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Mostrando postagens com o rótulo Criação

Literatura e patrulhamento ideológico

Na turma da literatura, convivo com gente de todo tipo. Muitos são de esquerda; outros são de direita. Às vezes concordo com um lado; outras vezes discordo dele. Quando há oportunidade, procuro conversar e aprender com qualquer um, embora eu tenha sempre as minhas próprias questões. Não estar bem certo das coisas às vezes me deixa mal com este ou aquele sujeito, quando ele exige de mim, de modo explícito ou não, um alinhamento automático em nome da classe. Apesar disso, nunca cheguei a bater boca com ninguém, muito menos joguei no lixo uma obra-prima sequer porque o autor-pessoa me decepcionou de algum modo. Por definição, concordo com o que defendeu Bakhtin em seu ensaio "O Autor e o Personagem na Atividade Estética": a obra de arte é do domínio do "autor-criador, elemento da obra", o qual não deve ser confundido com o "autor-pessoa, elemento do acontecimento ético e social da vida". Para o filósofo russo, o trabalho estético se caracteriza por...

O textão e o poema

Héber Sales Ando cada vez menos à vontade para dar as respostas que as pessoas esperam de mim. Um aluno de produção textual pergunta-me quantas linhas deve escrever. O que dizer? Quantas você quiser, ora. Só não me faça perder o interesse antes do final. A preocupação com a quantidade de linhas perturba igualmente as pessoas nas redes sociais. Algumas avisam constrangidas que estão postando um textão. Acho engraçado. Se a coisa for ruim, não serve como desculpa. Se for boa, ninguém vai se importar com o tamanho dela. Na escrita criativa, textão ou textinho nunca foi uma questão crucial para quem é do ramo. E quando o texto é bem bolado, também não angustia os leitores. Há ideias que rendem dois volumes (Dom Quixote), um poema do tamanho de um livro (Romanceiro da Inconfidência) ou 3 horas de filme (O Poderoso Chefão), e lamentamos quando chega ao fim. Há ideias que se resolvem muito bem num episódio (San Junipero, na série Black Mirror ) ou num conto (O Perseguidor, do ...

Como as coisas acontecem

Trabalhe naquilo que faz você esquecer de comer. Não espere por uma inspiração, faça logo um rascunho. Continue o mais rápido que puder. Não pense, preste atenção no que surge. Continue! Tudo se transforma e melhora quando você simplesmente continua. Pare. Se errar, especule: como o seu erro pode estar certo? Imprevisto é descoberta. Não existem problemas, apenas pontos de vista. Nunca volte para casa exatamente pelo mesmo caminho.