Seja Bem-Vindo

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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Esquálido



Nesse dia
cinza
esquálido que finda
em silenciosa agonia

tanto ainda por dizer

Tantas palavras que param
petrificadas
perdem-se
na memória
detalhes pequenos gestos
como se estivessem
ainda
por acontecer Aqui
nesse mundo tão ínfimo
de conluio com as pedras

e ainda consigo
ficar
meio perdida

Acumulam-se
tantas palavras

mas fica
presente
a vontade de tentar simplificar
o ato
de pelo menos tentar
dizer

palavras
transcritas no gesto
de fechar venezianas
apagar as luzes
na repetição

da noite

Outubro, 17 de 2013
Fotografia, Sidarta

12 comentários:

  1. MARLENE,

    vou lhe confidenciar uma coisa: Nunca fui capaz de colocar pensamentos em versos.

    Verdade!

    É uma improbabilidade que assumo e ao vir por aqui e ler seu versejar, simplesmente a invejo.

    Existe inveja boa?

    Se existir é essa que sinto!

    A poesia permite devaneios e sublimações incríveis quando, entre meias palavras e entrelinhas, ficam palavras soltas , porém muito bem amarradas aos sentidos que,por vezes, inconfessáveis é melhor nem proclamar.

    Isto tornam os poemas imbatíveis em dizer só o que nós temos a certeza, mas aos outros, ficam as subjetivas interpretações.

    Neste seu "Esquálido" sua vontade de simplificar o ato,curvou-se ante a magia de deixar um pouco mais complexa toda a magia de interpretações possíveis ao invés de um pacote pronto.

    E gosto, disso!

    Um abração carioca.

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  2. Que bonito isso, o estar por acontecer. Fiquei imaginando que o poeta às vezes capta o que ainda não foi visto, sentido. Você traduz tanto da ânsia de dizer. E faz isso de forma tão bela...
    Beijos, Marlene!

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  3. A palavra "esquálido" é polissêmica, e alguns de seus sentidos são mesmo díspares entre si (por ex., muito magro e sujo; ou desalinhado e lívido).

    Todavia, se bem que o título dirija o "pathos" de todo o poema, ele, no entanto, não o resume, pois no caso aqui, "esquálido" se refere à nuance pálida do cinza do teu dia.

    Como sempre, teu talento para descrever climas interiores e de associá-los a cores permanece magistral, Marlene. Muito belo teu poema, minha amiga, realmente.

    Meu carinhoso abraço, bom fim de semana.
    André

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  4. Marlene, que lindo!
    Há momentos tão "esqualidos" que nos sentimos como se tivesse uma mão tapando a outra em palavras, uma sobreposição de pensamentos em outros. Vazio sobre vazio.
    Lindo mesmo!

    Beijos e ótimos dias!

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  5. Marlene, em conluio com as pedras consegues dizer coisas tão lindas...

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  6. Do tempo cai uma poeira agreste que cala as palavras na garganta, cansa os braços, seca os olhos...

    Um beijo

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  7. A pedra dura, fria, cinzenta em oposição ao poema cheio de emoções e de gestos do quotidiano. A beleza da noite que chega...
    Um abraço.
    M. Emília

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  8. Poema, emocionante e lindo, Marlene.

    Beijo

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  9. é no matiz cinza dos dias e do tempo que os modela que as outras cores espreitam, seguras de que nenhum temporal desafia vozes mudas para sempre.

    belo este reencontro contigo, marlene. um beijo!

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  10. Nunca dizemos todas as palavras.
    E ainda bem...
    Excelente poema, gostei muito.
    Tem um bom fim de semana, querida amiga Marlene.
    Beijo.

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  11. Pois é, as palavras...
    Dizem tanto
    Mas podem também
    Não dizer mais nada
    Estas palavras...

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