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sábado, 12 de março de 2011

Ser Educador no Hospital

Caríssimas colegas,
há algum tempo que venho a pensar na questão "Como é ser educadora em contexto hospitalar".

a partilha na página do Educar Partilhando, no facebook trouxe-me algumas respostas que considerei bastante interessantes uma vez que falar de um contexto que a maioria dos educadores de infância não conhece (eu inclusivé).

A nossa colega P, disponibilizou-se a partilhar a sua vivência connosco, pelo que passo a apresentar o seu importantíssimo testemunho, pedindo a vossa compreensão para os detalhes ocultos para protecção de identidades.
*

"Trabalhar em contexto hospitalar é acima de tudo aprender todos os dias. Aprender a valorizar as mais pequeninas coisas que a vida nos oferece e aprender a olhar para o lado e perceber o quanto somos importante na vida daqueles meninos e daqueles Pais. Trabalho à 14 anos e inciei a minha actividade num Jardim de Infância em ***. Embora fosse uma instituição particular, sob a tutela do Ministério da Saúde, recebia na sua totalidade filhos de funcionários ligados à Saúde que poderiam ou não trabalhar no hospital de ***. Por lá passaram as minhas filhas e as recordações que guardo são de 13 anos de alegrias e de convívio saudáveis com todas as pessoas que por lá passaram... e foram tantas...
Há cerca de dois anos [...] todas as educadoras pediram transferência para este hospital. Iniciámos em Agosto e a nossa colocação naqueles serviços foi feita de acordo com as educadoras já existentes [...].

Posso dizer-te que o inicio foi dramático para mim... Cheguei a pensar em desistir... trabalhar diariamente com crianças doentes, da idade das minhas filhas, muitas delas com situação oncológica tornou-se num drama que eu tinha que enfrentar todos os dias... Tive dificuldades em perceber qual a minha função ali, não havia rotinas, nem sempre se concretiza o que se pensa/programa, A disposição de hoje não é a de amanhã, tive tantas dúvidas, tantos medos, tantas angústias. Até que começámos a fazer horário partido ou seja, duas educadoras juntas sempre de manhã das 9.30 às 14.30h e uma educadora sozinha das 13h às 18h. Na semana que fiquei de tarde tive que me orientar, estava sozinha, tinha que entender o que estava ali a fazer... e consegui... percebi que era importante para aquelas crianças que eu as ajudasse a passar a tarde sem se lembrarem que estavam doentes, que as fizesse rir, que as fizesse sonhar e ao mesmo tempo as ensinasse. Se eu fizesse isso por elas, fazia também por aqueles Pais. Continuo a aprender, a descobrir, é bom vê-los sair bem, é maravilhoso vê-los sorrir. Sei que nem sempre vai ser assim mas o importante é o hoje e não o amanhã. Ali aprende-se a viver hoje... amanhã logo se vê...

Programamos, mas sem rigidez, vivemos o Natal, o Dia dos Reis, o Carnaval.... tudo a que temos direito, cantamos, rimos, trocamos graças, somos confidentes, choramos a par com eles se preciso for.
Neste momento encontro-me com um novo desafio: uma Ludoteca! No novo hospital fui colocada num espaço que desigaram por centro de animação pedagógico que se assemelha à ideia de Ludoteca. [...] Não está definido ainda em que moldes aquele espaço vai funcionar mas espero que aos poucos se vá tornando rico de actividades. Entretanto depois posso tentar [...] dar a conhecer algumas das actividades que se vão desenvolvendo por cá, protegendo naturalmente a identidade de cada menino.
Vou dando notícias..
Um beijinho P."

Minha Querida,
em nome de todos agradecemos o teu testemunho e a tua disponibilidade imediata em fazê-lo. Desejamos as maiores felicidades para a concretização da Ludoteca. Desejo-te imensa força para que cada "Hoje" que vivas seja importante para os teus meninos, pais e para ti e que o ontem te dê sempre coragem para seguires nos "hoje" mais difíceis.

A todos os leitores que sejam educadores neste ou até noutro tipo de contexto menos comum, partilhem a vossa opinião!

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