Sujeito desastrado vai parar em cidadezinha do oeste, conta algumas mentiras fazendo-se passar por um cara durão, vira xerife e, após algumas confusões, acaba mesmo salvando o dia. Alguma novidade nesta trama? Não, nenhuma; ela já foi vista muitas vezes. O título desta resenha por exemplo faz referência a uma delas, no famoso filme de Mel Brooks chamado
Blazing Saddles no original. O que torna a animação
Rango um produto bem acima da média mesmo utilizando essas mesmas ideias são os vários toques weird que ela esbanja, tanto no visual quanto em seu roteiro. A começar pelo fato de que o tal sujeito desastrado da vez é um camaleão com pendores artísticos para o teatro, dublado - na versão original (raríssima em nossos cinemas) - por Johnny Depp. Ele e todos os demais personagens são mostrados em caracterizações realísticas que não poupam detalhes sujos nos pelos, penas, escamas e verrugas de ratos, toupeiras, corvos, águias, sapos e cobras entre outros exemplares de uma fauna que em nada lembra bichinhos fofos. A trama também não foi feita apenas para crianças de modo algum, com referências bastante inusitadas do universo cultural (aparece até mesmo, de relance, em uma estrada, o falecido jornalista gonzo Hunther S. Thompson, que foi interpretado por Depp em uma película nada recomendada para os menores).
O diretor Gore Verbinski é o grande responsável pelo resultado final, já que assina ainda colaboração no roteiro e na produção desta animação da Paramount em parceria com a Nickelodeon. Ele já vem de uma longa relação com seu protagonista, uma vez que é também o encarregado da franquia
Piratas do Caribe. Tal como naquela trilogia, que misturou comédia e terror com os velhos corsários,
Rango igualmente funciona bem por incorporar novos elementos em uma história já conhecida. Mais do que saber que o camaleão vai salvar o dia na cidade de Poeira - um anacrônico lugarejo no deserto de Mojave, quase tão seco quanto o planeta Arrakis de
Duna - o que importa mesmo é acompanhar sua jornada e descobrir como ele vai fazer isso. No caminho, ao coro do quarteto de corujas mariachis, muitas perseguições aéreas com morcegos, dignas de
Star Wars e de
Apocalipse Now; alguns duelos nas ruas poeirentas e várias cavalgadas nas planícies. Além de uma participação mais do que inesperada e bem-vinda à certa altura dos acontecimentos. Imperdível para quem gosta de animação, de westerns e de esquisitices.