O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Cap. 28 - COLETANIA DE PRECES ESPIRITAS
81.
PREFÁCIO. A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um
indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência
moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do
organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas;
traduz-se, na mediunidade escrevente, pela obstinação de um Espírito em se
manifestar, com exclusão de todos os outros.
Os Espíritos
maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus
habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte dos flagelos com
que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, como as enfermidades e
todas as tribulações da vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal
aceita..
Do mesmo
modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo
acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o
resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau. As causas
físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força
moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo
da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o
obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta
para o livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz
indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque
aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio.
Quase
sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e que com frequência
se radica nas relações que o obsidiado manteve com ele em precedente
existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)
Nos casos de
obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um
fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É
desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser
eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos
casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido
melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação
mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser
inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde
há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a
autoridade.
E não é
tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o Espírito perverso a
renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele despontem o arrependimento e
o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações
particulares, objetivando a sua educação moral. Pode-se então lograr a dupla
satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.
A tarefa se
apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, presta o
concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se dá, quando, seduzido
pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no tocante às qualidades daquele que o
domina e se compraz no erro em que este último o lança, visto que, então, longe
de secundar, repele toda assistência, É o caso da fascinação, infinitamente
mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O Livro aos Médiuns, 2ª Parte,
cap. XXIII.)
Em todos os
casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar
sobre o Espírito obsessor.
82. Prece. (Para ser dita pelo obsidiado.) - Meu Deus; permite que os bons
Espíritos me livrem do Espírito malfazejo que se ligou a mim. Se é uma vingança
que toma dos agravos que eu lhe haja feito outrora, tu a consentes, meu Deus,
para minha punição e eu sofro a consequência da minha falta. Que o meu
arrependimento me granjeie o teu perdão e a minha liberdade! Mas, seja qual for
o motivo, imploro para o meu perseguidor a tua misericórdia. Digna-te de lhe
mostrar o caminho do progresso, que o desviará do pensamento de praticar o mal.
Possa eu, de meu lado, retribuindo-lhe com o bem o mal, induzi-lo a melhores
sentimentos.
Mas, também
sei, ó meu Deus, que são as minhas imperfeições que me tornam passível das
influências dos Espíritos imperfeitos. Dá-me a luz de que necessito para as
reconhecer; combate, sobretudo, em mim o orgulho que me cega com relação aos
meus defeitos.
Qual não
será a minha indignidade, pois que um ser malfazejo me pode subjugar!
Faze, ó meu
Deus, que me sirva de lição para o futuro este golpe desferido na minha
vaidade; que ele fortifique a resolução que tomo de me depurar pela prática do
bem, da caridade e da humildade, a fim de opor, daqui por diante, uma barreira
às más influências.
Senhor,
dá-me forças para suportar com paciência e resignação esta prova. Compreendo
que, como todas as outras, há de ela concorrer para o meu adiantamento, se eu
não lhe estragar o fruto com os meus queixumes, pois me proporciona ensejo de
mostrar a minha submissão e de exercitar minha caridade para com um irmão
infeliz, perdoando-lhe o mal que me fez. (Cap. XII, nº 5 e nº 6; Cap. XXVIII,
nº 15 e seguintes, 46 e 47.)
83. Prece. (Pelo obsidiado.) - Deus Onipotente, digna-te de me dar o poder de
libertar N... da influência do Espírito que o obsidia. Se está nos teus
desígnios pôr termo a essa prova, concede-me a graça de falar com autoridade a
esse Espírito.
Bons
Espíritos que me assistis e tu, seu anjo guardião, dai-me o vosso concurso;
ajudai-me a livrá-lo do fluido impuro em que se acha envolvido.
Em nome de
Deus Onipotente, adjuro o Espírito malfazejo que o atormenta a que se retire.
84. Prece. (Pelo Espírito obsessor.) - Deus infinitamente bom, a tua
misericórdia imploro para o Espírito que obsidia N... Faze-lhe entrever as
divinas claridades, a fim de que reconheça falso o caminho por onde enveredou.
Bons Espíritos, ajudai-me a fazer-lhe compreender que ele tudo tem a perder,
praticando o mal, e tudo a ganhar, fazendo o bem.
Espírito que
te comprazes em atormentar N..., escuta-me, pois que te falo em nome de Deus.
Se quiseres
refletir, compreenderás que o mal nunca sobrepujará o bem e que não podes ser
mais forte do que Deus e os bons Espíritos. Possível lhes fora preservar N...
dos teus ataques; se não o fizeram, foi porque ele (ou ela) tinha de passar por
uma prova. Mas, quando essa prova chegar a seu termo, toda ação sobre tua
vitima te será vedada. O mal que lhe houveres feito, em vez de prejudicá-lo,
terá contribuído para o seu adiantamento e para torná-lo por isso mais feliz.
Assim, a tua maldade tê-la-ás empregado em pura perda e se voltará contra ti.
Deus, que é
Todo-Poderoso, e os Espíritos superiores, seus delegados, mais poderosos do que
tu, serão capazes de pôr fim a essa obsessão e a tua tenacidade se quebrará de
encontro a essa autoridade suprema. Mas, por isso mesmo que é bom, quer Deus
deixar-te o mérito de fazeres que ela cesse pela tua própria vontade. E uma
mora que te concede; se não a aproveitares, sofrer-lhe-ás as deploráveis consequências.
Grandes castigos e cruéis sofrimentos te esperarão. Serás forçado a suplicar a
piedade e as preces da tua vítima, que já te perdoa e ora por ti, o que
constitui grande merecimento aos olhos de Deus e apressará a libertação dela.
Reflete,
pois, enquanto ainda é tempo, visto que a justiça de Deus cairá sobre ti, como
sobre todos os Espíritos rebeldes. Pondera que o mal que neste momento praticas
terá forçosamente um limite, ao passo que, se persistires na tua obstinação,
aumentarão de contínuo os teus sofrimentos.
Quando
estavas na Terra, não terias considerado estúpido sacrificar um grande bem por
uma pequena satisfação de momento? O mesmo acontece agora, quando és Espírito.
Que ganhas com o que fazes? O triste prazer de atormentar alguém, o que não
obsta a que sejas desgraçado, digas o que disseres, e que te tornes ainda mais
desgraçado.
A par disso,
vê o que perdes; observa os bons Espíritos que te cercam e dize se não é
preferível à tua a sorte deles. Da felicidade de que gozam, também tu
partilharás, quando o quiseres. Que é preciso para isso? Implorar a Deus e
fazer, em vez do mal, o bem. Sei que não te podes transformar repentinamente;
mas, Deus não exige o impossível; quer apenas a boa-vontade. Experimenta e nós
te ajudaremos. Faze que em breve possamos dizer em teu favor a prece pelos
Espíritos penitentes (nº 73) e não mais considerar-te entre os maus Espíritos,
enquanto te não contes entre os bons.
(Veja-se
também, atrás, o nº 75: "Preces pelos Espíritos endurecidos".)
Observação.
- A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e
devotamento. Exige também tato e habilidade, a fim de encaminhar para o bem
Espíritos muitas vezes perversos, endurecidos e astuciosos, porquanto há-os
rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos, temos de nos guiar pelas
circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter do Espírito, nada se obtém,
é isto um fato incontestável pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda
influência reside no ascendente moral. Outra verdade igualmente comprovada pela
experiência tanto quanto pela lógica, é a completa ineficácia dos exorcismos,
fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores, ou
quaisquer sinais materiais.
A obsessão
muito prolongada pode ocasionar desordens patológicas e reclama, por vezes,
tratamento simultâneo ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para
restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta combater os
efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII - "Da
obsessão". - Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865:
exemplos de curas de obsessões.)
Assim seja.
Fonte da
imagem: Internet Google.