quarta-feira, 31 de outubro de 2012

R & C

Alguém me explica como é que estes acordos não estão devidamente explicados num relatório e contas?

"De salientar que as percentagens de direitos económicos referidas consideram a partilha de interesses
económicos com terceiras entidades, resultante de futuras alienações. Relativamente às situações de partilha
com a Benfica Stars Fund, os montantes recebidos aquando da celebração de contratos de associação de
interesses económicos são reconhecidos em resultados em função do período de contrato de trabalho
desportivo que os atletas mantêm com a Benfica SAD, conforme referido na nota 36.

Adicionalmente, foram estabelecidos compromissos com terceiros, nomeadamente clubes, agentes 
desportivos ou os próprios atletas, no sentido de repartir o valor de futuros ganhos que venham a ser obtidos 
com a alienação dos direitos desportivos de outros atletas detidos na totalidade pela Sociedade." link (pag 102)


Luis Sobral advogado do Diabo?

Onde andava o Luisinho quando a Sportv sonegava ângulos de imagens (ex: Cotovelada de Alan a Javi)?
Onde andava o Luisinho quando o Queirós da TVI analisava um muro de James como se fosse uma palmadinha amigável?
Agora é que se preocupa com a isenção das transmissões? E os anos de reclamações, por parte dos benfiquistas, de parcialidade da Sportv?


"(...) Fazer algo que soe a ataque à Olivedesportos gera aplausos na Luz e, viu-se, dá votos. Será também racional?
O presidente dos «encarnados» diz há muito tempo a mesma coisa: o clube merece receber mais pelos direitos. Oliveira já ofereceu mais, mas o líder benfiquista não acha suficiente. Pode ser estratégia negocial, legítima, ou início de revolução. (...)
Os próximos tempos serão, pois, fascinantes. Os clubes e a Liga estão a mexer no coração das receitas, no ponto fundamental do negócio. Com os riscos que isso acarreta, numa altura em que o mercado publicitário decresce a um ritmo assustador, as televisões compram muito menos e as tecnologias trazem novas oportunidades e desafios.
Para muitos emblemas, a dependência da tv ronda os 70 por cento. Pode ser que tudo acabe por ficar na mesma, apenas mais caro para a Olivedesportos. Mas também pode mudar, com consequências que ninguém consegue verdadeiramente antecipar. A hipótese de passar jogos na Benfica TV, a concretizar-se, obrigará também a rever a utilização que é feita das imagens televisivas em diferentes instâncias do futebol, da disciplina à arbitragem. Digo eu.
O Maisfutebol levantou o tema na última sexta-feira. Do meu ponto de vista, a Liga e a Federação estão obrigadas a olhar com lupa para os regulamentos de competições e disciplinar. Deixará de ser legítimo utilizar as imagens de jogos para tomar decisões, pelo simples facto de que o olhar deixará de ser neutro, distante, frio, igual para todos.
Eu sei que a minha opinião não será partilhada por muitos leitores. Mas também sei que já fiz mais transmissões de futebol do que a esmagadora maioria de quem me lê. E sei como se faz e conheço quem faz. Também sei que nada na prática atual dos clubes portugueses me leva a acreditar que algum dia poderão ser fontes justas e isentas. É contra a sua natureza, viciados em colocar o emblema antes do futebol.
Valia a pena começar a pensar sobre isto. É impensável que uma televisão de clube transmita jogos de uma liga profissional e os regulamentos e práticas não se alterem."

O sistema agita-se e os seus peões estão em campo.

O que tu queres sei eu......

Zon? Quem tem cú, tem medo.

"Portuguese soccer club Benfica - who plan to move the screening of league matches to their own Benfica TV - will be forced by the country's anti-trust authority to allow all national pay-TV operators to access the broadcasts, analysts say.
Benfica, which has the largest fanbase in Portugal, re-elected Luis Filipe Vieira as their president on Saturday after he pledged to move the broadcasting of league matches to the club's television channel to boost revenues.
The Lisbon club's move has made TV operators in the profitable business jittery given Benfica matches top television audiences in Portugal week in, week out.
In Portugal, around 70 percent of the broadcasting rights revenues estimated at around 75 million euros ($97.7 million) per season go to the so-called "big-three" soccer clubs - Benfica, Sporting and Porto.
As in neighbouring Spain, TV contracts in Portugal are negotiated on a club-by-club basis, unlike in the English Premier League and Italy's Seria A, where collective bargaining deals are struck.
Market analysts say the club's large viewing base means that, after matches move to Benfica TV, the club will not be able to negotiate TV rights with one pay-TV operator alone because it would violate fair-competition rules.
"We expect the anti-trust authority to step in and make sure the broadcasting of Benfica TV may be done by all pay-TV operators," analysts at BPI bank in Lisbon wrote in a research note on Tuesday, saying the regulator will force Benfica to give all five of Portugal's operators a fair chance to bid.
Many Portuguese football fans have expressed their unhappiness about there being no league matches on open channels this season, as they have to pay an expensive fee to watch them on specialised channels.
Benfica TV comes in cheaper cable TV packages offered by Portugal Telecom and Sonaecom, but the channel is not available in other operators.
Currently, one operator, Olivedesportos' PPTV, has the rights to all domestic professional football games and platforms. They are subsequently re-sold to Sport TV channel, jointly-owned by Olivedesportos entrepreneur Joaquim Oliveira and telecom company Zon.
In March, Benfica said no to a 111 million euros proposal from Olivedesportos for the broadcast of their home matches between 2013 and 2018.
Benfica and the anti-trust body were not available to comment. (Reporting by Filipe Alves, Writing by Daniel Alvarenga)"


Traduzindo, já estão a levantar a questão de os jogos só passarem no MEO, poder violar as leis de concorrência. O mesmo já se passou com a Sportv.

Mas há diferenças e um novo contexto:

  • A Sportv é um canal pago, o que não é o caso da BTV. Luís Filipe Vieira já disse que numa primeira fase o canal não seria pago. 
  • A Sportv não foi obrigada a ceder os direitos de um jogo semanal para transmissão em canal aberto, tal como obrigava a legislação
  • Uma batalha nos tribunais e reguladores pode demorar meses. Que impacto terá na ZON uns meses, ou um ano, de Benfica TV não paga e com 15 jogos do Benfica? 





Karma is a bitch e a Zon vai receber, com juros, os 2 anos de boicote que fez ao nascimento da BTV.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Porko antecipa as receitas da TV?

Não sou especialista em finanças, mas um artigo do BCool levantou uma duvida sobre a saude financeira da estrunfalhada corrupta:

"Para quem contesta a afirmação dos problemas de tesouraria, aconselho a ler o R&C com atenção e em especial na página 75 e perceber que o Porto teve que antecipar o recebimento das receitas de direitos de transmissão televisiva relativamente às épocas 2012/13 a 2014/15, bem como antecipar 8 Milhões de facturação relativamente aos direitos de transmissão televisiva que respeitam às épocas 2014/15 a 2017/18 para evitar que o prejuízo fosse tão elevado este ano. Mas mais, a 30 de Junho de 2012 o Porto devia a alguns dos seus atletas as remunerações de Maio, Junho e o Subsídio de Férias além de dever Prémios a Atletas isto tudo num montante de 6,4 Milhões de euros, entretanto regularizado, demonstrando um acréscimo de dificuldades, pois a 30 de Junho de 2011 apenas estava em dívida o mês de Junho."

Eu não encontrei nada na pag 75, mas na pag 94 do relatório consolidado encontrei isto:

"Em 30 de Junho de 2012 e 2011, as transacções com a entidade PPTV/Olivedesportos
relevadas na rubrica “Vendas e prestações de serviços” são justificadas pelo contrato de
cedência, em regime de exclusividade, dos direitos de comunicação audiovisual respeitantes
aos jogos em que a equipa principal da FCP – Futebol, SAD dispute, na condição de visitada,
para a I Liga de Futebol Profissional bem como os direitos à exploração comercial da
publicidade estática e virtual referentes a tais espectáculos, assinado entre as partes. Por seu
turno, o saldo registado na rubrica “Outros passivos correntes e não correntes” em 30 de
Junho de 2012 corresponde, essencialmente, ao adiantamento recebido pela Sociedade da 
referida entidade relativamente aos direitos acima  referidos aplicáveis à época 2012/13 e 
2013/14, assim como a facturação antecipada à mesma entidade relativa a direitos de 
transmissões televisivas para as épocas 2014/15 a 2017/18 (Nota 21)."

Estaremos a assistir ao estrebuchar do porko?

Quem melhor para entregar os dragões de oiro?

Do que o ministro Relvas? Está sem dúvida ao nivel da cerimonia.



Olha que bonita imagem. E como sempre a fruta em posição de destaque. O Durão não tem vergonha?

E nesta o Oliveira já assume a sua posição actual, foi jogado para canto. :)


domingo, 28 de outubro de 2012

JJ e a imprensa

JJ devia ser proibido de falar com a imprensa. Cada declarração do homem é uma facada na politica de comunicação do clube.

Destaco nesta conferencia de imprensa as seguintes pérolas:
- "Jogador que tem qualidade, marcha lá para fora."
     Os que ele treina não têm qualidade?
- "O presidente pode fazer planos a 4 anos, eu já não sei se vou estar cá."
     Mas ele acha que é assunto para se discutir com a imprensa?


Tão inteligente para treinador, tão burro para o resto. Fecha a boca crl!! Nem para colher louros.....fdx.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Comunicado Histórico

E aí está o que a maioria dos Benfiquistas esperavam, o comunicado que dá um golpe de morte no polvo.



COMUNICADO
A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, em cumprimento do disposto no artigo 248º do Código 
dos Valores Mobiliários, vem informar que:

1) Confirma que teve propostas concretas para a aquisição dos direitos de comunicação 
audiovisual dos jogos disputados pela equipa profissional na competição principal da Liga 
Portuguesa de Futebol Profissional, tendo inclusivamente rejeitado a última proposta que 
recebeu, conforme comunicado do dia 6 de Março de 2012;

2) Confirma que entre Abril e Julho de 2012 foi desenvolvido um estudo por uma consultora 
internacional sobre modelos alternativos de  exploração de direitos televisivos, tendo-se 
concluído este processo em 14 de Julho de 2012;

3) Este estudo teve como base 4.523 inquéritos a Sócios do Sport Lisboa e Benfica e 1.752 
inquéritos a adeptos (não sócios) do Clube;

4) As conclusões do estudo  consideram a possibilidade da não alienação dos direitos de 
transmissão televisiva e o seu exercício por meios próprios.

5) Em função do contexto externo e interno do mercado de direitos televisivos,  considera o 
Conselho de Administração desta Sociedade, como solução mais adequada à defesa dos 
interesses dos seus Accionistas, assegurar a transmissão dos referidos direitos pelos seus 
próprios meios, ou seja, através da Benfica TV.

O Conselho de Administração
Lisboa, 25 de Outubro de 2012

Entrevistas (VIII)


Domingos Soares Oliveira: "A marca Benfica vale entre 250 e 300 milhões de euros"
O administrador executivo da SAD do Benfica estimou hoje que a marca Benfica valha actualmente "entre 250 e 300 milhões de euros" e assegura que o valor desta a coloca "entre os 20 maiores clubes do mundo".
"É o único clube que, em valor de marca, se intromete entre os grandes das cinco maiores ligas da Europa", disse Domingos Soares Oliveira, em entrevista à BenficaTV, durante a qual revelou que "o endividamento do Benfica clube à Banca é, neste momento, de zero euros" e enfatizou "a solidez da SAD, uma fortaleza que é a âncora" do Benfica. 

O dossiê sobre os direitos televisivos foi um dos temas abordados por Domingos Soares Oliveira, que admitiu renovar o contrato em vigor até 2013 com a Olivedesportos, desde que esta "reconheça o valor da marca Benfica", apesar da investida de um novo grupo, do qual emergem os nomes de Rui Pedro Soares e Emídio Rangel, que pretende adquirir esses direitos. 

O dirigente benfiquista disse estar reconhecido à Olivedesportos, por ter "dado a mão ao clube numa altura difícil", em 2003, o que permitiu "resolver vários nós", mas a renovação contratual terá de passar por um valor não inferior a 40 milhões de euros/ano. 

"Hoje em dia a situação é muito vantajosa para a Olivedesportos e o que pedimos é o reconhecimento do nosso valor", observou Domingos Soares Oliveira, conhecedor das receitas que a aquela empresa gera, tendo em conta que "tem 700 mil subscritores, pagando cada um deles vinte e tal euros por mês, o que dá uma ideia". 

Recorda que nos grandes clubes europeus os direitos televisivos ascendem a 40% das receitas globais, enquanto no Benfica não vai além dos 3%, o que considera "ridículo", mas faz notar que cabe à Olivedesportos a prerrogativa de cobrir qualquer proposta decorrente de um direito de preferência. 

A propósito da grandeza do Benfica, o administrador da SAD revela que o actual número de sócios do clube "é de 230 mil" e assume que o objectivo proposto pelo presidente Luís Filipe Vieira de atingir os 300 mil sócios "é exequível". 

Faz mesmo uma confidência a propósito desse objectivo: "Quando o presidente (Luís Filipe Vieira), na conferência de imprensa da apresentação do novo kit e cartão de sócios, em 2005, após a conquista do título, afirmou a meta dos 300 mil sócios, deitámos todos as mãos à cabeça". Lembra que o Benfica tinha nessa altura "95 mil sócios e que a média entre 1990 e 2005 oscilava entre os 90 e os 100 mil sócios". 

Acerca do trabalho desenvolvido pelo sector da formação, Domingos Soares Oliveira fornece alguns dados para o atestar: "Temos 27 atletas que são internacionais, seis jogadores que assinaram recentemente contrato com o Benfica como profissionais e pretendemos ter, todos os anos, um ou dois jogadores provenientes da formação a entrar na equipa principal". 

O dirigente "encarnado" falou ainda dos frutos que esse trabalho pode dar em prol do futebol português: "Aqueles que não tiverem capacidade para jogar no Benfica, poderão fazê-lo noutras equipa da Liga principal e assim alimentar o futebol português".

Entrevistas (VII)

- Entrevistas concedidas ao Diário Económico  em Outubro de 2009

Pedro Sousa Carvalho e Sandra Almeida Simões

Em entrevista ao Diário Económico, o presidente do Benfica fala sobre o treinador, a venda de jogadores e as acções em bolsa.

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o administrador da SAD, Domingos Soares de Oliveira, estiveram duas horas à conversa com o Diário Económico. Contas, futebol, jogadores, novo fundo, bolsa e o futuro do clube foram os grandes temas abordados ao longo da entrevista.





O Benfica ultrapassou a meta dos 200 mil sócios. Qual é agora o objectivo e em quanto tempo pretendem alcançá-lo?
Luís Filipe Vieira: A estratégia utilizada, desde que chegámos a esta casa, está focada nos sócios do Sport Lisboa e Benfica. Pensamos que iremos conseguir cumprir o novo objectivo que é atingir os 300 mil sócios.

Tem algum objectivo definido em termos de ‘timing' para atingir os 300 mil sócios?
LFV: Não tenho uma meta temporal, apenas o objectivo final. Confesso que tinha uma determinada expectativa que não foi cumprida. Gostaria de estar já a celebrar os 300 mil, mas fui demasiado ambicioso. Agora, alcançámos os 200 mil sócios, o que não deixa de ser notável. Não em seis ou sete meses. Sinceramente não sei em quanto tempo, mas da forma como a equipa se está a aproximar dos sócios chegaremos lá em breve.

Destes 200 mil sócios, quantos são pagantes?
LFV: Mais de 60% têm débito directo. E fomos o último clube a fazer uma remuneração de todo o universo de sócios. Foi em 2005. Isso significa que todos aqueles que já não reuniam as condições foram "limpos" da base de dados.

Como estão as negociações para o ‘naming' do estádio? 
Domingos Soares de Oliveira: Continuamos em negociações. Ainda não está fechado o processo. Este é talvez o projecto mais difícil em termos de venda.

Difícil porquê? 
DSO: Difícil porque é um valor elevado, embora não seja mais caro do que as camisolas. Enquanto o patrocinador das camisolas tem uma visibilidade diária, o patrocinador do estádio não tem essa mesma visibilidade. Continuamos com propostas activas e acreditamos que, a curto/médio prazo, vai ser possível fechar esse patrocínio.

E estamos a falar de empresas nacionais que já apresentaram propostas?
DSO: Estamos mais a falar de empresas internacionais, do que nacionais. Sim, já apresentaram propostas. Para uma empresa internacional, a sua associação ao Benfica é muito forte. O melhor exemplo é o caso da Repsol. A frota de clientes/sócios do Benfica é hoje o primeiro, ou o segundo, melhor cliente da Repsol.

E quais são as grandes prioridades para este mandato?
LFV: A herança que recebemos foi muito pesada. Ainda hoje temos de responder por erros e irresponsabilidades de um determinado período da nossa história. Durante a campanha eleitoral, assumi que a prioridade seria a vertente desportiva. Queremos deixar o museu concluído e fazer a revisão de estatutos.

A casa está arrumada?
LFV: Sim, a casa hoje já está arrumada. O que nos tem faltado são os resultados desportivos, sobretudo porque tínhamos outras prioridades.

Está de tal forma apetecível, que receia uma nova Oferta Pública de Aquisição?
LFV: Não, não receio. O maior accionista da SAD Benfiquista vai ser sempre o clube. Esse perigo não existe.

Noutras SAD, o presidente é bem remunerado. No Benfica, o presidente não é pago. Qual é a lógica?
DSO: Nenhum dos Órgãos Sociais eleitos pelos sócios é remunerado. É a lógica de quem serve o Benfica, serve com espírito de missão e não de qualquer remuneração. E não creio que haja intenção de alterar essa situação.

As goleadas já estão a reflectir-se nas receitas de bilheteira?
LFV: As receitas de bilheteira são compostas por duas vertentes. Aquilo que são as receitas dos bilhetes de época, cativos e camarotes cresceu face aos últimos anos. E depois temos uma segunda vertente de jogo a jogo que, tipicamente, é mais comprado por adepto do que por sócio. Nesta vertente, estamos com o triplo da facturação, em relação ao ano passado. No campeonato nacional e nas competições europeias estamos com o volume de receitas 30% acima do valor do ano passado.

Os resultados de amanhã vão ser elucidativos da ausência de venda de jogadores?
LFV: Os resultados vão reflectir a estratégia. Para além disso, se uma liga dos Campeões vale cerca de 15 milhões de euros... é uma questão de fazer contas. Mas repito, sabemos exactamente o terreno que estamos a pisar. A conta de resultados será influenciada de forma significativa mas, do ponto de vista financeiro, temos a capacidade para aguentar esse impacto de não vender jogadores. Toda a gente reconhece que os activos, os jogadores, valem muitíssimo mais hoje do que valiam há um ano atrás.

Durante dois anos?
LFV: Durante dois, se for necessário. Se isso é algo que queremos manter ‘ad eternum', depende também do que queremos fazer em termos de investimento. Hoje temos o melhor plantel dos últimos anos.

Quando vão dar lucros?
DSO: Evidentemente que não vamos dar prejuízos ‘ad eternum'. Acreditamos que conseguiremos voltar aos lucros e ter os capitais recompostos no espaço de três ou quatro anos.

Quando conseguirão ter os capitais próprios repostos?
LFV: A meta definida é o ano de 2013. E este projecto desportivo tem de ser sustentado ao longo dos próximos três a quatro anos. Se conseguirmos renegociar os contratos, colocamos o Benfica num patamar completamente diferente.

A crise financeira também teve impacto no Benfica?
LFV: Teve impacto no Benfica, como em todo o lado. Mas apesar de tudo não nos podemos queixar muito. Como em qualquer outra empresa, tivemos maior dificuldade de acesso ao crédito. Posteriormente, reflectiu-se também no aumento dos ‘spreads'. Já do ponto de vista de receitas, não sentimos impacto. Assinámos contratos, que melhoraram os valores que vinham do passado. O potencial de valorização da marca Benfica foi positivo.


Pedro Sousa Carvalho e Sandra Almeida Simões 

O Benfica retirou jogadores do Stars Fund por considerar que o fundo foi subavaliado. 

Não se deve comprar acções dos clubes desportivos à espera da valorização ou dos dividendos. É o conselho de quem gere a SAD mais valiosa da bolsa.

Recentemente lançaram o Benfica Stars Fund. Quem são os subscritores?
Luís Filipe Vieira: Não temos conhecimento dos subscritores. Não escondemos que apresentámos as características aos principais parceiros, não só os financeiros, mas também às empresas que trabalham muito com o Benfica.

O Benfica quanto subscreveu?
Domingos Soares de Oliveira: Nós subscrevemos seis milhões. Somos os principais interessados no êxito do fundo.

Qual é a lógica de vocês próprios investirem num fundo que estão a usar para melhorar as receitas?
DSO: É uma lógica de compromisso perante os restantes parceiros. O êxito do fundo será o êxito da Benfica SAD. Estamos perfeitamente convencidos que os jogadores que estão no fundo têm um potencial de valorização. É nosso interesse que as vendas se concretizem.

Consideram o lançamento do fundo um sucesso?
LFV: Sem dúvida. O nosso objectivo era colocar os 40 milhões de unidades de participação. Era determinante que esse fundo estivesse sediado em Portugal, sob a supervisão da CMVM, independentemente dos nossos problemas ou dos problemas das SAD com o regulador. Mas também sabíamos que seria um processo extremamente complexo de aprovação.

Foram feitas sugestões por parte da CMVM?
DSO: Foi pedido um conjunto de alterações, todas acatadas.

O montante vai para onde?
DSO: Esse ‘cash' que de alguma forma cativámos serve para reduzir passivo e para ajudar o Benfica a criar condições para continuar os investimentos.

Faz sentido pensar noutro instrumento que esteja disponível para institucionais e para adeptos ou sócios?
DSO: Chegámos a estudar, já há algum tempo e em conjunto com um dos nossos parceiros, a possibilidade de fazer um fundo aberto aos adeptos. A mecânica é diferente porque implica que o produto esteja disponível aos balcões dos bancos. Pode ser feito, mas neste momento não está a ser equacionado.

O que é que garante que este Fundo vai ser rentável?
LFV: Actualmente, sete ou oito jogadores do clube são dos mais assediados na Europa. Alguns estão no fundo, outros não.

Quem faz a avaliação dos jogadores no Fundo?
DSO: Nós avaliámos os jogadores e determinámos as percentagens. Houve uma negociação com os avaliadores independentes. Não concordaram com a maioria das avaliações. Como o Benfica entendeu que a avaliação de alguns jogadores era baixa, retiram-se vários jogadores do Fundo. O valor é mais de compra do que de venda.

O Benfica foi pioneiro na criação do fundo e criticado, por exemplo, pelo Sporting, que entretanto também pondera lançar um. São indiferentes à crítica?
LFV: Aceitamos a crítica construtiva, ignoramos a crítica ressabiada. Quanto a esta, há uma indiferença total. Ficamos muito felizes que venham atrás de nós. Em relação ao Fundo, acredito que, obrigatoriamente, vão seguir esse caminho. Do ponto de vista financeiro, também inovámos nos patrocínios. Em alguns casos foram mesmo pressionar os patrocinadores que estavam com o Benfica.

Qualquer uma das SAD tem uma liquidez residual. Faz sentido continuar cotadas em bolsa?
DSO: Do ponto de vista técnico, faz. Porque uma entidade que emita papel comercial ou um empréstimo obrigacionista, tem de estar sob a supervisão da CMVM. Do ponto de vista dos investidores, sentimos que os accionistas têm acções por uma questão emotiva, de ligação ao clube e paixão, mais do que para ganhar dividendos ou encaixar com a valorização dos papéis.

O Benfica estreou-se na bolsa a cinco euros. Agora estão a cerca de três euros. É possível recuperar o valor inicial?
DSO: Nós não conseguimos responder a essa questão. Passados uns meses da estreia, publicámos os melhores resultados de sempre de uma SAD, lucros de cerca de 20 milhões e o preço da acção não mexeu. Portanto, a questão passa por aquilo que será preciso fazer para a acção regressar aos cinco euros.

Mas acha que não há muita lógica no sobe e desce das acções?
DSO: Muito honestamente, não há lógica. É um investimento mais emocional.

O presidente tem uma participação no capital. Não costuma comprar, nem vender acções?
LFV: Não compro, nem vendo. A posição está lá parqueada. É o que tenho e já não é tão pouco quanto isso. Comprei para preencher um determinado capital necessário, não com a ideia de fazer mais-valias. Aliás, comprei as acções a cinco euros e hoje estão bastante abaixo disso.



Pedro Sousa Carvalho e Sandra Almeida Simões 

Luís Filipe Vieira quer ganhar o campeonato, a Taça e chegar aos quartos-de-final da UEFA. 

O treinador do Benfica está de pedra e cal, quem o garante é o presidente do clube, Luís Filipe Vieira. Nem o facto de Jorge Jesus estar a aprender inglês preocupa o presidente que diz que o futebol no Benfica ainda não atingiu o máximo.

Quais são os objectivos desportivos para esta época?
Foram definidos em reunião de quadros do Benfica. Na equipa principal, queremos ganhar o campeonato nacional, conquistar a Taça de Portugal e chegar aos quartos-de-final da UEFA. No futebol de formação e nas modalidades queremos ganhar os dois campeonatos.

Jorge Jesus foi contratado por dois anos e mais um de opção. Tendo em conta o arranque da época, antecipa a prorrogação do vínculo na terceira época?
Acabámos agora de fazer um contrato com ele. Temos um longo caminho a percorrer. Não há necessidade de, neste momento, estar a pensar nisso.

Ainda é cedo para falar em renovação de contrato?
É cedo para nós e para ele. Logicamente estamos muito satisfeitos. Penso que foi a opção certa para o Sport Lisboa e Benfica.

Pelo menos, o vínculo da terceira época será accionado?
Não tenho dúvidas que será treinador do Benfica por muitos anos. A sua ambição representa a nossa ambição e a sua dedicação e competência são reconhecidos por todos, portanto, as condições para ele fazer um percurso de longa distância nesta casa estão reunidas. Nós temos um mandato de três anos e pelo menos nesses ele estará aqui.

Preocupa-o que o treinador Jorge Jesus esteja a aprender outra língua?
Não, não me preocupa minimamente. Conheço bem o Jorge Jesus. Sei a relação que temos com ele. E estou muito descansado. O inglês é um factor de valorização e não necessariamente de exportação. Hoje comanda muitos jogadores sul-americanos, o espanhol é fácil de entender e falar mas, no futuro, podemos ter jogadores ingleses.

Se for campeão, acha que consegue segurar o treinador no Benfica? 
Já disse que Jorge Jesus ficará no Benfica por muitos e bons anos.

É possível manter este tipo de registo, de grandes goleadas, por muito mais tempo?
O que o nosso treinador nos transmite é que ainda não atingimos o máximo. Ainda estamos longe de atingir o máximo e, tal como ele diz, ganhar por um ou por seis garante na mesma apenas três pontos. Mas se pudermos ganhar por seis é melhor! Mas é importante avisar que haverá momentos em que vamos encontrar maiores dificuldades e não poderemos baixar o apoio à equipa.

Rui Costa pode tornar-se num bom presidente do Benfica?
Neste momento, o Rui Costa tem uma missão a cumprir e o futuro é sempre um espaço em aberto. O Rui terá de decidir se um dia quererá ser presidente do Benfica. O projecto que tem entre mãos é ser director desportivo do Sport Lisboa e Benfica e administrador da SAD. Nesta altura, está rodeado por um grupo de excelentes profissionais com quem está a aprender muitas coisas. Está a crescer. Depois, dentro de alguns anos, é uma opção que terá de ser ele a tomar.

A arbitragem é sempre um assunto polémico...
Já disse tudo o que tinha para dizer em matéria de arbitragem. Decidimos que esta época não falaríamos de arbitragem e é uma postura que pretendo manter.

Casos como o Apito Dourado mancham a imagem do futebol nacional?
É evidente que não o valorizam. Mas não é um caso exclusivo do futebol português. O que é necessário é garantir que o que sucedeu no passado - creio que hoje ninguém tem dúvidas do que sucedeu, apesar de algumas decisões judiciais - não se repita. Mas não quero voltar a esse dossier.

O Benfica é o segundo clube que mais paga em termos de salários e prémios. Como descreve a política salarial do clube?
No próximo exercício a política salarial deve ficar estável, mas no exercício de 2008/2009, face ao exercício 2007/2008, subiu, sobretudo, por força da rescisão da anterior equipa técnica.

Em relação ao Nuno Gomes, já tem um papel definido para o futuro dele no Benfica?
O Benfica tem uma ligação contratual com o Nuno Gomes. São mais dois anos de contrato. Depois, não sei o que vai suceder. Agora há uma coisa que podemos garantir: qualquer jogador que seja quadro do Benfica não pode pensar que quando acabar o contrato vai ficar dentro do SLB. É verdade que o Nuno Gomes é uma figura do SLB, mas na altura própria logo vamos pensar nisso. Não vale a pena antecipar cenários.

Qual é o racional de manter Mantorras no plantel? É uma estratégia de ‘marketing'?
Não é uma estratégia de ‘marketing'. Ele próprio já assumiu comigo que não vestirá mais nenhuma camisola sem ser a do Benfica. Vai terminar a sua carreira no Benfica. Tem um contrato com o Benfica. Vamos respeitar esse contrato.


Pedro Sousa Carvalho e Sandra Almeida Simões 

Segundo as contas da SAD, basta vender seis jogadores para cobrir todo o passivo bancário. 

Luís Filipe Vieira garante que o Benfica "não está vendedor, mas comprador", mas ainda assim admite a venda de um jogador. Quanto ao negócio, revela ainda que a incorporação do Estádio na SAD será apresentada na próxima assembleia-geral, marcada para 19 de Novembro.

O investimento é uma estratégia assumida esta época?
LFV: Esta época e a anterior. Desde que o entrei na SAD em 2001 foi tomada uma primeira opção estratégica que condicionou todas as outras, a construção do Estádio. Digo que condiciona todas as outras, porque custou - com todas as infra-estruturas adjacentes - 160 milhões de euros e obviamente que a vida do Benfica do ponto de vista financeiro passou ser regulada pelo cumprimento do Project Finance associado.

Ainda é possível melhorar os patrocínios?
DSO: É. Falta vender o ‘naming' do Estádio, que pode ser complementado com a melhoria do patrocínio das camisolas, das bancadas e dos pavilhões. As receitas de quotização estão a subir. Passar de 200 mil para 300 mil sócios, na prática significa cerca de sete milhões de euros.

Estão disponíveis para investir mais?
LFV: Ainda estamos disponíveis para investir mais nesta equipa em termos de jogadores, essa é uma garantia que posso deixar. Os investimentos começaram mais estruturadamente em 2008 e continuaremos até 2010.

Consideram que de alguma forma estão a hipotecar ou a diminuir a margem de manobra da próxima direcção?
LFV: Pelo contrário. Quando chegámos a esta casa já estava tudo hipotecado. Agora, há um futuro e risonho. Para terem uma ordem de grandeza, imaginem que queríamos cobrir o passivo bancário. Garanto que bastava vender seis jogadores e cobríamos o passivo bancário.

É difícil não cair em tentação?
LFV: De facto as propostas são tantas que vamos ter de saber resistir, porque o nosso objectivo passa por ganhar o campeonato e isso só se consegue mantendo os nossos activos, mas admito que iremos vender um jogador. Vou-lhe dar apenas um exemplo de valorização - e não estou a dizer que o vamos vender - o caso de Di Maria, que está avaliado em 22 milhões de euros no Fundo. E ainda ontem soubemos quanto vale Di Maria no mercado e posso garantir que vale muito mais.

É uma gestão financeira que se consegue mesmo sem ir à liga dos campeões?
DSO: O nosso plano prevê que o Benfica eventualmente não vá à Liga dos Campeões todos os anos, mas tem todas as condições para estar regularmente na Liga dos Campeões. O plano aguenta isso. Agora pode colocar-se a questão ao contrário: será que todos os planos de todas as sociedades aguentam não ir, eventualmente, um ou outro ano à Liga dos Campeões?

Para quando a incorporação do estádio na SAD?
DSO: A intenção é apresentar essa operação aos sócios e accionistas das duas instituições entre Novembro e Dezembro.

Em 2013 terão outro tipo de receitas?
DSO: Sim, relacionadas com os direitos televisivos. Daqui até lá, teremos de pontualmente procurar as melhores soluções. A solução da venda de jogadores é uma possibilidade. Os contratos que vão terminar nessa altura, como o das camisolas, a Adidas, a própria situação do contrato do nosso canal, serão alvo de negociação, não será global, mas faseada. Tudo isso será alvo de uma negociação que será desenvolvida neste mandato. 

Entrevistas (VI)


Sábado, 18 de Outubro de 2008

Entrevista de Domingos Soares Oliveira


Entrevista concedida ao Jornal Público (
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Domingos Soares Oliveira, administrador da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Benfica, trocou em Maio de 2004 a consultoria pelo futebol. Diz que a sua origem sportinguista foi “uma questão explorada por algum tipo de oposição”. “O que me faz vibrar no Benfica é o mesmo que faz vibrar qualquer benfiquista”, diz este gestor, para quem o clube recebe muito pouco pelos direitos televisivos e tem nos sócios o seu principal activo.

Os direitos da Liga portuguesa estão vendidos até 2012/13. É garantido que o Benfica não renovará contrato com a Olivedesportos depois dessa data?
Essa é uma questão estratégica, que dependerá do que a próxima administração da Benfica SAD vier a tomar como decisão. O próximo mandato ocorre entre 2009 e 2012 e é nesse período que certamente será negociada ou não a renovação do contrato com a Olivedesportos. Não há nenhuma decisão fechada em relação a esse assunto, mas uma coisa é certa: tendo em conta todos os estudos que faz, seja em mercados internacionais ou nacional, seja associado às receitas que os seus jogos geram, o Benfica tem intenção de no futuro melhorar muito significativamente o contrato que tem neste momento. O Benfica recebe 7,5 milhões de euros por ano até ao final do contrato e recebeu um prémio de assinatura que fará com que estes valores possam chegar aos oito milhões de euros. Isto é manifestamente pouco. A média nos clubes europeus é de 50 por cento do total de receitas. O Benfica tem um total de receitas, sem venda de jogadores, entre 80 e 100 milhões de euros.

Portanto, o valor justo seria 40 milhões?
O valor justo seria 40 milhões. Depois poderia dizer-se que o investimento publicitário no mercado português é mais baixo. Podemos ter isso em consideração, mas não é certamente os 7,5 milhões que recebemos neste momento.

Esse valor não será alterado até 2013?
O presidente Luís Filipe Vieira tem sempre dito que os contratos são para respeitar. Se houver vontade do actual detentor dos direitos de propor uma renegociação, não deixaremos de olhar para ela. O Benfica manifestou n vezes o seu interesse em receber mais pelo contrato, mas não é por queremos mais que temos direito a isso.

De que maneira pensa que a crise financeira vai afectar os clubes portugueses?
Não conheço a situação dos outros clubes, mas no caso do Benfica ainda não sentimos isso com as assistências. Em todos os jogos até agora superámos aquilo que tínhamos previsto do ponto de vista orçamental. Também é verdade que tivemos grande jogos até agora, quer na pré-época (Feyenoord e Inter), quer nas competições europeias (Nápoles), quer no campeonato (FC Porto e Sporting). Até agora não sentimos esse efeito. Na adesão aos camarotes sentimos algum efeito ligeiro, mas mais por o Benfica não disputar a Liga dos Campeões. A adesão foi de 90 por cento, um pouco abaixo dos últimos anos, que andava nos 93 a 94 por cento. Podemos é sentir daqui para a frente, mas não vai afectar esta época, porque a receita de bilheteira está praticamente cumprida, porque se cumpre com os grandes jogos.

Há maior risco de impacto no crédito, nas transferências de jogadores ou na publicidade?
O Sporting inverteu um pouco a tendência, mas o Benfica nos resultados que vai apresentar não tem um impacto muito severo da não venda de jogadores. No exercício anterior, em 2006/07, o Benfica apresentou cerca de 15 milhões de euros de lucro, o que foi mais ou menos equivalente ao que obtivemos à venda de jogadores. A dependência extrema que outros clubes têm para equilibrar as contas não existe no nosso caso. Quando surgem boas oportunidades, temos feito alguns bons negócios, que permitem melhorar capitais próprios, ma não é necessidade absoluta para equilíbrio de contas. Todos os clubes vendem jogadores, mas o Benfica aguenta mais um ano se as condições não forem propícias. No crédito, temos sofrido como todos com as variações dos juros, mas o peso dos encargos financeiros é mais baixo do que noutros clubes. O que sentimos dos nossos parceiros é alguma tranquilidade. Nas transferências, os clubes mais pequenos, que se relacionam com Benfica, Sporting e FC Porto, acredito que não terão grandes problemas. Os clubes maiores que estão muito dependentes dos mercados italianos e, particularmente, inglês, poderão ter um pouco mais de dificuldade, mas isso é uma questão de diversificar.

Uma das questões de que se tem falado é a imposição de tectos salariais. Concorda?
Quando se tenta impor tectos salariais é porque não se confia a gestão que os responsáveis do clube fazem. O tecto salarial é um recurso, mas não é uma medida de gestão estratégica. Do lado do Benfica, e este ano a folha salarial aumentou ligeiramente, mantém-se em valores muito abaixo da recomendação do antigo G-14, que era ter uma massa salarial à volta de 50 a 55 por cento das receitas. O nosso total de receitas é 80 a 100 milhões e a massa salarial é inferior a 30 milhões. Haverá clubes em que se segue uma estratégia de maior risco e se os mercados se retraírem pode trazer problemas.

Olhando para o mercado português, qual é o limite que um clube poderá pagar?
Julgo que a questão não se deve colocar assim. Até pelo que li recentemente numa entrevista do presidente do Sporting, a capacidade que o Sporting tem não será idêntica à do Benfica. Além disso, há clubes que têm 20 a 25 jogadores e outros tem 60 jogadores. Sei que há jogadores que têm custos de dois a três milhões de euros por ano, mas é muito diferente se esse jogador custou 20 milhões ou chegou a custo zero.

Sócios investem 12 a 14 milhões de euros por ano

O Benfica fez dois empréstimos obrigacionistas. Tem mais alguma operação do género?
As duas operações correram bem. Esta última, em 2006, foi um sucesso, porque a procura foi praticamente o dobro daquilo que foi disponibilizado ao mercado. A procura foi de 39 milhões e disponibilizamos 20 milhões. É natural que continuemos com a política de disponibilizar aos adeptos do Benfica este tipo de instrumentos, que têm remunerado razoalvelmente bem quem investe no Benfica.

As acções do Benfica na bolsa estão abaixo de metade do preço de lançamento. Está satisfeito com o comportamento na bolsa?
Não estamos satisfeitos. Quem investiu cinco euros há sete ou oito anos e neste momento vê as acções a valer pouco mais de dois euros, não podemos estar satisfeitos. O comportamento das acções do Benfica não tem correlação directa com os resultados da empresa. Em Outubro do ano passado, divulgámos um resultado recorde do Benfica, com cerca de 15 milhões de resultados positivos, e a acção não mexeu. O que influencia o valor da acção é muito mais emotivo e muito menos racional. Creio que haverá um momento de maior maturidade, em que os mercados vão valorizar mais o que a empresa vale e não tanto os resultados de a bola bater na trave.

Já ouvi colegas seus da SAD dizer que é sempre uma possibilidade retirar as acções da bolsa. É realmente uma hipótese?
Os clubes ingleses já passaram por este processo. Em termos teóricos, não podemos rejeitar esse cenário. No caso concreto do Benfica, não estamos perto disso acontecer, até porque um dos nossos maiores activos são os sócios do Benfica. Todos os anos investem, sem qualquer retorno, 12 a 14 milhões de euros e não pedem um dividendo financeiro. Só querem um dividendo emotivo. Isso é único em termos nacionais. A dez anos de distância, significa que temos um accionista que investe 130 ou 140 milhões de euros e que nada pede em troca. É uma situação incomparável termos tantos sócios activos: 177 mil. Há naturalmente sócios, como os infantis que não pagam quota, e sendo a quota média à volta dos 100 euros.


O Benfica fez um investimento à volta de 25 milhões de euros e ainda tem no plantel, por empréstimo ou sem ter comprado a totalidade do passe, jogadores considerados caros, como Reyes e Suazo. Como surgiu esta capacidade?
Não há assim uma diferença tão grande entre o que investimos este ano e nas épocas anteriores. Em temporadas anteriores, comprámos muitos jogadores, se calhar por valores mais baixos, mas, se fizermos o somatório, vemos que não andam muito longe dos 25 milhões de euros. Este ano gastámos um pouco mais, mas não foi uma diferença drástica em relação a anos anteriores, mas vendemos menos, apesar de haver propostas para vários jogadores. Acho é que – e isto é um mea culpa generalizado – as contratações foram mais criteriosas. Houve uma preocupação muito grande por parte do responsável do futebol, Rui Costa, em procurar jogadores com provas dadas ou eventualmente miúdos, como o Sidnei, que são já claramente confirmações e referenciados pelos grandes clubes europeus. Esta aposta em jogadores com provas dadas é um trabalho meritório, porque se tem de convencer o jogador não só pela questão salarial, mas também por vir para um mercado mais pequeno, em que pode disputar um Benfica-Nápoles mas também um Leixões-Benfica. É preciso dose muito grande de tempo para convencer os melhores jogadores, não a virem para o Benfica, porque o nome vende sozinho, mas para virem para o campeonato português. É inquestionável que a qualidade dos nossos jogadores, como Reyes e Aimar, vem trazer um acréscimo de qualidade ao campeonato português.

Não ter vendido jogadores e ter investido mais significa uma aposta de risco?
Fizemos investimentos e eles têm ou não retorno. Todos os meses fazemos uma análise do valor do passe dos jogadores. E das aquisições que fizemos nos últimos três anos, haverá uma ou duas situações em que o Benfica não conseguiu recuperar no mercado o que pagou, mas a esmagadora maioria dos casos poderemos vender por um valor superior ao que comprámos. O Simão, por exemplo, foi uma aquisição muito cara, rendeu durante cinco anos e vendemos com mais-valia significativa. Por isso, risco era não conseguir colocá-los amanhã no mercado pelo valor que comprámos ou até com uma certa mais-valia.

Esta valorização, no entanto, também pode ter um lado negativo, nos casos, como Sidnei e Reyes, em que o Benfica não adquiriu a totalidade do passe. Se avançar para a compra do resto do passe, poderá ter de pagar mais caro?
Não lhe posso mais, mas são situações que estão acauteladas.

Nestes dois casos, pretendem avançar para a compra do restante passe?
Não lhe posso responder.

O Benfica pode não vender jogadores no final da temporada?
Pode.

Mesmo num cenário em que não se qualifique para a Liga dos Campeões?
É um cenário que não está a ser equacionado, como, sejamos honestos, também não estava para esta época. Numa situação de participação na Liga dos Campeões, conseguimos ter as contas razoavelmente equilibradas. Fazer a venda de um jogador pode dar-nos maior capacidade de investimento, mas se não fizermos não temos grandes problemas. Num cenário de não participação na Liga dos Campeões, obrigará a reajuste, mas não muito significativo.

Eventualmente vender um jogador?
Eventualmente. Mas também é preciso dizer que as duas participações que tivemos na Liga dos Campeões, em 2005/06 e 2006/07, atingimos 15 a 16 milhões de euros. Se formos à Taça UEFA, esse valor não desaparece, é menor, mas também tem um peso significativo. Só a eliminatória do Benfica-Nápoles deve ter rendido qualquer coisa como 1,5 milhões de euros. Vamos continuar a ter bons jogos em casa. No mínimo, metade do valor da Liga dos Campeões vai ser atingido e se formos às meias-finais poderemos estar perto dos 16 milhões de euros.

Mas verdade é que os clubes portugueses estão a conviver a partir deste ano com uma situação em que apenas um se apura directamente para a Liga dos Campeões. Isto tem um impacto importante?
Tem e vai certamente obrigar a reajustes. Os grandes clubes conseguem manter o seu ritmo de investimento e de custos estando um ano fora da Liga dos Campeões, mas não o conseguem se estiverem ausentes de forma continuada. Destes três clubes, só dois, ou eventualmente um, estarão de forma regular e continuada na Liga dos Campeões. É um problema que tem muito a ver com a debilidade do nosso campeonato em receitas televisivas, porque se tivesse a capacidade de um Villareal, Sevilha ou Atlético de Madrid de assinar contratos de 40 ou 50 milhões o peso da Liga dos Campeões seria menor.

No mercado de Janeiro, o Benfica vai contratar alguém? A posição de lateral-direito é deficitária?
Essa é uma decisão que compete em exclusivo ao departamento de futebol, mas se quiser reajustes haverá capacidade do Benfica.

“Não seriam precisos grandes investimentos em estádios para o Mundial 2018”

Os clubes continuam à procura de novas receitas. Ceder o nome do estádio a uma empresa continua a ser uma hipótese, à semelhança do que foi feito com o centro de estágios, ou o lado sentimental sobrepõe-se?
Não quero desvalorizar o lado sentimental, mas quando cedemos um naming, seja ele do centro do estágio, de bancadas ou de pavilhões, estamos a maximizar a receita do Benfica, para que possa investir no futebol, que é o que gera emoções. Não abandonámos esse caminho. Temos continuado a fazer propostas no mercado. São difíceis e complexas porque envolvem valores significativos, mas posso dizer que neste momento estamos a discutir essa solução com mais do que uma entidade. Não temos tido o resultado que queremos, mas não abandonámos esse cenário.

No caso do centro de estágio, essa receita valeu cerca de 15 milhões de euros...
Normalmente, não falamos dos valores dos contratos, mas é um valor significativo.

Quanto mais valerá o estádio do que o centro de estágio?

Um bom bocado mais.

O dobro o triplo?
Prefiro não dizer.

O estádio foi um dos grandes investimentos. Recordo-me de dizer que o estádio se paga a si próprio. Como é que isso foi feito?

A estratégia do Benfica tem sido um pouco diferente da dos outros clubes. O estádio custou cerca de 160 milhões de euros, incluindo todas as infra-estruturas adjacentes, como os pavilhões, as piscinas, o campo sintético. Na última reformulação do project finance, tínhamos em dívida 50 e tal milhões de euros às entidades financeiras e mais 15 milhões de euros à Somague. Quando dizemos que o estádio se paga a si próprio, quer dizer que o somatório de todos os contratos de namings e de arrendamento de espaços comerciais, que está cem por cento ocupada, é suficiente para permitir pagar o conjunto de prestações que faltam. Quando acabarem estes contratos, teremos outros, que permitem ter mais dinheiro disponível para investir na nossa actividade principal.

Quando é que o estádio estará pago?
A operação com a Somague termina em Janeiro de 2010. E no caso do project finance, 95 por cento estará pago até à mesma altura e o resto estende-se até 2013.

Já que falamos em estádios, a possibilidade de Portugal se candidatar à organização do Mundial 2018 juntamente com a Espanha está a ganhar força. Um estádio com 14 anos estará apto para receber Mundial sem grandes investimentos?
Estádios com 14 anos são estádios jovens. Há que entender que a duração dos estádios é de 40 anos. E em todas as deslocações internacionais que temos feitos e nas recepções de outras equipas e até de organismos como a UEFA, todos dizem que este estádio é moderno e continuará a sê-lo por muito tempo. E se olharmos para a organização do Euro na Suíça e Áustria, já passaram quatro anos e não são estádios mais modernos do que os nossos. Por isso, penso que não seriam precisos grandes investimentos.

Organizar um Mundial seria um bom projecto para o país?
Em conjunto com a Espanha temos muito a ganhar. Portugal é um país pequeno, a nossa própria competitividade futebolística interna é sempre limitada a três candidatos, e qualquer acção que tenha uma perspectiva mais ibérica é bem-vinda e pode ter sucesso.

“Não há um único clube que dê os jogos no seu canal”

A Benfica TV vai transmitir os jogos da Taça UEFA com o Galatasaray e o Metalist?
Ainda não há uma decisão. Desde o sorteio, temos estado num processo intenso no sentido de auscultar o mercado relativamente ao interesse dos canais generalista e da Sport TV em ter o jogo. E, por outro lado, estamos a estudar junto dos nossos patrocinadores principais a possibilidade de viabilizarmos a transmissão no canal do Benfica. Não escondo que a nossa preferência seria tê-lo na Benfica TV, mas não estou em condições de dar essa garantia definitivamente.

Tendo em conta o que foi a experiência do Nápoles, nesta altura quais são as probabilidades de a Benfica TV transmitir estes dois jogos?
Não quero falar em probabilidades. A primeira emissão correu muito bem e não falo apenas das questões técnicas, mas também do ponto de vista financeiro. Agora, também é preciso dizer que quando estamos na Taça UEFA é preciso maximizar as receitas televisivas. Só posso ter o jogo no canal do Benfica se conseguir maximizar as receitas. A nossa primeira escolha é a Benfica TV e só se não conseguirmos viabilizar financeiramente estas duas transmissões é que vamos para outras alternativas.

Não tendo o Benfica os direitos jogos da Liga, da Taça da Liga, da Liga dos Campeões e da Taça de Portugal, como é que vai garantir que o canal não dá prejuízo e é um projecto equilibrado?
Dos 20 maiores clubes da Europa, há 13 têm um canal de televisão. Não há um único clube que dê os jogos no seu canal, porque isso implica uma perca de receita significativa para os clubes. Pelas contas que já vimos, qualquer canal de televisão se põe a funcionar por verbas que variam entre os quatro e os dez milhões de euros e as receitas que obtêm só pela venda das Ligas supera muitíssimo esse valor. Colocar os jogos no canal é perder receita. O Benfica aqui não vai inventar nada, ao não colocar os jogos disponíveis no canal. Agora vamos, pelo facto de ter os diferidos, dar uma perspectiva mais benfiquista dos jogos e o futebol continua a ser o leitmotiv do canal. Sabendo que os custos são na casa dos quatro ou cinco milhões de euros, conseguiremos o equilíbrio tendo acordos de distribuição interessantes. Já fechámos com três plataformas e estamos em discussão com as restantes duas, a Zon e a Cabovisão. Por outro lado, temos de maximizar as receitas de publicidade e já aprendemos que num canal que não é generalista é difícil de conseguir, porque as audiências não são medidas de uma forma tradicional. Por isso, temos de nos socorrer dos nossos patrocinadores, e o Benfica tem cerca de dez patrocinadores, e desenvolver novos pacotes, que inclui não só, por exemplo, o patrocínio das camisolas, mas também um pacote de comunicação. Essa é a estratégia que estamos a desenvolver e a aceitação, não digo na totalidade, tem sido muito boa.

Quanto aos operadores, e essa é questão importante porque o jogo com o Nápoles chegou a relativamente pouca gente, 100 mil telespectadores, no caso da Zon deu a impressão de haver complicações. Há avanços?
A negociação com a Zon esteve parada muito tempo. Desde que confirmámos que iríamos avançar com o canal e assinámos o primeiro acordo com o Meo, não escondo que houve várias manifestações de interesse por parte da Zon. Neste momento, confirmo que estamos de novo em negociações. É prematuro dizer quando estarão fechadas.

Da consultoria e do sportinguismo ao Benfica

Fusão da Benfica Estádio e SAD...
Se esta operação for aprovada pelos sócios e accionistas, vai aumentar o universo da SAD. A SAD deixará de ser uma empresa cujos activos principais são os jogadores, para ser uma empresa que tem jogadores mas também tem um estádio integrado. É essa a via que estamos a traçar.

Passagem da consultoria para o mundo do futebol...

O que mais me entusiasma é o facto de estarmos a trabalhar num universo que não põe limites. Se hoje queremos lançar um canal de televisão, só temos de encontrar os meios. Se amanhã queremos uma estratégia para o canal asiático ou lançar um kit de sócios, só temos de encontrar os meios. A marca é muito forte, talvez a marca mais forte em termos nacionais. Ontem [segunda-feira] alguém me dizia que só a marca Portugal se pode comparar à marca Benfica e admito que sim.

No mundo da consultoria, das multinacionais e das empresas tradicionais, temos é de executar uma estratégia que está definida em Nova Iorque, Londres ou Paris., Há pouco lugar à criatividade. Também há desvantagens. O facto de ser uma marca muito emotiva leva a reacções emotivas, quando o resultado não aparece. O insulto gratuito ou azedos também fazem parte do nosso trabalho. Tudo o que fazemos tem como objectivo último dotar a equipa de futebol do Benfica de melhores condições.

A gestão de um clube e de uma empresa é a mesma coisa, até um determinado ponto. Mas depois há uma coisa diferente. O sócio procura a emoção, o resultado, ganhar campeonatos, enquanto nas empresas procuram o dividendo.

A sua origem sportinguista...
Essa é uma falsa questão. Desde o primeiro dia que me sinto em casa e o que me faz vibrar no Benfica é o mesmo que faz vibrar qualquer benfiquista. Foi uma questão explorada por algum tipo de oposição do que por pessoas da casa. Nestes quatro anos, Benfica teve grande estabilidade. Desde anos 90 e até 2003, teve seis presidentes e desde 2003 teve um presidente, com uma direcção que é mais ou menos sempre a mesma. A esse nível tem havido cumplicidade muito grande.

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Excelente entrevista dada pelo CEO do Grupo Empresarial do Benfica, Domingos Soares de Oliveira ao Jornal Público. Nesta entrevista os adeptos do Benfica ficam com uma melhor percepção sobre vários dossiers relevantes para a vida empresarial do Benfica (Direitos televisivos, Crise Financeira, Salários, Crédito, Bolsa, Compra e Venda de Jogadores, Receitas das competições europeias, Namings, Project Finance do Estádio da Luz, Mundial 2018, Benfica Tv, Fusão Benfica SAD e Benfica Estádio, etc.).

Por vezes assiste-se a comentários de adeptos sobre muitos destes temas, onde por vezes tentam passar uma imagem falsa da realidade do Sport Lisboa e Benfica. Atendendo também a esta situação foi importante que a pessoa indicada desse estes esclarecimentos públicos, que, diga-se de passagem, pelo menos a nós não trouxeram grandes surpresas.