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POEMARIUM : recipientis poeticus

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ARS POETICA (80): Os Vampiros, de ontem e de hoje, na poesia de José Afonso

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The Vampires / David Z. (2010), after F.W. Murnau's Nosferatu (1922)


OS VAMPIROS

Hoje como Ontem, os Vampiros aí estão atacando de novo (de dentes mais afilados e sequiosos que nunca)… permanece pois, com pleno sentido, o poema do saudoso José Afonso (“Zeca” para os amigos), uma das melhores vozes que Portugal conheceu, mas também uma voz incómoda para os “podres poderes” (da canção de Caetano Veloso), poeta de grande sensibilidade e lutador de causas justas, aqui fica o poema como homenagem ao seu autor e para todos vós, para que não se deixem vampirizar a pretexto da actual "crise", porque «quem te avisa teu amigo é» (provérbio popular) e como disse essa outra voz do «Canto Livre», P.e Francisco Fanhais: «É preciso avisar toda a gente!»...
... e se «A cantiga é uma arma», como disse José Mário Branco, contra os “Vampiros” há que cantar esta canção:


Os Vampiros

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com o seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
As vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
José Afonso
(poema transcrito de um exemplar autografado do livro "Cantares")
In: AFONSO, José – Cantares, 3.ª ed. aum., [Lisboa] : AAEE, [s.d.] (Offset da AEIST), pp. 77-78
(1.ª ed. 1967?; a 3.ª ed., c. 1970, inclui autobiografia datada de Abril de 1967, pp. 11-13)


Este poema de José Afonso (1929-1987), terá surgido a lume pela primeira vez, como letra de uma das composições do seu disco «O Dr. José Afonso em Baladas de Coimbra» (ed. 1963?, reeditado em 1982 pela Edisco com o título «Baladas e Fados de Coimbra»). O mesmo foi algum tempo depois, ainda nesses anos “60”, editado numa colectânea dos seus poemas, intitulada «Cantares», obra que seria apreendida pela polícia política da ditadura salazarista (PIDE), mas que conheceu logo a seguir duas edições, tendo a terceira sido distribuída clandestinamente, de mão em mão, para evitar ser apreendida.

Aqui deixamos também a interpretação do “Zeca”, na sua última actuação pública - no Coliseu dos Recreios em Lisboa, em 29 de Janeiro de 1983 - quando este já se encontrava muito afectado pela doença que lhe viria a ser fatal. O registo fílmico do concerto integral foi agora editado, pela primeira vez, em DVD (documento precioso para recordar o momento àqueles que como nós lá estiveram, mas também para o dar a conhecer aos que por qualquer motivo não puderam estar presentes (incluindo, claro está, os que estiveram ausentes por força da razão de ainda não terem nascido).

"Zeca" Afonso, já muito afectado pela doença que lhe seria fatal, canta Os Vampiros
no seu derradeiro concerto no Coliseu dos Recreios (Lisboa), em 1983
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Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)