“… mas quando o imposto começa a aparecer
vagamente entre as profundidades do deficit, o povo exalta-se, reclama,
pede, exige e às vezes deixa a sua cólera varrer os partidos e dispersar
os corrilhos.”
Eça de Queiroz, 28 Fevereiro 1867
Perdoai-me, leitores, se hoje pego em citações recentes que quase todos ouvimos, interiorizámos ou não, mas que sentimos fosse na pele ou no íntimo.
Pé ante pé, em passinhos de coelho por portas escusas, com contraditórios posteriormente desmentidos, medidas subvertidas modificaram o país. A conflitualidade é notória e os números não a desmentem.
Em mais de três anos a apregoada reforma do Estado nem em papel vegetal nos foi apresentada. O corte de gorduras não sujou qualquer frigideira ainda que os portugueses se sintam cada vez mais fritos e aflitos. O primeiro-ministro anunciava em 23 de Abril último que “não se deve esfolar um coelho antes de o caçar” (Nem sonha ele a vontadinha que grassa no país!).
Em Fevereiro passado, ao provar bacalhau num salão internacional do sector alimentar, afirmou que era um produto para pessoas abonadas e, referindo-se a ele próprio, confessou-se “pouco abonado”. Lembra o lamento da parca reforma da D. Maria e do gasto de poupanças amealhadas de um Sr. Silva!
Como se não bastasse ouvimos há dias o primeiro-ministro afirmar numa entrevista televisa que “temos de remover os entorses que esta forte progressividade criou”. Perceberam? Eu também não!
E foi finalmente parido um DEO, cuja paternidade total ainda desconheço à data, que aumenta a taxa de IVA e a TSU, onerando reformados, activos e desempregados quando, há pouco mais de quinze dias, não haveria aumento de impostos.
A população prisional aumentou de 2011/2012 de 7,7% (2,5% média europeia) e cada preso custa ao país €47,07 (contra €103,00 na Europa).
Nem quero imaginar a comparação de preços a nível de refeições escolares ou hospitalares entre Portugal e a Europa. Neste momento uma bica ou uma sopa pagarão a curto prazo 23,25% de IVA enquanto os produtos petrolíferos pagam 13%.
Como se não bastasse, aumenta a emigração e o desemprego jovem é em Março pº. pº. de 35,4%.
Prevêem, os que governam, momentos idílicos de equilíbrio para daqui a dez ou vinte anos. Com sustentabilidade e tudo! Haverá, a esse tempo, população em Portugal?
As desculpas da troika, do Tribunal Constitucional, dos Mercados internacionais foram os papões que nem o governo, nem os conselhos de sábios formados e as comissões de estudos, serviram para diminuir a dívida, o deficit, a credibilidade e a dignidade que o país merecem.
Tudo se vende: empresas rentáveis, como os CTT, a energia para que os custos de consumo fossem mantidos mas que já subiram e voltarão a subir por força do preço ou mesmo do IVA, a ANA que já subiu as taxas aeroportuárias, a TAP está na calha e até o Oceanário já está em marcha.
Em nada me admiraria de ver a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Centro Cultural de Belém a serem concessionados por cinquenta anos…
Passámos os 40 anos de Abril e de um 1º de Maio em liberdade: sem pompas, sem manifestações que acusassem o desgaste que nos atinge o sabugo, sem a lógica da desilusão que transborda. Salvou-se a lembrança que a comunicação social nos recordou em entrevistas, histórias, documentos radiofónicos ou fotográficos, lembrando aos mais velhos o quanto foi importante e ensinando aos mais novos o porquê da liberdade que hoje desfrutam.
Temos, neste mês, mais uma oportunidade: saibamos aproveitá-la defendendo-nos de um centralismo europeu para que possamos ser uma voz clara, mesmo que pequena, mas firme em defesa dos nossos interesses, da nossa portugalidade.
Maria Teresa Góis
DiárioNotícias Madeira, 04 de Maio 2014
Eça de Queiroz, 28 Fevereiro 1867
Perdoai-me, leitores, se hoje pego em citações recentes que quase todos ouvimos, interiorizámos ou não, mas que sentimos fosse na pele ou no íntimo.
Pé ante pé, em passinhos de coelho por portas escusas, com contraditórios posteriormente desmentidos, medidas subvertidas modificaram o país. A conflitualidade é notória e os números não a desmentem.
Em mais de três anos a apregoada reforma do Estado nem em papel vegetal nos foi apresentada. O corte de gorduras não sujou qualquer frigideira ainda que os portugueses se sintam cada vez mais fritos e aflitos. O primeiro-ministro anunciava em 23 de Abril último que “não se deve esfolar um coelho antes de o caçar” (Nem sonha ele a vontadinha que grassa no país!).
Em Fevereiro passado, ao provar bacalhau num salão internacional do sector alimentar, afirmou que era um produto para pessoas abonadas e, referindo-se a ele próprio, confessou-se “pouco abonado”. Lembra o lamento da parca reforma da D. Maria e do gasto de poupanças amealhadas de um Sr. Silva!
Como se não bastasse ouvimos há dias o primeiro-ministro afirmar numa entrevista televisa que “temos de remover os entorses que esta forte progressividade criou”. Perceberam? Eu também não!
E foi finalmente parido um DEO, cuja paternidade total ainda desconheço à data, que aumenta a taxa de IVA e a TSU, onerando reformados, activos e desempregados quando, há pouco mais de quinze dias, não haveria aumento de impostos.
A população prisional aumentou de 2011/2012 de 7,7% (2,5% média europeia) e cada preso custa ao país €47,07 (contra €103,00 na Europa).
Nem quero imaginar a comparação de preços a nível de refeições escolares ou hospitalares entre Portugal e a Europa. Neste momento uma bica ou uma sopa pagarão a curto prazo 23,25% de IVA enquanto os produtos petrolíferos pagam 13%.
Como se não bastasse, aumenta a emigração e o desemprego jovem é em Março pº. pº. de 35,4%.
Prevêem, os que governam, momentos idílicos de equilíbrio para daqui a dez ou vinte anos. Com sustentabilidade e tudo! Haverá, a esse tempo, população em Portugal?
As desculpas da troika, do Tribunal Constitucional, dos Mercados internacionais foram os papões que nem o governo, nem os conselhos de sábios formados e as comissões de estudos, serviram para diminuir a dívida, o deficit, a credibilidade e a dignidade que o país merecem.
Tudo se vende: empresas rentáveis, como os CTT, a energia para que os custos de consumo fossem mantidos mas que já subiram e voltarão a subir por força do preço ou mesmo do IVA, a ANA que já subiu as taxas aeroportuárias, a TAP está na calha e até o Oceanário já está em marcha.
Em nada me admiraria de ver a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Centro Cultural de Belém a serem concessionados por cinquenta anos…
Passámos os 40 anos de Abril e de um 1º de Maio em liberdade: sem pompas, sem manifestações que acusassem o desgaste que nos atinge o sabugo, sem a lógica da desilusão que transborda. Salvou-se a lembrança que a comunicação social nos recordou em entrevistas, histórias, documentos radiofónicos ou fotográficos, lembrando aos mais velhos o quanto foi importante e ensinando aos mais novos o porquê da liberdade que hoje desfrutam.
Temos, neste mês, mais uma oportunidade: saibamos aproveitá-la defendendo-nos de um centralismo europeu para que possamos ser uma voz clara, mesmo que pequena, mas firme em defesa dos nossos interesses, da nossa portugalidade.
Maria Teresa Góis
DiárioNotícias Madeira, 04 de Maio 2014