O RESPEITO E A AUTORIDADE ENSINADOS AOS PROFESSORES
Em França, organizados a título experimental vários seminários sobre gestão de aulas
"Nem sempre é fácil manter uma turma interessada, sobretudo nas escolas consideradas disciplinarmente difíceis. "Insultaram-me, até me cuspiram para cima", lembra Sebastien Clerc, professor de francês e de história-geografia, num liceu profissional da Seine-Saint Dennis (arrabalde norte de Paris).
"Agora a situação melhorou. Gosto realmente de ensinar", confessava o jovem professor de 33 anos, em meados de Janeiro, perante professores do liceu Jean-Lurçat, no 13º bairro de Paris. A sua próxima intervenção, a sexta desde desde o início do ano escolar, sobre o respeito e a autoridade nas aulas, terá lugar sábado, 30 de Janeiro, para os professores de uma escola de Vesinet, longíquo arrabalde de Paris. Um seminário que começa sempre com uma intervenção teórica do filósofo Yves Michaud, sobre as noções de disciplina e de diálogo.
O binómio Sébastien Clerc/Yves Michaud tem já uma longa rodagem. Ao longo do ano escolar 2009/10, com o apoio do Ministério da Educação, participarão em 10 seminários experimentais, destinados aos professores da região Ille de France (Grande Paris), sobre problemas de respeito e de autoridade na sala de aula. Pedidos feitos por vários directores de escola, que assim serão satisfeitos.
Yves Michaud e Sébastien Clerc já foram solicitados no ano escolar anterior pelo reitor da Academia de Créteil, para dirigirem formações expeditas de gestão de aulas, para professores principiantes. Perante estes auditores, Clerc apresentou uma série de conselhos e de receitas, resultado dos seus nove anos de experiência docente. Uma espécie de caixa de ferramentas, na qual os professores-formandos podem e devem seleccionar tudo o que lhes parecer pertinente. "É importante começar uma aula da forma mais dinâmica possível", explica. Em vez de escrever o respectivo plano no quadro, de costas para os alunos, recomenda que se deve distribuir ou projectar um plano susceptível de captar a atenção dos alunos. "Para incitar os alunos a levantarem o braço, dê a palavra unicamente aos que assim procedem e ignore deliberadamente os outros."
Para aplicar regras, é naturalmente indispensável que os alunos as conheçam. Clerc explica que se viu forçado a criar um curso de boas maneiras, após ter verificado que os alunos desconheciam tal coisa. Na eventualidade de quebra de disciplina, aconselha os colegas a dominarem as suas emoções e a nunca se mostrarem coléricos. "Quando um aluno for insolente, diga-lhe calmamente que é grave e que vai fazer a respectiva participação", insiste o jovem docente. Para reagir prontamente, tem sempre sobre a mesa um dossier com fichas de exclusão previamente assinadas.
Mas para "segurar" uma turma "é sempre importante instaurar um clima caloroso". Por isso, saúda sempre os alunos, pergunta-lhes como vai a vida e anima, fora das aulas, uma formação de xadrez. Logo no princípio do ano escolar, aquando do preenchimento da ficha individual, nunca pergunta a profissão dos pais, o que poderia embaraçar alguns alunos. Mas interroga-os sempre sobre música preferida, passatempos e disciplinas de que mais gostam.
No final da intervenção, há sempre debate. "Durante a nossa formação disseram-nos sempre que "o aluno é um aprendedor que deseja aprender". Daqui resultou que a minha primeira aula foi uma verdadeira desgraça. Se tivesse assistido antes a este seminário, talvez as coisas tivessem sido diferentes", comentou uma professora. Um outro professor não esconde a sua decepção: "Digam o que disserem, aprender é algo de violento. É importante revalorizar a aprendizagem. Com receitas deste tipo, apenas se consegue comprar a provisória e artificial paz social."
A autoridade e a gestão das aulas continuam ainda ausentes da formação dos professores. O Instituto de Formação de Professores de Créteil, uma região com grande percentagem de alunos disciplinarmente difíceis, propõe desde 1992 módulos de formação nessa área. Além disso, a partir deste ano escolar, os professores principiantes, catapultados às centenas para esta academia, têm a ocasião de frequentar um seminário prático sobre condução de aulas e o acompanhamento por um colega já experiente. "Em termos de autoridade na sala de aula, a questão não depende unicamente da atitude do professor, mas igualmente da construção da sua legitimidade disciplinar", explica Jean-Louis Auduc, director-adjunto do centro de formação de Créteil. Segundo diz, o professor deve sempre tentar demonstrar aos alunos o interesse da sua disciplina, apoiando-se o mais possível sobre o respectivo livro, "símbolo do programa desejado pela nação".
Jean-Claude Richoz, professor-formador na Haute École Pédagogique de Vaud, na Suiça, propõe num livro recente iniciativas de intervenção para restabelecer um clima sereno de trabalho nas aulas perturbadas. "A presença do professor na aula não é muito diferente da presença em cena do actor. Passa nos dois casos por toda uma série de actos gestuais, para os quais se pode ser mais ou menos dotado, mas que é possível adquirir". O olhar, a gestualidade, a ocupação do espaço, a consciência da aula e, claro, a oralidade, são devidamente detalhadas pelo especialista. "Em geral os professores têm muita falta de auto-confiança e muita dificuldade em impôr-se perante os alunos. Daqui resulta geralmente uma gestão de aula demasiado afectiva, quando o mais útil seria estabelecer antes um quadro normativo". Ensinar nas aulas exige, antes de mais, que o professor se sinta legitimado nas suas funções.
"A principal armadilha para os professores é de se sentirem impotentes, atribuindo principalmente a causas exteriores, familiares e outras, a origem dos problemas comportamentais na escola, afirma Richoz. Para evitar tal problema, devem pelo contrário "reencontrar a esperança de que podem e devem eles próprios modificar positivamente as situações com as quais são confrontados."
Martine Laronche, Le Monde, 31/o1/10
Tradução, adaptação e nota final de António Rebelo
Livros em francês sobre o assunto: Gestion de classes e élèves difficiles, Jean-Claude Richoz, Ed. Favre, 447 páginas, 24,50 €, Au secours ! Sauvons notre école, Sébastien Clerc, Oh Editions, 234 páginas, 18,90 € (Podem encomendar pela Internet em Amazon.fr, ou na FNAC, no Fórum Coimbra, por exemplo. Caso me consigam enviar um exemplar, assumo o compromisso de o resumir no blogue. Isto dividido por todos não custa quase nada, mas sendo sempre o mesmo a desembolsar, torna-se um bocadinho pesado.)
Nota final:
Decidi apresentar esta tradução unicamente para retomar o normal ritmo do blogue. Com é sabido, tanto no país, em geral, como em Tomar, em particular, não temos problemas destes. Os nossos alunos, particularmente os do básico, são todos muito bons, muito disciplinados e muito educados. Por isso obtêm tão boas classificações.
Quanto aos professores, são todos mestres na sua arte de ensinar e de estar na aula, pelo que nunca enfrentam problemas comportamentais dos alunos, ou mesmo de outros colegas.
Daqui resulta existirem por esse país fora escolas com classificação de excelente, cujas turmas têm aproveitamentos superiores a 90 %.
Daqui resulta que os resultados dos nossos alunos estão entre os melhores da Europa, salvo erro !
Daqui resulta que, pelo menos aqui em Tomar, ninguém na área do ensino pratica sistematicamente a política dita da avestruz.
Daqui resulta, finalmente, que uma vez adultos, os ex-alunos são verdadeiras desgraças (salvo raras excepções), não por culpa dos professores ou do ministério. Apenas porque já esqueceram tudo aquilo que aprenderam na sua longa escolaridade. Ou não ?