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25.4.12

Promoção: The Immersion Book of Steampunk

Siiiiiiiiiiiiiiiiim, eu sei que sumi. Mas o blogger me odeia e a minha vida anda muito, muito confusa. Só que eu sei que vocês vão me perdoar - afinal, voltei em grande estilo, com uma PROMOÇÃO!


O autor brasileiro Jacques Barcia está participando do The Immersion Book of Steampunk - em companhia de vários excelentes autores, entre eles Paul di Filippo. E cedeu um exemplar para nossos leitores.

Porém, como eu não gosto de facilitar, não vai ser sorteio! Para concorrer ao seu exemplar, você terá que ir na nossa caixinha de comentários e dizer "o que é uma imersão steampunk" para você. A melhor resposta, julgada pelo nosso júri, leva!

Valendo até dia 10/05 - resultado no dia 15/05

Boa sorte!

Saiba mais sobre o livro aqui e aqui.

15.4.12

Novas histórias de um passado extraordinário

A mais bem sucedida, em termos de crítica e de repercussão, coletânea lançada pelo fandom de ficção científica nacional vai ganhar uma bem vinda continuação. Lançada com pioneirismo em 2009 pela Tarja Editorial, Steampunk - Histórias de um passado extraordinário recebeu algumas dezenas de menções e avaliações em blogs nacionais e estrangeiros, programas de TV e de podcasts, garantiu presença em livros como o Anuário de Ficção Científica e a Steampunk Bible. Agora, a mesma editora anuncia que chegará prevemente às livrarias físicas e virtuais Steampunk 2. Eu já estava sabendo e até já enviei uma noveleta para ser avaliada pelos organizadores, agora, que a notícia se tornou pública, vou compartilhar a nota publicada pelo site do Conselho Steampunk de São Paulo

.

Depois do indiscutível sucesso de público e crítica que foi “SteamPunk ~ Histórias de um Passado Extraordinário”, a Tarja Editorial resolveu lançar uma continuação com noveletas de autores selecionados tratando o SteamPunk cada um a sua maneira.

O período Vitoriano é o foco da obra, o que limita os contos entre 1837 e 1901, mas certa flexibilidade é dada nas circunstâncias ficcionais anacrônicas cabíveis.

Segundo o editor Gian Paolo Celli – também responsável pelo primeiro volume – a intenção é reunir entre 8 e 12 obras de ficção científica que provoquem a reflexão acerca do subgênero literário.

O elenco de autores presentes na primera coletânea impressionou bastante e houve inclusive repercussão internacional graças ao competente resultado literário.

Na nova coletânea todas as obras deverão se ater ao formato “noveleta” de narrativa livre, sendo deixadas de fora outros formatos como poesias e estruturas afins.

Como é do feitio da Tarja Editorial, nenhum valor é cobrado aos escritores e não há qualquer compromisso para além da divulgação da obra e cada autor receberá três exemplares – cujo evento de entrega será oportunamente agendado.

A editora pretende lançar o livro em formato 14x21cm, reservando cerca de 30 páginas por autor – que perfazem 45 mil toques ou de 14 à 15 páginas no formato A4. Precederá cada conto uma página de apresentação com o nome do autor e breve introdução a obra, seguindo-se à obra breve biografia do autor e área para fixar um endereço de website e email para contato.

A Tarja Editorial, como editora responsável pelo primeiro lançamento SteamPunk do Brasil, é alvo de um carinho especial do Conselho SteamPunk e de entusiastas de toda parte, mas nosso coração à vapor é enorme e vai continuar abraçando cada uma das demais editoras que se juntarem à ilustre pioneira com o intuito de enriquecer a produção de Cultura SteamPunk no país.

Para mais informações sobre o projeto, os interessados devem entrar em contato com a
Tarja Editorial pelo email steampunk2@tarjaeditorial.com.br

10.4.12

Nós vemos uma fronteira diferente

Acabo de saber de um dos projetos mais interessantes que já vi desde que comecei a acompanhar o mundo da FC mais de perto, lá para o final de 2007, começo de 2008. Fábio Fernandes vai se coeditor de uma antologia que terá o controverso tema do Colonialismo e sob uma ótica bem distinta da que nos acostumamos a ver nos livros, cinemas, animações, seriados, games, enfim, na produção cultural que nos chega por diversas vias.

"Para esta antologia, vamos estar à procura de histórias a partir da perspectiva de pessoas e de lugares colonizados por regimes que não sejam de sua escolha (no passado, no presente ou mesmo no futuro). Nós não estamos prioritariamente interessados em histórias de guerra, apesar de não as deixarmos totalmente de fora. Não estamos interessados em histórias sobre um Homem Branco que aprenda com os erros de suas escolhas; nem em parábolas sobre contato com alienígenas em que os seres humanos são brancos anglófonos e os ETs apenas analogias para outras raças. Queremos histórias contadas dos povos colonizados, com personagens que não necessariamente falem inglês, de autores que tenham experiência do mundo além do Primeiro Mundo."

Essa é a intenção manifestada para a obra, a ser publicada pela The Future Fire, uma editora independente (na verdade, revista independente) especializada em ciberficção sócio-política e especulativa. Para viabilizar o projeto, a equipe responsável está angariando recursos no melhor estilo participativo de crowdfuding. Neste endereço você pode acessar mais detalhes desta ideia inovadora e contribuir para que sejam arrecadados os três mil dólares previstos para remuneração dos contistas, capista e outros custos, que não incluem a parte editorial, cedida voluntariamente pelos organizadores.

10.2.12

Nova resenha das Aventuras Secretas

A primeira coletânea nacional de contos baseados no mais famoso personagem de Arthur Conan Doyle ganhou nova avaliação crítica ontem, desta vez pelo jornalista e escritor Antonio Luiz M.C. Costa, em seu blog no site da revista CartaCapital. Seguindo a tradição desta página, reproduzo o início do texto, o trecho que se refere ao meu conto e deixo os leitores ao final com o link para o texto completo.

Desde o início, o detetive da Baker Street se fez notar como um personagem capaz de ganhar vida própria, para além da vontade do autor. Em 1893, quando Conan Doyle quis livrar-se dele para se concentrar em romances históricos mais sérios e o matou em O Problema Final, fãs e editores indignados o obrigaram a ressuscitá-lo e a continuar escrevendo suas histórias. Muitos acreditaram que seus personagens realmente existiam e escreveram cartas para o inexistente endereço da Baker Street 221B.
Escrever histórias apócrifas sobre Holmes é uma tradição inaugurada em 1907, vinte anos antes da morte de Conan Doyle. Os pioneiros foram um time de escritores alemães dentro de uma série chamada Arquivos secretos de Sherlock Holmes, traduzida em francês. E desde que Holmes caiu oficialmente em domínio público, a tentação de reinventar o personagem e suas histórias tornou-se irresistível para seus fãs em todo o mundo. Inclusive no Brasil, onde a Editora Draco acaba de lançar Sherlock Holmes – Aventuras Secretas (264 págs., R$ 46,90), organizada por Marcelo Galvão, cujos contos, na maioria, valem a leitura.
A introdução, de Carlos Orsi, lembra como, em 1911, o padre anglicano Ronald Knox fez uma palestra intitulada Um estudo da literatura de Sherlock Holmes, no qual aplicava aos romances e contos publicados até então por Conan Doyle os mesmos métodos aplicados pela Alta Crítica aos Evangelhos, tratando o detetive como realmente existente e procurando, pela primeira vez, atar as pontas soltas deixadas por Doyle.

Na verdade, como está bem sinalizado ao longo do livro, a coletânea foi organizada por Marcelo Augusto Galvão em parceria com Carlos Orsi. Segue abaixo a parte da resenha que registra opiniões e informações sobre meu conto:

O caso do desconhecido íntimo, de Romeu Martins, mantém Sherlock Holmes e John Watson, mas lhes dá destinos completamente diferentes. Em vez de ser um brilhante detetive, Holmes industrializa o reagente para hemoglobina cuja invenção anunciara no primeiro romance, Um estudo em vermelho e se torna um próspero empresário. Quanto a Watson, enlouquece logo depois de conhecê-lo, delira com aventuras detetivescas que imagina viver em sua companhia e escreve os romances e contos que conhecemos até que, indigente e agonizante, é recolhido a um hospital.
Ao ler seus escritos, o médico que o atende avisa Holmes – protagonista e narrador – que visita o Watson já inconsciente, mas nada compreende. Infelizmente, nem o leitor. Nenhuma revelação interessante sobre a causa dos delírios, nenhum lampejo de inspiração sobre o relacionamento da dupla ou a natureza da loucuraem geral. Este Holmes, talvez o mais obtuso já imaginado, vê Watson como uma monstruosidade incompreensível e sem sentido. Compara-o ao homem-elefante Joseph Merrick, atendido no mesmo hospital e não mostra nem sombra da perspicácia que o tornou célebre na pena de Conan Doyle e que retorna na maioria dos contos desta antologia.
Desajeitado na forma e prosaico no conteúdo, o conto trivializa seus personagens e lhes rouba o encanto sem nada ter para dar em troca. Notam-se também alguns anacronismos: Watson recebe medicação intravenosa, prática criada só nos anos 1930 e Holmes dirige uma grande empresa de pesquisa especializada, décadas a frente do tempo. Amostra:

O jovem médico se aproximou de mim e tocou em meu ombro, fazendo o mesmo rosto que, presumo, deveria dedicar àqueles a quem era obrigado a dar notícias sobre a proximidade da morte.
– Seria tão fácil quanto falso eu dizer que posso imaginar o que sentiu ao ler aqueles textos. Creio que ninguém poderia se pôr no lugar do senhor, para saber o que se passa em seu espírito com toda esta situação tão inusitada.
Não posso negar o quanto estava confuso desde que, em meu escritório, recebera o baú repleto de papéis escritos com uma caligrafia que ficava mais errática com o tempo. Desvendar a forma, no entanto, não era mais difícil do que aceitar o conteúdo, com tudo o que dizia respeito a mim. Ou, pelo menos, a uma versão possível de mim, da minha vida, do meu passado, e até mesmo, do meu futuro…
Por isso tudo, com tamanha confusão, não me sentia à vontade para desabafar a respeito com o médico, que conheci superficialmente anos antes e de quem não ouvira falar desde então. A única coisa que me ocorreu responder foi:
– Esta parte do hospital é bem mais tranquila que o ponto onde entrei, não?
Vale dizer que, quanto aos anacronismos notados pelo autor do texto, eles são elementos próprios da ficção especulativa que permite fazer avançar situações como a criação de uma empresa especializada na área de química ou as pesquisas em relação a tratamentos intravenosos da mesma forma que ocorre com a descoberta antecipada em mais de meio século de um equivalente do nosso Luminol ou ainda a construção de toda uma ala fictícia do bem real London Hospital, onde o Homem Elefante de fato esteve internado na década de 80 do século XIX. Por falar nisso, ao contrário do que diz a resenha, no conto não é Holmes quem compara Watson àquela figura histórica, mas sim outro personagem que faz essa relação reiteradamente.

A íntegra de "Sherlock Holmes em oito reencarnações" pode ser lida aqui.

7.2.12

Primeira resenha das Aventuras Secretas

Recebi ontem por email a primeira resenha dedicada à coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, editada pela Draco. A autoria dos comentários é de Pedro Dobbin, resenhista regular deste blog e que me autorizou a postagem do texto a seguir, pelo qual já lhe deixo os meus agradecimentos e o convite a outros críticos para que também registrem suas opiniões:






Sherlock Holmes - Aventuras Secretas


Organizado por Carlos Orsi e Marcelo A. Galvão
Editora Draco, 2012, 264 páginas.

Uma coletânea de contos de Sherlock Holmes escrita por autores brasileiros. Com uma introdução ao que se chama de Grande Jogo escrita por Carlos Orsi, onde este explica de forma clara esse esporte intelectual que une pessoas do mundo inteiro na busca da “verdade” que se esconde em cada história do famoso detetive. Só essa introdução já vale a pena o livro e aqueles pouco familiarizados com a obra de Conan Doyle terão oportunidade de conhecê-la um pouco mais.

Ao final temos uma apresentação dos autores, com um desenho de cada um deles. Recomendo a leitura antes de iniciar o mergulho no restante, assim temos a oportunidade de saber um pouco sobre quem são e o que fazem cada um deles.

A aventura do americano audaz - um relato póstumo de John H. Watson, MD.
Octávio Aragão

A descoberta de documentos da família do autor trazem à luz uma história fascinante em que Watson narra uma aventura de Holmes desconhecida até o momento. Nesta aventura, Holmes tem a oportunidade de lidar com outra criação literária, dos clássicos da literatura de horror, e a forma com que a ação se desenrola é no mínimo surpreendente.

Destacam-se as referências ao cânone sherlockiano e o tom realista que o autor imprime à história. Embora pessoalmente eu tenha me surpreendido, pois os outros contos do autor que tive oportunidade de ler tinham uma ação vertiginosa e de tirar o folêgo, nesta história ele avança de outra forma, criando um clima de suspense e nos transportando ao ambiente sherlockiano com bastante realismo.

Excelente história, enredo bastante criativo e original.

Das reminiscências do Dr. Ormond Sacker, Clínico Geral
Marcelo A. Galvão

Numa realidade alternativa, Holmes irá investigar o assassinato de Watson junto com seu parceiro Sacker. Uma trama bem feita, com alguns toques de erotismo.

A aventura do falso Dr. Watson
Carlos Orsi


Para investigar a morte da esposa de Watson, Holmes se disfarça de...Watson!. Explorando a crença de Doyle no espiritismo o autor conseguiu montar uma trama envolvente e original. Excelente conto.

O caso do detetive morto
Cirilo S. Lemos


O Doutor Joseph Bell e Arthur Conan Doyle vão a Paris investigar a morte do famoso detetive Dupin. Para quem não sabe, o Doutor Joseph Bell foi professor de Doyle na vida real e muito se comenta sobre ter sido ele a inspiração para a criação de Sherlock Holmes. Quando ao detetive Dupin, trata-se da criação de Edgar Allan Poe. Muito boa história e o final é bastante surpreendente.

O caso do desconhecido íntimo
Romeu Martins

Um Holmes que não é um detetive famoso, mas um inventor, visita no sanatório ninguém menos que John Watson. Embora este não possa mais se comunicar, estando às portas da morte, a descoberta de escritos que mostram uma parceria entre os dois e sua pessoa como um famoso detetive deixam Holmes pensativo. Excelente conto, mostrando o que poderia ter acontecido se, por um motivo qualquer, a famosa dupla não tivesse tido oportunidade de se formar. Destaque para o momento em que Holmes tem uma intuição de que as histórias de Watson acontecem em outra realidade.

A aventura do penhasco dos suicidas
Alexandre Mandarino

Na primavera de 1944, ao investigar uma morte no Penhasco dos suicidas o inspetor Wells conta com a ajuda de um misterioso senhor que com seu método as vezes estranho acaba por elucidar o que de início parecia um suicídio. Destaque para as revelações ao final do conto.

Um estudo em Azul
Rosana Rios

Uma estagiária de uma delegacia paulista e seu colega de apartamento investigam uma ossada descoberta após a demolição de uma casa antiga. A estagiária parece-se, a cada parágrafo do conto, mais e mais com o nosso famoso detetive enquanto as investigações sobre a ossada levam a hipóteses que são no mínimo surpreendentes. A única participação feminina do livro é também um dos seus pontos altos. O conto é excelente e muito gostoso de ler.

O punhal adamantino do vazio
Lúcio Manfredi

Sherlock Holmes enfrenta seu pior inimigo numa aventura que parece de início ser um delírio a que foi levado nosso grande detetive, mas que acaba por mostrar algo totalmente inesperado. Nota-se a sequência de aparecimento de inimigos/amigos e a descrição dos raciocínios que, a meu ver, mais se aproxima do pensamento de Holmes no livro.

Conclusão


Oito contos, todos de excelente qualidade, os autores conhecem bem a obra do Conan Doyle e conseguiram criar histórias muito interessantes. Acredito que qualquer um que se interesse pelas histórias de Sherlock Holmes encontrará no livro uma fonte de entretenimento e prazer, os que não conhecem podem aproveitar para iniciar um primeiro contato. Não encontrei pontos negativos, exceto, uma falha de revisão na página 134 onde dois “que” aparentemente foram suprimidos.

24.1.12

Resenha e sorteio de Deus Ex Machina

O blog Empório dos Livros está promovendo o sorteio de uma edição da coletânea steampunk Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor. A responsável pela página, Vivi Guarapari, fez uma resenha absolutamente honesta da obra, deixando claro que não sentiu afinidade pelo gênero, mas ressaltou a qualidade de alguns contos, entre eles o meu, como pode ser lido abaixo:

Os contos são muito bem escritos. Analisando puramente a história proposta (sem entrar no mérito de interagir intensamento com ela) eu gostei da forma como 'A Diabólica Comédia - A Conquista dos Mares' (Romeu Martins) foi contada, dando uma alternativa interessante numa batalha onde um anjo e um demônio se juntam para guerrear. A música 'The Battle of Everymore' foi uma ótima trilha sonora para início de capítulo. Feliz escolha do autor.
Para participar do sorteio e ler a resenha completa, é só clicar neste link.

23.1.12

Elementar, não tem?!

O título acima, que mistura o bordão mais conhecido do Grande Detetive criado por Arthur Conan Doyle com o sotaque manezinho é o mesmo da principal nota de hoje na concorrida Contracapa do caderno de cultura do maior jornal do meu estado, o Diário Catarinense. Com ela, o jornalista Marcos Espíndola divulga a coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, da editora Draco. Abaixo reproduzo na íntegra a nota que saiu com a ilustração dos contistas feita pelo editor Erick Sama.



A editora Draco encomendou a um grupo de oito notáveis autores nacionais, dentre eles o jornalista catarinense Romeu Martins, a primeira coletânea de contos brasileiros sobre o grande detetive inglês, intitulada Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. O lançamento será no dia 4 de fevereiro, durante um balacobaco em São Paulo, mas a editora abriu pré-venda em seu site (www.editoradraco.com). A publicação coincide com a estreia nos cinemas da sequência do longa-metragem Sherlock Holmes, estrelado por Robert Downey Jr. e dirigido por Guy Ritchie. Mas qualquer semelhança com a adaptação cinematográfica do personagem de Arthur Conan Doyle para por aí. Romeu Martins colabora com o conto "O caso do Desconhecido Íntimo", sendo que a organização do volume foi de Carlos Orsi Martinho (ex-editor de Ciência e Tecnologia do Estadão) e Marcelo Augusto Galvão. A ilustração em destaque apresenta os cronistas convidados, no melhor estilo steampunk.

20.1.12

Capa e trecho inicial de A Máquina Diferencial

Foi em 2009 pela primeira vez que a Editora Aleph anunciou que publicaria no Brasil o livro que é considerado o primeiro romance verdadeiramente planejado como uma obra steampunk. Depois do longo processo de preparação editorial e adaptação, finalmente a editora revelou como será a capa e deixou disponível 38 páginas do texto de A Máquina Diferencial, livro escrito a quatro mãos por William Gibson e Bruce Sterling, publicando originalmente em 1991. Abaixo, deixo registrada a capa que o livro terá no Brasil e o post do blog da editora que remete ao arquivo com as primeiras páginas desta obra fundamental para a cultura steamer.


Se você gosta de steampunk, com certeza já ouviu falar do clássico A Máquina Diferencial(The Difference Engine) escrito por dois grandes autores da ficção científica moderna – William Gibson e Bruce Sterling. O livro poderá ser encontrado nas livrarias na primeira semana de fevereiro. No site da Aleph, estará disponível no dia 31 deste mês.


A história - Graças ao gênio de Charles Babbage e à sua máquina diferencial — capaz de realizar avançados cálculos matemáticos com um simples girar de engrenagens —, a Inglaterra vitoriana consolida-se como potência mundial. Entretanto, uma sinistra conspiração ameaça as bases do governo, colocando em risco todas as conquistas do Partido Radical.
Às voltas com misteriosos cartões perfurados, envolvem-se na intriga a filha de um notório agitador ludita, um proeminente paleontólogo, a filha de Lorde Byron, então Primeiro-ministro, além de um jornalista misterioso. Unidos por elos invisíveis, estes e outros personagens lutarão por seus planos, suas carreiras e por suas próprias vidas contra inimigos ocultos e perigos assustadoramente reais.
A edição que será publicada pela Aleph conta com extenso material de apoio à leitura: umguia de personagens e glossário de termos específicos, arcaicos ou simplesmente inventados pelos autores, desenvolvidos especialmente para o público brasileiro, além de um posfácio escrito pelos autores vinte anos após a publicação original, oferecendo uma releitura interessante da obra.
*Se você não faz nem ideia do que seja steampunk, respira fundo e clica aqui.Enquanto o livro não chega, que tal ler um trecho?

17.1.12

Boneshaker com o selo Underworld


Foi divulgada pela editora Underworld a capa que o romance steampunk Boneshaker terá no Brasil. Com tradução de Fábio Fernandes, o premiado livro de Cherie Priest chega às livrarias nacionais em fevereiro.

10.1.12

Leviathan no Brasil


O ano de 2012 já iria entrar para a história do steampunk em nosso país pela quantidade e qualidade de títulos do gênero anunciados por nossas editoras, que vão da Steampunk Bible e de Boneshaker, pela Editora Underworld, até A Máquina Diferencial, pela Aleph. Agora, a Record, através de seu selo Galera voltado à literatura Young Adult, confirma que também vai entrar para a lista ao apostar na obra de um autor já lançado por ela, Scott Westerfeld. Do mesmo criador da FC Feios, Leviathan já foi anunciado oficialmente no site da editora:

LEVIATÃ NA GALERA

Boas notícias para os Westerfeld-maníacos.
Em julho teremos o primeiro volume da série Leviatã, já ouviram falar? A história é de um gênero conhecido como steampunk, onde as invenções tecnológicas que existem no mundo de hoje aparecem em tempos beeem mais antigos, mas também diferente do nosso passado.
No caso de Leviatã, temos uma reinvenção de um cenário bem conhecido: a Primeira Guerra Mundial. Quem estudou um pouquinho de História sabe ao menos que tínhamos o império austro húngaro e a Alemanha versus a Inglaterra. No mundo de Westerfeld, eles dividem-se entre os makinistas e os darwinistas.
Os primeiros, vão lutar com gigantescas máquinas a vapor, cheias de armas e munição. Já os outros, têm um exército inteiro animais selvagens que foram treinados para a guerra. Já deu pra ver que essa briga não vai ser mamão com açúcar, né?
Nesse link dá pra ver o booktrailer IRADO da série. Vê se não dá um medinho...

http://www.youtube.com/watch?v=PYiw5vkQFPw&feature=player_embedded
Como os leitores podem perceber, não apenas o título será publicado como ele é noticiado oficialmente como sendo um representante do gênero steampunk, ao contrário do que a Galera Record fez anteriormente com o livro Aviador, de Eoin Colfer. Desta vez a editora faz questão de destacar que seu futuro lançamento faz parte do gênero que mais cresce e se destaca em nosso país, pelo que merece as devidas parabenizações.  E os leitores em breve terão em mãos uma obra que conta com ilustrações soberbas como a que segue.

13.12.11

Dirty Harry Potter

Quando foi lançado em 2005, o filme Constantine descontentou boa parte dos leitores de Hellblazer, a revista mais longeva do selo de quadrinhos adultos da DC Comics e que lhe serviu de inspiração. Ainda que não fosse exatamente um trabalho ruim, a obra tomou liberdades na recriação de seu protagonista com o objetivo de tentar torná-lo mais atrativo ao mercado dos EUA. Resumidamente, saiu de cena o loiro inglês com a cara do Sting das HQs para chegar às telas um americano moreno e com a cara inexpressiva de Keanu Reeves. O mais irônico é que havia à disposição dos produtores dos estúdios um personagem que corresponderia mais prontamente, sem a necessidade de descaracterizações, àquele modelo americanizado de mago investigador que foi levado aos cinemas. Estou falando de Harry Dresden, um bruxo morador de Chicago e que atende tanto clientes particulares quanto presta auxílio à polícia daquela cidade mediante a quantia de 50 dólares a hora. Criação do escritor Jim Butcher, um romance tendo ele como personagem principal foi lançado no Brasil pela Editora Underworld, a mesma que vai trazer a Steampunk Bible a nosso país em 2012.



Frente de tempestade é apenas o primeiro de uma longa lista de livros agrupados na série Dresden Files. Originalmente, foi lançado no ano 2000; no ano seguinte, o autor publicou dois outros títulos que já tinha prontos; desde então, anualmente um novo romance do bruxo de Chicago tem chegado ao mercado, sempre narrados por Harry Blackstone Copperfield Dresden. Filho de um mágico de circo (e de uma maga com poderes reais), o motivo de seu batismo na ficção teria sido homenagear Harry Houdini (1874-1926), David Copperfield e Harry Blackstone (1885-1867), três dos mais famosos mágicos de todos os tempos. Consta que Butcher descreve informalmente seu personagem e seu universo aludindo a outras duas inspirações que podem ser resumidas na expressão usada no título desta resenha. É uma excelente maneira de descrever o que o leitor pode esperar do livro: a união do ambiente policial dos filmes adultos protagonizados por Clint Eastwood com os ingredientes fantásticos da série literária  infanto-juvenil criada por J. K. Rowling. Uma espécie de fantasia hardboiled.

O público alvo também corresponderia a tal colisão dos mundos de Dirty Harry com Harry Potter, pois toda a série dos Arquivos de Dresden é voltada para os chamados Young Adults, aquela nova faixa de consumidores que embarca lá desde a pré-adolescência até leitores por volta dos 30 anos - ou mais. Exatamente o grupo que a editora brasileira busca atingir por aqui e que resultou na aposta neste romance de estreia de Jim Butcher. Sendo assim, o livro pode não ter a profundidade psicológica que se esperaria de uma obra realmente adulta, mas em seu lugar reserva aos apreciadores de uma boa trama de investigação e também aos que cresceram apreciando aventuras com bruxos recitando encantamentos uma boa dose de ação e de diversão. O equilíbrio fica entre assassinatos brutais, com as vítimas tendo o coração arrancado por forças místicas, com cenas bem humoradas, descritas pela narrativa quase cínica e cheias de referências ao mundo real - com marcas bem conhecidas, por exemplo - do jovem adulto Harry Dresden.

O romance é uma boa e promissora estreia, com seus gangsteres humanos e cafetinas vampiras, que talvez agrade ainda mais os leitores de Hellblazer que aquele filme de seis anos atrás. Espero que o lançamento de Frente de tempestade seja seguido em nosso país por mais livros da longa série que nos EUA está programada para ter ao todo vinte livros (e que pode ainda não ter ido aos cinemas, mas já rendeu um seriado televisivo de curtíssima duração, com apenas 12 episódios exibidos na mesma época em que Constantine ia parar nas telas). A prosa e a imaginação de Jim Butcher mereceriam fazer sucesso no mercado nacional também. O mesmo vale para trabalho da editora Underworld, apesar do deslize desagradável ocorrido em algum lugar entre o trabalho de tradução de Johann Heyss e o de revisão de Marcelo Sampaio. Algumas expressões usadas por um foram apenas parcialmente substituídas pelo outro. O caso mais grave foi a sucessiva mudança de "que nem" para "como" que acabou por resultar em uma dezena de "comoque nem" espalhados ao longo das 340 páginas do livro. Fora esse contratempo, obviamente de caráter técnico, a revisão deixou ainda escapar vários "quês" e "porquês" sem o devido acento circunflexo e algumas palavras grafadas na velha ortografia, como "microondas" (agora, micro-ondas). São problemas que podem ser corrigidos em uma eventual segunda tiragem e que não devem se repetir em um possível novo livro da série.

6.12.11

Sherlock Begins

Antes do recente filme de Guy Ritchie com Robert Downey Jr. no papel principal, a obra cinematográfica que apresentou as aventuras do Grande Detetive a um novo e grande público foi O enigma da pirâmide, título nacional de Young Sherlock Holmes, de 1985. Duas décadas e meia depois daquela película - que já virou um clássico nas reprises da TV aberta - chegou às nossas livrarias o primeiro livro de uma série com o mesmo nome original e a mesma proposta de mostrar os anos de formação do personagem de Conan Doyle. O Jovem Sherlock Holmes - Nuvem da morte foi lançado no Brasil este ano pela editora Intrínseca que já promete publicar também a continuação, Parasita Vermelho, e, a depender do sucesso, quem sabe as duas outras obras da série, já circulando pela Inglaterra, país natal tanto do personagem quanto do autor, Andrew Lane.

Em certos momentos tão divertido quanto o filme oitentista, a vantagem inicial deste livro que abre a série é seguir mais de perto o cânone legado pelo criador do personagem. Tanto é verdade, que Lane conseguiu as bênçãos dos descendentes de Conan Doyle para escrever sua própria versão da adolescência de um dos personagens mais conhecidos e visados do mundo. Em Nuvem da morte, vemos Holmes aos 14 anos, na década de 60 do século XIX, ainda dando os primeiros passos para domar seu cérebro privilegiado, adquirindo a gama de conhecimentos que serão tão úteis para quando ele for morar em Baker Street e se tornar um detetive consultor, vinte anos mais tarde. Para tanto, Lane criou a figura de um tutor para o jovem, controvertidamente - e, por certo, com a intenção de tornar mais viável uma possível adaptação cinematográfica de seu texto - na figura de um personagem americano. Amyus Crowe, ex-caçador de recompensas em Albuquerque, foi a quem coube tal honraria.

Do material canônico, além do protagonista, apenas seu irmão Mycroft faz uma ponta. Outros personagens estão lá para cumprir funções de criações originais de Conan Doyle. Virginia, a filha de Crowe, seria A Garota, uma espécie de prévia de Irene Adler. Matty Arnatt, que abre o livro no prólogo, mas não é o narrador (o livro é em terceira pessoa), faz às vezes de Watson. Quanto ao vilão, uma espécie de antecessor de Moriarty, prefiro não revelar o nome e estragar alguma surpresa. Mas digo que, em caso de uma bem provável adaptação para o cinema, este antagonista poderia resultar em efeitos especiais tão memoráveis quanto os utilizados em O enigma da pirâmide, filme pioneiro no uso da computação gráfica, com seus doces ambulantes e um espadachim saído de um vitral.

O plano encabeçado pelo vilão é que não é lá grandes coisas na trama. Tanto que a partir do momento em que o jovem Sherlock deduz seus detalhes, o estrategema passa a ser contestado em sua viabilidade por todos os personagens coadjuvantes. Parece mais que a ideia surgiu mais para Lane fazer uma ponte entre esta estreia não-oficial do personagem e o interesse que o criador dele imaginou que Holmes teria ao final da vida, após se retirar das grandes aventuras. E mais não digo. Porém, mesmo inconsistente, o pano de fundo serve para divertir e para mostrar como o futuro ícone da lógica se virava no início da carreira. Segundo podemos ver na interpretação de Andrew Lane, enquanto não desenvolvia plenamente seu lado Spock, o rapazinho sabia lutar tão sujo quanto Kirk.

23.11.11

Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, a capa

Acaba de ser divulgada a capa da coletânea sherlockeana organizada pelos escritores Carlos Orsi e Marcelo Augusto Galvão que é, na medida certa, linda e misteriosa. Vejam abaixo se concordam comigo:


De autoria do editor Erick Sama, esta apresentação gráfica de primeira vai embalar minha estreia como contista na Draco, pois o livro vai trazer meu texto "O caso do desconhecido íntimo". Ansioso desde já para ter o material em mãos, antecipo aos leitores que já estou sabendo que a antologia deve ganhar em breve uma resenha internacional em um importante e prestigiado site de divulgação de ficção fantástica.

18.11.11

Fragmentos do Inferno 2



Mostrei aqui a capa daquela que deve ser minha última participação em livro neste agitado ano de 2011. Agora, a editora Estronho deu mais detalhes sobre a obra e ainda deixou à disposição de seus leitores uma amostra de um dos seus próximos lançamentos. Um dos contos de Fragmentos do Inferno pode ser baixado gratuitamente no site da editora, que também anuncia a data em que o livro deve chegar ao público: dia 10 de dezembro. 

O arquivo em pdf traz o conto "Ignácia" de Tiago Toy, retratando os últimos momentos de alguns dos moradores do edifício Santa Eulália, localizado na região da Cracolância paulista, antes do incêndio que toma conta do prédio. A organização foi do escritor e publicitário Rober Pinheiro, a quem finalmente conheci pessoalmente, depois de anos de papos no twitter, numa vinda dele a Santa Catarina neste último feriadão - na foto abaixo, ele é o terceiro da esquerda para direita, numa sinuca em que fomos em terras catarinas na madrugada de segunda pra terça. 

Os demais autores presentes no livro, além dele próprio e Tiago Toy, são Cláudio Parreira, Eric Novello, Everaldo Stelzer, F. Pellicer, Georgette Silen, Juliano Sasseron, Ruano Berenguel, Sumaya Sarron (co-organizadora) e Valéria Telles. Minha participação deve estar nas páginas finais, com uma reportagem ficcional que encerra e tenta amarrar todos os fatos narrados pelos demais autores. 


8.11.11

Nova resenha de Vaporpunk

Pedro Dobbin, o ganhador da coletânea Vaporpunk em sorteio realizado neste blog, me enviou ontem uma resenha daquele livro publicado pela editora Draco. Ele atendeu a um convite que refaço a todos os leitores deste espaço: caso queiram fazer críticas a obras relacionadas à temática daqui, e não tenham uma página pessoal para publicar, podem enviar o material para cá. Quando falo em temática, me refiro não apenas à cultura steamer e aos subgêneros coirmãos, como cyberpunk e dieselpunk entre outros. Falo também de outras abordagens que retratem o passado - histórico ou mítico - no gênero fantástico: weird west, fantasia histórica, espada & magia, gaslight novels e afins. Dito isso, resta agradecer a Dobbin por sua resenha completa e deixar o texto à apreciação dos leitores.




Vaporpunk, Relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades

Organização: Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva
Editora Draco, 2010, 312 páginas.

A proposta do livro, como podemos ver na introdução, é a de uma coletânea de noveletas steampunk com o enredo basicamente voltado às culturas brasileira e portuguesa. A questão do que vem a ser uma noveleta, se é algo maior que um conto e menor que uma novela é uma discussão à parte. Pelo que li tratou-se do número de palavras, entre 8 e 18 mil, classificando os contos em até 8 mil, as noveletas a seguir e as novelas acima de 18 mil. A justificativa para tal é pertinente: como se trata de história alternativa, necessita-se de mais espaço para situar o cenário histórico propriamente dito. No meu entender isso não deixa de lado os contos, que podem muito bem tratar disso com eficiência, mas as noveletas, ou contos grandes ,também são eficazes. A seguir breves comentários das 8 participações no livro, sendo 5 brasileiras e 3 portuguesas.

A fazenda-relógio
Octavio Aragão (bras.)

Pelo tamanho trata-se de um conto (não contei as palavras). E é a prova cabal de que contos podem dar conta da temática. Vemos a automação das fazendas escravagistas, com a libertação escravos, a transformação destes em hordas de desempregados miseráveis e suas consequencias. O ritmo é vertiginoso, tem-se a impressão de que estamos a correr junto com o autor de uma ação à outra. Mérito do autor, chega-se ao final quase sem folêgo, mas satisfeito. Excelente.

Os oito nomes do Deus sem nome
Yves Robert (port.)

Inglaterra, França e Portugal são superpotências e como tal lutam entre si. Inglaterra com a ciência física , França com as ciências psíquicas e Portugal com as ciências espirituais. A trama é um intriga internacional, envolvendo representantes das 3 potências e a tentativa de descobrir o segredo do crescimento acelerado do poderio Português. Um final um tanto confuso, mas de resto a trama é boa.

Os primeiros astecas na lua
Flávio Medeiros Jr. (bras.)

Um agente duplo luta com sua conciência e com as dificultades inerentes à traição. Inglaterra e o império Asteca de um lado e o império Francês do outro. É interessante observar as justificativas que o agente duplo dá para si mesmo. Outro ponto a notar são os grandes nomes e personagens da Literatura Fantástica alçados a posições políticas ou militares. É divertido encontrar essas referências. A história se desenrola bem e o final é no mínimo surpreendente.

Consciência de ébano
Gerson Lodi-Ribeiro (bras.)

Uma organização secreta dentro do governo é responsável por proteger um ser que é a “arma secreta” da República dos Palmares. A traição de um de seus membros e a construção de uma hidroelétrica são o pano de fundo para uma história maravilhosa, muito bem contada e original. Faz juz ao termo noveleta e é a melhor do livro.

Unidade em Chamas
Jorge Candeias (port.)

A história de um passarolista português e seu regimento, as dificuldades e a lenta transição do preconceito ao companheirismo quando um regimento de negros se junta ao seu. As traições decorrentes do abismo gerado pelo racismo de alguns. As descrições dos mecanismos das passarolas são muito bem detalhadas, assim como dos cenários e dos personagens. Excelente.

A extinção das espécies
Carlos Orsi (bras.)

Um naturalista inglês em viagem pela América do Sul narra seus encontros com cientistas e sua criações. A invenção de máquinas capazes de se reproduzir e de alimentarem-se dos mais variados cardápios dá margem a uma reflexão sobre qual espécie prevalecerá. Muito bem escrito, narração fluente, as vezes parece mais uma noveleta de terror. Um doce para quem descobrir quem é o naturalista, e atenção especial para a reflexão ao final. Muito bom.

Os dias da besta
Eric Novello (bras.)

Agentes da Guarda Imperial examinam um animal capturado no cais do Rio de Janeiro. Após a sua fuga descobrem que trata-se na verdade de um metamorfo que havia sido capturado pelos ingleses. Com a guerra do Paraguai se aproximando, um Brasil que ascende tecnologicamente, e uma Princesa Isabel aviadora temos uma história bastante interessante.

O sol é que alegra o dia...
João Ventura (port.)

História de um padre cientista com pitadas de aventura e intriga. A questão da parceira público-privada e sua eficácia é interessante, bem como a discussão sobre ciência e religião.

Conclusão


A edição é muito boa e as histórias são de qualidade. Na minha opinião uma ou duas foram “esticadas” e acabam por ter uma narrativa um pouco lenta, mas nada que prejudique o prazer da leitura. Destaque para a revisão, pois não pude encontrar os erros incômodos tão comuns em outras leituras, o que demonstra o cuidado e a preocupação da editora. A capa é um item a parte e merece um exame cuidadoso. No mais é leitura altamente recomendável.

28.10.11

Nova resenha de Deus Ex Machina

Acabo de receber uma nova avaliação da coletânea da editora Estronho para a qual fui o autor convidado: Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor. O autor da crítica é conhecido deste blog, Pedro Dobbin, que foi o vencedor no sorteio feito por aqui de uma outra coletânea, a Vaporpunk, da editora Draco. Ele fez uma resenha completa, de cada um dos contos, e ainda do material adicional do projeto gráfico, elaborado por M. D. Amado, que também é um dos organizadores da compilação, ao lado de Cândido e Tatiana Ruiz. Vamos ao texto, que publico aqui, na íntegra, conforme foi enviado por Dobbin.




Deus ex machina: Anjos e Demônios na era do vapor.
Editora Estronho, 2011, 200 páginas

Deus ex machina: Anjos e demônios da era do vapor tem a proposta de unir a temática Steampunk com o fascinante assunto de anjos e demônios. Trabalho dobrado para os autores da coletânea e também para os organizadores.

A capa e as ilustrações no interior por si só já valem uma folheada. Antes de cada conto temos uma apresentação do autor e ilustrações na temática Steampunk. Os autores são chamados de operadores e as páginas de caldeira. Dirigíveis, locomotivas a vapor, medidores de pressão podem ser vistos entre os contos. A editora Estronho mandou junto com o livro um botom e um marcador de livro, fazem um bom conjunto.

A diabólica comédia - A conquista dos mares
Romeu Martins
Numa batalha pelo controle dos oceanos, a nau capitânea dos demônios, um submergível, mostra todo o seu poder. A descrição dos artefatos de guerra é muito bem detalhada e a história da disputa pelo poder entre demônios, arcanjos e deuses olimpianos fascina. Quando a história termina percebemos que essa foi uma batalha de uma guerra que ainda pode durar muito. Excelente.

A seita do Ferrabraz
Paulo Fodra
Anjos e demônios em boa forma. Mas quem são os bons na história? Quem deseja de uma forma ou outra garantir a sobrevivência da humanidade? Final supreendente de uma história cativante.

Anhanguera
Norberto Silva
Um padre faz de tudo para conquistar os fiéis e o preço é alto, a felicidade não é o paraíso que as pessoas pensam. Interessante ver o papel do Anhanguera que dá título ao conto.

O dia do grande Uirá
Davi M. Gonzales
Curtíssimo, tem o mérito de mostrar dois lados de uma história. De um lado um indigena e do outro o português, o império britânico é o vilão e o grande saqueador de recursos.

Neflin
Carlos Machado
Trabalhos de terraplanagem revelam restos humanos e não humanos. As pesquisas que seguem irão levar a conclusões inesperadas. A história que se segue é eletrizante.

Zeitgeist – Brigada anti incêndio
Yuri Wittlich Cortez
Um bispo patrocina a construção de uma máquina voadora para, literalmente, alcançar o céu. O papel da brigada anti incêndio não é exatamente o de apagar incêndios. Com alguns toques de humor, a história se desenrola de forma fantástica. É o mais divertido dos contos do livro.

O Sheol de Abaddon
Alliah
Um anjo e um demônio unem forças para caçar um rebelde, aliança improvável e mais improvável ainda é a existência deste rebelde. Vale a pena ver os motivos de tal rebeldia e divertir-se com as trabalhadas da dupla de protagonistas.

Avatar de anjo
Georgete Silen
Um anjo vai ao inferno para recuperar um artefato. A forma como ele, ou melhor ela, consegue isso é bastante original.

A obscura história da Sterling Railways
O. S. Berquó
A construção de um túnel para uma ferrovia encontra um portão de aço. A história da interrupção da construção e do sumiço de todas as informações a respeito é descoberta por um estudante em um livro antigo. Em alguns momentos me lembrou os contos de H. P. Lovecraft.

O pai da mentiras
Lenilson Lopes
Batalha épica entre anjos e demônios. Enredo interessante e bem elaborado. O papel de um dos anjos no conflito foi muito bem elaborado.

A máquina dos sonhos
Daniel I. Dutra
História de como uma máquina capaz de ver os sonhos das pessoas pode ser usada para o trabalho de alguns anjos. Também me lembrou em alguns momentos os contos de H.P. Lovecreft.

Os relógios pensantes de sua majestade
Alex Nery
Um cientista tem seu invento utilizado para propósitos bélicos. Muito bem mostrado o dilema e as escolhas do criador ao ver a criatura ser utilizada para fins diferentes dos que desejava.

Cálico: entre o céu e o inferno
Rebeca Bacin
Conto em ritmo de aventura. Bem escrito e envolvente. Uma mulher e um anjo lutam para impedir a detonação de uma bomba.

Conclusão


Apesar de alguns contos deixarem a desejar no atendimento à temática proposta a qualidade de todos é inegável e alguns são mesmo excelentes. Entre estes posso citar “A diabólica comédia - A conquista dos mares”, “A seita do Ferrabraz”, “Anhaguera” e “A máquina dos sonhos”. As ilustrações e fotografias contidas no livro são um bonus a parte e acrescentam valor ao mesmo. O conjunto como um todo é ótimo e vale a pena a leitura.

22.10.11

Weird west brasileiro tipo exportação

Uma ótima notícia vem do blog Galvanizando do escritor e advogado paulista Marcelo Augusto Galvão. Ele será um dos autores presentes na coletânea Os anos de ouro da Pulp Fiction portuguesa, editada em Portugal pela Saída de Emergência e com organização de Luís Filipe Silva. Em seu mais recente post, Galvão informa que o conto selecionado para fazer parte do livro é de um dos gêneros favoritos desta casa:

No meu caso, participo com o weird west Horror em Sangre de Cristo, uma trama que mostra um xerife tentando solucionar mortes brutais numa cidadezinha no Oeste americano do século XIX.

Mais ainda, o representante brasileiro naquela obra deixou disponíveis a bela capa da coletânea - será o Sombra aquele em um táxi lisboeta? - e a instigante apresentação que podem ser vistas a seguir:

Poucos o sabem, mas a literatura de pulp fiction, que marcou toda a cultura popular dos EUA na primeira metade do século XX, também esteve presente em Portugal, e em força.Houve um tempo em que heróis mascarados corriam as ruas de Lisboa à cata de criminosos; em que navegadores quinhentistas descobriam cidades submersas e tecnologias avançadas; em que espiões nazis conduziam experiências secretas no Alentejo; em que detectives privados esmurrados pela vida se sacrificavam em prol de uma curvilínea dama; em que bárbaros sanguinários combatiam feitiçaria na companhia de amazonas seminuas; em que era preciso salvar os colonos das estações espaciais de nome português; em que seres das profundezas da Terra e do Tempo despertavam do torpor milenário ao largo de Cascais; em que Portugal sofria constantes ataques de inimigos externos ou ameaças cósmicas que prometiam destruí-lo em poucas páginas, antes de voltar tudo à normalidade aquando do último parágrafo.

13.10.11

O dieselpunk é nosso

Em um dos posts mais visitados deste blog pode ser lido o seguinte: “Este termo, cunhado pelos game designers Lewis Pollak e Dan Ross para o RPG Children of the Sun, indica uma civilização da era industrial com futurística tecnologia à base de petróleo”. O termo em questão que servia para batizar o gênero de um videogame de 2002 é o mesmo a batizar uma obra literária de 2011, que não apenas dá continuidade à bem sucedida saga nacional de especulação retrofuturista como é, até onde sei, a pioneira do mundo em sua categoria. Dieselpunk – Arquivos confidenciais de uma bela época é a segunda coletânea de uma anunciada trilogia de livros da editora Draco, sempre organizados pelo escritor carioca Gerson Lodi-Ribeiro, a trazer para ambientações lusobrasileiras os conceitos dessas diferentes formas de imaginar o mundo a partir da adoção de tecnologias revolucionárias. O primeiro deles foi Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Sua Majestade, um legítimo exemplar da cultura steamer a que mais tem se desenvolvido no Brasil e no exterior; o terceiro vai se chamar Solarpunk e já teve suas regras para participação dos escritores divulgadas. Este novo livro é de fato uma contribuição e tanto, com seu ineditismo em compilar em um mesmo livro noveletas dentro daquele cenário que une a era industrial da primeira metade do século XX com as tais tecnologias futurísticas a base de combustíveis fósseis. Ponto para o Brasil, para a editora Draco e para os autores reunidos nestas 384 páginas.



Da mesma forma que na resenha que escrevi para o primeiro livro desta trilogia, acho que o melhor é começar os comentários pela capa, mais uma vez a cargo do dono da editora, Erick Santos Cardoso ou, como ele assina seus trabalhos gráficos, Ericksama. Ele conseguiu o feito de ao mesmo tempo manter uma coerência com a obra anterior e o de dar uma identidade toda própria e adequada à nova proposta. Desta forma, está mantida a ideia básica de uma espécie de tela na qual se visualiza uma paisagem típica dos mundos que encontraremos no interior do livro; tela esta emoldurada por vários elementos condizentes com a estética do gênero em questão. A parte da atualização surge logo de cara na alteração de tais elementos: saem as letras serifadas, as engrenagens e o cobre de Vaporpunk para em seu lugar entrar uma elegante fonte de linhas verticalmente alongadas, tudo em um cinza marmóreo e cheio de padrões geométricos. Já naquela tela, no lugar do Rio de Janeiro do século XIX, podemos ver os espigões de uma São Paulo da primeira metade do século seguinte, com aviões mais pesados que o ar voando sobre eles e disparando as luzes perscrutadoras de holofotes. A embalagem já evoca um clima que vai desde o de outro viedogame, este mais recente, Bioshock (a partir de 2006); o de um clássico do cinema daquele mesmo período histórico retratado ali, Metrópolis, de Fritz Lang; ou ainda de Batman, the animated series, de fins dos anos 80. Mais um ponto para editora.

Agora, de nada adiantariam propostas inovadoras e um formato adequado se o conteúdo não fosse trabalhado com o mesmo cuidado. Felizmente, como é próprio das obras organizadas por Lodi-Ribeiro, este é um motivo para um terceiro ponto, pois quase todos os trabalhos que fazem parte do livro são de alta qualidade. Isso já pode ser visto logo desde o início pela noveleta que abre Dieselpunk, de autoria do jornalista Carlos Orsi, que também estava presente em Vaporpunk. “Fúria do Escorpião Azul” parece ter sido que mais inspirou aquela cena paulistana da capa da antologia, descrita no parágrafo anterior. Historicamente alterada por uma revolução de moldes stalinistas, a São Paulo reinventada por esse paulista de Jundiaí tem aquele mesmo ar opressor, estranho e reconhecível que embala o livro. Da mesma maneira que os autores do mais velho dos gêneros punk, o cyber, viam com descrença um futuro inspirado pelas ideias políticas e econômicas ultraliberais de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, este brasileiro dieselpunker volta sua crítica à burocracia das economias planificadas, à violência das ditaduras do proletariado e à corrupção da nomenklatura do partido único.

Assumidamente inspirado nas histórias que Novell Page escreveu para o herói pulp Spider, Orsi criou seu próprio vigilante mascarado que, utilizando muita tecnologia retrofuturista, rebela-se contra o sistema que tomou conta do país. O Escorpião Azul do título enfrenta os homens armados da DPE, a famigerada Diretoria Política do Estado, usando dardos envenenados, lentes de visão noturna, seu próprio dirigível negro. Tudo descrito na prosa de um dos melhores escritores da literatura especulativa nacional, que nesta sua noveleta (cujo cenário espero ver sendo explorado mais vezes no futuro) emprega uma narrativa bastante entrecortada, saltando e voltando no tempo sempre que a trama agitada pede. O único momento em que ele acelera demais é justamente no final, quando encerra todos os subplots muito rapidamente, quase atropelando o leitor com tantas informações nas últimas páginas. A revelação da identidade do protagonista, por exemplo, é tão pouco surpreendente que poderia ter sido dada logo de início sem prejuízo algum para o resultado final do texto.

O steampunk tem um subgênero erótico conhecido como steamypunk. O conto seguinte do livro, “Grande G”, do também paulista, e publicitário, Tibor Moricz poderia inaugurar algo semelhante dentro da estética dieselpunk (para ficar nos trocadilhos, talvez algo com “trocando o óleo” fosse adequado). Mas há bem pouco de dieselpunk no texto que trocou as possibilidades da especulação próprias da FC pelas alegóricas cidades rivais de Smoke City e Steam City, e por um motor que, de algum modo não explicado, alia as mecânicas tradicional e a quântica. Sim, Smoke City, Steam City, o autor foi o único a dispensar a proposta da obra de se utilizar de cenários nacionais para voltar a insistir em localidades com nomes assim, de tamanha obviedade, exatamente da mesma forma que fez em seu romance mais recente, também publicado pela Draco. Em O Peregrino já havia o trio Downtown, Middletown e Uptown emprestando a mesma consistência de isopor e papelão ao cenário que pode ser vista aqui. E quanto ao sexo, é tudo feito de maneira de tal sorte hiperbólica e ao mesmo tempo com tão pouca profundidade que não causa impacto algum, diferentemente de um romance anterior de Moricz, construído por contos compartilhando a mesma ambientação, Fome, lançado pela Tarja Editorial. Com personagens príapicos e ninfomaníacas, que não se inibem em conjugar o verbo foder mas fazem questão de usar palavras como vagina e ânus mesmo nos momentos de maior tensão, o resultado empata em termos de constrangimento com alguma pornochanchada. Estou exagerando? O que dizer do seguinte trecho de diálogo: “a vagabunda tinha uma vagina quente e apertada, tão apertada quanto o ânus de ambas”?

Se ao menos a linguagem empregada no texto fosse mais cuidadosa poderia ser perdoada a falta que fazem uma especulação consistente, um cenário interessante, personagens relevantes e uma trama menos previsível. Mas não é bem o caso, como já entrega aquela quadruplamente redundante frase da primeira página do conto (e a 57 do livro): “Pináculos gigantes se alongavam em direção ao céu”. Entre expressões clichês como o “olhar repleto de significado” da página 73 que volta como “olhares cheios de significado” na 83 (a última do conto), a esperança de que pelo menos a forma se sobreponha ao conteúdo acaba perdida de vez. Se fosse para usar uma expressão emprestada dos meios automobilísticos para descrever o resultado final da leitura seria “perda total”; ou, se for para citar a expressão que o próprio autor criou para criticar contos tão equivocados quanto este em seu blog, “triplo eca”. É uma pena que um escritor que começou de forma tão promissora em seu primeiro romance, Síndrome de Cérbero – apesar de um brutal erro de lógica interna já naquele trabalho de estreia – tenha se perdido em um caso aparente de autoparódia e de preguiça estilística como este.

Felizmente o nível volta a subir dali para frente e se mantém ao longo de todo o livro. Em particular com o texto seguinte que, se não é o maior em termos de páginas, é o recordista no tamanho do título com folga. “O dia em que Virgulino cortou o rabo da cobra sem fim com o chuço excomungado” é a contribuição do designer carioca Octavio Aragão para o livro, outro que também esteve presente na Vaporpunk. O Virgulino que aparece ali é ele mesmo, o cangaceiro Lampião, que nesta recriação não apenas aceita uma missão que lhe propuseram mesmo em nossa realidade – a de combater a Coluna Prestes em sua passagem pelo Nordeste, na década de 20 –, como ainda faz isso usando armamento inimaginavelmente avançado. Acontece que o mesmo arsenal, uma forma bastante radical de nanotecnologia, é oferecido aos revolucionários em marcha, o que por um lado serve para equilibrar a peleja, por outro pode trazer consequências drásticas àquele mundo alternativo. Os destaques ficam por conta da linguagem empregada na narrativa, emulando a fala nordestina com muita cor local, e na misteriosa origem dos artefatos extemporâneos que surgem na história. Sendo o autor natural do Rio de Janeiro e criador de um universo ficcional sobre viagens no tempo, a Intempol, fica a impressão de que há ali uma brincadeira particular dele com o personagem denominado Carioca.

No quarto texto da coletânea temos o Barão de Mauá, a serviço de Pedro, o Imperador do Brasil, usando tecnologia avançada financiada por sua fortuna para defender o país em uma guerra territorial com a Argentina. A sinopse de “Impávido Colosso”, do também publicitário e escritor paulista Hugo Vera, pode soar mais como um representante do punk a vapor do que como um movido a gasolina; e essa é mesmo a impressão que persiste até o final da noveleta. Como um carro que passa por uma lanternagem completa para aparentar ser de um modelo mais recente que sua estrutura interna realmente é, elementos mais apropriados ao imaginário steamer foram jogados literalmente duas gerações adiante, para os anos 40 do século XX, de forma a se adequarem ao período histórico e à temática do livro. Tanto o Barão de Mauá quanto o Imperador em questão são netos daqueles conhecidos da história real (no caso, o jovem Pedro III que aparece aqui é apenas o primeiro de uma sequência a surgir nesta coletânea). Apesar disso e de um elemento que pode deixar a narrativa datada dentro de pouco tempo – o nome escolhido para a agente paraguaia, aliada do império brasileiro na guerra contra os argentinos, que se trata de uma piada com a musa da última Copa do Mundo – a noveleta é muito boa, com seus autômatos portenhos e um gigante de metal saído da Mauá Indústria e Tecnologia (creio que a sigla possível desta empresa não seja mera obra do acaso). E isso é o que realmente interessa no fim das contas, como definiu o compilador no prefácio da obra: “na seleção das noveletas que compõem a Dieselpunk, levou-se em conta dois critérios principais: qualidade literária e de elementos típicos das temáticas steampunk e dieselpunk”.

E quem escreveu estas palavras, o organizador desta trilogia de antologias, ressurge como contista a seguir. Gerson Lodi-Ribeiro igualmente usa um ponto de divergência que também é mais próprio do steampunk em sua história alternativa “País da aviação”. O inventor americano Robert Fulton, pioneiro da navegação a vapor do final do século XVIII, ajuda o imperador Napoleão Bonaparte a reequipar a esquadra francesa de tal maneira que nem mesmo a Royal Navy comandada pelo almirante Nelson resiste ao embate do aço contra a madeira. Porém, aquele é apenas o ponto de partida, e após uma elipse (com o tempo contado segundo o calendário revolucionário dos gauleses) um outro Napoleão, bisneto do original, recebe mais inventores americanos na alvorada de um novo século para garantir a hegemonia agora dos céus. Em tempo: Napoleão deixou de ser apenas um nome próprio, e passou a ser empregado como um título honorífico, tal qual ocorrera com os Césares romanos. E da mesma forma, o Bonaparte do turno não é apenas o Imperador de um país, pois a era dos mandatários autocráticos ficou para trás, mas o responsável por uma estrutura administrativa internacional bem mais complexa em um dos melhores cenários já elaborados neste gênero no Brasil. Sem o recurso de elementos exteriores - como aquele vampiro da noveleta que ele publicou em Vaporpunk, por exemplo -, para os apreciadores mais puristas de HA esta nova noveleta de Lodi-Ribeiro, com suas divisões de tempo bem demarcadas, é um banquete, com entrada, prato principal e sobremesa. Se o romance Xochiquetzal – Uma princesa asteca entre os incas que ele lançou em 2009 inaugurando a editora mereceria ser traduzido para o espanhol, “País da aviação” deveria ser publicada em língua francesa sem demora, de preferência na forma de um novo romance ampliando os detalhes aqui delineados.

A sexta contribuição do livro, “Ao perdedor as baratas”, de autoria do jornalista paulista Antônio Luiz M.C. Costa, também é um cenário de história alternativa que já havia sido explorado anteriormente em outra coletânea, a Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, da Tarja Editorial. Mas o conto de 2009 não foi a primeira incursão neste universo que o escritor chama de “Outros 500”: nove anos antes o cenário básico havia surgido em um ensaio para a revista onde ele trabalha, a CartaCapital, imaginando como seria o Brasil e o mundo caso Dom Sebastião não houvesse desaparecido no Marrocos em 1578, deixando para trás o trono português vago e uma crise dinástica que levou ao processo de decadência daquele reino. Um segundo conto na mesma ambientação foi publicado de forma on line e já recebeu comentários neste blog. Em Dieselpunk, por sua vez, vemos como seria o século XX daquele mundo em uma disputa eleitoral na república brasileira alternativa. Se em “A flor do estrume”, o texto de 2009, havia uma interação de diferentes personagens de Machado de Assis, nesta noveleta, apesar de o título ser uma paráfrase da expressão machadiana “ao vencedor, as batatas”, as criaturas literárias são de outros autores, entre eles, mais notadamente Clarice Lispector e Franz Kafka, convivendo com algumas personalidades históricas.

“Ao perdedor, as baratas” é quase uma visão em negativo do texto de Carlos Orsi que abre a coletânea. O que era visto com ceticismo pelo primeiro, um governo de moldes comunistas no Brasil, é apresentado mais do que de forma utópica, praticamente com caráter publicitário aqui. Com personagens discursando a cada oportunidade sobre as vantagens de tal regime; cenas como a do garoto pobre que recusa uma gorjeta e mais tarde se forma um profissional médico; ou ainda na nomenclatura de órgãos como os conselhos de Solidariedade Mútua, de Ajuda Econômica Mútua, de Amizade e Segurança Comum e de Cooperação Científica e Cultural, o texto chega em alguns pontos bem perto de se igualar à utopia de João Ventura que fechou Vaporpunk. E isso não é um elogio. Além disso, este texto também parece um reflexo invertido em relação a do de seu colega jornalista em outro ponto. Se Orsi acelerou demais perto do fim, Costa ao contrário alonga demais uma situação ao final, quando a trama em si já estava encerrada, de um modo bastante angustiante para o leitor. Parece que o autor não quis deixar passar a oportunidade de fazer uma última interação literária e usa espaço demais nisso, explicando excessivamente o que deveria ser apenas um detalhe. Espaço que poderia ser empregado em mais tecnologias de caráter retrofuturista, por exemplo, que tiveram pouca participação na história.

Explicar demais não é um problema da noveleta seguinte, “Auto do extermínio”, de Cirilo Lemos, professor de história do Rio de Janeiro que, aos 29 anos, é o mais jovem dos escritores reunidos neste livro. Aqui também há um conflito envolvendo a transição do poder no Brasil, mas não uma eleição, pois voltamos a ver um país monárquico nestas páginas. Mais do que isso, é o segundo D. Pedo III da coletânea, desta vez um monarca muito idoso e que pode morrer antes de deixar um herdeiro oficial para usar sua coroa. Novamente, forças externas (e internas) intervêm nos acontecimentos para tentar influenciar o rumo de um Império no qual grupos integralistas e comunistas ameaçam tomar o poder. Manipulado pelos acontecimentos, um homem que divide seu tempo tentando criar o filho e agindo como um matador profissional, se envolve num atentado político que tumultua ainda mais a situação. Para deixar as coisas ainda mais interessantes, tanto ele quanto seu garoto são assombrados por estranhas visões: o adulto pelas de uma santa, o jovem por um super-herói de revistas pulp, o que empresta um ar de fantasia urbana misturada com elementos de alta tecnologia. Sem dúvida, o texto com a pegada mais exótica da coleção.

A penúltima noveleta é a terceira a contar com um D. Pedro III em todo o livro, dando conta de como histórias sobre impérios brasileiros alternativos fazem mesmo parte do imaginário de nossos escritores. “Cobra de Fogo”, do editor gráfico de São Paulo Sid Castro, é a história mais empolgante e divertida do livro e a que melhor emprega as possibilidades do gênero quando se pensa no básico do dieselpunk: enormes veículos movidos a óleo diesel em um mundo vagamente semelhante ao do início do século XX. O autor oferece exatamente isso, uma corrida maluca entre gigantescas locomotivas que correm fora de trilhos, por terra, céu e mar, se preciso for. Na disputa, que ocorre em torno do globo, a posse territorial da Amazônia. Tal corrida é a forma que a Liga das Nações encontrou para decidir conflitos entre as diversas potências de uma realidade em que a posse de artefatos nucleares levou a um impasse conhecido como Pax Atomica. Neste mundo, o “Grande Crack de 29” não foi apenas uma crise econômica, como no nosso, ele dá nome ao início de um ataque que começou por Manhattam e no qual Hiroshima, numa ironia cruel, foi a última das cidades bombardeadas com aquele tipo de armamento.

Sid Castro criou uma história que é bastante leve, mas sem descuidar em nenhum momento na motivação dos personagens e na dos países e impérios que eles representam. Por trás de cada um dos pilotos incríveis e de suas máquinas extraordinárias – às vezes até mesmo na ambientação e nos intertítulos engraçadinhos –, um festival de referências, quase sempre cinematográficas, aguarda os leitores. Vamos unir agora dois fatos. Primeiro: na lista de antigas atividades do autor publicada ao final do livro estão incluídas as de ex-chargista e de ex-quadrinista (ele produziu roteiros e desenhos para revistas nacionais como Calafrio e Mestres do Terror); e segundo: a Draco vai estrear brevemente um selo dedicado às HQs com um álbum do citado Octavio Aragão e sua Intempol. Fica aqui uma sugestão, pois seria ótimo ver as locomotivas M’Boitatá, do Império do Brazil, General Lee, do Estados Confederados da América, Potenkim, da União Soviética, Yamato, do Japão, e todas as outras em uma graphic novel com o selo do dragão na capa.

Para encerrar a antologia, a presença internacional que também fez parte de Vaporpunk (e não apenas parte, pois foi o autor da melhor peça daquele primeiro livro). Jorge Candeias é um tradutor português que se tornou recentemente best seller no Brasil com suas versões para os livros da série de fantasia Game of Thrones. Nesta nova oportunidade, ele retoma o universo da noveleta anterior, “Unidade em chamas”, no qual as invenções aladas do padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão foram adotadas em Portugal revolucionando a maneira daquele país guerrear contra seus adversários. Em “Só a morte te resgata” as passarolas não apenas estão mais evoluídas com o passar dos anos decorridos entre uma história e outra; agora elas são acompanhadas de veículos aéreos mais rápidos e mais ágeis, chamados de albatrozes. O protagonista agora é o piloto de um desses últimos - um brasileiro que, apesar da descendência lusitana, luta pelo lado inimigo, uma confederação de países como França e Alemanha. Jeferson é o nome do rapaz, não que ele deixe de usar outras identidades ao longo da trama, que faz a opção de combater o país de seus antepassados motivado basicamente por racismo.

É na mente de um personagem de tal sorte controverso que Candeias nos faz mergulhar ao longo de toda sua história. Desde os momentos iniciais, quando Jeferson aparece em suas missões de voo, até a longa jornada de retorno ao Brasil, feita de maneira clandestina, envolvendo situações típicas de contos de espionagem, logo após ele receber uma misteriosa correspondência capaz de obrigá-lo a refazer todos os seus planos. Escrita de forma esmerada, com cuidado especial para os aspectos emocionais porém sem cair nas armadilhas da pieguice, a noveleta é um dos pontos altos do livro, deixando quem acompanhou esta e a história anterior ansioso por saber ainda mais deste mundo de Candeias. Numa nota à margem, não posso deixar de comentar o quanto o fato de ver pela primeira vez minha Florianópolis natal – aqui ainda chamada pelo nome antigo de Nossa Senhora do Desterro – em uma obra retrofuturista, e isto se dar pelas mãos de um autor estrangeiro, me faz pensar no quanto tem sido de fato enriquecedora a experiência que a cultura steamer tem alcançado em terras lusófonas nos últimos anos. Que tal experiência não pare por aqui e continue dando um resultado tão bom quanto este.

Revisitando mais uma vez a minha resenha de Vaporpunk, afirmei algo na ocasião que se era verdade para aquele livro, passa a ser para este. Eu disse que o primeiro, com seus oito textos, já havia sido a coletânea nacional – ou binacional, no caso – mais equilibrada que tivera a chance de ler. Pois eis que Dieselpunk – Arquivos confidenciais de uma bela época a supera neste quesito: a qualidade geral das nove narrativas reunidas neste segundo momento é ainda mais elevada e mais bem dosada. Mais não fosse, o pior conto daquela primeira antologia era bem maior, nesta, é o menor de todos, e os demais estão, na média, ainda melhores que seus antecessores. Um outro ponto a se acrescentar naquele placar. O sucesso das duas empreitadas aumenta a expectativa em relação a Solarpunk, o livro a sair em meados de 2012 e que encerrará este ciclo, desde a curiosidade em relação à cidade que estampará a capa – Manaus? Brasília? Lisboa? – até a qualidade e a imaginação das noveletas que deverão traduzir para nosso contexto o greenpunk.

27.9.11

Booktrailer de Deus Ex Machina

Assistam ao vídeo de dois minutos que M.D. Amado, da editora Estronho, produziu para promover a coletânea steamer Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor. Lembrando que naquelas páginas estou presente com o conto "A Diabólica Comédia - A Conquista dos Mares". Disponível no canal da editora no YouTube.

9.9.11

Solarpunk vem aí

A Editora Draco e o escritor e organizador Gerson Lodi-Ribeiro divulgaram as regras para a terceira antologia daquela casa editorial com temáticas retrofuturistas.

Depois da Vaporpunk (2010) e da Dieselpunk (2011), 2012 será o ano da Solarpunk!
Ao contrário das duas antologias punks anteriores, na Solarpunk não julgamos necessário enfatizar o elemento “punk”. Julgamos o “solar” mais importante.
Sério? Como assim?
Simples. Ao escrever seu trabalho com vistas à submissão para a Solarpunk, o autor não precisa se preocupar em exalar aquele clima mezzo noir, aquele cheiro mezzo pessimista, referência de boa parte da literatura fantástica punk. Desejamos que o próprio “solar” seja encarado lato sensu: enredos inspirados no emprego não apenas da energia solar em si, mas em formas de energia alternativas, preferencialmente limpas. Neste sentido, chegamos a cogitar batizar a antologia Greenpunk, ideia rapidamente arquivada pelo fato de abrigar — ao menos em aparência — certa contradição deconceitos.
As tramas tanto podem ser ambientadas em cenários históricos alternativos quanto em futuros próximos ou remotos. Como imaginação está aí para isto, não é inconcebível se pensar em enredos “solarpunks”, conforme os conceitos esboçados acima, ambientados em cenários mais típicos do horror ou da fantasia.
Desta forma, pretendemos reunir na antologia Solarpunk contos e noveletas de ficção científica, história alternativa, horror ou fantasia escritos em bom português, com fins de publicação pela editora Draco em 2012.
Fixamos os limites das submissões entre 4.000 e 10.000 palavras. Isto não quer dizer, em absoluto, que submissões fora deste intervalo serão sumariamente rejeitadas. Se o trabalho submetido possuir qualidade literária e se enquadrar na temática proposta, essa qualidade pesará muito em nossa apreciação, ainda que o texto seja menor ou maior do que o limite proposto. No entanto, cumpre esclarecer de antemão que olharemos com mais simpatia trabalhos dentro do intervalo citado.
Analogamente, gostaríamos de receber trabalhos criativos e originais cujos enredos dissessem respeito, direta ou indiretamente, às culturas brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto social do emprego dessas formas de energia alternativas na(s) história(s) dessa(s) cultura(s). Acreditamos que é mais fácil escrever bem sobre o que conhecemos melhor. Não se trata de uma exigência estrita.
Trabalhos que nada tenham a ver com o Brasil ou com Portugal serão apreciados com a atenção devida e poderão ser eventualmente aceitos. Porém, convém frisar nossa predileção irrestrita por textos que sejam lusófonos de corpo (i.e, escritos por autores portugueses e brasileiros) e de espírito (enredo, personagens, ambientação lusófonos).
Considerando o poder infinito da imaginação de nossos autores, a amplitude espaçotemporal da temática proposta é incomensurável. Desde as clássicas velas solares (empregadas ora em viagens a outros sistemas estelares, ora em regatas espaciais dentro da gravitosfera do Sol), dos coletores orbitais e dos sistemas eólicos avançados, até geradores capazes de extrair energia do vácuo quântico e injetores de energia vital, coletores de energia multidimensionais ou saltos hiperespaciais proporcionados por orgasmos, diríamos que, literalmente, os universos físicos e ficcionais são os únicos limites para a mente criativa.
Por falar em limites, nossa deadline é 31 de março de 2012, uma vez que o objetivo primário é lançar a antologia na Fantasticon 2012, no início do segundo semestre do ano que vem.
A submissão deve ser mandada somente em versão eletrônica, formato rich text file (.RTF), para o e-mail glodir@unisys.com.br, com cópia de segurança para ericksama@gmail.com.
Confirmaremos a recepção de cada trabalho submetido.
Em caso de dúvida, não hesite em nos contatar.
Se julgar necessário discutir determinada trama ou certa linha de enredo conosco, sinta-se à vontade. O antologista está aqui para isto.☺
Aguardamos a submissão do seu trabalho.
Gerson Lodi-Ribeiro (antologista)
Erick Sama (editor).
Setembro de 2011.