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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Escolhas

Quando nos encontrámos, as 3 juntas, numa das muitas encruzilhadas que a vida nos apresenta, de imediato nos identificámos como sendo portadoras de diferentes essências de Luz: uma Princesa, delicada, aberta ao Amor e à Comunhão Universais, uma Shaman, sábia guia de reflexões e hábil condutora de energia, e uma Guerreira, ansiosa por Paz e pronta a abrir trilhos no desconhecido.

As minhas irmãs têm falado sobre os caminhos, os passos, as metas. Como alguém que ainda está longe do esclarecimento, opto por falar das escolhas.
Há quem diga que, antes mesmo de nascermos, de sermos incorporados no invólucro de carne que nos irá acompanhar nesta passagem pela Terra, os nossos caminhos já estão traçados.
Eu discordo. Não acredito que houvessem caminhos traçados para o mal, e no entanto todos conhecemos casos de pessoas os trilharam - e, o pior de tudo, com gosto.
Não, eu acredito que quando nascemos nos são proporcionados dons e habilidades; que o ambiente em que crescemos tem o seu peso na capacidade que temos de os usar; e que, em última instância, somos os únicos responsáveis pela forma como os usamos.

Há muito que me pautei por um caminho de respeito ao próximo, de lealdade àqueles que me apoiam e aos que dependem de mim, de sinceridade e frontalidade até mesmo na hora de assumir os erros.

Vim a descobrir mais tarde que estas balizas de referência que me habituei a seguir fazem há muito parte do Bushido, o Caminho do Guerreiro, habitualmente associado aos Samurai.
O desejo último do guerreiro é sempre a paz, mas para o conseguir está disposto a enveredar pelo caminho da força se sentir que isso é necessário. Nesse caminho deve integrar as sete virtudes do Bushido: Rectidão, Coragem, Benevolência, Respeito, Honestidade, Honra e Lealdade.

Não quer isto dizer que não me questione.
Não quer isto dizer que não tenha dúvidas ou desconforto.
Mas é, ainda assim, um caminho que posso proclamar que escolhi e que confio que me levará à Luz.
Sei que sou imperfeita, como qualquer humano o é. Questiono a validade das minhas opções e por vezes desejo ter escolhido de forma diferente em determinada altura. Pode perfeitamente acontecer que este mesmo caminho seja o que me levará mais tempo a atingir a iluminação espiritual.

É exactamente por isto que tento reflectir sobre o que sou, o que faço e o exemplo que dou. Nas minhas conversas com as minhas irmãs de caminho, partilhei com elas o meu desconforto. É que, da forma que vivo presentemente, vejo (com o coração) que demorarei muito tempo a alcançar a Luz, porque me sinto insatisfeita. Há desejos no meu interior que tento adormecer, atenuar, amordaçar. Desejos que sei que, acordados e libertos, me fariam (mais) feliz. Mas o respeito e lealdade a que me tenho obrigado comandam-me que os domine.

O Budismo, fortemente contido nas palavras do pensador Osho, recomenda que nos libertemos do desejo. De todo o desejo, pois este causa sofrimento.

Lamento - e peço desde já desculpas a todos os que seguem os ensinamentos de Osho - mas não concordo. Não vejo qualquer mal no desejo de sermos melhores no que fazemos; no desejo de fazer mais pelos outros; no desejo de ir mais longe. Desde que tudo isto não surja por pura vaidade e ambição de vã glória, não vejo mal absolutamente nenhum em desejar Ser e Estar mais próximo do Universo.
É aqui que eu estaco - por causa da teimosa lealdade que considero minha. Ser leal, para mim, não é apenas não magoar; é apoiar quem detém a nossa lealdade, mesmo que isso nos custe. Dizem-me que devo ser leal, em primeiro lugar, a mim mesma, pois ao aproximar-me mais da Luz terei mais para partilhar. Mas há muitas alturas em que a lealdade para com outros tem precedência, sobrepõe-se à que devo ter ao meu Ser, obrigada pelo sentido do Maior Bem para o maior número.

Sei que com isso não estou a dar um mau exemplo: que por vezes devemos sacrificar o nosso desejo pessoal, por muito honorável que seja, no altar do Bem Maior, que o benefício da comunidade deverá sobrepor-se ao do indivíduo.
Mas se o fizer, não estarei ao mesmo tempo a demonstrar que se deve negar a lealdade para com nós próprios se isso for bom para os outros? Que devemos se necessário deixar tornar mortiça a nossa luz interior se isso proporcionar um maior bem para "os nossos"?

É este o meu desconforto, a minha dúvida, o meu tropeço no caminho para a Luz: onde focar a primazia da lealdade?
No Eu, permitindo ao Ser maximizar e utilizar todos os dons que lhe foram facultados para prosseguir no caminho Universal? Ou nos Outros, colocando esses mesmos dons (ainda que privados de possibilidade de evolução) ao serviço do Bem para o maior número?
A lealdade não pode permanecer dividida, sob pena de se quebrar a favor de um dos lados, seja ele qual for. Quando quebrar, o outro lado irá sentir a perda. E questionar.

Tal como eu agora me questiono, insegura - e adio a escolha.