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16/05/2019

Por um verdadeiro Museu de Arquitectura e de Maquetes


Pedro Machado, OPINIÃO, 16 de Maio de 2019


«A história da arquitectura portuguesa é já longa e bastante rica e os portugueses fizeram a sua própria adaptação dos estilos que se foram impondo pela Europa ao longo dos séculos – Gótico, Barroco, Neoclassicismo, Romantismo, Art Noveau, Art Déco e Modernismo – e desenvolveram outros que são mais específicos da arquitectura nacional como o Manuelino (Gótico tardio), o Pombalino e o designado Português Suave.

Em Outubro de 2015, Sérgio Andrade perguntava através de um artigo no jornal PÚBLICO: “E quando, um museu para a arquitectura portuguesa?”, descrevendo com algum detalhe as diferentes opiniões de pessoas ligadas ao sector e as dificuldades para levar a cabo tal tarefa. Esse artigo foi escrito ainda antes da abertura do MAAT (Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia). O recentemente edificado MAAT é uma construção moderna e até apreciável do ponto de vista estético, desenhando a forma de uma onda prestes a cair sobre o Tejo. A questão é se o seu conteúdo é capaz de fazer a historiografia da arquitectura portuguesa – o MAAT parece estar mais talhado para exibições temporárias de cariz artístico.

Porque não fazer um museu, com conteúdos maioritariamente permanentes, que permita conhecer a história e características da arquitectura portuguesa? Para complementar e tornar mais atractivo o museu poderiam ser criadas maquetes, de escala 1:50/1:100, de edifícios, tanto institucionais como de habitação, que sejam emblemáticos de cada um dos estilos arquitectónicos, inclusivamente edifícios de grande valor que possam já não existir fazendo com que de alguma forma renascessem. Poderiam assim ser incluídos edifícios anteriores ao terramoto de 1755 que possam ser modelados a partir de pinturas ou outros documentos históricos, tais como o Hospital de Todos os Santos, a Casa da Índia ou a Casa da Ópera, e outros desaparecidos por outros motivos como o antigo Palácio de Cristal da cidade do Porto, demolido em 1951. Quando justificável, podem ser igualmente modelados os interiores mais interessantes. A própria viagem pela história da arquitectura pode ser complementada com a evolução do perímetro da malha urbana das principais cidades portuguesas dando ao visitante uma perspectiva histórica mais alargada sobre o seu ritmo de crescimento e o seu mapa arquitectónico.

Seguindo o espírito da exposição que se realizou em 2018 no Palácio Pimenta, A Lisboa que poderia ter sido, uma das secções do futuro museu poderia exibir os projectos mais interessantes não consumados, tantas e tão interessantes foram as maquetes que foram dadas a conhecer nessa exposição.

O Museu poderia numa das suas galerias exibir uma grande maquete contemporânea do centro da cidade de Lisboa, um pouco seguindo o exemplo da extraordinária maquete viva do centro de Berlim (LOXX), em escala 1:87, com comboios e veículos em movimento. Embora não existam muitos comboios a descoberto no centro de Lisboa, poderiam ser recriadas as linhas de eléctrico onde pequenas réplicas movidas a energia eléctrica se movimentariam subindo e descendo as colinas da cidade.

Um museu com estas características poderia ser interessante do ponto de vista histórico e cientifico para dar a conhecer com alguma profundidade as características da arquitectura portuguesa, e a exibição de maquetes, em particular de uma maquete viva, torná-lo-ia muito atractivo do ponto de vista lúdico e turístico, potenciando assim a sua viabilidade financeira e o seu desenvolvimento permanente.


Matemático; membro do Fórum Cidadania Lx; autor do livro "A Lisboa que eu imaginei"»

05/10/2015

A programação completa da Open House 2015


Com realce e o aplauso para uma certa "mudança de agulha", com a entrada de locais como o Palacete Mendonça, o Café Nicola, a Pastelaria Versailles ou a Cervejaria Solmar, no resto o disco toca praticamente o mesmo ;-) http://2015.openhouselisboa.com/zones/

09/07/2015

Lisboa está a deixar morrer os seus palácios

Cerca de um quinto dos palácios e quintas de recreio existentes na capital está mal conservado ou mesmo em ruína, segundo as contas do Fórum Cidadania Lisboa. Alguns estão classificados mas nem a lei os protege do abandono e do vandalismo.
Por Marisa Soares, Público de 5 Julho 2015

O Palácio da Quinta das Águias é um imóvel de interesse público abrangido por seis zonas especiais de protecção

Quem passa na Rua da Junqueira, entre a Cordoaria e Belém, nem adivinha o que está no número 138. Por detrás do gradeamento e do matagal que cresceu descontrolado, o edifício mal se vê. É preciso contornar os muros e subir a Calçada da Boa Hora para ter a visão desoladora de um palácio abandonado.
Através do portão de ferro vê-se a fachada principal do palácio da Quinta das Águias, cuja entrada foi vandalizada com graffiti.  A tinta cor de salmão a descascar nas paredes e as janelas abertas ou com vidros partidos sugerem anos de abandono. Dos painéis de azulejos azuis e brancos que revestiam parte das fachadas do edifício há apenas vestígios. No chão, coberto de erva seca, há lixo espalhado. No jardim reina um caos verde e às palmeiras já só restam os enormes troncos. As estátuas das águias que decoravam o portão já “voaram”.
Vão longe os tempos áureos desta quinta setecentista, mandada construir por Manuel Lopes Bicudo, com projecto de Lodi e de Carlos Mardel, e adquirida em 1731 por D. Diogo de Mendonça Corte-Real, secretário de Estado do rei D. José I. No início do século XX, a quinta foi parar à família do médico Lopo de Carvalho e foi vendida nos anos 90 a Ricardo Oliveira, constituído arguido no caso BPN. O estado de conservação do palácio, da capela e do jardim com quase 7000 m2 foi-se deteriorando. O imóvel, classificado como imóvel de interesse público e abrangido por seis zonas especiais de protecção, está para venda na Sotheby's há vários anos, por um preço que em 2010 rondava os 20 milhões de euros.
Como o palácio da Quinta das Águias, há cerca de 30 palácios e quintas de recreio na capital "num estado de incúria e degradação incompatível com o seu grau de classificação e importância histórica", denuncia o Fórum Cidadania Lisboa. Este movimento cívico tem alertado para o mau estado de conservação destes espaços, públicos e privados, tendo feito um inventário online (Google Maps). No entanto, as diversas cartas de alerta que enviou para a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) e para a Câmara de Lisboa, proprietária de 16 palácios (alguns deles em ruína), ficaram sempre sem resposta.


"Infelizmente há vários palácios neste estado e o mais gritante é o de Almada-Carvalhais", no Largo do Conde Barão, diz Paulo Ferrero, membro fundador do Fórum. "É um escândalo", lamenta, lembrando a beleza do pátio setecentista, dos salões, dos tectos e das varandas. O palácio, monumento nacional desde 1920, pertence a um fundo imobiliário detido em parte pela Caixa Geral de Depósitos. Segundo Ferrero, em Janeiro, numa conferência organizada pelo Fórum e pelo Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, o director da DGPC revelou que já teria pressionado os proprietários daquele palácio para fazerem obras, exigidas também pelos regulamentos municipais. "Ninguém consegue fazer valer a lei", lamenta Ferrero.
O problema, para o historiador José de Sarmento Matos, “é que os palácios só se mantêm se tiverem uma função que os torne dinâmicos dentro da própria cidade”. A solução mais comum é a transformação em hotéis, com os promotores "cada vez mais interessados" em aproveitar a história e o património para "valorizar os seus activos", afirma. O olissipógrafo tem estado envolvido em alguns projectos na capital - incluindo dois para o Palácio da Quinta das Águias, o último dos quais com a assinatura do arquitecto Souto de Moura, mas nenhum seguiu em frente. Segundo a câmara, em 2005 deu entrada um pedido de licenciamento de obras de alteração e ampliação do palácio, inicialmente indeferido e mais tarde aprovado com condicionantes, estando ainda em apreciação na DGPC. Entretanto, “o proprietário foi intimado à realização de obras de conservação, não tendo ainda dado resposta”, informa a autarquia.
Para Sarmento Matos, o edifício não tem área suficiente para acolher um hotel. "Era fantástico para uma embaixada", sugere. O olissipógrafo admite que tem "dor de alma" quando vê um palácio abandonado mas pede que se evite o "fundamentalismo patrimonialista". "Não se pode pedir ao Estado que se substitua aos proprietários, temos que ter uma hierarquia" no que toca aos investimentos, argumenta.
Em 2009, o Governo criou o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural, actualmente com uma dotação de 4,8 milhões de euros, para acudir a situações de emergência em relação a bens culturais públicos classificados, mas até agora nenhuma entidade pediu apoio para reabilitar palácios.
Atracção turística
As famílias da classe alta foram construindo os seus palácios e casas de Verão perto da residência do rei, depois de a corte se fixar no centro histórico de Lisboa. Na Junqueira também há vários palácios - a própria Câmara de Lisboa divulga na sua agenda cultural um percurso guiado pela Junqueira Palaciana, que inclui a Quinta das Águias.

"Há uma grande procura por parte dos turistas estrangeiros", afirma Augusto Moutinho Borges, que costuma ser guia em visitas comentadas aos palácios de Lisboa, através do projecto Lisboa Autêntica. Segundo este investigador na área do turismo e da cultura, quem se inscreve nestes passeios quer saber a história dos espaços e das pessoas que o habitaram, e se possível visitar o interior, como acontece em várias cidades europeias, nomeadamente em Espanha e Itália. Moutinho Borges lamenta a falta de "sensibilidade" municipal para as questões do património, inclusive para o que lhe pertence. Defende a criação de um roteiro municipal dos palácios da Restauração e de incentivos à recuperação destes espaços aproveitando, por exemplo, os fundos comunitários.

15/03/2015

«MAIS VARANDAS, MENOS MARQUISES»

Uma inteligente campanha de publicidade num país onde ainda prevalece uma relação patológica com as marquises... Só mesmo os nórdicos para verem tão claramente esta doença - praga - nas cidades portuguesas.

22/01/2015

Distância Crítica: a 22 de Janeiro de 2015 com Smiljan Radić


Casa Pite, Chile, 2006

A Trienal de Arquitectura de Lisboa lança a segunda edição do ciclo Distância Crítica em co-produção com o CCB. O primeiro convidado é o arquitecto chileno Smiljan Radić, autor do pavilhão da Serpentine Gallery de 2014 e da instalação de abertura da exposição People Meet in Architecture para a 12ª edição de La Biennale di Venezia comissariada por Kazujo Sejima.
Após a apresentação do trabalho que Smiljan Radić tem vindo a desenvolver, segue-se uma conversa informal com o crítico e curador, Joaquim Moreno.

22 de Janeiro, 19h, Grande Auditório do CCB

17/12/2014

Fontes Pereira de Melo em discussão: a repetição do erro demolidor

Está aberta à participação pública, até sexta-feira, 19 Dezembro 2014, a discussão do projecto imobiliário previsto para a Av. Fontes Pereira de Melo, 41 (Processo 431/EDI/2014 - Projeto FPM4) no site da Câmara Municipal de Lisboa: http://www.cm-lisboa.pt/viver/urbanismo/licenciamento.

Publicamos aqui a opinião de Miguel Lopes Oliveira, contributo já enviado para a CML.

Exmo Sr. Presidente
da Câmara Municipal de Lisboa,

Relativamente ao projeto 431/EDI/2014, gostaria, ainda que louvando o plano relativamente ao designado “Praça” e “Bosque”, de manifestar o meu total desagrado relativamente às demolições propostas:

1) Porque implica:
- Redução dos elementos históricos da Avenida Fontes Pereira de Melo, que os próprios autores do projeto nos alertam que “a habitação romântica (…) tornou-se praticamente inexistente” (Cf. Torre da Cidade, Memória Descritiva, pg. 6).
Na verdade, já só sobram outros 2 palacetes nesta avenida: Sotto Mayor e a Sede do Metropolitano-Palacete José Moreira Marques.

- A repetição do erro demolidor na zona das Avenidas Novas, alvo de várias críticas. Recorde-se o exemplo do abate do vizinho Hotel Aviz, que foi considerado o hotel mais sumptuoso do mundo pela revista Life, algo que o atual Sheraton não consegue.

- A repetição do erro descontextualista
Como por exemplo entre o palacete da sede do Metropolitano de Lisboa e os respetivos edifícios contíguos da Avenida Fontes Pereira de Melo.

2) Os edifícios existentes têm elementos arquitetónicos de interesse, ao contrário do que é referido na Memória Descrita:

- A fachada do palacete de gaveto e os restantes edifícios têm uma linguagem arquitetónica contextualizada com a Casa Museu Anastácio-Gonçalves e Maternidade Alfredo da Costa, que são elementos a preservar por força das zonas de proteção de imóveis e hospitais, respetivamente.

- O palacete de gaveto tem dois pátios, um interior e outro exterior, que se relacionam mediante um arco de características singulares, único na zona das Avenidas Novas.

- Atente-se para a forma como a Memória Descrita se refere ao espaço: “conjunto idílico e ajardinado com casas apalaçadas”(Cf. Torre da Cidade, Memória Descritiva, pg 4). É importante a preservação das fachadas para se mantenha vivo o conceito acima mencionado, reinterpretando-o com os elementos propostos designados por “Praça” e “Bosque”.

3) A Torre proposta:
- Cria uma fortíssima disparidade volumétrica e de linguagem arquitetónica com os dois outros edifícios contíguos dentro do mesmo quarteirão---Casa Museu e o edifício Maracanã.

- Prevê que a empena do edifício Maracanã fique como parede cega, forçando à descontextualização deste edifício, separado da Torre por um espaço de pouca utilidade.

- Reduz a incidência de luz sobre a Avenida Fontes Pereira de Melo, cuja largura não é suficiente para comportar esta concentração de grandes volumetrias. Atente-se numa imagem presente no documento em análise (fig.2).

- Na sequência do ponto anterior, a proposta estará claramente a afetar o conceito de Lisboa como cidade da Luz e do Mar.

Alguns dos pormenores arquitetónicos com proposta para desaparecer da Avenida Fontes Pereira de Melo. 
A primeira foto mostra o palacete em causa e o seu antigo vizinho palacete Silva Graça, depois hotel Aviz. Serve para alertar para que não se repitam os mesmos erros.

4) Ainda a notar mais 2 aspetos:

- Lisboa aposta nas indústrias do lazer, nomeadamente turismo e cinema. Aliás, o conceito acima referido da cidade da Luz e do Mar provem da Associação de Turismo de Lisboa. As fachadas hoje existentes, quando recuperadas, no conjunto com os restantes elementos (Casa Museu e Maternidade Alfredo da Costa), serão muito mais valorizadas por estas áreas económicas, do que a torre proposta.
Recorde-se que existe uma linha de autocarros turísticos (hop on- hop off) que atravessa a Avenida Fontes Pereira de Melo. A zona das Avenidas Novas deve aumentar o interesse turístico da cidade e não o oposto.

- Estão disponíveis outros terrenos próximos deste local (Ex: O terreno devoluto da Rua Casal Santa Luzia), onde é possível a construção em altura para aumento da área de serviços terciários e consolidação do “skyline” de Picoas, sem colidir com a preservação de conjuntos históricos (“idílico”, segundo a memória descritiva) e restantes problemas relacionados com a excessiva concentração de grandes volumetrias, nomeadamente as sombras.


CONCLUSÃO
Assim, defendo outra solução arquitetónica, que mantendo as fachadas existentes e o propósito de uso para espaço terciário de comércio e serviços, permita:
- Preservar a história da cidade e da sua arquitetura muito interessante.
- Criar contextualismo e transições suaves de volumetria com os outros elementos arquitetónicos do mesmo quarteirão, em vez de acentuar as diferenças.
- Promover a humanização do espaço, da projeção da luz e do interesse económico turístico e fotográfico da cidade.



A cércea proposta irá induzir uma concentração excessiva de elementos sombrios sobre a avenida. 
   
Existem terrenos livres para a construção em altura, evitando demolição de arquitetura histórica de interesse e problemas com a concentração excessiva de grandes volumetrias.



Sem outro assunto de momento,
agradeço a toda a sua atenção à minha exposição

Miguel Lopes Oliveira

Mais info: notícia do Público:
Torre de escritórios com 17 andares projectada para a Av. Fontes Pereira de Melo


24/11/2014

Há 55 anos, Lisboa festejava o seu grande hotel de luxo

Com baile, banquete e festa até de madrugada, inaugurou há 55 anos o histórico Hotel Ritz de Lisboa, projecto do arquitecto Pardal Monteiro, decidido por vontade de Salazar, para um país que, no pós-guerra, se queria modernizar e abrir ao turismo.
Por Alexandra Prado Coelho, in Público de 24 Novembro 2014


O mestre ceramista Querubim Lapa entra calmamente pelo hall do Hotel Ritz, em Lisboa, virando a cabeça para um lado e para o outro, observando o espaço à sua volta. Há mais de uma década que não vinha aqui, mas agora, a propósito do artigo que o PÚBLICO estava a preparar para o 55º aniversário do hotel – a inauguração foi a 24 de Novembro de 1959 –, os responsáveis do Ritz convidaram-no a voltar para ver a obra que há mais de meio século criou para uma coluna no final de uma belíssima escadaria.
“Era uma coluna de suporte, e o que o arquitecto pensou foi em disfarçá-la”, conta, satisfeito por este regresso inesperado. “Está num sítio muito visível, quem entra no salão [na parte de baixo do hotel] passa pela coluna”. Já não se recorda exactamente desses dias em 1959 que terá passado aqui a trabalhar. Sabe que havia vários outros artistas a circular pelo hotel – uma das características do Ritz é precisamente o facto de, como salienta a arquitecta Ana Magalhães, que nos acompanha nesta visita, ser uma espécie de “museu” tal a quantidade de obras de arte que alberga.
“Este foi o hotel que naquela época mais decoração teve”, confirma Querubim Lapa. “E acho que mesmo depois nunca se fez um hotel com tanta colaboração de artistas tão diversos. Aqui a decoração nasce com a própria construção do hotel.” Mas desse rodopio de artistas não se recorda bem. Estava concentrado no trabalho na sua coluna, explica enquanto atravessamos o Salão Almada, com as grandes tapeçarias de Almada Negreiros. Saímos por um momento para o exterior, a ampla varanda de onde se vê o Parque Eduardo VIII, em frente, e, mais à direita, a rotunda do Marquês de Pombal.
“Este hotel é um compromisso entre a modernidade e a tradição. É um edifício moderno, mas é um moderno tardio”, explica Ana Magalhães. “Naquela altura não havia nenhum grande hotel em Lisboa, havia um de luxo, o Hotel Aviz, mas era de pequenas dimensões. Desde há muito tempo que havia este desejo de fazer um grande hotel de luxo, e esta era a zona de crescimento da cidade.”
A ideia partiu de um construtor civil, Casimiro Antunes Paulo, que, através do Secretariado Nacional de Informação (SNI), começa a pedir apoio ao Governo. “Manda uma série de cartas, mas numa primeira fase ninguém lhe liga nenhuma, até que a determinada altura a proposta chega aos ouvidos de Salazar. E de repente passa a ser um tema interessante.”
O projecto do Hotel Ritz foi entregue ao arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, autor, entre outros, da Biblioteca Nacional e da Cidade Universitária. “Era o arquitecto óbvio para uma obra como esta”, diz a arquitecta Ana Magalhães. Mas morreria em 1957, antes de a ver terminada.


Projecto Casa do Império
Já na altura da Exposição do Mundo Português, em 1940, em plena II Guerra Mundial, o Governo pensara na necessidade de ter um hotel para receber os eventuais turistas. “A ideia era chamar-lhe Casa do Império, mas acabou por nunca se concretizar”, recorda a arquitecta, que fez uma tese sobre o Hotel Ritz.
Mas terminada a guerra, e com a Europa em recuperação, “o turismo era uma actividade económica em expansão”. Salazar adere, portanto, à ideia. Forma-se um consórcio de capitalistas (em que se destacam as famílias Espírito Santo e Queiroz Pereira), e o projecto é entregue ao arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, autor, entre outros, da Biblioteca Nacional, ou da Cidade Universitária. “Era o arquitecto óbvio para uma obra como esta”. Mas morrerá em 1957, antes de a ver terminada. Conta, no entanto, com uma equipa de arquitectos mais jovens, entre os quais Jorge Ferreira Chaves e Rodrigo Santana, que desempenharão um papel importante, como o próprio Pardal Monteiro reconhece.
Estão reunidas as condições para avançar para o projecto ao qual inicialmente se pensou chamar Palácio da Rotunda. Em primeiro lugar, a localização: o terreno escolhido era ideal, “era uma escolha que fazia todo o sentido, o Marquês de Pombal ia ser o novo centro empresarial da cidade, e além disso o terreno ficava próximo da recém-construída auto-estrada em direcção a Cascais, e não muito longe do aeroporto de Lisboa, dois pontos importantes para o turismo.”

Querubim Lapa também se lembra da impressão que causou. “As pessoas aderiram logo, o que é curioso. É um volume enorme, dá muito nas vistas, quando passávamos no Marquês víamos logo o Ritz, o grande hotel.”
Depois, o Governo criou condições excepcionais. Ana Magalhães recorda: “Ficou assegurado que durante vinte anos não se pagavam impostos sobre o terreno, e os construtores estavam também isentos dos direitos alfandegários sobre tudo o que importavam, desde os mármores que vieram da Escandinávia, aos pianos, ao mobiliário.”
E, por fim, havia os artistas. Para além do extraordinário trabalho de decoração feito pela Fundação Ricardo Espírito Santo, havia a arte encomendada especialmente para o local. O que, aliás, não foi completamente pacífico. “O movimento moderno falava da obra global, da integração das artes”, conta a arquitecta. “E o facto de aqui a intervenção artística ser mais decorativa, ser mais uma justaposição do que uma integração, levou a que surgissem críticas da geração mais jovem. O [pintor] Nikias Skapinakis chamou-lhe mesmo uma ‘manta de retalhos’”.
Para a inauguração do Ritz foi organizado um baile de gala para dois mil convidados. “O país vibrou, as grandes lojas de alta costura encheram-se, jóias há muito esquecidas foram retiradas dos seus estojos. Mais de uma centena de estrangeiros chegaram dos mais variados países para essa noite de festa. Uma ceia memorável, concebida por Pierre Gachet, foi servida com os pratos mais sofisticados. As baixelas vindas de Paris brilharam em uníssono com os cristais desenhados especialmente para o hotel num décor memorável”, escreve Helder Carita no livro Ritz – quatro décadas de Lisboa, editado para assinalar os 40 anos.
O contrato de exploração foi assinado com George Marquet, presidente da sociedade Les Grands Hotels Européens, que, segundo Carita, se empenha em ajudar a conceber o “hotel perfeito”. Havia boutiques, uma barbearia, restaurantes e até uma boite com duas orquestras, a Carrossel, que encerrou em 1974. “Opulento de grandeza, o Hotel Ritz”, foi o título da notícia do jornalO Século a propósito da inauguração. E, três anos depois, o Ritz era capa da revista Life num artigo sobre os novos hotéis de luxo no mundo.

Uma coluna-totem
Continuamos a percorrer os espaços, passamos em frente à sala de refeições com duas paredes-janelas abrindo-se ao exterior, atravessamos um longo corredor do qual se vê, à nossa direita e em baixo, o Salão Nobre, encontramos uma parede com um cartão de Pedro Leitão e lacagem de António Louro de Almeida, descemos a escadaria cheia de efeito cénico, e chegamos finalmente à coluna do mestre ceramista. Querubim observa-a atentamente, acha-a bem preservada, e diz que, apesar de não a ver há muito tempo, se lembrava perfeitamente dela.
“Este rosto, talvez a luz”, diz, referindo-se a umas das figuras da coluna, “está voltado para quem desce as escadas, o outro rosto está voltado para a grande sala. É uma coluna que pode ser vista por diversos ângulos. É uma composição fragmentada. E porquê? Porque é vista de passagem e por isso nunca temos a noção da totalidade dela. Tem um ar de totem. Não temos a sensação de que está ali para esconder uma coluna”. Confessa que essa foi a sua principal preocupação. Mas, passado meio século, continua a achar que foi um trabalho conseguido – o seu e o dos outros artistas. “Havia a necessidade de encontrar uma decoração para que estes espaços não vivessem silenciosos. Porque elas falam… a obra de arte fala connosco, faz-nos parar. Uma das virtudes da obra de arte é essa, podemos parar, olhar e pensar.”
E no caso do Ritz faz todo o sentido falar nesta ideia de um percurso pontuado por obras de arte, que nos vão acompanhando, distraindo, surpreendendo. Voltamos a ouvir Ana Magalhães: “É muito evidente aqui a ideia de percurso, que podemos associar ao [arquitecto francês] Le Corbusier e à sua promenade architecturale que no fundo é o que fazemos aqui quando percorremos estes espaços. É um percurso que se vai descobrindo pela arquitectura.”
Um dos espaços em que melhor percebemos isso, e de uma forma surpreendentemente discreta, é nas escadas de serviço junto à zona dos quartos, que quase ninguém utiliza porque geralmente os hóspedes usam o elevador. É até aí que Ana Magalhães nos leva para mostrar como as janelas rasgadas na parede exterior nos vão revelando, de diferentes ângulos e conforme o ponto de onde olhamos, a cidade lá fora.

Depois, há o facto de a entrada não ser evidente. “O terreno tem uma certa inclinação, e a entrada principal do hotel é feita pela Rodrigo da Fonseca, uma rua secundária que foi escolhida por ser mais resguardada e ter menos trânsito. Pela Rua Castilho faz-se apenas a entrada para o salão de festas, que está dois pisos abaixo.” O que temos, no projecto do Ritz, é um paralelepípedo levantado sobre pilotis, o que dá a impressão de leveza a um edifício muito grande.
“O grande problema deste terreno era a exposição aos ventos”, conta Ana Magalhães. “Pardal Monteiro cria estas varandas, em vez de abrir as janelas na fachada, criando assim um espaço de recuo que protege os quartos do vento. Mas isto era uma justificação, porque o que resulta é a imagem do edifício com estas caixas e este claro-escuro que se vê na fachada do Ritz.” É destas varandas dos quartos, visto de cima, que o jardim elevado, voltado para a Rua Castilho, frente ao Parque Eduardo VII, ganha a sua maior expressão. “Foi desenhado precisamente para ser visto de cima”.
Subimos ainda até à cobertura, à zona onde posteriormente foi instalado o spa, e, saindo para o exterior, descobrimos, olhando para cima, e agora muito perto de nós, as grandes letras com a palavra RITZ.
Uma última coisa, que não é visível para a maioria das pessoas, mas que é fundamental para se perceber o Ritz, é “a quantidade de espaços que não se vêem, que estão nos bastidores e que garantem a qualidade do serviço”, diz Ana Magalhães. Há, por exemplo, 16 elevadores, quatro para os hóspedes, e 12 de serviço, há sete entradas, das quais apenas duas dos hóspedes, há toda uma estrutura escondida que permite o funcionamento de tudo.
O edifício do Ritz é um museu, mas é também uma eficaz “máquina de habitar”. Moderna há mais de meio século.


26/06/2014

Obras na fachada do Museu Antoniano causam polémica na zona da Sé de Lisboa

Críticas à intervenção levaram a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa a promover nesta quinta-feira uma reunião com os munícipes residentes nas imediações da Igreja de Santo António.

Por José António Cerejo, Público de 26 Junho 2014



As obras em curso na fachada do Museu Antoniano, anexo à Igreja de Santo António, em Lisboa, estão a ser alvo de críticas de moradores da zona da Sé e de polémica nas redes sociais.
A intervenção é da responsabilidade da Câmara de Lisboa e integra-se num projecto de renovação e ampliação do espaço dedicado à vida e ao culto do santo, que ali terá nascido.
Grande parte da estreita fachada onde se situa a entrada do museu encontra-se neste momento coberta por uma grelha metálica perfurada, que esconde os aparelhos de ar condicionado agora instalados e que — caso seja tratada da forma que se vê nos desenhos disponíveis no site do atelier de aquitectura responsável pelo projecto — ocultará o frontão triangular existente sobre a porta.
A fotografia do local colocada na segunda-feira numa página do Fórum Cidadania no Facebook mereceu comentários que comparam a cobertura da parede a um grelha de fogão de cozinha, a uma burka, a uma grade de cervejas, ou a uma parede de escalada. Outros comentários, todavia, dão a entender que o trabalho não está concluído e que o controverso painel  poderá vir a ser, também ele, revestido por uma outra estrutura.

Também no Facebook alguns moradores residentes no Largo de Santo António à Sé, com destaque para o actor Filipe Vargas, criticaram duramente a intervenção, enquanto que outros, alguns deles arquitectos, se distanciaram do tom dessas críticas, num aceso confronto de opiniões sobre aquilo que deve ser a forma de intervir no edificado dos centros históricos.
As objecções dos vizinhos da igreja levaram já a vereadora da Cultura a promover a realização de uma reunião destinada a explicar a lógica da intervenção, a qual decorrerá no próprio museu nesta quinta-feira à tarde.
A requalificação do Museu Antoniano, que passará a chamar-se Museu de Santo António, vai permitir a criação de uma nova área museológica, a instalar na antiga Sala do Risco, num edifício contíguo. O actual museu e a antiga Sala do Risco, onde será montada uma exposição de cariz mais erudito sobre Santo António, ficarão ligados entre si.
Na sequência da polémica desencadeada e em resposta ao PÚBLICO a vereadora Catarina Vaz Pinto, titular do pelouro da Cultura na Câmara de Lisboa, garantiu nesta quarta-feira que o frontão de pedra existente sobre a porta de entrada não será tapado, uma vez que “o material proposto [para essa área da parede], com uma perfuração que garante a permeabilidade visual entre interior e exterior, permite uma visibilidade das cantarias pré-existentes”.
Uma simulação da imagem final da estreita fachada do imóvel também fornecida pela autarquia mostra que a solução adoptada se afasta significamente dos desenhos do projecto inicial. Por um lado, a porta e o frontão ficam visíveis, em vez de ficarem cobertos com a tela que reveste o resto da parede, por cima da grelha metálica. Por outro, como a vereadora sublinha, “as dimensões da estrutura que constavam do projecto de execução (...) foram alteradas — reduzidas em altura — de forma a afastar o painel da varanda do primeiro andar do edifício contíguo, salvaguardando a sua segurança”.
Esta redução — que volta a deixar à vista o gradeamento existente no topo da fachada, como se fosse uma janela aberta sobre o largo, a partir de uma pequena praça sobrelevada situada por cima do museu — não altera, contudo, a distância entre a estrutura e a varanda do edifício vizinho.
A câmara assegura também que a decisão de montar o polémico painel na fachada do museu “não foi consequência da instalação dos aparelhos de ar condicionado” por cima do frontão. “A intervenção exterior procurou responder à necessidade de criar uma maior visibilidade ao novo museu, situado num recanto pouco visível e de difícil percepção, permitindo assim uma maior superfície de comunicação e enquadramento urbano”.
Catarina Vaz Pinto refere também que a estrutura em causa consiste num “elemento único, exterior e independente do edifício existente, de carácter reversível e de construção ligeira executado com materiais resistentes às intempéries”.


A intervenção no museu, acrescenta, está a decorrer de acordo com “a filosofia da proposta seleccionada” num concurso por convites lançado pelo município em 2012. A proposta vencedora é da autoria do atelier de arquitectura Site Specific, em parceria com o P-06 Atelier, e tem a assinatura dos arquitectos Patrícia Marques e Paulo Costa. O objectivo dos projectistas, lê-se na página da internet do Site Specific, consiste em “devolver a ambos os espaços [o do actual museu e o da Sala do Risco] as suas características originais, retirando, sempre que possível e quando desnecessárias, as intervenções de que foi alvo”.
O Museu Antoniano está encerrado desde 18 de Novembro por causa das obras, estando a sua reaberura anunciada para o fim do primeiro semestre deste ano, que termina na próxima segunda-feira. A igreja de Santo António, erguida após o terramoto de 1755 no memo local onde o sismo destrui uma outra igreja com origem no século XV, foi classificada como monumento nacional em 1931. O Museu Antoniano foi inaugurado nos anos 80 do século passado e funciona num edifício adossado à igreja, que data da década de 60 também do século passado.


21/05/2014


16/02/2014

Alunos de Arquitectura desafiados a imaginar uma outra colina de Santana

Por Inês Boaventura, Público de 16 Fev 2014

Os projectos demonstram que é possível preservar os edifícios dos hospitais a desactivar e dar-lhes usos diversificados, além do residencial.

E se pensássemos “fora da caixa” e desenvolvêssemos “outras visões” para a colina de Santana, em Lisboa? Este foi o desafio lançado pelos professores universitários José Aguiar e Pedro Pacheco aos seus alunos ao longo dos últimos quatro anos. As propostas que lhes têm sido apresentadas, dizem, demonstram que é possível “reutilizar” muitos dos edifícios existentes, através de “programas heterogéneos”, e mesmo assim conseguir níveis de edificabilidade iguais aos previstos.

Esse trabalho, explica Pedro Pacheco, foi feito em paralelo com um outro: o da cartografia de “80 e tal conventos” de Lisboa, incluindo os que ainda hoje existem e outros entretanto desaparecidos. “Eram pólos de desenvolvimento, foram organizadores de cidade”, sublinha o arquitecto e professor, lamentando que com o passar do tempo os conventos tenham sido “engolidos pela cidade” e obrigados a “virar-se para dentro”.

Nesse processo, muitos deles acabaram por perder as suas cercas, dentro das quais se escondiam jardins e hortas, locais de produção mas também de lazer. “Lisboa teve dezenas, mas praticamente nenhuma existe”, diz o também arquitecto José Aguiar, frisando que na colina de Santana “milagrosamente” algumas delas resistiram.

Face a isso, os dois professores da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa não têm dúvidas: há que preservar essas cercas e permitir a sua fruição pelo público, aproveitando a oportunidade que elas oferecem para, nota Pedro Pacheco, “combater a ausência de determinados espaços singulares na cidade”.

Pedro Pacheco destaca a importância de se olhar para a colina de Santana como “uma oportunidade”, sim, mas “não apenas uma oportunidade para densificar mais a cidade”. O arquitecto afirma que a “importância que os conventos tiveram na formação da cidade” não pode ser esquecida, devendo também ser salvaguardada a memória de “como se foram transformando e adaptando a vários programas”.

“Temos de falar menos de objectos e muito mais de património urbano. Sobrevalorizamos uma visão objectual e subvalorizamos uma visão sistémica”, acrescenta José Aguiar. Na sua opinião, os projectos já apresentados para os hospitais de São José, Miguel Bombarda, Santa Marta e Capuchos foram desenvolvidos por “grandes arquitectos”, mas com base num programa com “uma excessiva monofuncionalidade residencial”, que lhes foi “imposto”.

Nos enunciados que têm apresentado aos seus alunos, os primeiros do programa Erasmus Mundus e os seguintes de mestrado, os arquitectos pedem que as demolições sejam evitadas e que sejam sugeridas novas e diversas formas de apropriação, não só dos conventos, mas também dos restantes edifícios. No fundo, resume José Aguiar, quer-se que os estudantes reflictam sobre “que funções podem ocorrer sem se destruir aquilo tudo”.

Com base em “dezenas de projectos”, o arquitecto concluiu que “é possível conseguir os mesmos níveis de edificabilidade e de densificação previstos nos actuais projectos, introduzindo equipamentos e programas mais heterogéneos, propondo outros negócios urbanos, mas mantendo aqui o trabalho e sem destruir as cercas, reutilizando muitas das arquitecturas preexistentes”.

E que programas e negócios podem ser esses? Por exemplo, espaços que permitam “formas alternativas de habitar”, como lofts ou residências com espaços partilhados e algumas áreas reservadas, adianta José Aguiar. Ou a reactivação de antigos jardins e pontos de água e a instalação de equipamentos com carácter social, de espaços vocacionados para as artes e de unidades produtivas, acrescenta Pedro Pacheco.

José Aguiar frisa que a medicina não pode ser vista como “um problema”, devendo explorar-se a possibilidade de nos terrenos dos hospitais surgirem “cooperativas, escritórios médicos, start-ups de investigação e empresariais”, além de “um verdadeiro Museu da Saúde e núcleos da história da medicina”.

Outra ideia explorada pelos estudantes universitários foi a de que há que prever desde já usos para os edifícios desactivados, para que não se transformem em ruínas. O exemplo do Matadero, um antigo matadouro em Madrid que foi convertido em “centro de criação contemporânea”, foi uma das fontes de inspiração.   

Mais de 850 pessoas assistiram aos debates
Mais de 850 pessoas assistiram presencialmente aos quatro debates promovidos pela Assembleia Municipal de Lisboa sobre a colina de Santana. A segunda sessão, na qual se debateu o impacto das propostas no acesso da população a cuidados de saúde, foi a mais concorrida: a ela assistiram 297 pessoas. A sessão seguinte, sobre o impacte urbanístico, social e habitacional das propostas, foi a menos participada, com 174 pessoas. Estes números não incluem aqueles que assistiram aos debates através da Internet, em tempo real. Na primeira sessão foi atingido um valor máximo de 800 visualizações.  

Em cada debate podem falar, além dos oradores convidados, 20 pessoas do público, cada uma delas durante três minutos. Mas esse número não tem sido atingido, seja por falta de inscrições, seja porque algumas pessoas se inscrevem mas depois acabam por não intervir. Olhando para a lista de inscritos, verifica-se que tem havido muitos nomes repetidos de sessão para sessão. A médica Elsa Soares Jara, o arquitecto Augusto Vasco Costa e o presidente da Associação Portuguesa de Arte Outsider, Vítor Freire, por exemplo, têm sido presença constante nos debates.

Vários deputados da assembleia municipal, principalmente do PS, PSD e PCP, também se inscreveram para falar no período destinado aos “cidadãos”. Os vereadores da Câmara de Lisboa Manuel Salgado (PS) e Carlos Moura (PCP) também já o fizeram. O último debate sobre a colina de Santana está marcado para 11 de Março, data que ainda carece de confirmação, e destina-se às “conclusões e propostas a submeter à assembleia municipal”. 

10/09/2013

3ª edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa

12 de Setembro a 15 de Dezembro
 
Close, Closer, a 3ª edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa oferecerá um entendimento da pluralidade da prática espacial contemporânea. Durante três meses uma equipa de jovens curadores analisará as múltiplas possibilidades da produção arquitectónica através de exposições, eventos, performances e debates que decorrerão em diversos espaços da cidade.

No decorrer da Trienal, a arquitectura será retratada como uma força viva, social e artística, que mapeia o território cultural, político e estético conhecido como “prática espacial”. A abordagem, que exclui consideravelmente as formas construídas da prática de arquitectura centra-se na mudança económica e social, onde os métodos tradicionais de produção arquitectónica estão a mudar e onde a inovação se está a desenvolver rapidamente.

O motor para mudar e projectar espaços pode assumir muitas formas e ser transversal a várias disciplinas. Através de uma redefinição e reorientação das ambições do arquitecto, Close, Closer promove saídas profissionais alternativas para as competências e a formação arquitectónicas de uma geração em desvantagem devido às actuais circunstâncias económicas.

Em paralelo, a presença da Trienal será utilizada de forma positiva e produtiva em programas de longo prazo e em projectos para Lisboa. A arquitectura é uma vasta disciplina com grupos divergentes, ramos, divisões, teorias e dilemas que são escassamente debatidos com o seu público alvo. Como poderemos aproximar-nos?

Junte-se à Trienal de Lisboa, de 12 a 15 de Setembro, para a semana inaugural e abertura das exposições Futuro Perfeito, A Realidade e Outras Ficções, O Efeito Instituto e o nosso programa público Fórum Novos Públicos. Conheça toda a programação de debates, eventos, Projetos Associados, instalações das bolsas Crisis Buster, workshops, performances e muito mais em close-closer.com.

Mais informação no site da Trienal de Arquitectura de Lisboa.

10/04/2013

Arquitecto RibeiroTelles recebe "Nobel" da Arquitectura Paisagista


Parabéns, Arq. Gonçalo Ribeiro Telles! Se a classe política, em vez de sistematicamente tere zombado de ti, tivesse ouvido as tuas ideias sobre a PAISAGEM, provavelmente o nosso país, a nossa cidade, não estariam no caos e incerteza em que estão.

30/03/2013

Museu dos Coches....




"O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, disse hoje, em Lisboa, que o novo edifício do Museu dos Coches, em Belém, vai abrir ao público na segunda metade de 2014.
 
Jorge Barreto Xavier anunciou este calendário durante uma intervenção na sessão de apresentação, no Centro Cultural de Belém, de um projeto de arquitetura da associação Estratégia Urbana, que irá criar um pavilhão em São Paulo, no Brasil, para mostrar 20 anos da arquitetura portuguesa. Para a sessão de apresentação do projeto, que focou a relação entre a arquitetura brasileira e portuguesa, foi convidado o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, autor do projeto do novo Museu dos Coches, localizado na Avenida da Índia, em Belém. A construção do edifício, pago pelos lucros da contrapartida de construção do Casino de Lisboa, através do Turismo de Portugal, começou em janeiro de 2009. O novo Museu dos Coches ocupa 15.177 metros quadrados nos terrenos das antigas Oficinas Gerais do Exército, e foi concebido em consórcio com os ateliers MMBB Arquitetos (Brasil), Bak Gordon Arquitetos, e Nuno Sampaio Arquitetos (Portugal). Deverá receber o acervo das peças do atual Museu dos Coches, instalado no antigo Picadeiro Real do Palácio de Belém, localizado na Praça Afonso de Albuquerque, a algumas centenas de metros de distância do edifício contemporâneo."

por Sofia Fonseca in DN
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Pena....mas este edifício teria ficado bem melhor em outros pontos da cidade, pois de má arquitectura nada tem. Talvez noutra parte viesse a servir de catalisador para boas coisas?  Em Belém ficou branco e grande....pena.

31/03/2011

Prémio Pritzker de Arquitectura 2011: Eduardo Souto de Moura

http://www.pritzkerprize.com/index.html
During the past three decades, Portuguese architect Eduardo Souto de Moura has produced a body of work that is of our time but also carries echoes of architectural traditions. His oeuvre is convincing proof of modern idiom’s expressive potential and adaptability to distinct local situations. Always mindful of context, understood in the broadest sense, and grounded in place, time, and function, Souto de Moura’s architecture reinforces a sense of history while expanding the range of contemporary expression. Already in his first works, undertaken in the 1980s, Souto de Moura had a consistent approach that never adopted the trends of the moment. At that time, he was intensely out of fashion, having developed his individual path during the height of postmodernism. As we look back today, the early buildings may seem normal, but we must remember how brave they really were back then. (...)

Eduardo Souto de Moura’s architecture it is not obvious, frivolous, or picturesque. It is imbued with intelligence and seriousness. His work requires an intense encounter not a quick glance. And like poetry, it is able to communicate emotionally to those who take the time to listen. His buildings have a unique ability to convey seemingly conflicting characteristics—power and modesty, bravado and subtlety, bold public authority and sense of intimacy—at the same time. For architecture that appears effortless, serene, and simple, and for the care and poetry that permeates each project, Eduardo Souto de Moura receives the 2011 Pritzker Architecture Prize. (Citation from the Jury)

Fotos: Casa das Histórias, Cascais

02/03/2011

A "Lisboa do futuro" ... ou como estamos tramados!












No meio detodo este pechisbeque pseudo-intelectualóide, fruto de muitas coisas que nunca o que devia interessar quem faz, aprova e constrói estas coisas, eu dava já o razzie ao edifício da antigo Escola de Veterinária/PJ da Gomes Freire. Melhor do que isto é IMPOSSÍVEL!



Fotos copiadas do imperdível S.O.S. Lisboa

14/02/2011

Informação

Chegado por e-mail:


«Boa tarde,


Sigo com muito interesse o vosso blog e quero dar-vos, em primeiro lugar, os meus parabéns pelo trabalho incansável e atento que têm dedicado a Lisboa.

A razão de ser deste e-mail é esta:

Sou lisboeta, não me imagino a viver noutro sítio que não esta cidade e começo agora a ponderar comprar casa, assim sendo, gostaria de ver exemplos de boas práticas em Lisboa.

Será que há arquitectos e construtores que se dediquem a uma recuperação séria do património arquitectónico lisboeta? é possível pensar comprar/ recuperar um apartamento/prédio, mesmo não tendo ganho o euromilhões?


Ou terei, como a esmagadora maioria da minha geração, de começar a procurar casa nas franjas da cidade?


Se conhecem exemplos a seguir, gostaria muito que partilhassem essa informação no vosso blog.


Obrigada,


Adriana Oliveira
»

28/03/2010

Do Museu de Arte Antiga até ao Tejo por um jardim

O arquitecto Pedro Ressano Garcia recebeu o Prémio Pancho Guedes com uma ideia para aproximar a cidade do rio - uma rampa/jardim que passa por cima da Avenida de 24 de Julho e da linha do comboio. E defende uma cidade reconciliada com o seu porto.
Por Alexandra Prado Coelho, Público de 28-03-2010



Estamos no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Acabámos de o visitar e também de conhecer o espólio da Cruz Vermelha no museu desta instituição. Olhando para baixo, ao fundo vemos o Tejo. Começamos a descer pelo jardim, percorremos espaços verdes, descemos rampas. Por baixo dos nossos pés passam automóveis. Daí a pouco chegamos à beira do rio e sentamo-nos num dos bancos de madeira, a descansar e a ver o movimento dos navios no porto. Antes de regressarmos a casa, vamos ainda descobrir a obra de Almada Negreiros no museu instalado na gare marítima da Rocha do Conde de Óbidos.

Este é o sonho do arquitecto Pedro Ressano Garcia - uma espécie de jardim suspenso entre a zona daquele museu e o rio, através de uma plataforma que passaria por cima da Avenida de 24 de Julho e da linha do comboio, ultrapassando os obstáculos que hoje nos separam do Tejo. E um pólo cultural, em torno do mais importante museu nacional, mas com dois novos equipamentos, que hoje não existem: um museu da Cruz Vermelha e outro com a obra do pintor Almada Negreiros.

A ideia - Plataforma Tejo - recebeu o Prémio Pancho Guedes da Fundação Serra Henriques, e acaba de ser editada em livro, Plataforma Tejo - O regresso ao rio (à venda apenas na livraria A+A, na Ordem dos Arquitectos).

Mas, antes de chegar a esta ideia, Pedro Ressano Garcia foi ao passado para (e esse foi o objecto de estudo da sua tese de doutoramento) perceber a história da frente ribeirinha e de como a cidade foi mudando - sobretudo como mudou profundamente com a construção do porto industrial. "Orientei esta investigação como um detective que vai recolhendo "provas" com vista a desvendar o mistério", explica na introdução do livro. Enfiou-se nos arquivos e tentou reunir material que estava disperso entre a Câmara Municipal de Lisboa, os ministérios, a Administração do Porto, bibliotecas, museus, o Gabinete de Estudos Olisiponenses.

"Descobri que a primeira vez que se fez um mapa da grande Lisboa [1727], o desenho maior que encontrei está centrado na frente ribeirinha, na linha da costa. Isso despertou-me imenso interesse em perceber afinal o que é esta linha", conta ao Cidades.

Adeus ao rio

A história pode começar por uma imagem de Lisboa reproduzida no livro, uma vista dos jardins do Palácio Marquês de Abrantes, século XVIII, de autor desconhecido. Estamos num ponto alto, por detrás do muro do jardim, ao qual estão encostadas, a conversar, algumas figuras, e vemos a cidade à nossa esquerda e o rio, logo ali, à nossa direita. O casario desce até ao Tejo, que está cheio de embarcações.

Na página ao lado outra imagem. Os amigos mantêm a conversa encostados ao muro, mas na fotomontagem feita por Ressano Garcia usando uma imagem de 2003, onde antes estava água estende-se agora uma agitada avenida, cheia de movimento, de carros, de construções. Isto mostra claramente como a cidade mudou com os aterros que foram construídos sobre o rio, os primeiros logo a partir do século XVI, "mal compactados e por consequência pouco estáveis, sendo provavelmente essa a principal razão por que aluíram durante o desastre de 1755", escreve o arquitecto.

Em finais do século XIX construíram-se novos aterros para criar o porto industrial. "Construíram-se praticamente 50 hectares sobre o rio e isso foi uma transformação profunda da cidade da qual nós não temos bem noção", diz. O projecto escolhido foi o do engenheiro francês Pierre Hersent. Por uma razão simples, diz Ressano Garcia: "Era um projecto que gerava terreno e com venda desse terreno financiava as obras".

Assim, Hersent não só foi responsável pela construção do porto como pela sua exploração comercial durante os primeiros cinco anos. Os debates tinham-se arrastado por mais de uma década. Mas, para Ressano Garcia, há aqui uma lição: "Lisboa fez um porto sem dinheiro. Foi uma geração que teve imaginação e pensou a longo prazo".

Houve, no entanto, ideias do engenheiro francês que nunca chegaram a ser postas em prática. Ele propunha que a linha de caminho-de-ferro atravessasse toda a frente da cidade, incluindo o Terreiro do Paço e o Arsenal. "Lisboa inteira ficava cortada. A cidade teria sido outra coisa. Isso só não aconteceu porque um almirante da Marinha entrou em conflito com o Porto de Lisboa e abortou o projecto".

Apesar disso, gradualmente a cidade foi sendo separada da zona ribeirinha. "Não se previu que isso iria acontecer. No início não havia esse efeito de corte porque havia duas carruagens a passar por dia e um comboio de manhã e outro à tarde. É o próprio movimento da cidade que vem enfatizar esse efeito de corte". E as barreiras vão-se multiplicando. Nos anos 40 do século XX, os "tempos gloriosos do automóvel", começa a surgir "o primeiro anel de uma circular rodoviária ribeirinha", que, acreditava-se, iria resolver os problemas do trânsito na cidade (a Avenida de 24 de Julho é concluída em 1964). Antes disso, em 1910, Ventura Terra desenhava Lisboa Futura, um projecto para a Avenida de Santos até ao Cais do Sodré - uma frente ribeirinha monumental com vários cais de muitos degraus que desciam elegantemente até ao rio. Nunca chegou a acontecer.

Problemas iguais lá fora

Começa então a discutir-se a separação entre a cidade e o rio, e as formas de a ultrapassar. As diferentes discussões que em diferentes épocas se fazem em Lisboa são em tudo semelhantes às que mais ou menos nas mesmas alturas se fazem noutras cidades portuárias do mundo, que enfrentam os mesmos problemas e desafios. É por isso que, no seu trabalho, Ressano Garcia estuda também duas dessas cidades, São Francisco e Barcelona, para estabelecer paralelos.

E, numa prova de que o pensamento evoluiu de forma mais ou menos paralela em diferentes sítios (em resposta aos problemas que vão surgindo), quando começou a trabalhar na sua ideia para a Plataforma Tejo, Ressano Garcia apercebeu-se de que noutras cidades outros arquitectos trabalhavam sobre ideias semelhantes. No livro mostra o exemplo do Olympic Sculpture Park em Seattle, um projecto de criação de espaço público da autoria dos arquitectos Weiss e Manfredi, também baseado numa plataforma que desce até ao rio. Ou o projecto em Izmir, Turquia, entre a praça Konak e a gare marítima do mar Egeu - igualmente uma plataforma que passa por cima de uma grande avenida.

Mas não são ideias novas, sublinha o arquitecto português. Na sua investigação nos arquivos, uma das coisas que lhe chamaram a atenção foi a Rua do Alecrim, que tem no seu final um viaduto que desemboca na Praça do Duque da Terceira, junto ao Cais do Sodré. Trata-se de uma ligação "entre duas cotas da cidade anteriormente ligadas por uma escada". "Sendo uma solução testada há séculos, apresenta características muito próximas às que proponho para a frente ribeirinha", escreve no livro.

Aí, trata-se de criar um percurso em rampa com uma inclinação de seis por cento. No interior, explica Ressano Garcia, haveria perto de 8000 metros quadrados para comércio e serviços e 4000 para estacionamento (120 lugares). Por cima, vegetação. A solução, diz o autor, permitiria ampliar o Museu de Arte Antiga (um museu que luta com problemas de falta de espaço e de dificuldades de acesso), a sede da Cruz Vermelha, o terminal de cruzeiros e expor ao público o espólio de Almada Negreiros na gare marítima, que já tem pinturas murais do artista.

"Este estudo não foi encomendado pela autarquia nem pelo porto, é um estudo autónomo, que é uma coisa que tem faltado", conclui. "O meu trabalho é gerar ideias. Se me disserem que alguém leu o livro e que agora quando passa ali olha de outra forma para o sítio, está ganho. É esse o meu papel".