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8 de julho de 2016


Por bem, decidiram então pelo fim. Depois de ininterruptos cinco anos. O primeiro foi de tremedeira nas pernas. No segundo, atingiram o nirvana sexual. Com o terceiro veio junto o apartamento. No quarto, desejo mútuo por terceiros. Finalmente, o quinto mostrou que haviam se tornado dois. Definitivamente, duas novas perspectivas de vida. Ela não pediu que ele ficasse. Ele chorou porque sempre foi o pilar sentimental do casal, e só por isso. Ela ficou com o apartamento. Ele com o labrador, com nome de ex-craque do Internacional. A última coisa que ele fez foi catar seus discos da Legião Urbana. Ela deu uma última olhada em volta. Ele entregou a chave. Ela deixou escapar que nunca vai esquecê-lo, de alguma forma. Ambos relembraram o plano de provar pra todo mundo que dava para coabitar romanticamente. A porta se fechou dando fim ao que não tinha fim. Ela decidiu rever tudo. Jurou que seria eternamente fiel à liberdade. Agora, madruga suas noites em discotecas, na companhia de estranhos e envolta em novos braços peludos. Aos sábados, dorme até meio dia para esquecer a antiga rotina de acordar cedo, fazer jogging no Parcão e almoçar os bifes maravilhosos da mãe dele. Não assiste mais novela, passou a usar mais vestido, começou a ouvir Bossa Nova e cogita tatuar o pé. Ele planejou uma revolução. Decidiu conhecer alguém novo, ligou para uma garota de programa. Hoje, não fica um dia sem compartilhar o violão com velhos amigos no Bar dos Podres. Invariavelmente, passa os domingos de chuva na cama, na companhia do Falcão, uma garrafa de Merlot e A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Perdeu seis quilos no último mês, deixa roupas penduradas, trocou de emprego e cogita passar o feriadão em Ilha Bela. E suas vidas continuam, sob nova direção. Outro mês se foi, e eles não tem notícias e nem previsão de reprise. Ele é grato a si mesmo pela implosão das grades. Ela sente um mundo de possibilidades inflando ao seu redor. Ele pede aos amigos que digam a ela que até está bem, levando, obrigado. Ela não oculta uma certa tristeza no olhar na frente deles. Ele espera que ela esteja feliz e bem acompanhada, com alguém decente, que tenha ao menos o carinho que ela merece. Ela torce secretamente para que tão cedo ele não encontre uma garota “melhor”. Querendo ou não, ele pensa nela de quando em quando. Toda noite, se aproxima do velho apartamento com o labrador Falcão, e questiona as luzes apagadas já na tarde-noite. Fica imaginando se aquela dor crônica no pescoço curou, se tem comido beterraba e controlado direitinho a tireoide, conforme prometeu que faria. Agora, desconfia que as novas garotas da sua vida serão meros passatempos. Sente falta de ouvir aquela voz meio gasguita. Chega a pegar o telefone. Não telefona. Bem ou mal, ela sente sua ausência. Toda noite, evita estar em casa lembrando que o espaço do apartamento triplicou por um milhão. Sente falta de camisetas espalhadas aleatoriamente. Fica lembrando ele cozinhando espaguete al pesto, ou quando ele sentava na janela dedilhando “Tears In Heaven”, ou assistia o colorado comportadinho, roendo as unhas sem parar, os pés no sofá. Hoje, coleciona casos com cafajestes fajutos. Sente falta dos sermões que levava por andar descalça no chão frio. Verifica o funcionamento do telefone: tu-tu-tu. Presos pela liberdade, prosseguem cada um na sua, conectados por um fio invisível que não conduz mais eletricidade. Um fio de saudade dissonante e a certeza de que, amor como aquele deles, não acontece no tocar de uma varinha de condão. 

Gabito Nunes

29 de junho de 2016



Você é aquele tipo de pessoa inconfiável, seus movimentos são joguinhos manipuladores, seus discursos nem se fala. Já faz tempo que parei de guiar minha vida com suas frases de parachoque de caminhão. Fui embora. Agora de uma vez. Sem volta e sem conversa. Não estou dizendo isso porque no fundo te quero ralando joelho pelas ruas atrás de mim. Não dessa vez. Não vem com bombons, não vem com desculpas, não vem com canções. Não vem. Dá uma olhada em tudo que você fez e me diz. Viu? A novidade é que o dia que eu sempre prometi que viria, e que você nunca esperou chegar de verdade, veio. Eu cansei. Não sou mais eu. Contou os anos? Quanto tempo esperei por você? Você crescer, você mudar, você mostrar algum remorso. Você tem de querer. Embora eu queira muito, mesmo eu querendo em dobro, não há como querer por você. Só quem enfrenta longas esperas sabe como é o inferno por dentro. Eu sempre falei, um dia alguém tinha de te dizer não. Eu queria que não fosse eu, porque aí eu poderia ficar numa boa e assistir você sofrer, nem que seja calado num canto, mas sofrendo, mostrando algum arrependimento ou qualquer traço humano. Quem sabe eu até enfiaria os dedos ainda com anéis no meio dos seus cabelos e diria que tudo ficaria bem. Agora é tarde, meu anel já se foi, nem os dedos ficaram. Ficar seria tolerar suas mancadas. Você precisa perder pra entender onde errou, que isso que você faz é um erro, um dos feios. Que evitar e não tocar mais no assunto não é perdão ou esquecimento. É sufocar. E eu estava sufocando… Partes de mim querem ir embora, partes de mim querem ficar. Ainda não terminei de gostar de você. Mas consegui. Agora fui. Porque comecei isso querendo ser sua companheira, passei a cúmplice das suas maldades, e ficar dessa vez vai me fazer sua comparsa. Não é um ‘até amanhã’ nem ‘até breve’ e nem ‘até mais’. É um ‘até você mudar’ ou ‘até você não ser mais quem você é’. Até nunca, então.

Gabito Nunes.

27 de junho de 2014


A melhor fórmula para ganhar na loteria é jogar. A melhor fórmula para evitar o stress é sorrir. A fórmula para poupar o rosto das rugas é não encarar o espelho. Para não envelhecer, mentir a idade. Para conquistar alguém, Vinícius de Moraes. Para cólica, Atroveran. Para esconder as lágrimas, chorar na chuva. Para infidelidade, Lupicínio Rodrigues. Para temperar, sal de cozinha. Para má digestão, sal de frutas. Para azar, sal grosso.
 
A melhor fórmula para receber uma boa notícia é desligar a televisão. A melhor fórmula para curar a gripe é limão e mel. Para emagrecer, toma-se vergonha na cara. Para casar, toma-se atitude. Para enxaqueca, toma-se analgésico. Para tranquilidade, toma-se chá de cidreira. Para saudade, toma-se a frente. Para diabetes, toma-se insulina. Para insultar, tomar naquele lugar. Para depressão, toma-se fluoxetina. Para ir, toma-se ônibus.
 
A melhor fórmula para rir, é cócegas. A melhor fórmula para ganhar um abraço, é descruzar os braços. Para comer queijo, goiabada. Para beber uísque, gelo. Para comer pipoca, guaraná. Para ferida aberta, mertiolate. Para cair no chão, bicicleta. Para levar um tapa, avançar o sinal. Para inteligência, ler. Para um jantar romântico, velas. Para barba, loção. Para emoção, Clarice Lispector. Para insônia, Lexotan. Para gravidez, masturbação.

Para febre, termômetro. Para tétano, injeção. Para Alzheimer, palavra-cruzada. Para câimbra, alongamento. Para catapora, paciência. Para tosse, mão na boca. Para arrepio, sinal da cruz. Para verruga, não apontar estrelas. Para não ficar torto, não sair no vento. Para amargura, chocolate. Para Aids, camisinha. Para miopia, lentes de contato. Para raiva, contagem regressiva. Para hipocondria, placebo. Para inveja, arruda. Para frio, cobertor.
 
Para dor de barriga, erva-doce. Para dor de câncer, morfina. Para dor da culpa, Sigmund Freud. Para dor de choque elétrico, precaução. Para dor de dente, dentista. Para dor da solidão, bossa nova. Para dor nas costas, quiropraxia. Para dor de cotovelo, amor de sogra. Para dor de cabeça, mulher bonita. Para dor na consciência, perdão.
 
E a melhor fórmula para dor de amor? Aceitar de uma vez só que não tem fórmula, injeção, chá, antídoto, xarope, receita de vó, comprimido, remédio ou solução.
 
Gabito Nunes

19 de agosto de 2012

"Assim como amar, ser amado também é uma coisa que se aprende."

Gabito Nunes


"Ele não vai dizer a frase certa na hora certa, e vai fazer você descobrir que não há frases erradas quando se fala com o coração.
Ele não vai gostar do que você gosta, e você não vai gostar do que ele gosta, e a criatividade para descobrir prazeres em comum dará à relação um caráter insuspeitado.
De um jeito mais simples, é possível amar aceitando o que é possível receber, sem sofrer pelo que foi sonhado em vão."

Martha Medeiros
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