Contar uma história é difícil. Mas decidir-se sobre que história contar – dentre todas - é pior. Enfrentamos intensamente essa dúvida/escolha na época do roteiro do Xingu.
Claudio, Orlando e Leonardo Villas Boas são vidas, como se diz, maiores que a vida – vezes três. Com o agravante do tempo dilatado: 40 anos de ação na mata e no cenário político nacional. Considerando a ambição de abarcar tudo o que fizeram: desbravaram um pedaço enorme de Brasil, negociaram com presidentes, ministros e militares, lutaram contra latifundiários e políticos, fizeram o primeiro contato e cuidaram de alguns milhares de índios de mais de uma dezena de etnias. E, por fim, criaram um Parque Nacional do tamanho da Bélgica que é um paradigma na preservação da cultura indígena até hoje. Foram heróis – sem dúvida e acima de tudo.
Mas as ambições, delírios e tropeços desses heróis também renderiam filmes. E muitas vezes fomos nessa direção. Não foram poucos os tratamentos assentados em vulnerabilidades e contradições dos irmãos. Mas com o tempo, conforme íamos sendo mastigados pelo “processo”, foi parecendo meio infantil centrar uma narrativa de tamanho potencial no lado escuro dos heróis. Se “de perto ninguém é normal”, imagina quem compra uma briga do tamanho que Villas Boas compraram.
Venceu a versão que conta o feito, a aventura, a saga dos irmãos. Algo mais próximo do filme de ação feito por quem gosta de drama e personagem. O filme foi filmado de acordo com essa escolha - tal qual o roteiro.
Sala de montagem. Nos últimos meses, participei perifericamente de algumas sessões com Gus e Cao. Curiosíssimo. Estavam lá de novo todas as possibilidades: o filme mais denso, reflexivo; a saga histórica e política e o filme de aventura, de ação.
Diretor e Montador estavam de novo diante das questões que havíamos enfrentado no roteiro. O quanto era necessário explicar de política e história? O quanto devíamos mergulhar na densidade emocional dos irmãos diante da encruzilhada que foi desbravar o desconhecido e conspurcar a pureza do índio? Qual a medida de suas vidas pessoais na saga?
De novo venceu a vontade de ter um filme que, acima de tudo, nos deixasse grudados na tela esperando pelo próximo acontecimento. Que é sempre o jeito de trazer mais gente para dentro da história. E mostrar a história desses dois irmãos para o maior número de pessoas possível é o mínimo que se pode fazer. Porque são heróis. E são brasileiros. E porque pouca gente aquilata o tamanho de seu feito. E porque de quebra, os Villas Boas viveram um dilema espiritual dos bons.
Enfim, Xingu está saindo. Não vou enfileirar elogios porque não pega bem. Mas como parte dessa equipe sinto um orgulho enorme.
De resto, para quem gosta de escrever a sala de montagem é um lugar familiar. O que acontece ali é uma re-escritura.
Texto escrito por Elena Soarez, em 25/04/11.
Claudio, Orlando e Leonardo Villas Boas são vidas, como se diz, maiores que a vida – vezes três. Com o agravante do tempo dilatado: 40 anos de ação na mata e no cenário político nacional. Considerando a ambição de abarcar tudo o que fizeram: desbravaram um pedaço enorme de Brasil, negociaram com presidentes, ministros e militares, lutaram contra latifundiários e políticos, fizeram o primeiro contato e cuidaram de alguns milhares de índios de mais de uma dezena de etnias. E, por fim, criaram um Parque Nacional do tamanho da Bélgica que é um paradigma na preservação da cultura indígena até hoje. Foram heróis – sem dúvida e acima de tudo.
Mas as ambições, delírios e tropeços desses heróis também renderiam filmes. E muitas vezes fomos nessa direção. Não foram poucos os tratamentos assentados em vulnerabilidades e contradições dos irmãos. Mas com o tempo, conforme íamos sendo mastigados pelo “processo”, foi parecendo meio infantil centrar uma narrativa de tamanho potencial no lado escuro dos heróis. Se “de perto ninguém é normal”, imagina quem compra uma briga do tamanho que Villas Boas compraram.
Venceu a versão que conta o feito, a aventura, a saga dos irmãos. Algo mais próximo do filme de ação feito por quem gosta de drama e personagem. O filme foi filmado de acordo com essa escolha - tal qual o roteiro.
Sala de montagem. Nos últimos meses, participei perifericamente de algumas sessões com Gus e Cao. Curiosíssimo. Estavam lá de novo todas as possibilidades: o filme mais denso, reflexivo; a saga histórica e política e o filme de aventura, de ação.
Diretor e Montador estavam de novo diante das questões que havíamos enfrentado no roteiro. O quanto era necessário explicar de política e história? O quanto devíamos mergulhar na densidade emocional dos irmãos diante da encruzilhada que foi desbravar o desconhecido e conspurcar a pureza do índio? Qual a medida de suas vidas pessoais na saga?
De novo venceu a vontade de ter um filme que, acima de tudo, nos deixasse grudados na tela esperando pelo próximo acontecimento. Que é sempre o jeito de trazer mais gente para dentro da história. E mostrar a história desses dois irmãos para o maior número de pessoas possível é o mínimo que se pode fazer. Porque são heróis. E são brasileiros. E porque pouca gente aquilata o tamanho de seu feito. E porque de quebra, os Villas Boas viveram um dilema espiritual dos bons.
Enfim, Xingu está saindo. Não vou enfileirar elogios porque não pega bem. Mas como parte dessa equipe sinto um orgulho enorme.
De resto, para quem gosta de escrever a sala de montagem é um lugar familiar. O que acontece ali é uma re-escritura.
Texto escrito por Elena Soarez, em 25/04/11.
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