Para quem como eu, anda diariamente por estes caminhos sinuosos da blogosfera há já alguns anos, o sentimento por vezes é de marasmo. Todos os dias as mesmas fotos, os mesmos textos, a mesma conversa, aqui e ali, mais do mesmo? Um 'dejá vu' constante.
Mas será que sendo nós tantos, mas tantos blogs, a diversidade não deveria ser o prato do dia? Pois na maioria dos dias sinto que não é. E lamento. Lamento pessoalmente e profissionalmente. E em blog próprio também, que isto de ter escrito mais de 1200 posts também esgota as ideias de qualquer um:)
Mas também sei que há quem rasgue com isso, e ainda bem, quem com os seus textos soltos e uma imaginação destravada, nos consiga por a todos a rir em frente ao ecrã do computador. Não são muitas pessoas, mas vou encontrando algumas e depois não as largo mais.
A Julieta Iglesias é uma dessas pessoas. Uma lufada de ar fresco nos meus dias, um riso bem-vindo, um tom irónico que só ela sabe dar aos seus posts. Um cão de loiça e uma Julieta. Imperdível.
Vejam aqui o blog dela (
http://afonso-ocaodeloica.blogspot.pt/) e leiam abaixo o post de hoje. E leiam os outros. Quem escreve assim é a Julieta e mais ninguém. Talvez o Afonso, não sabemos, mas para já ficamos com a Julieta:
...
"Hoje estou que não me aturam. E ontem já estava assim. E amanhã não sei.
A minha vida está naquele impasse merdoso: “E agora vou para onde?”
Na quinta-feira recebo um diploma. Mais um. Não que eu seja uma suprassumo diplomada. Aliás, a bem da verdade, os meus diplomas são uma coisa fascinante que eu tenho na vida mas que não me têm levado muito longe.
E eu não tenho sabido o que fazer com eles.
Ora ontem estava eu no talho a aguardar a minha vez, pacientemente, e a senhora a ser atendida dizia perentória.
“Veja lá isso, tire-me as orelhas ao coelho, não quero levar nada disso…”
- Ó minha senhora quais orelhas?
- Opá esses buracos… tire-me isso tudo!
- Os ouvidos?
Eu ria. O homem do talho esfrangalhava a cabeça do coelho. A mulher garantia que não levava para casa canais auditivos do coelho.
Hoje no carro contei este episódio ao Gil e conclui. O mais interessante do meu dia tinha sido a carnificina no talho. A cabeça do coelho trás, trás, trás, o homem do talho com o cutelo em riste e a senhora a debitar teoria sobre buracos e orelhas.
Preciso de um par de chinelos e de um pijama. Hoje ainda tenho que ir a casa estender camisas. Conto cozinhar almôndegas para o jantar. Com massa. Daquela que parece rabos de porcos. Os dias passam.
Estou outra vez no talho a rir-me. A rir-me. Que interessante é a minha vida. Se calhar devia ver televisão. Sempre me ria de alguma coisa com sentido ou sem sentido nenhum. As orelhas do pobre do coelho. E eu para ali a rir. “Olhe dê-me aí uma caixa de almôndegas sem orelhas”!
Um amigo da loja insiste em contar-me todas as virtudes e proezas dos seus filhos e da sua mulher, eu ali fico a ouvir, a ouvir, a ouvir, perco-me nos meus pensamentos de estendais e panelas e esfregonas…
- Viu ontem a minha filha na TVI? E anteontem na RTP?
Eu nem sei quem é a filha desta criatura que olha para mim espantada quando eu aceno que não, não vi, aliás nem a filha dele nem ninguém. Eu pouco vejo televisão. No máximo enlouqueço o Gil com o meu zapping frenético e concluo que não dá nada de jeito… OPÁ A QUE HORAS DÁ “OS PORTUGUESES PELO MUNDO”? Segui tudo e agora não sei quando dá e já não temos aquilo a gravar… aquilo é o MEO! Oh MEO Deus!
E eu no talho. E eu ao pé do fogão. E eu a estender roupa. Viu a minha filha? A brilhante e linda, a minha filha? E as orelhas do coelho! Tire-me isso tudo! Zapping, zapping, zapping e nada de jeito. Nunca nada de jeito.
Ai serei só eu com esta neura outunal “lá se foi o verão e agora vem o frio e mais um ano de trabalho que não motiva ninguém e pardais pardais pardais”? Serei? E o que faço eu com outro diploma? Zapping?
Ai gente… que neuuuuuuuuuuuuuuuuuura pá!"
Julieta Iglesias em 'Afonso, o cão de loiça e Julieta, a pessoa'