diante dos sentidos subliminares da sua alegoria.
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