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The Vampires / David Z. (2010), after F.W. Murnau's Nosferatu (1922)
OS VAMPIROS
Hoje como Ontem, os Vampiros aí estão atacando de novo (de dentes mais afilados e sequiosos que nunca)… permanece pois, com pleno sentido, o poema do saudoso José Afonso (“Zeca” para os amigos), uma das melhores vozes que Portugal conheceu, mas também uma voz incómoda para os “podres poderes” (da canção de Caetano Veloso), poeta de grande sensibilidade e lutador de causas justas, aqui fica o poema como homenagem ao seu autor e para todos vós, para que não se deixem vampirizar a pretexto da actual "crise", porque «quem te avisa teu amigo é» (provérbio popular) e como disse essa outra voz do «Canto Livre», P.e Francisco Fanhais: «É preciso avisar toda a gente!»...
... e se «A cantiga é uma arma», como disse José Mário Branco, contra os “Vampiros” há que cantar esta canção:
Os Vampiros
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com o seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
As vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
José Afonso
(poema transcrito de um exemplar autografado do livro "Cantares")
In: AFONSO, José – Cantares, 3.ª ed. aum., [Lisboa] : AAEE, [s.d.] (Offset da AEIST), pp. 77-78
(poema transcrito de um exemplar autografado do livro "Cantares")
In: AFONSO, José – Cantares, 3.ª ed. aum., [Lisboa] : AAEE, [s.d.] (Offset da AEIST), pp. 77-78
(1.ª ed. 1967?; a 3.ª ed., c. 1970, inclui autobiografia datada de Abril de 1967, pp. 11-13)
Aqui deixamos também a interpretação do “Zeca”, na sua última actuação pública - no Coliseu dos Recreios em Lisboa, em 29 de Janeiro de 1983 - quando este já se encontrava muito afectado pela doença que lhe viria a ser fatal. O registo fílmico do concerto integral foi agora editado, pela primeira vez, em DVD (documento precioso para recordar o momento àqueles que como nós lá estiveram, mas também para o dar a conhecer aos que por qualquer motivo não puderam estar presentes (incluindo, claro está, os que estiveram ausentes por força da razão de ainda não terem nascido).