[google6450332ca0b2b225.html
Mostrar mensagens com a etiqueta história. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta história. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, maio 23, 2016

Túmulo do Rei D. Dinis foi aberto em 1938

O Rei D. Dinis escolheu a Igreja do Mosteiro Cisterciense de Odivelas para sua última morada. Indicou mesmo o local – a meio, entre a capela-mor e o coro. Para que a sua vontade fosse cumprida, fez essa declaração no seu testamento. Assim se cumpriu. Naquele local e naquele Igreja foi depositado o seu corpo quando o cortejo fúnebre chegou, vindo de Santarém. Era um mausoléu majestoso. O primeiro a ter uma estátua jacente. O primeiro a ficar dentro de um lugar sagrado. Estava cercado de grades altas de ferro terminando em escudetes nas pontas dos balaústres com as armas de Portugal, e cruzes da Ordem de Cristo. Um dossel cobria-o em toda a sua dimensão.
Túmulo de El Rei D. Dinis - Maria Máxima Vaz - Capeia Arraiana
Túmulo de El Rei D. Dinis foi aberto em 1938
O sismo de 1755 precipitou sobre o túmulo do Rei D. Dinis a abóbada da igreja do Mosteiro Cisterciense de Odivelas deixando-o gravemente arruinado.
Reconstruída a Igreja, foi o túmulo encostado à teia do corredor lateral direito e ali esteve até 1938, ano em que se fizeram novamente obras na Igreja. Em consequência dessas obras, foi necessário mudá-lo de lugar e para facilitar o trabalho transportaram primeiro a tampa, pelo que, logo que a levantaram, ficaram à vista os restos mortais do Rei.
Removida a tampa viu-se um manto de brocada vermelho a cobrir o corpo do Rei, da cabeça aos pés. Este manto era tecido com fios de ouro. A todo o cumprimento tinha faixas alternadas, separadas com fios dourados e onde se tinham executado bordados com os seguintes motivos: numa das faixas estavam bordadas pinhas em toda a sua extensão; na faixa seguinte bordaram açores e na última viam-se flores de Liz.
Na opinião dos que assistiram a este acontecimento, as pinhas são uma referência ao pinhal de Leiria. Os açores, sendo o Rei um amante da caça de volataria, lembram-nos a aves de caça que muito estimava. Conta-se que até mandou construir uma capela a São Luís em Beja, porque este santo lhe ressuscitou um falcão.
As flores de Liz são uma afirmação da sua ascendência real francesa.
Retirado o manto, ficou à vista o esqueleto do Rei, que estava completo e coberto pela pele ressequida. Tinha vestido um colete de lã branca muito macia, sobre a túnica.
A cabeça repousava numa almofada e estava inclinada como quem dorme sobre o lado esquerdo, posição que o corpo acompanhava ligeiramente. O braço direito dobrado sobre o peito e o esquerdo descaído ao longo do corpo. Apenas os ossos dos pés estavam separados uns dos outros. Nos maxilares a pele estava um pouco separada e apresentava uma longa barba ruiva. Na cabeça a pele não se apresentava solta do crânio e tinha tufos de cabelos ruivos. O Rei tinha 64 anos quando faleceu, o que para a época era uma idade avançada. Apesar da idade, conservava todos os dentes.
Perante os restos mortais do Rei, os pintores dos seus retratos não se podiam ter enganado mais. Foi uma surpresa a verificação que era ruivo, o que se deve ao facto de ter antecedentes germânicos.
Afirma-se que soldados franceses terão tentado profanar o túmulo pensando que o Rei teria sido sepultado com esporas de ouro. De facto alguém partiu o túmulo no sítio dos pés , e terão introduzido um objecto que puxasse as esporas. Não garanto que tivesse sido assim, mas o facto de os ossos dos pés estarem espalhados pode ter essa explicação.
Não há sinais de ter sido aberto o túmulo antes de 1938, nem notícia de ter sido aberto depois.
Posteriormente foi levado para o segundo absidíolo esquerdo, por decisão dos técnicos das obras, decisão que não foi aprovada pelo presidente do Conselho, que ordenou a sua remoção para dentro da Igreja, por saber que essa era a vontade do Monarca. Foi então colocado onde hoje se encontra – na capela do lado do Evangelho.
Para que conste que o Rei D. Dinis está sepultado no seu túmulo, depositado na Igreja do Mosteiro Cisterciense feminino de São Dinis e São Bernardo em Odivelas, o que tenho vindo a afirmar continuadamente desde 1980.
:: ::
«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz

Nota - "conhecimentos porque uma pessoa com saber e responsável soube transmitir-nos o que viu. Era então Director do Instituto de Odivelas um grande Militar e Pedagogo, Coronel Ferreira Simas.
Assistiu à abertura e ordenou a uma professora de desenho que reproduzisse os bordados do manto. Mais tarde teve conhecimento de um artigo que fazia uma descrição cheia de atropelos. Então ele fez um relatório dos factos, com a descrição do que viu. Merece todo o crédito a sua descrição e foi aí que obtive as informações que aqui vos deixei com enorme satisfação."


fonte:email

quarta-feira, abril 15, 2015

Canal americano reconstitui "Ira de Deus" que destruiu Lisboa no sismo de 1755

Os vídeos do Smithsonian Channel mostram como o terramoto, maremoto e incêndio devastaram Lisboa, e uma das medidas mais drásticas do Marquês de Pombal. Primeiro o terramoto que transformou as ruas da cidade numa "paisagem infernal", depois o maremoto que matou centenas de pessoas, e por fim a "cruel reviravolta do destino" que fez com que Lisboa se incendiasse. Um vídeo reconstitui e mostra cada passo do desastre que fez dezenas de milhares de mortos em 1755. O Smithsonian Channel dedicou um episódio da sua série de documentários sobre catástrofes, Perfect Storms, ao terramoto de Lisboa em 1755. O episódio God's Wrath (em português, Ira de Deus) foi emitido em novembro, mas um dos seus excertos, que mostra a reconstituição do desastre, tornou-se viral recentemente. Um outro vídeo lançado pelo canal permite também conhecer uma das medidas mais drásticas do Marquês de Pombal após a devastação. No vídeo que foi publicado no YouTube pelo canal norte-americano, uma parceria entre a cadeia televisiva CBS e o grupo de museus Smithsonian, é possível ver como, por volta das 9.40 da manhã de 1 novembro de 1755, a atividade tectónica provocou o terramoto de 8.5 na escala de Richter, que destruiu grande parte da cidade que estava "no centro de um império mundial". O Smithsonian Channel reconstitui como, após os primeiros momentos de destruição causados pelo terramoto, os sobreviventes procuraram escapar para espaços mais abertos, junto ao rio Tejo, onde foram surpreendidos pelo maremoto que se seguiu."Numa cruel reviravolta do destino", acrescenta o locutor do documentário, "horas antes do terramoto, milhares de velas tinham sido acesas em Lisboa para comemorar a festa de Todos os Santos". O recuar das águas permitiu que as chamas se espalhassem pela cidade. Após a catástrofe, Lisboa "já não é uma cidade de ouro, mas sim um repositório de ossos carbonizados", termina o vídeo. Além do vídeo que se tornou viral, é possível ver online um outro excerto do episódio God's Wrath da série documental Perfect Storms. Esse excerto descreve como, após a devastação causada pela catástrofe, não havia "nem abrigo, nem segurança, nem comida". Quando o terramoto danificou as prisões lisboetas, os criminosos começaram a organizar-se e a pilhar os destroços. Coube ao Marquês de Pombal, conta o documentário, "salvar Lisboa de si própria, substituindo um reinado de terror por outro". fonte DN, Lisboa

domingo, novembro 23, 2014

Catarina de Bragança



Quando alguns Nobres portugueses chegaram à conclusão de que o negócio da venda da coroa de Portugal aos Filipes, tinha deixado de ser rendoso e tinha atingido a falência, resolveram mudar de rei.


Infelizmente, esqueceram-se de tomar providências quanto a uma previsível reacção do rei deposto que, por um conjunto de circunstâncias, era, também, rei de Castela e de mais uns quantos territórios.
A guerra foi uma consequência lógica e o novo rei de Portugal, que precisava de aliados, encontrou a solução no casamento de uma das suas filhas com o rei Carlos II de Inglaterra.
A negociação do casamento foi difícil!
Carlos II tinha motivos para desejar mas, também, para temer tal casamento: desejava-o, porque a princesa era bonita e o dote poderia encher os seus falidos cofres; mas, também, receava que isso pudesse reacender a guerra com Espanha.
Resistiu até o dote da princesa ser irrecusável: foi o maior dote de que há memória no Ocidente! Portugal ficou falido, o rei português ganhou um aliado para a guerra com Espanha,  e a Inglaterra ganhou um capital que se transformou no mais rentável investimento da sua história: o império britânico!
Hoje, diríamos que Carlos II deu o “golpe do baú” !
A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.
Assim, começou a parte infeliz da vida de Catarina de Bragança, uma princesa nascida e criada no seio de uma família com cultura, educação e hábitos tradicionais portugueses que, por sua infelicidade, foi desterrada para uma corte que, contrariamente ao que alguns escritores e cineastas de pacotilha nos querem fazer crer, era rude e atrasada em relação à restante Europa.
Catarina, teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses pelo que,  embora não suficientemente, ainda hoje é admirada e homenageada.
Provocou uma autêntica revolução na corte de Inglaterra, apesar de ter sido sempre hostilizada por ser diferente mas nunca desistiu da sua maneira de ser, nem consentiu que as damas portuguesas do seu séquito o fizessem.
Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.
E assim, se derem grandes alterações na corte inglesa:

O conhecimento da laranja

Catarina adorava laranjas e nunca deixou de as comer graças aos cestos delas que a mãe lhe enviava.

O costume do “CHÁ DAS 5”

Costume que levou de casa e que continuou a seguir organizando reuniões com amigas e inimigas. Este hábito generalizou-se de tal maneira que, ainda hoje, há quem pense que o costume de tomar chá a meio da tarde é de origem britânica.

A compota de laranja

Que os ingleses chamam de “marmalade”, usando, erradamente, o termo português marmelada, porque a marmelada portuguesa já tinha sido introduzida na Inglaterra em 1495.
Catarina guardava a compota de laranjas normais para si e suas amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, principalmente, para as amantes do rei.

Influenciou o modo de vestir

Introduziu a saia curta. Naquele tempo, saia curta era acima do tornozelo e Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés enormes das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas.
Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar.

O uso do garfo para comer

Na Inglaterra, mesmo na corte, comiam com as mãos, embora o garfo já fosse conhecido, mas só para trinchar ou servir. Catarina estava habituada a usá-lo para comer e, em breve, todos faziam o mesmo.

Introdução da porcelana

Estranhou comerem em pratos de ouro ou de prata e perguntou porque não comiam em pratos de porcelana como se fazia, já há muitos anos, em Portugal. A partir de aí, o uso de louça de porcelana generalizou-se.
Música
Do séquito que levou de Portugal fazia parte uma orquestra de músicos portugueses e foi por sua mão que se ouviu a primeira ópera  em Inglaterra.

Mobiliário

Catarina também levou consigo alguns móveis, entre os quais preciosos contadores indo-portugueses que nunca tinham sido vistos em Inglaterra.

O nascimento do “Império Britânico”

Como já se disse, o dote de Catarina foi grandioso pela quantia em dinheiro mas, muito mais importante para o futuro, por incluir  a cidade de Tânger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia.
Traindo os Tratados que tinham assumido e com a desculpa de que o rei de Portugal era espanhol, os ingleses conseguiram, apesar do controle da Marinha Portuguesa, navegar até à Índia onde criaram um entreposto em Guzarate.
Em 1670, depois de receber Bombaim dos portugueses, o rei Carlos II autorizou a Companhia das Índias Orientais a adquirir territórios. Nasceu, assim, o Império Britânico!

Hoje, há pouca gente que saiba a importância que a Rainha Catarina teve para os ingleses e o carinho que eles tiveram por ela. A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi baptizado em sua homenagem.

Em 1998, a associação “Friends of Queen Catherina” fez uma colecta de fundos para lhe erguer uma estátua; não o conseguiu, devido à oposição de alguns movimentos cívicos que acusaram Catarina de ser uma das promotoras da escravidão.

Mais uma vez, a ignorância venceu!...

Autoria: Arnaldo Norton

sexta-feira, maio 23, 2014

835 anos...


Celebraram-se 835 anos do reconhecimento da independência e fundação de Portugal. A 23 de Maio de 1179, o Papa Alexandre III emitiu a Bula "Manifestis Probatum", a qual declara independente o Condado Portucalense e D. Afonso Henriques o seu soberano.

quinta-feira, maio 24, 2012

Selo "prova" que Belém existia sete a oito séculos antes de Cristo

É um pedaço de barro sensivelmente do tamanho de uma unha de um polegar. Perde-se na palma da mão, mas o selo com a inscrição "Belém" é uma "prova" de que a cidade existia sete ou oito séculos antes de ser conhecida como a terra natal de Jesus.
Os arqueólogos israelitas dizem que descobriram a primeira prova física que suporta os relatos do Velho Testamento sobre a existência de Belém muito antes da cidade ser conhecida como o berço de Jesus Cristo.

A prova é um pequeno pedaço de barro que os arqueólogos encontraram perto das muralhas da Cidade Velha, em Jerusalém. Trata-se de um selo de barro com três linhas de texto escritas em hebraico antigo, onde se pode ler a palavra "Bethlehem", Belém.

foto Baz Ratner/REUTERS
Selo "prova" que Belém existia sete a oito séculos antes de Cristo

"É a primeira vez que o nome Belém aparece numa inscrição sem ser na Bíblia, no período do Primeiro Templo", que medeia entre 1006 e 586 antes de Cristo, explicou Eli Shukron, que dirigiu escavação para a a Autoridade de Antiguidades de Israel.

Segundo Shukron, o selo pode ter sido colocado num carregamento de prata ou em produção agrícola enviada de Belém, cidade situada a sul de Jerusalém, para o reino de Judá, algures entre o século XVIII ou XVII antes de Cristo.

O selo prova que Belém, mencionada pela primeira vez no Livro dos Génesis, "era, na verdade, uma cidade do reino de Judá, possivelmente até em períodos anteriores" ao século XVII antes de Cristo.

IN:JN


quinta-feira, dezembro 01, 2011

1º de Dezembro de 1640

Em 1580, dois anos depois da catástrofe militar marroquina em que perdeu a vida, com milhares dos seus súbditos, o rei D. Sebastião de Portugal, a Espanha, encabeçada pelo rei Filipe II, anexou a Coroa lusitana.
 Sessenta anos depois, no dia 1.º de Dezembro de 1640, um grupo de conjurados portugueses (Os Restauradores) assaltou, num audacioso golpe-de-mão, a residência da vice-rainha espanhola (Duquesa de Mântua), aprisionou-a e pôs termo ao longo domínio estrangeiro, colocando no trono, para início da 4.ª dinastia portuguesa, o Duque de Bragança (rei D. João IV).
A seguir se transcreve a forma como Mário Domingues, apoiando-se em Pinheiro Chagas, descreve os primeiros momentos dessa manhã de libertação.
.
.
“A manhã de 1 de Dezembro de 1640, ao contrário do que costuma suceder nesta estação do ano, surgiu clara, sem nuvens no azul cetinoso do céu, permitindo que o Sol brilhasse tão vivamente como num dia de Agosto. Dir-se-ia um bom prenúncio para os que desejavam que esta data atingisse um brilho inextinguível na já tão acidentada história de Portugal.
.
Consoante o plano estabelecido, manhã cedo, começaram a afluir ao Terreiro do Paço os revolucionários, em pequenos ranchos para não despertarem suspeitas, ocultando as armas debaixo das grandes capas em moda nesse tempo, nas quais se embuçavam como se apenas quisessem resguardar-se do frio.
Os fidalgos iniciados no segredo da conjura e os convidados de última hora apresentavam-se placidamente, em ar de descuidoso passeio, conforme Pinto Ribeiro lhes recomendara, o que não suscitou desconfianças, porque nessa época havia hábitos madrugadores e frequentemente apareciam muito cedo grupos no Terreiro do Paço, à espera de que as repartições abrissem a fim de tratarem de assuntos burocráticos.
.
Duquesa de Mântua, vice-rainha espanhola
Alguns nobres vinham a cavalo, vulgar meio de transporte, outros de coche, dentro do qual ocultavam melhor as suas armas. Detinham-se aqui e além, com aspecto tranquilo, mas intimamente ansiosos por que soassem as nove horas para início da acção. Os minutos, porém, arrastavam-se com a lentidão de lesmas.
- “A aparência pacífica dos coches, que iam chegando ao Terreiro do Paço – descreve-nos Pinheiro Chagas, com o colorido que lhe é peculiar – não assustava os soldados da guarda, acostumados, nesses tempos mais madrugadores do que os nossos, a verem aparecer junto do palácio os cortesãos da duquesa. O povo também ainda não se acumulara em grande quantidade. Com a mão no fecho das portinholas, esperavam os fidalgos impacientes o bater da hora solene.
.
D. João IV, rei de Portugal.
.
Dão nove horas.
Abrem-se a um tempo os coches e os fidalgos descem; e enquanto Jorge de Melo, Estêvão da Cunha, António de Melo e Castro, o padre Nicolau da Maia e outros esperam, ainda dentro das carruagens, que venha o sinal do palácio para assaltarem a guarda castelhana, o grosso dos conjurados sobe rapidamente as escadas, entra na sala dos archeiros tudescos e, sem lhes darem tempo nem sequer para suspeitarem do que ia suceder, Afonso de Menezes, Gaspar de Brito Freire e Marco António de Azevedo deitam ao chão os cabides das alabardas, outros, desembainhando as espadas, afugentam os archeiros atónitos e desarmados.
.
Alguns destes, ou por não terem as alabardas nos cabides, ou por serem resolutos, cumpriram o seu dever com certa bravura, já defendendo a entrada do corredor que ia ter ao forte onde ficavam os quartos de Miguel de Vasconcelos, já cobrindo a porta dos aposentos da duquesa de Mântua.
Os primeiros levam-nos adiante de si Pedro de Mendonça e Tomé de Sousa, os outros resistem com desespero a Luís Godinho Benavente e mais três ou quatro fidalgos, e só fogem depois de terem visto cair dois dos seus, um morto, outro ferido.
.
Monumento aos Restauradores - Lisboa - Portugal
.
Entretanto, D. Miguel de Almeida, ébrio de alegria, corre a uma varanda, abre-a e, brandindo um estoque, exclamava:
Liberdade! Liberdade! Viva el-rei D. João IV! O duque de Bragança é nosso legítimo rei!
E as lágrimas, embargando-lhe a voz, inundavam-lhe as barbas alvejantes, que flutuavam ao sopro da brisa do Tejo, que douravam os raios do Sol a campear no céu.
.
Respondeu-lhe de baixo um imenso grito de entusiasmo e júbilo:
Liberdade! Liberdade! – gritou o povo, num clamor uníssono.
É que todos julgavam divisar nesse heróico D. Miguel de Almeida, nesse velho de oitenta anos, radiante de ardor juvenil, o símbolo de Portugal decrépito e alquebrado, mas iluminado nessa hora de ressurreição por um lampejo, por um reflexo do esplendor das suas eras gloriosas”.
.
 
Nota 
Mário Domingues - A Revolução de 1640 - Editado por Livraria Romano Torres - Lisboa - 1970

domingo, julho 31, 2011

Descoberta peça do século XVII com motivos pornográficos


Investigadores em Arqueologia da Universidade Nova de Lisboa descobriram em escavações do antigo Convento de Santana, em Lisboa, uma peça única no mundo com imagens com cenas pornográficas numa taça chinesa do século XVII.
As escavações arqueológicas tiveram início em 2002, e terminaram em 2010, no local onde estão a ser construídos equipamentos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova, onde existia o edifício do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, ao Campo Santana.
O investigador Mário Varela Gomes explica que aquela "é uma peça única no mundo", porque da época são conhecidas porcelanas chinesas com motivos eróticos, mas sem sexo explícito. "Esta peça ultrapassa tudo o que se conhece da época, já tem conteúdos pornográficos" explica à agência Lusa o investigador em Arqueologia da Universidade Nova de Lisboa.
Trata-se de uma taça de porcelana com imagens que constituem uma espécie de manual de práticas sexuais, à semelhança de outras obras da época na filosofia do Kamasutra.
Os investigadores já contactaram especialistas de outros países e ainda não encontraram registo de peça semelhante. Só se encontram peças semelhantes dos finais do século XIX.
Para Mário Varela Gomes, há uma explicação possível para a descoberta de uma peça destas nas ruínas de um convento de freiras em Lisboa: "terá sido uma encomenda única feita por um nobre português abastado e o facto de se encontrar num convento, pode ter sido uma forma de manter a peça escondida, já que era muito perigoso, na época, com a inquisição, estar na posse de uma obra daquelas".

Na época era comum encontrar-se peças baseadas na ideia do Kamasutra, ou nos livros das noivas, em que eram demonstradas posições para a prática do sexo, a diferença é que "nunca se encontrava sexo explícito". "O convento seria o melhor sítio para se esconder uma peça daquelas, que pode ter sido uma herança de família, alguém que trouxe da China secretamente", explica o investigador.
Em que contexto aquela porcelana foi parar a uma vala de detritos não se sabe. Sabe-se que na sequência do terramoto de 1755 o convento ruiu parcialmente, entrando em declínio a partir daí. Ainda foram feitas reconstruções, no reinado de D. Maria I, até à extinção das Ordens Religiosas, em 1834.
Nas escavações feitas no antigo Convento de Santana, onde chegaram a viver cerca de 300 pessoas, em 1702, das quais 130 religiosas, foi encontrado um vastíssimo espólio que permite aos investigadores reconstituir aspectos relacionados com a vida e a morte naquela instituição.
Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes, os investigadores que coordenaram o trabalho, depararam com valas onde foram depositados detritos do antigo convento, e foi aí que tiveram a mais surpreendente descoberta. Naquelas valas existiam variadíssimos artefactos, muitos deles ainda intactos, que permitem identificar os quotidianos assim como a espiritualidade das residentes, fossem elas religiosas ou laicas.
De referir que aquele era o maior convento feminino da capital, nos séculos XVII e XVIII, quando existiam quase uma centena de conventos na capital.

segunda-feira, julho 25, 2011

O naufrágio do Varuna na imprensa nova-iorquina




A imprensa internacional acompanhou, a par e passo, o naufrágio do veleiro pertença do 'mais rico americano solteiro' do início do século XX, acontecido nos mares do Porto Moniz

O Varuna era construído em aço, tinha duas hélices, deslocava-se a uma velocidade máxima de 17 nós, e o seu interior estava luxuosamente decorado.



Quem era E. Higgins




Na sequência do artigo de Patrícia Gaspar nesta mesma revista 'Mais' - no passado dia 15 -, sobre o destino trágico do Varuna traçado na costa norte da Madeira, a 16 de Novembro de 1909, fizemos uma pesquisa na coeva imprensa nova-iorquina, nomeadamente o New York Times (NYT), o New York Daily Tribune (NYDT) e o The Sun, a fim de constatarmos o modo pelo qual este acidente foi ali retratado, e confrontar esses dados com alguns que, na altura, foram publicados no Diário de Notícias.
Eugene Higgins (1860-1948), o proprietário do Varuna, era o herdeiro da fortuna do seu pai, que esteve ligado ao fabrico de carpetes. Possuía uma residência em Nova Iorque no cruzamento da 5th Avenue com a 34th Street, então a Meca da alta sociedade nova-iorquina, e onde actualmente se situa o Empire State Building. Era um 'bon vivant', que vivia sem preocupações, dedicando-se a viajar pelo mundo a bordo do seu iate. Para além disso, era também um desportista apaixonado pelo golfe, hipismo e esgrima, tendo sido, inclusivamente, o campeão nacional americano desta última modalidade em 1888.
A construção do Varuna Um artigo do NYT de 22 de Novembro de 1896, redigido pelo seu correspondente em Glasgow, na Escócia, referia que o Varuna, iate de 1500 toneladas construído num estaleiro naval de A. & J. Inglis of Pointhouse Partick, junto ao rio Clyde, já havia sido lançado à água e estava quase pronto para ser entregue ao seu proprietário, o milionário nova-iorquino Eugene Higgins. Referia que nenhum membro da nobreza britânica e ainda muitas cabeças coroadas da Europa não se podiam gabar de possuir um barco semelhante. O Varuna era construído em aço, tinha duas hélices, deslocava-se a uma velocidade máxima de 17 nós, era pintado de branco e o seu interior estava luxuosamente decorado, da proa à popa. Este iate possuía ainda amplos camarotes para o seu dono e convidados, revestidos em madeira de carvalho, e ainda alojamento para a numerosa tripulação. Tinha, ainda, estabilizadores, para proporcionar maior conforto aos passageiros durante as travessias marítimas mais agitadas, e entre as suas várias inovações contavam-se compartimentos de contra-afundamento, de modo a manter o iate a flutuar em caso de acidente.
Algumas curiosidades No livro 'Seductive journey: American tourists in France from Jefferson to the Jazz Age', de Harvey A. Levenstein, encontrámos a referência de que em 1897 o iate a vapor Varuna, de 306 pés de comprimento (93 metros), bateu o recorde da travessia do Atlântico em navios da sua categoria, indo dos Estados Unidos da América à França, com uma tripulação de 66 tripulantes, em apenas oito dias. Citando um jornal da época, o 'Paris Herald' de 27 de Janeiro de 1897, este autor refere que uma das características surpreendentes do Varuna era um compartimento onde se encontravam armazenados vários tipos de armas, em número suficiente para a tripulação repelir um ataque de piratas, se acaso fosse necessário.
Num artigo do NYT, de 1 de Agosto de 1909, referente aos iates modernos e ao seu custo de manutenção, o Varuna, de Eugene Higgins, era listado junto do Margarita, de Anthony J. Drexel, do Nahma, de Robert Goelet, e do North Star, de Cornelius Vanderbilt, sendo que no caso dos três primeiros a construção do casco, em aço de primeira qualidade, a montagem das caldeiras, motores, e equipamento diversificado tais como mastros, âncoras, cabos e botes importava na módica quantia de 750.000 dólares. E para manter um iate desta categoria era preciso despender a quantia de 90.000 a 100.000 dólares por ano, isto sem contar com as despesas suplementares decorrentes das longas viagens marítimas, onde estava incluída uma factura astronómica em carvão - consumia cerca de 300 toneladas por mês, o que redundaria numa despesa mensal de cerca de 1800 dólares. Por esta altura havia 14 iates a vapor inscritos no New York Yacht Club, com mais de 1000 toneladas de arqueação bruta, e o Varuna, de Eugene Higgins, ocupava a quinta posição, o que era sinónimo da sua imponência.
No entanto, tanta sumptuosidade tinha o seu preço. Segundo um artigo vindo a público no New York Daily Tribune (NYDT) de 2 de Agosto de 1909, os iates de americanos que haviam sido construídos no estrangeiro deveriam começar a pagar uma elevada taxa anual às finanças. No mesmo artigo foi feita uma estimativa de quanto o proprietário do Varuna teria de desembolsar face a esta nova lei, e foi apurada a quantia anual de 11.011 dólares. A 3 de Outubro, o mesmo jornal referia que três proprietários de iates sobre os quais impendia a nova taxa haviam pago a nova contribuição fiscal, calculada em 7 dólares por tonelada ou em 35% ad valorem, mas que outros, incluindo os donos dos navios cujas fotos figuravam na respectiva página do jornal, e onde estava patente a do Varuna, estavam a contestar esta nova taxa nos tribunais.
O percurso do Varuna antes do acidente Segundo noticia o NYDT de 16 de Setembro de 1909, Eugene Higgins havia chegado na véspera a Nova Iorque a bordo do Varuna, após se ter demorado cerca de um ano no estrangeiro, tendo passado o último Inverno no Mediterrâneo, e que dentro de um dia ou dois iria para Newport (no estado de Rhode Island). Efectivamente, dois dias depois, o mesmo jornal publicou algumas notícias chegadas de Newport, na véspera, por via telegráfica, entre as quais se encontrava a de que este milionário havia chegado de Nova Iorque a bordo do seu iate, trazendo consigo um grupo de convidados, entre os quais se contava o Conde de Mazelière e Crosby Whitman, de Paris, e que se demorariam por aquela famosa estância balnear - onde os multimilionários tinham as suas mansões para passarem o Verão - durante uma semana.
Na edição de 6 de Novembro do The Sun, foi publicado um despacho enviado de Hamilton, nas Bermudas, no dia anterior, segundo o qual o iate Varuna, com o seu proprietário e um grupo de amigos a bordo chegara àquele local na véspera, e o navio, que havia saído de Nova Iorque na terça-feira anterior, tinha tido uma viagem tormentosa. Seria o prenúncio do destino fatal que o aguardava.
Dois dias depois, o mesmo jornal publicou um despacho telegráfico recebido no dia anterior, da mesma localidade, segundo o qual o iate Varuna havia partido na véspera, de manhã, rumo à Madeira.
O naufrágio do Varuna na imprensa Na edição de 17 de Novembro de 1909 do NYT, este jornal de referência publicou o conteúdo de um telegrama recebido da Madeira no dia anterior, referindo que o Varuna, pertencente a Eugene Higgins, membro do New York Yacht Club, havia encalhado na costa noroeste e que dois rebocadores haviam ido em assistência ao navio (um lapso, visto que, segundo afirmou na altura o DN, foram o Gavião e o Açor, navios de cabotagem, que foram em seu auxílio).
Esta mesma notícia foi ainda publicada no NYDT na edição do mesmo dia, acrescentando alguns dados sobre Eugene Higgins e o seu iate, cujas últimas notícias remontavam à sua saída das Bermudas, a 5 de Novembro. Sobre o seu proprietário foi referido que contava 41 anos de idade (na verdade tinha 49), possuía uma fortuna pessoal estimada em 50 milhões de dólares, era licenciado pela Universidade de Columbia, sendo ainda membro dos mais famosos clubes de iates de Nova Iorque e da Europa. Foi, ainda, referido que passava a maior parte do tempo no seu Varuna, onde mantinha a disciplina de um navio de guerra, e que todos os seus convidados tinham de agir em conformidade com as suas orientações.

Notícias do Funchal




Na edição do dia 18 do NYT foram publicadas notícias emitidas do Funchal na véspera, dando conta do facto de Eugene Higgins e seus convidados se encontrarem bem, apenas se registando um desaparecido, de entre os membros da tripulação. Noticiou também que aquando do encalhe do iate, às duas da manhã, foram lançados botes à água com o dono do barco e seus convidados, que foram desembarcados em Ponta Delgada, indo alguns botes até o Porto Moniz e São Vicente. Os tripulantes de outro bote foram salvos por um vapor que passava por perto e foram trazidos para o Funchal. Nada foi salvo do iate, que foi arrastado por ondas revoltas para a costa, caracterizada por altas falésias e pequenas baías. Acrescentava que alguns dos náufragos permaneceram na costa, perto do local do naufrágio, enquanto que outras pessoas do grupo foram para algumas aldeias, onde foram alojados e alimentados. Era ainda referido que o mar se encontrava muito agitado naquele dia e que o Varuna embatia violentamente contra as rochas, e que apesar da sua estrutura em aço o navio parecia estar perdido. Este artigo termina referindo que este era um dos iates mais apalaçados até então existentes. A par de alguns dados sobre a sua construção e características, foi referido que os livros da sua biblioteca estavam avaliados em vários milhares de dólares, e que desde que havia sido lançado à água, o seu proprietário havia passado a maior parte do tempo a navegar pelo mundo, passando quase todos os Invernos no Mediterrâneo e Verões em redor da costa de Newport e do Maine. Segundo esta fonte, o Varuna havia deixado Nova Iorque, com o seu proprietário e alguns convidados a bordo, a 2 de Novembro, e três dias depois tinha chegado às Bermudas, de onde saíra no dia 7, em direcção à Madeira, para onde o grupo pretendia seguir viagem para Gibraltar e Mediterrâneo. Este artigo terminava referindo que Eugene Higgins tinha 51 anos (na verdade, repete-se, tinha apenas 49), havia herdado a fortuna do seu pai e que era regularmente referido como sendo o solteiro mais rico da América. A edição do mesmo dia do NYDT repetiu praticamente ipsis verbis o que noticiou o NYT, acrescentando que o Varuna estava cheio de água e que acreditava-se que ficaria destruído em pedaços. O jornal The Sun, de 18 de Novembro, por seu turno, referiu que alguns despachos emitidos do Funchal anunciavam que o esplêndido iate a vapor de Eugene Higgins, tinha encalhado na Madeira e estava a ser acossado por ondas revoltas, que provavelmente o destruiriam, e que o seu proprietário e os seus amigos haviam sido salvos. E ao chegar a terra o dono teria comunicado com o Funchal no sentido de pedir dois rebocadores para ver se ainda seria possível salvar a sua embarcação.
Causa desconhecida

A 20 de Novembro de 1909, o NYT publicou notícias recebidas de Lisboa, no dia anterior, referindo que eram doze os naúfragos do Varuna recolhidos dum bote à deriva - sem remos, em resultado da luta que tiveram com as ondas revoltas - ao largo da ilha pelo vapor inglês Hasperly. Concluía este artigo a referência que ascendia a 65 o número de pessoas salvas e que o iate havia sido abandonado como perdido. A mesma notícia foi ainda publicada, nos mesmos termos, no NYDT do mesmo dia.
A 22 de Novembro, o NYDT publicou um despacho recebido de Paris na véspera, dando conta do facto de que Eugene Higgins e os seus amigos haviam chegado bem ao Funchal. Quanto ao Varuna, foi referido que ainda ninguém se podia aproximar do iate, visto o mar ainda continuar alteroso e a abater-se sobre a embarcação. Foi ainda noticiado que o comandante afirmou que o iate estava fora da sua rota, por alguma razão desconhecida, e continuava a afirmar que uma corrente forte e estranha havia arrastado o navio para os baixios.
O NYT, de 27 de Novembro, divulgou notícias recebidas de Paris, no dia anterior, citando um especial para o Figaro, desde Madrid, segundo as quais Higgins havia dado 5000 dólares ao homem que o havia salvo, aquando do naufrágio do Varuna. O NYDT, do mesmo dia, também publicou esta notícia, pelas mesmas palavras.
A 28 de Novembro, o NYT noticiou que na véspera a tripulação do iate havia chegado a Southampton, com excepção do comandante, que havia ficado perto dos destroços na esperança de poder recuperar alguns bens de valor. Esta mesma notícia foi publicada na edição do NYDT do mesmo dia, sendo esta a última notícia deste jornal sobre este assunto. O mesmo assunto foi ainda veiculado na edição desse dia 28 do The Sun, acrescentando que os náufragos tinham viajado até Inglaterra no vapor Armandale Castle, e que os membros da tripulação haviam afirmado que existia pouca esperança de se salvar o Varuna, e que Eugene Higgins havia ficado no Funchal, juntamente com o comandante do iate. Esta também foi a última notícia deste jornal nova-iorquino sobre este naufrágio.
Epílogo de um naufrágio Após o desastre do Varuna, Eugene Higgins não teve pressa de regressar aos Estados Unidos da América. Afinal de contas, a sua viagem até à Europa, para passar o Inverno, tinha sido bruscamente interrompida.
O seu retorno à América ocorreu em Setembro de 1910, a bordo do navio Kronprinzessin Cecilie, da North German Lloyd, e foi noticiado no NYT a 15 de Setembro de 1910 por uma questão muito simples: tinha-se 'esquecido' de declarar à Alfândega do seu país as roupas que trouxe do estrangeiro, e foi condenado a pagar 3000 dólares de impostos sobre as mesmas. Em sua defesa alegou o desconhecimento de tal procedimento, visto que aqueles bens eram roupas que ele já usava há algum tempo. Alegou ainda que há já muito tempo que não chegava à América em navio a vapor de uma linha comercial, fazendo-se sempre transportar no seu iate Varuna e, apesar de fazer dele a sua residência, quando ficava em terra levava consigo poucos dos seus pertences.
A última notícia do NYT referente ao acidente do Varuna foi publicada a 20 de Março de 1911, e era proveniente de Paris, dando conta da decisão do governo francês de atribuir a Eugene Higgins uma medalha de ouro de 2.ª classe por salvamento, por aquando do naufrágio ter 'salvo' dois cidadãos franceses. Não deixa de ser curiosa esta notícia.
Há quem conjecture que o naufrágio do iate, que à altura contava 13 anos de idade, fora propositado. Se o foi ou não, não sabemos. Há a considerar o novo dado da sobretaxa que seria aplicada na América aos iates construídos no estrangeiro. Mas para o milionário Higgins isso seriam apenas 'peanuts'. O que se pode confirmar, face aos dados da imprensa nova-iorquina da época, é que o Varuna vinha em direcção à Madeira, onde contava fazer escala, antes de prosseguir viagem até Gibraltar e Mediterrâneo, daí se ter aproximado (em demasia) da nossa costa. Por seu turno, o DN de 17 de Novembro - o dia a seguir ao acidente - afirmou que o iate seguia das Bermudas para Marselha, citando o New York Herald (que não conseguimos consultar). E há ainda que ter em consideração o facto que o acidente ocorreu às duas da manhã e que toda aquela zona estava imersa em escuridão, visto que o farol da Ponta do Pargo ainda não tinha sido construído. Só o foi em 1922, apesar daquele local já estar referenciado para a edificação de um desde 1883, segundo refere J. Teixeira de Aguilar no livro Faróis da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens. Chamamos ainda a atenção para outro dado curioso, referido no DN de 18 de Novembro, dois dias após o encalhe do Varuna, segundo o qual o iate ainda se mantinha direito. Devia-se isso ao facto dele possuir estabilizadores e os tais compartimentos especiais anti-afundamento? Julgamos que sim.
A terminar, apresentamos uma curiosa anotação referente ao nome deste iate. Varuna é o nome da deusa indiana do Oceano, que era também conhecedora e controladora de tudo, tendo ainda a seu cargo a administração da justiça. Seria o desfecho trágico deste iate um 'castigo' da deusa ocasionado pelas excentricidades de Eugene Higgins?...
Duarte Miguel Barcelos Mendonça, DN Madeira

NOTA DA REDACÇÃO - Ainda hoje e quando a maré está baixa, do Calhau das Achadas da Cruz se podem avistar as caldeiras do "Varuna"

sexta-feira, julho 01, 2011

qual deles descobriu a Ma(ma)deira?

Vulgarmente conhecido por Caruncho ou Bicho da Madeira, o Anobium pertinax é um insecto coleóptero muito pequeno cuja larva rói e desfaz a madeira, produzindo por vezes um ruído perceptível…
caruncho adulto
caruncho capricórnio
praga carunchosa

quarta-feira, maio 18, 2011

Princesa do Antigo Egipto sofria de doença coronária

 

Ahmose-Meryet-Amon, que viveu há mais de 3500 anos, é a doente com problemas coronários mais antiga que se conhece.
Viveu em Tebas, entre os anos de 1580 e 1530 a.C. e, apesar da dieta saudável que a sua classe social permitia e de uma vida presumivelmente sem stresses no palácio, a princesa egípcia Ahmose-Meryet-Amon sofria de aterosclerose. A descoberta foi feita graças a um estudo da sua múmia por tomografia computorizada e mostra que este tipo de doenças já existiam, mesmo sem o estilo de vida moderno. (fonte DN, Lisboa)

segunda-feira, abril 11, 2011

Texto mais antigo da Europa encontrado na Grécia

Foi encontrado numa antiga lixeira de Peloponeso, na Grécia, aquele que é considerado o texto decifrável mais antigo da Europa.
Michael Cosmopoulos, investigador norte-americano, da Universidade de Missouri, garante que a placa de argila cozida, encontrada durante as escavações realizadas numa antiga lixeira situada na colina de Iklena, a 300 quilómetros de Atenas, na Grécia, tem mais de três mil anos, representando, pelo menos, mais um século do que as descobertas feitas até agora.

“Esta placa sugere que a escrita é muito mais antiga do que aquilo que se acreditava até ao momento", explicou o investigador à AFP.

Ao que tudo indica, a placa terá sido um documento financeiro, proveniente de uma antiga cidade do período micénico. “Num dos lados da peça podem-se ver nomes e números, e do outro lado um verbo relativo à confecção”, acrescentou Michael Cosmopoulos.

As escavações, sob a supervisão da Escola de Arqueologia de Atenas, começaram em 2006 e desde então ja revelaram algumas descobertas, como uma enorme estrutura com grandes muralhas datada dos anos 1550-1440 a.C. Segundo Cosmopoulos, o local foi destruído provavelmente no ano 1400 a.C., antes de ter sido invadido pelo reino de Pilos, cujo rei, Nestor, é mencionado na Ilíada. fonte Publico

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Gentes do Arquipélago da Madeira-Origem Geográfica



As ilhas do Atlântico Norte foram conhecidas e exploradas por vários povos mediterrânicos, a partir de meados do século XIV, na qual também pelos portugueses. As Canárias foram as primeiras a serem reconhecidas, pela sua proximidade com a costa de África, seguindo-se as do Porto Santo e da Madeira, e as dos Açores ou as “terceiras”, como por vezes referem os cronistas desta época.
A aventura portuguesa pela conquista das praças marroquinas e o aumento da navegação no Atlântico por parte dos castelhanos, coincidindo com a ocupação das ilhas Canárias por estes, a coroa portuguesa sentiu a necessidade de “ocupar” e povoar os arquipélagos já conhecidos.
O primeiro (?) «contacto com o arquipélago da Madeira foi feito pela designada “Armada do Algarve”, tendo sido escolhidos para esta missão dois distintos escudeiros do infante D. Henrique, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, que se deslocaram ao Porto Santo em 1418» e no ano seguinte à Madeira, procedendo ao seu «reconhecimento oficial para a coroa portuguesa». Deste reconhecimento da Ilha da Madeira foram «recolhidas amostras das respectivas águas e madeiras», segundo o Coronel Rui Carita (A Arquitectura Militar na Madeira nos Séculos XV a XVII).
O autor anterior citado, mais refere que o «rei D. João I ordenou o povoamento do arquipélago da Madeira entre 1420 e 1425. Este foi dividido em três capitanias: Funchal e Machico, na Madeira, doadas a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, escudeiros do infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo; e a ilha do Porto Santo concedida a Bartolomeu Perestrelo, fidalgo da casa do infante D. João, mestre da Ordem de Santiago da Espada».
O povoamento e a origem geográfica dos povoadores do arquipélago madeirense, sempre estiveram rodeados de brumas iguais às que esconderam as ilhas no oceano Atlântico por milhares de anos dos povos europeus e africanos. Podemos atestar esta premissa pelas dificuldades dos historiadores, não só, pela falta de documentação, como pelas descrições dos cronistas, por vezes ambíguas e pouco coincidentes. Todavia, o povoamento da Madeira teve por base os companheiros de Zarco e de Tristão, que se encontravam no Algarve ao serviço do infante D. Henrique. Por outro lado o povoamento do Porto Santo teve assento em Bartolomeu Perestrelo, que segundo os cronistas, acompanhou Zarco e Tristão na segunda viagem de reconhecimento ao Arquipélago.
A falta de documentação dificulta o elucidar da origem dos povoadores da ilha de “São Brandão” ou Porto Santo. «Não é possível saber-se a forma como teve lugar o primeiro assentamento e a origem dos colonos» desta ilha, segundo Alberto Vieira (Porto Santo - Breve Memória Histórica - Centro de Estudos de História do Atlântico). «Insiste-se numa forte presença algarvia e na sua origem fidalga», segundo este, e que «apenas por um documento de 1529 sabe-se que a ilha começou a povoar-se com sete ou oito homens». Para percebermos a complexidade do povoamento do Porto Santo basta apenas “conhecer” que após o assalto perpetrado por corsários argelinos a esta ilha em 1617, «ficou quase deserta». Segundo o Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento, «os argelinos levaram 900 cativos, só ficando, 19 homens e 7 mulheres. Isto levou a Coroa a atribuir, em 13 de Agosto de 1619, a Martim Mendes de Vasconcellos a difícil tarefa de repovoar a ilha com gentes do Porto da Cruz, Caniçal e Santa Cruz». Assim podemos concluir que, os actuais habitantes desta ilha tiveram uma forte ligação e ascendência aos povoadores da capitania de Tristão Vaz e vice-versa.
Relativamente à Ilha da Madeira, Francisco Alcoforado, o mais antigo cronista escreve, «que os primeiros companheiros de Zarco seriam principalmente do sul do País, mais concretamente de Lagos». Mas, a grande parte dos povoadores que nos anos seguintes se deslocou para a Madeira veio em grande número, do Norte do continente português, possível área de origem da família de Zarco e também da de Tristão Vaz. Tal como os dias de hoje e fazendo um paralelo com a diáspora madeirense, onde em regra emigra o “pai ou irmão mais velho”, logo lhe segue os restantes familiares.
É «comum atribuir-se a proveniência algarvia aos primeiros e principais povoadores que desencadearam a ocupação da ilha», segundo, Luís de Albuquerque e Alberto Vieira, na sua obra, “O Arquipélago da Madeira no Século XV”. Segundo estes, «essa ideia filia-se na tradição, que corre no Algarve, da participação das suas gentes na gesta expansionista, e na expressão de Jerónimo Dias Leite, ‘muitos do Algarve’». Ainda mais referem que, lhes parece apressada esta concepção, «uma vez que faltam provas que a corroborem», e que numa «listagem dos primeiros povoadores referidos nos documentos e crónicas a presença nortenha é muito superior à algarvia (64% para 25%); por outro lado os registos paroquiais da freguesia da Sé, no período de 1539 a 1600, corroboram esta conclusão, uma vez que os nubentes oriundos de Braga, Viana e Porto representam metade do total; enquanto os provenientes de Faro não ultrapassam os 3%». Partindo da análise destes dados retirados destes mesmos registos (1539 e 1600), «chega-se à conclusão que metade da população não nascida na Madeira era originária do Norte do País», e que a «situação do século anterior» (século XIV) «não deve ter sido por certo diferente».
Assim, Luis de Sousa Melo, antigo Director do Arquivo Regional da Madeira, igualmente é da mesma opinião. Numa «tentativa de aproximação com base nos registos de casamento da paróquia da Sé», nas mesmas datas (1539 a 1600), foi-lhe «possível averiguar» que, para este período, «foi da província do Minho, com os distritos de Braga e Viana do Castelo, que a maioria dos recém-chegados era natural: 54,4% - muito longe dos 13,2% dos do Douro Litoral, mais ainda dos 8,3% da Estremadura, a que se seguiram os naturais das Beiras com 5%, os de Trás-os-Montes e Alto-Douro com 4,5%, depois os do Algarve com 3,7%, os do Alentejo com 2,5%, e por fim os do Ribatejo com 1,2%. (Fonte, “Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860”).
Escreve, Alberto Vieira no seu artigo, “O Infante e a Madeira: Dúvidas e Certezas - Centro de Estudos de História do Atlântico”, ainda mais que «a mesma ideia é reafirmada por recente estudo em que se analisa a situação das demais freguesias da Madeira no século XVI», e mais uma vez são «remetidos para o norte do país, onde se destacam Braga (11%), Viana do Castelo (8,4%)».
Segundo o autor supracitado, «o povoamento da Madeira é um processo faseado, em que intervêm colonos oriundos dos mais recônditos destinos, e que de todo o Reino surgem gentes empenhadas nesta experiência tentadora, é de prever a confluência de várias localidades, em especial as áreas ribeirinhas - Lisboa, Lagos, Aveiro, Porto e Viana -, adestradas no arroteamento de terras incultas». Se do Algarve partiram «muitos dos apaniguados da casa do infante, com uma função importante no lançamento das bases institucionais do senhorio, não é menos certo que do Norte de Portugal, nomeadamente da região de Entre-Douro e Minho, provêm os cabouqueiros necessários ao desbravamento da densa floresta e preparar o solo para as culturas mediterrânicas - cereal, vinha, cana-de-açúcar e pastel».
Na realidade, o Norte de Portugal, nos séculos XIV e XV era a região do país com maior densidade populacional por um lado e por outro, esta região sempre teve uma «permanente vinculação à economia madeirense». No «reinado de D. João II» (1481 a 1495), escreve Eduardo C. N. Pereira nas Ilhas de Zargo, «os mercadores de Guimarães navegavam entre os arquipélagos dos Açores, Madeira, Continente e Flandres com naus do Porto, Vila do Conde, Viana, Azurara e Aveiro, negociando açúcares, pimenta... panos de baetilha, chapéus, linhos, etc. Guimarães era sede de um vasto termo e extensíssima comarca de 30 concelhos e chave do comércio com os concelhos interiores de Entre-Douro e Minho e Trás-os-Montes». A Madeira atraiu a partir de meados do século XV uma vaga de forasteiros, mercê da prioridade na ocupação e na exploração do açúcar, resultante dos circuitos comerciais madeirenses com o Mar Mediterrânico e Norte da Europa. Segundo Alberto Vieira, «a coroa facultava a entrada e a fixação de italianos» (florentinos e genoveses), «flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcar». Luis de Sousa Melo, (Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860) mais acrescenta que, «a introdução da cana sacarina, a construção das levadas transportadoras de água, e dos engenhos fabricadores de açúcar trouxeram gentes das mais variadas origens e condições sociais, desde os escravos “oxipticios” ou ciganos até aos cultivadores, comerciantes, rendeiros, produtores e exportadores, galegos uns, genoveses e flamengos outros».

«Havia judeus na Madeira no século XV», refere o Elucidário Madeirense, «tendo muitos deles, com vontade ou sem ela, abraçado o cristianismo, depois do bárbaro decreto da expulsão dos filhos de Israel, publicado por D. Manuel em Dezembro de 1496». Em 1461 na Madeira, «revela a petição dirigida ao infante uma certa má vontade contra os israelitas, má vontade que só bem claramente se manifestou mais tarde, quando a intolerância e o fanatismo de D. Manuel vieram abrir caminho ás perseguições de que foram vitimas os membros dessa raça proscrita, ainda mesmo quando aceitavam o baptismo, para evitar a expulsão do país». Ainda no século XVII, os cristãos-novos “Fintados pelo Perdão de 1605”, era-lhes cobrado a “finta”, «segundo instruções dadas por Filipe III» ao «licenciado António Ferreira, encarregado desta cobrança», neste Arquipélago, e só «mulheres de nação casadas com ou viúvas de cristãos-velhos de quatro costados que viviam honestamente, estavam isentas», segundo Nelson Veríssimo, (Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII).
Os 60 anos de “domínio filipino”, entre 1580 e 1640, e as ligações comerciais com as ilhas Canárias, acrescentaram outras gentes oriundas da Península Ibérica “não portuguesa”.

Regista-se por fim, a presença de ingleses, que adquiriram um lugar relevante no arquipélago da Madeira a partir do século XVII. «Os flamengos os primeiros que se entregaram aqui a operações bancárias» e também comerciais, «seguindo-se-lhes os ingleses que, como é sabido, adquiriram grande proponderancia nos negocios da Ilha, do meado do seculo XVII em diante», segundo o Elucidário. Estes obtiveram notável influência e predomínio, em vários ramos de comércio na ilha da Madeira, estando inteiramente na sua dependência a exportação dos vinhos madeirenses, designadamente para as colónias britânicas.
A «colónia inglesa» na Madeira, escrevem os autores do mesmo Elucidário, «não chegou nunca a radicar simpatias no nosso meio, a pesar do predomínio e da influencia de que gozava. O orgulho de raça, o isolamento que quasi sempre procurou guardar, a altivez com que em geral tratava os naturais, as raras manifestações de filantropia ou benemerencia em favor da terra que a tornou opulenta, são as principais causas de não ter criado um ambiente que lhe fosse propicio e a tornasse benquista aos olhos dos madeirenses». Contudo, «não é também de estranhar que […] insulares, vivendo no isolamento do oceano e sem espírito algum de reacção contra as influencias estranhas, se deixassem seduzir pelos costumes, tendências e predilecções de estrangeiros, que vinham dos grandes centros europeus e eram considerados como os verdadeiros protótipos de um povo civilizado, sendo certo que essas influencias exerceram em alguns pontos uma acção muito benéfica» no meio madeirense, «especialmente nas relações sociais e no convívio elegante das chamadas pessoas de sociedade». Por outro lado, «a um numero relativamente grande de súbditos inglêses se deve o estudo de certos ramos de historia natural» do arquipélago da Madeira, existindo «trabalhos muito valiosos e de profunda e demorada pesquisa cientifica, que não podem nem devem ser esquecidos pelos madeirenses».

Este grupo europeu, teve uma importância primordial na formação de uma população madeirense. O Arquipélago é o primeiro espaço geográfico, onde não existia outros povos a ser colonizado por europeus fora da Europa. A sua presença nestas ilhas do Atlântico tornou pouco expressiva a presença de outros grupos étnicos não europeus. Destes apenas se salientam os africanos (mouros, negros, e guanches ou canários), que surgiram nas ilhas sob à condição servil, onde desempenharam um importante papel relacionado com o arranque da economia açucareira, nomeadamente na Madeira. Os autores do Elucidário Madeirense escrevem que, «foi o solo da Madeira regado pelo suor dos escravos negros, mouros e mulatos. Nos fins do século XV, havia nesta ilha o número aproximado de dois mil escravos, que era bastante avultado ao lado da população europeia, que então orçaria por quinze a dezoito mil habitantes. A distribuição das terras pelo sistema das sesmarias favoreceu o estabelecimento de muitas ‘fazendas povoadas’, em que ‘os primitivos povoadores’ viviam com as suas familias e escravos, tornando-se em breve os proprietários das mesmas terras e deixando o cultivo delas aos colonos e escravos». Por 1490, proibiu-se a residência na Madeira aos indivíduos oriundos de Grã Canária, Palma, Tenerife e Gomera, mas em 1515 foi esta ordem revogada para «aqueles que exercessem o oficio de mestres de açucares».

Tudo indica que, deste grupo os preferidos seriam os mouros. O Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento publicou no "N.º 1983 do artigo Heraldo da Madeira" um artigo interessante acerca dos mouros na Madeira, do qual é igualmente transcrito no Elucidário. Segundo este, «o mouro era mais trabalhador do que o escravo da Guiné e da Mina, por isso a preferência dos senhores das terras em importa-lo para as suas fazendas de cultivo. Este comercio escandaloso em que se entendiam de cá os donatarios, e das praças d’Africa os governadores, que ordenavam razias, originou o clamor do chefe dos mouros que lamenta em carta a D. Manoel, o que fazia Azambuja, apanhando a torto e a direito e de todas as classes, para enviar de contracto aos capitães da Madeira. É o que se depara nos Documentos arábicos copiados dos originaes da Torre do Tombo, 1790. Os mouros formaram núcleos importantes, reunindo-se em grupo ou bairro á parte, como o attesta a Mouraria, uma das ruas mais antigas do Funchal», [?] e «tiveram grande commercio nas villas, especialmente em Ponta do Sol e Santa Cruz. N’esta ultima mostrava-se ainda ha annos um retábulo existente na igreja parochial, onde figuravam escravos mouros usando um pequeno turbante afunilado, com uma ponta cahida, de que derivaram a carapuça do villão e a toalhinha pendente da cabeça, antigos trajes característicos da camponeza da Madeira. Dos mouros, a dolência dos cantares, mas a dança repisada é movimento de negro. Dos mouros as lengas-lengas serranas, os populares: lengi lengi o nevoeiro corriqueiro, a formiga que o seu pé prende. Entre as brumas, princezas encantadas, as historias de palácios e riquezas enthesouradas, ladrões e varas de condão, são influencias e assumptos do povo, migrados nesta corrente de longe subordinada. Dos mouros ainda o cuscuz, essa massa granulada de farinha de trigo, tão apreciada pelas classes pobres e que só a comem nas ocasiões solenes, com um naco de carne de porco, pelos baptisados e casamentos, não faltando o ramo de segurelha e coentro que encima o prato e o aromatisa. Vae-te p’ra Argel é uma praga popular que relembra o saque e captiveiro em terras da moirama».

Este grupo servil, surgiu com uma importância relevante na sociedade madeirense no século XV. O «seu peso gerou preocupação e tomou necessária a regulamentação dos seus movimentos e do seu espaço de convívio; daí a exigência dos nele incluídos usarem um sinal, de se recolherem à casa do senhor, ao mesmo tempo que se ordenou a explosão dos forros, com excepção dos canários». Ainda que «os escravos se encontrassem dispersos por toda a ilha» (da Madeira), segundo o Elucidário Madeirense, «nomeadamente no Funchal, Ponta do Sol, Machico e Curral das Freiras se constituíram importantes núcleos de população negra e mourisca, que entre si se foram cruzando e também misturando com os habitantes descendentes dos colonos continentais, diluindo-se e confundindo-se deste modo na população madeirense os traços característicos daquelas raças. Um numero, porém, considerável de indivíduos negros, mulatos e mouros conservou, até há poucos anos ainda, as linhas fisionómicas que distinguem os povos donde descendiam. Não é raro encontrar-se ainda alguns indivíduos com os traços bem acentuadamente definidos da raça» negra.

Nas décadas de 60 e 70 do século XX na Madeira, raramente se observava habitantes com características africanas, (excepto mouriscas), apenas visitantes ocasionais e tripulantes dos Navios que atracavam no Porto do Funchal. O regresso das gentes das ex-colónias, após a revolução dos cravos, e a necessidade de importar mão-de-obra do exterior face às grandes obras efectuadas na Madeira e Porto Santo, o espaço insular foi enriquecido com outras pessoas deste continente. Actualmente, e ao contrário do século anterior é possível ver no Arquipélago da Madeira, gentes dos quatro “cantos do mundo”.

Estudos genéticos recentes (que não são objecto deste artigo), realizados pelo Laboratório de Genética Humana, da Universidade da Madeira, coordenado pelo Biólogo madeirense, Hélder Spínola, permitiram a identificar perfil genético da população do Arquipélago, e não só, também de Portugal Continental e Arquipélagos dos Açores, Cabo Verde e S. Tomé, e também da Guiné. Tudo indica que esse “mesmo perfil” não foge à história das ilhas e as marcas das gentes que as habitam. Segundo estes estudos os habitantes do Arquipélago terão influências de cerca «10 a 15% de características genéticas africanas», muito parecidas com as do Algarve. Este trabalho teve igualmente uma «relação com outras áreas de investigação, como a História, a Arqueologia e a Antropologia».
Nos dias de hoje, a “força da tradição”, ainda domina a “premissa” que o Arquipélago da Madeira foi povoado unicamente por algarvios!
in:madeira-gentes-lugares.blogspot.