CineSesc (São Paulo - SP)

Impressões - O novo CineSesc
Por Alexandre Rodrigues - Cineasta.



"Estou emocionado!". Essa foi a primeira coisa que ouvi do amigo ao entrar no novo CineSesc.

Somente cinemas de rua podem nos trazer lembranças tão vivas e ricas. A mulher da poltrona, atrás da minha, discutia com as amigas quais foram os primeiros filmes que viram em um cinema. A mulher que propôs a discussão assistiu "A Lagoa Azul". Depois de ouvir o filme dela me peguei curtindo a nova sala.

Tive um grande privilégio, pois entrei com o amigo Antonio Ricardo Soriano antes da sessão começar e pude ser um dos primeiros a pisar no novo carpete, sentir o cheiro do couro novo das poltronas, subir ao palco e tocar na tela; eu senti em minhas mãos um pouco das histórias que ali foram contadas.




Andei como uma criança que quer descobrir um novo mundo, mas escondendo as emoções para ninguém julgar, admirando cada detalhe do velho cinema contrastando com o novo.

Sentei nas espaçosas poltronas que não devem em espaço as poltronas da primeira classe da Emirates, tenho 1,82 metros e mesmo com as pernas esticadas ainda era possível passar alguém entre as fileiras sem esbarrar em mim.





Visitei a cabine de projeção e o coração bateu forte, são poucas as salas que podem exibir praticamente todos os formatos. É impressionante ver o velho e o novo, lado a lado.





A projeção e o som me transportaram para dentro do filme. As lágrimas que brotaram em meus olhos não eram por causa de uma cena em especial, mas pelo fato de eu, simplesmente, estar naquele cinema.

Era uma noite especial, festiva, pois era a reabertura do cinema (depois de muitas melhorias) e da abertura do tradicional Festival Sesc de Melhores Filmes. O Alceu Valença exibiu seu filme de estreia como diretor e disse que a sala o fazia lembrar do "seu" cinema Rex, em São Bento do Una (PE).

O CineSesc, com seus grandes festivais e mostras, as descobertas cinematográficas, os debates e palestras, foi essencial na minha formação como diretor. O que já era muito bom, ficou ainda melhor.

Repetindo o que disse Eugenio Puppo, ao receber o prêmio de melhor documentário: "Vida longa ao CineSesc!".

* Após três meses fechado para reformas, o CineSesc reabre em 01/04/2015 com a exibição do filme "A Luneta do Tempo", escrito e dirigido pelo cantor Alceu Valença. O evento também marcou a abertura do Festival Sesc Melhores Filmes 2014.

Fotos: Antonio Ricardo Soriano

Astor (São Paulo - SP)

Agradeço a colaboração do engenheiro Marcelo Libeskind, filho do renomado arquiteto David Libeskind.
David Libeskind (1928-2014) foi arquiteto, artista gráfico, ilustrador e pintor brasileiro. De 1947 a 1952, cursou a faculdade de arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Após o fim da faculdade, muda-se para a cidade de São Paulo, onde constrói uma carreira de obras arquitetônicas que o credenciaram a realizar, em 1955, o projeto do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, uma construção vertical com apartamentos e escritórios sobre uma base comercial, incluindo o grandioso cine Astor.

1960
1960
1960
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O cine Astor em construção
O cine Astor em construção

Jequitibá (Bocaina - SP)

Inauguração : 20/12/1952
Filme inaugural : "Romance Carioca", com Carmen Miranda.
Endereço : Rua 15 de Novembro, 349 - Centro
Bocaina - SP
Em funcionamento ? : Sim

A Prefeitura de Bocaina adquiriu o prédio do cinema nos anos de 1980.
O cinema foi todo reformado em 1999 e reinaugurado em 06/2000.

Depois de novas reformas e instalação de novos equipamentos de projeção, o cinema foi, mais uma vez, reinaugurado em 25/11/2005.
Filme inaugural : "Dois Filhos de Francisco", de Breno Silveira.

Novas reformas transformaram o antigo cinema no Centro Cultural Cine Jequitibá.

Solenidade de reinauguração realizada em 13/10/2023 :






Comodoro (São Paulo - SP)

 Arquivo do jornalista Samuel Wainer - APESP




Marabá (São Paulo - SP)

Arquivo do jornalista Samuel Wainer - APESP





Comodoro (São Paulo - SP)

A última novidade que São Paulo apresenta nesse setor de diversão é o CINERAMA, maneira nova de filmar e apresentar as coisas na tela. 

O CINERAMA já é comentário habitual e obrigação para os que passam pela capital. Não há quem venha a São Paulo e não procure adquirir a sua entrada para o CINE COMODOROonde ISTO É CINERAMA está sendo apresentado.

Revista  A CIGARRA - Novembro de 1959

Comodoro (São Paulo - SP)

Por Antonio Ricardo Soriano
Colaboradores: Alexandre Cintra CanteruccioHugo CanteruccioKleber Mendonça FilhoJoão Carlos Reis Pinto, Marcello Branco, Atilio Santarelli João Luiz Vieira.
 
A inauguração
 
 A frente do cinema no dia da solenidade de inauguração (Folha da Manhã, 15/08/59)

O cine Comodoro funcionava na Avenida São João, 1462, no centro da capital. A cerimônia de inauguração do cinema foi realizada, às 14 horas, do dia 14 de Agosto de 1959 e foi divulgada no jornal Folha da Manhã, de 15/08/1959. Teve a presença da Banda de Música da Força Pública, com uniforme especial. Uma viatura do Corpo de Bombeiros, na sessão noturna, levou refletores e segurança. Cordões de isolamento demarcaram, em frente ao cinema, um corredor para os carros que traziam convidados especiais e praças das Forças Armadas perfilavam-se nos dois lados da porta de entrada. Havia-se anunciado a presença do Presidente da República, mas ele não compareceu.


Anúncio de inauguração do cine Comodoro (Folha da Manhã, 15/08/1959)

Artigo do jornal Folha da Manhã, de 19/08/1959:

Isto é Cinerama

Com duas sessões especiais, uma dedicada a critica falada e escrita de São Paulo e Rio, outra, de gala, na noite de sexta-feira última, inaugurou-se nesta capital, o Cinerama, processo óptico e eletrônico a constituir-se em novo espetáculo cinematográfico, surgido logo após a última guerra e há anos funcionando, com grande êxito, nas principais cidades de muitos países do mundo. Na capital paulista, construiu-se uma sala funcional, destinada a comportar a complexa aparelhagem do Cinerama, os seus três enormes projetores, dispostos em meio arco, a convergir, simultaneamente, o tríplice feixe luminoso na ampla tela convexa e metálica do palco, seus amplificadores e alto-falantes colocados por toda a sala, de forma a proporcionar a audição de planos de som, em alta fidelidade, o chamado 'som estereofônico' ou 'som em relevo'. A sala do Cinerama, o cine Comodoro, está instalada na Av. São João e possui todos os últimos aperfeiçoamentos do processo e de seus sistemas de som, tudo disposto em arquitetura sóbria e decoração simplíssima. Embora não muito grande, a sala do Comodoro é confortável, de ambiente agradável.

A sessão inaugural iniciou-se com a apresentação de uma síntese da história do cinema, contada pela imagem comum, em branco e preto, e pela voz de Lowell Thomas, antigo colaborador de Fred Waller, o inventor do Cinerama, falecido há pouco tempo. Essa apresentação, por sinal, foi o lado lamentável do espetáculo, eis que nessa falsa 'história do cinema' se menciona o nome e a ação de todos os inventores norte-americanos e ingleses que colaboraram na descoberta e no aperfeiçoamento do cinema, sendo, entretanto, esquecida a contribuição francesa, com a omissão dos nomes e dos inventos de seus pesquisadores, Joseph Plateau, o 'fuzil fotográfico' de Marey, antecedendo o seu aparelho 'cronofotográfico', Georges Demeny, o 'teatro óptico' de Reynaud, até chegar-se ao 'cinématographe' dos irmãos Lumière, os verdadeiros inventores da câmara cinematográfica, com a sua estrutura mecânica e física até hoje a funcionar na criação do espetáculo cinematográfico. Isso tudo foi esquecido nessa 'história do cinema' parcial, que torna antipática e suspeita a apresentação do Cinerama, o que é pena, realmente, pois as conquistas do espírito humano, depois de postas ao alcance do domínio público, não pertencem a ninguém, nem conhecem fronteiras, são apenas peças do patrimônio de toda a humanidade.

Quanto ao espetáculo proporcionado pelo Cinerama, não há dúvida, é uma curiosa e fascinante apresentação audiovisual, mas a prescindir da linguagem e da estética do cinema. Não proporciona ainda, a técnica do Cinerama, uma visão plenamente realizada dos aspectos do mundo, dadas certas imperfeições na junção das imagens e no sincronismo dos três projetores, coisa, aliás, a não se constituir em defeito intolerável e que, possivelmente, possa a vir desaparecer com aperfeiçoamentos futuros. Algumas sequencias de Isto é Cinerama, contudo, se apresentam revestidas de inegável beleza e, por vezes, de impressionante realismo. Assim é na sequência da montanha russa, na do passeio em gôndola pelos canais de Veneza, ou em barco nos lagos da Flórida, isto é, quando há movimento intenso na estrutura da imagem. Já nas cenas estáticas - a opera no 'Scala' de Milão, o coro dos 'Meninos Cantores de Viena', ou numa catedral norte-americana - a impressão do relevo é menos real e a junção defeituosa das três imagens se salienta um pouco mais. De qualquer forma, aí está um espetáculo curioso, que só a audácia de um homem de muita visão, o Sr. Paulo Sá Pinto, traria para São Paulo, no lastro de outras realizações suas, como as das salas de alto luxo, por exemplo, Rivoli e Olido, recentemente inauguradas. - B. J. Duarte

A Empresa Cinematográfica Comodoro, trouxe o sistema *Cinerama para o Brasil e, através de um contrato, teve dois anos de exclusividade para exibi-lo. O cinema foi construído especialmente para receber o Cinerama e de baixo de sua marquise havia o letreiro 'sistema que revolucionou o mundo das diversões'.

As três cabines de projeção do sistema Cinerama original 

Interior do cinema na época de sua inauguração

O fundador: Paulo Sá Pinto (1912-1991)

Paulo Barreto de Sá Pinto foi um dos maiores empresários da história da exibição cinematográfica no Brasil.

Paulo Sá Pinto (Folha da Manhã - 11/07/62)

Mineiro da cidade de Santos Dumont, Paulo Sá Pinto veio ainda criança para o Rio de Janeiro e seu primeiro emprego foi como conferente de alfândega, no Cais do Porto. Depois se transferiu para Porto Alegre, onde teria trabalhado em publicidade e começado a se interessar pela área de exibição. Seria, entretanto, em São Paulo, que fundaria a Empresa Cinematográfica Paulista, cujo os primeiros cinemas construídos foram o Ritz (1943) e o Marabá (1945). No final dos anos 40, expandiu o seu 'circuito de cinemas' para Porto Alegre e Curitiba, fundando a Empresa Cinematográfica Sul.

Foi ele, o primeiro a exibir *Cinemascope no Brasil, lançando O Manto Sagrado no cine República (onde instalou uma tela gigantesca), em 22 de fevereiro de 1954, quando comemorava seus 42 anos e São Paulo sediava um Festival Internacional de Cinema, dentro das comemorações de seu 4º centenário. Foi, também, no cine República que Paulo Sá Pinto instalou a maior tela da América Latina, em 1955.

Ele sempre foi inovador. Ao ver em Nova York um filme em Cinerama, This Is Cinerama (1952), decidiu instalar o sistema em uma de suas salas, o Comodoro, fazendo de São Paulo, a única cidade brasileira que realmente assistiu ao Cinerama legítimo, com três projetores trabalhando simultaneamente. Quando inaugurou o cine Olido, em dezembro de 1959, em São Paulo, com Tarde Demais para Esquecer, levou uma orquestra sinfônica para apresentar o clássico tema 'An Affair To Remember'.

Pouco tempo antes de falecer, Paulo Sá Pinto, já gravemente doente, ainda comandava suas empresas, que administravam uma rede de mais 60 cinemas espalhados em sete capitais (só em São Paulo, 40 salas), tendo como sócios, os irmãos Magalhães Rodrigues e Francisco José Lucas Neto. Além disso, era sócio de vários outros empreendimentos e da distribuidora Art filmes. Despachava em seu gabinete na Avenida São João, com sua fiel secretária, dona Lourdes Peixoto, que o acompanhou por mais de 30 anos.

Paulo Sá Pinto faleceu em 24 de janeiro de 1991, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, vítima de insuficiência respiratória, ocasionada por problemas no pulmão.

Exibições especiais

A 1ª Exibição

Isto é Cinerama (This Is Cinerama, EUA, 1952) foi o primeiro filme exibido e lotou os 1400 lugares do cinema (incluindo platéia e balcão).

O professor João Luiz Vieira descreve esta exibição em seu texto 'Não dá para esquecer o impacto que era entrar no cinema':

“Os espectadores iam enchendo a sala aos poucos e, em seguida, as luzes começavam a diminuir enquanto que as cortinas se abriam o suficiente para mostrar uma imagem quadrada, correspondente ao tamanho dos 35 mm. normal. Na tela, em preto e branco, aparecia um documentário, apresentado por Lowell Thomas, produtor do espetáculo, que fazia um breve histórico cronológico e evolutivo das imagens em movimento, indo até a pré-história e o homem da caverna até, claro, o Cinerama, a 'maior conquista do homem', etc. Mostrava as câmeras, descrevia o processo de filmagem até que finalmente anunciava a novidade aos espectadores: ‘...e agora, senhoras e senhores... vamos ao Cinerama!’ conclamando a platéia e inscrevendo-a diretamente dentro do espetáculo. Aí, já colorida, surgia a imagem do trenzinho subindo uma célebre montanha russa de Coney Island, no Brooklyn, imagem que se formava aos poucos, diante de nossos olhos maravilhados, exatamente sincronizada com as cortinas que, então, se abriam completamente”.

Pôster americano do filme Isto é Cinerama

“Quando o trenzinho chegava à parte mais alta da estrutura da montanha russa, a imagem estava completa e a tela curva completamente aberta com os três projetores em ação. Começava a queda vertiginosa do trenzinho ao mesmo tempo em que, por toda a sala, o som estereofônico se abria, num envolvimento com o espetáculo absolutamente inédito até então. Era uma sensação física, os espectadores se agarravam nos braços das poltronas. Você, digamos, estava 'dentro do espetáculo' e dele fazia parte, como a publicidade não cansava de enfatizar”.

“Dá para imaginar o impacto provocado por toda essa tecnologia, principalmente aos olhos de um garoto de dez anos de idade, quando tudo sempre parece ainda maior? Todas as sessões tinham prólogo, intervalo e, no final, com as cortinas já fechadas, ainda apresentavam uma 'música de saída' que acompanhava os espectadores no esvaziamento da sala. Era um ritual de verdade, incluindo os espectadores, em geral, bem arrumados”.

Outras exibições especiais

Infelizmente, o filme A Conquista do Oeste (How the West Was Won - 1962), único filme de longa-metragem rodado no sistema Cinerama original, não foi exibido no Comodoro. Estreou, no cine Metro, em 08/07/1965 (informação, gentilmente, cedida pelo colaborador João Carlos Reis Pinto), enquanto que no Comodoro era reprisado, novamente, Cinerama em Busca do Paraíso.

João Luiz Vieira, também, descreve em seu texto, outras exibições especiais no Comodoro:

"Foram exibidos e muito reprisados, entre 1959 e 1965, os filmes produzidos no processo Cinerama original":
Cinerama Holiday (1955) - Estreia em 25/11/1960
As Sete Maravilhas do Mundo (Seven Wonders of the World, 1956) - Estreia em 09/03/1960
Cinerama em Busca do Paraíso (Search For Paradise, 1957) - Estreia em 18/05/1961
Aventuras nos Mares do Sul (South Seas Adventure, 1958) - Estreia em 31/10/1961
Velas ao Vento (Windjammer, 1958) - Estreia em 23/03/1963

"Pelos títulos, dá bem para imaginar o que eram esse filmes de viagens. Depois, o formato se esgotou, não tinham mais filmes e, em 1966, o cinema foi reformado para exibir, em sua mesma tela gigantesca e curva, películas em 70 mm. (no princípio ainda mantendo o nome de Super-Cinerama), sem emendas, com um único projetor. Foi reinaugurado, em 20/08/1966, com o filme Uma Batalha no Inferno (Battle of the Bulge, 1965). Continuei assistindo ali a filmes exibidos ainda com exclusividade, em Super Cinerama, como Khartoum - A Batalha do Nilo (Khartoum, 1966), Nas Trilhas da Aventura (The Hallelujah Trail, 1965), Krakatoa - o Inferno de Java (Krakatoa East of Java, 1969), além de versões ampliadas, de 35 mm. para 70 mm., como Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956), por exemplo, entre muitos outros".
 
Frente do cine Comodoro na estréia do filme Terremoto

Em 1974, houve uma exibição que causou muita repercussão. O filme Terremoto (Earthquake) foi exibido com um sistema de som diferente, chamado 'Sensurround'. Tratava-se de um esquema especial de alto-falantes de baixa freqüência que era emprestado pelo distribuidor do filme. O sistema, que pode ser considerado o 'avô do sub-woofer', era tão poderoso, que provocou tremores no prédio onde se localizava o cinema e gerou reclamações dos moradores. O sistema só era usado nas cenas em que o terremoto estava acontecendo. Terremoto foi exibido exclusivamente no Comodoro e ficou em cartaz por quase 10 meses.

Em 1992, o fã-clube Frota Estelar Brasil, em parceria com a Paramount Pictures do Brasil, 'fechou' o Comodoro para a pré-estréia do filme Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida. Lá estiveram cerca de mil fãs devidamente uniformizados e fantasiados.

A projeção e a tela

O Comodoro foi construído com o que havia de melhor nos quesitos projeção e tela. A tela media 20 metros de comprimento por 7 de altura, com 146 graus de curvatura, em função do processo de projeções simultâneas do sistema Cinerama. Formada por um conjunto de inúmeras tiras de náilon, a tela ficava atrás de uma enorme cortina vermelha.

O cineasta Kleber Mendonça Filho descreve a impressão que se tinha ao ver o formato e o tamanho da tela, em seu texto 'Comodoro visitado antes do incêndio':

"... impossível não babar ao olhar para a cortina vermelha em camadas, fechada. A tela era mesmo tão curva, teria que olhar para trás, por cima dos ombros, para ver as pontas da tela, esquerda e direita. Você sentia-se cercado pela tela de cinema".

A tela do Comodoro e sua enorme cortina (Livro "Salas de Cinema de São Paulo")

Para a exibição dos filmes em Cinerama, o Comodoro era equipado com três projetores americanos de 35 mm. da marca Century (com lanternas Ashcraft Suprex) e mais um projetor de 35 mm. da marca Simplex (modelo E7) só para exibição de jornais e documentários nacionais (naquela época havia uma lei que obrigava os proprietários de cinema a exibi-los).

Ilustração de uma sala de projeção Cinerama

Os três projetores Century (cada um projetava em 1/3 da tela, para dar o efeito do Cinerama), depois de alguns anos, foram substituídos por dois fantásticos aparelhos da marca italiana Cinemecanica (modelo Vitória 10) que eram junto com os da marca Philips, os melhores projetores cinematográficos. Estes dois projetores exibiam em bitola de 70 mm. ou 35 mm.

O som

O som do Comodoro era simplesmente o que de melhor existia no mercado cinematográfico de exibição. Eram amplificadores Dolby Stereo (modelo CT 100).

Interior do Comodoro ainda em construção (Folha da Tarde, 28/07/59)

As caixas-acústicas, visíveis na foto, davam a impressão que eram enormes, mas na verdade eram alto-falantes (Altec 515) de 15 polegadas com 35 watts, somente. As sete caixas-acústicas, fixadas atrás da tela de projeção, tinham as laterais feitas com enormes chapas lisas de compensado, que aproveitavam a ressonância da caixa e com isso emitiam som de baixa freqüência, pois naquela época não existiam equipamentos para sub-woofer.

Em 25 de dezembro de 1985 é inaugurado o então mais moderno sistema de som Dolby Stereo do país, com o filme De Volta Para o Futuro.

A primeira reforma

A reforma iniciou-se em 03/09/1979 e o cinema ficou fechado por cerca de 90 dias, sob supervisão do arquiteto Ricardo Gresbach, que mexeu com tudo.

"Só vai ficar as paredes", anunciou o supervisor da CIC (Cinema International Corporation), Mariano Souto, empresa que administrava o cinema. Disse que, a falta de ar condicionado, o péssimo estado do piso e o estado lamentável dos banheiros, determinaram as obras, que absorveram 10 milhões de cruzeiros.

Mariano Souto anunciou, também, que a reforma previa revestimentos internos em gesso, novas poltronas, seis banheiros reformados, troca dos equipamentos de som e novas cortinas.

A reabetura foi no dia do Natal de 1979, com a exibição do filme O Sargento Pepper e Sua Banda (Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band).

De 70 mm. para 35 mm.

Em 1991, o Comodoro já projetava filmes em 35 mm. (cópia normal) e, após intervenção judicial, teve que modificar os escritos de 70 mm. da fachada. A projeção ocupava somente metade de sua grande tela, mas o som ainda continuava excelente. Uma das grandes produções exibidas neste período foi o filme Os Intocáveis, de Brian De Palma.

Mesmo assim, diante de tanto declínio, o gerente do Comodoro parecia ser um apaixonado pelo cinema, pois passou a fechar, novamente, as enormes cortinas que cobriam a tela e somente abri-las no início da exibição. Por um longo período, este 'culto' havia-se esquecido.

O fim do Comodoro

O jornal Folha de S. Paulo publicou em 24 de março de 1997:

Centro de São Paulo se despede de mais uma sala de cinema.
O tradicional Comodoro encerrou suas atividades ontem.

O cinema Comodoro, tradicional sala de projeção do centro da cidade, acaba de ser fechado. Ontem foi seu último dia de atividades. “Recebi ordens para fechar a sala no domingo, mas não sei o que aconteceu”, disse Roberto Antunes, coordenador da distribuidora de filmes Cinema International Corporation (CIC), em São Paulo.
 
Fachada do cinema em seu último dia de exibições (Veja São Paulo - 02/04/1997)

O incêndio

O jornal Agora publicou em 26 de agosto de 2000:

Fogo destrói antigo cinema Comodoro
Por Andréa Martins
O incêndio durou cerca de uma hora e pode ter sido causado por problemas na rede elétrica do cinema, disse o coronel Marques, do Corpo de Bombeiros do Cambuci.
 
Parte de trás do Comodoro (onde ficava a tela e platéia) em chamas

O fogo começou por volta das 19h15 de ontem nos fundos do cinema da avenida São João (região central), desativado desde março de 1997.

Ao todo, 21 carros do Corpo de Bombeiros e 90 homens participaram da operação. Segundo o coronel, toda a parte interna do cinema e o telhado foram destruídos. Ninguém ficou ferido.

Moradores dos blocos A e B do edifício Lucerna, que ficam em cima do cinema, disseram que desde o início da semana havia movimentação de pessoas fazendo limpeza no local. Segundo uma mulher, que não quis se identificar, o cinema foi comprado há dois anos pelos proprietários do Bingo Avenida São João, em frente ao cinema. Ela disse que o local foi invadido várias vezes por mendigos. 

Funcionários do bingo afirmaram que não havia nenhum responsável pelo estabelecimento no local.

Outros moradores do edifício disseram ter ouvido barulho de explosão. “Ouvi vários estampidos e barulho de vidros se quebrando”, afirmou o advogado João Ferreira, 60 anos, morador do prédio há dois anos.

Cada bloco do edifício tem 58 apartamentos. Muitos ficaram alagados com a ação dos bombeiros. “Minha casa ficou inundada”, contou Jéssica Emanuele, de 20 anos, moradora do 13º andar.

Mais fotos e informações do Comodoro no "Banco de Dados" do Blog.

* Cinerama - Para maiores informações sobre o Cinerama, acesse neste blog, os textos 'Maravilhas do Cinerama' e 'Não dá para esquecer o impacto que era entrar no cinema', de João Luiz Vieira ou clique aqui.

* Cinemascope - Lentes anamórficas são lentes que conseguem filmar uma cena panorâmica sem ter de mudar o tamanho do quadro. Utilizando-se lentes semelhantes no projetor, a imagem comprimida (estreitada para caber no quadro) é ampliada até a proporção 2.35:1, formando uma cena cuja largura é mais do que o dobro da altura. O coeficiente entre altura e largura de um filme normal, seja 8 mm., 16 mm. ou 35 mm., é de 1.33:1. A primeira utilização comercial dessas lentes se deu no início da década de 60, quando os técnicos da Fox desenvolveram o processo widescreen, empregando as lentes anamórficas inventadas, em 1927, por Henri Chrétien. O processo foi batizado de Cinemascope.

Texto atualizado em 20/08/2018

ESTE TEXTO PODERÁ SER REPUBLICADO À MEDIDA QUE SURGIREM NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE O CINE COMODORO.

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BIBLIOGRAFIA DO BLOG

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos com publicação autorizada e exclusivas para o blog dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.