In Público (23/4/2013)
Por Inês Boaventura
«A Biblioteca dos Coruchéus, instalada num palácio seiscentista de Alvalade, abre hoje as portas, com a ambição de ser “a primeira página numa nova fase da vida das bibliotecas Municipais de Lisboa”. Este é, afirma a vereadora da Cultura, um equipamento “personalizado”, concebido pensar na comunidade em que se insere e onde há espaço para muito mais do que ler.
“Conviver, namorar, imaginar, googlar” e, claro está, “ler”, são, como se diz num folheto promocional do novo equipamento da Câmara de Lisboa, “alguns dos verbos que pode pôr em prática neste espaço de descoberta”. “A biblioteca já não é só um local onde se vai ler e buscar livros”, sublinhou ao PÚBLICO a vereadora Catarina Vaz Pinto, durante uma visita ao espaço, na Rua Alberto de Oliveira.
A ideia, diz por sua vez a chefe de divisão da rede de bibliotecas, é que este seja um equipamento "intergeracional”, que ofereça aos moradores da zona, independentemente da sua idade, razões para aqui se deslocarem. Seja para ler um livro ou folhear um jornal, participar num atelier, usar a Internet, estudar ou realizar um trabalho de grupo, entre outras actividades. Ou até, acrescenta Susana Silvestre, para “conversar ou namorar”, porque hoje em dia as bibliotecas “não são só espaços de silêncio”.
A Câmara de Lisboa pretende também que este seja um espaço aberto à comunidade, abertura essa que, sublinha a vereadora da Cultura, começou muito antes da inauguração, “com a construção imaterial da biblioteca”. Para perceber qual era o público-alvo e quais as suas necessidades, foram ouvidos actores locais e realizados focus groups (grupos de discussão), trabalho na sequência do qual se escolheu a colecção de livros da nova biblioteca e se definiu qual o tipo de actividades que ali terá lugar.
A Biblioteca dos Cocuchéus, que vem substituir a de Alvalade, encerrada em 2009 por razões de segurança, funciona num antigo palácio onde até há pouco tempo esteve instalado o Departamento de Património. Cultural da autarquia. Catarina Vaz Pinto afirma que o edifício do século XVII “estava em muito bom estado”, pelo que a sua recuperação “foi fácil”. No local foi realizado um investimento de 218 mil euros, com
verbas do Programa de Intervenção Prioritária em Acções de Reabilitação Urbana (PIPARU).
Repleta de luz natural, a nova biblioteca tem no piso térreo uma sala
dedicada às crianças entre os nove meses e os dez anos. Além de livros, o espaço tem jogos didácticos, tablets e, diz-se numa nota de imprensa da autarquia, “uma PlayStation3 com a aplicação WonderBook, que permite o contacto com livros virtuais
em realidade aumentada”. “Também temos de apanhar os nativos digitais”, justifi ca a chefe de divisão da rede de bibliotecas, defendendo que os tablets e a PlayStation “não
ameaçam o livro, são um caminho para se chegar a ele”.
Ainda no piso térreo, existe uma sala com sofás, rodeados de livros sobre Lisboa e sobre o bairro de Alvalade, e onde os visitantes poderão ler um jornal ou revista. Ao canto, numa área que pode ser isolada e que tem acesso directo à rua, há duas mesas rodeadas de cadeiras, onde pode haver desde reuniões de associações de moradores a pequenas conferências.
No piso de cima há uma sala com computadores, duas com livros de diferentes áreas e uma varanda com um banco de madeira restaurado que convida à leitura, além de um sótão com cadeirões e pufes de cores vivas. A rodear a biblioteca há um jardim, um conjunto de ateliers municipais e uma galeria de arte, envolvente que a autarca não tem dúvidas de que “será uma mais-valia” para o novo equipamento cultural.
Equipamentos adaptados ao século XXI
Ideia é criar centros culturais de proximidade
A vereadora da Cultura quer que este “novo modelo de biblioteca”, “adaptado ao século XXI” e agora concretizado em Alvalade, seja pouco a pouco introduzido nos equipamentos já existentes e naqueles que, no âmbito
do Programa Estratégico Biblioteca XXI, se prevê que sejam construídos até 2024. A ideia, explica Catarina Vaz Pinto (na foto), é que as bibliotecas municipais ganhem “protagonismo”, afirmando-se como “centros culturais de proximidade” e constituindo
um “factor de atractibilidade de famílias”. A vereadora acredita que no próximo mandato será possível lançar a construção de uma biblioteca em Benfica e de outra na Alta de Lisboa, para as quais há que encontrar financiamento, eventualmente através de fundos europeus. I.B.»