Para o Nini...

Extracto da carta enviada pelo COMENDADOR MARQUES DE CORREIA ao seu amigo Aníbal :

CARO ANÍBAL, ILUSTRE AMIGO. 





Percebo que estás numa situação difícil e, como sabes, sou homem para em nome da nossa amizade te retirar de apuros. Muitos viram na tua conversa uma enorme insensibilidade social, um desconhecimento profundo do modo como vive o nosso povo. Mas eu, que sou atento, entendi perfeitamente o que quiseste dizer. 

Como se diz na minha terra, Deus sabe de todos e cada um sabe de si, pelo que a mim me basta tu teres dito que o dinheiro não chega, para eu estar a teu lado e perguntar: — Quanto precisas? Porque eu, Aníbal, amigo antigo, tenho disponibilidade para ir em teu socorro. Não que tenha fortuna, Aníbal, eu sou um pobre reformado a quem também sacaram uma série de dinheiro. Mas tenho cabeça, Aníbal, e não vou mexer nas minhas poupanças, ao contrário do que tu me deste a entender. Ouve, Aníbal, tu tens uma casa enorme em Belém. Por que não a rentabilizas? Aluga-a para concertos, para filmes de época, para jantares elegantes. 

Na casinha onde começaste a vida, tinhas assoalhadas pequenas, não precisas desses salões todos. Outra coisa, tens diversos carros e uma série de motoristas; mete-os no praça. Inscreve os carros e os motoristas como taxistas sem distintivo e dedica-te ao turismo. Volta a Sintra, percurso a Palmela, praias da Linha do Estoril. É negócio, Aníbal e, ainda por cima, é da categoria da exportação, já que o pessoal deixa a nota lá da terra deles. Também tens aí uns cavalos e uns cavaleiros que dão belos figurantes em filmes. Abre uma página na Internet e põe um anúncio a oferecer os serviços desses tipos. E há ainda as mobílias e os quadros que eu vi em tua casa. 

Olha, Aníbal, conheces o eBay? É pôr lá essa tralha toda e esperar a melhor oferta. Pode parecer que é pouco mas arredonda os fins do mês, porque, Aníbal, oportunidades de negócio como aquela que tiveste há anos com as ações de um banco não vão voltar a surgir tão depressa. É a vida, que, como dizia o outro, é como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo.’




in Expresso

Muito boa foi-me enviada, via e-mail, pelo amigo António (do blog Reflexos) a quem agradeço a amabilidade!

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