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27/03/13

Great Value

Li há uns dias aqui


Indeed, digo eu. De facto, e pensando bem, hoje vejo mais televisão do que via há uns anos. Vejo sobretudo mais séries – e francamente menos debate, análise ou opinião política; normalmente tenho a sensação de que já sei o que vão dizer, de que já ouvi tudo. Os protagonistas da análise/comentário político são tantas vezes fracos, quer a nível de formação ou habilitação de base, quer a nível de inteligência, quer a nível de real independência, quer a nível da preparação para os temas do dia. 

Sigo normalmente duas, três, com sorte quatro, séries semanalmente, no entanto há umas semanas, num período de convalescença, aproveitei para ver compactos de algumas que (inexplicável e injustificadamente) me escaparam e que ainda não tinha visto. Assim vi seguidas duas temporadas de Boardwalk Empire, e também duas de Game of Thrones. Ambas HBO, ambas muito boas, ambas para adultos, ambas violentas. Boardwalk Empire é uma sólida e magnífica realização, a todos os níveis, e com personagens únicas, densas e complexas que nos prendem - especial relevo para Nucky Thompson e Margaret Schroeder, um trabalho de composição e de representação notável. A série é tão cuidada em todos os detalhes que eu me deleito, por exemplo, com o tailoring impecável de Nucky Thompson, sempre cuidadosamente vestido – daquela forma que só os gangsters o sabem ser. Brilhante. Começa hoje a 3ª temporada.

Para além do magnífico Boardwalk Empire, percebi que três ou quatro episódios foram suficientes para compreender a fama de Game of Thrones, e o vício que tantos dizem ser. Uma inesperada e fantasiosa produção de tom medieval, mas muito bem pensada e realizada, que aqui se define como: 


Se me tivessem dito que iria ver com entusiasmo Game of Thrones, teria rido: nem pensar! Mas vi. Fiquei quase viciada. (Segundo o que tenho lido aquiaqui, aqui, aqui, há quem fique mesmo). 

08/01/13

A Tv do Casal Obama

Numa das tantas entrevistas dadas durante a campanha eleitoral norte-americana, soubemos das preferências televisivas – em termos de séries – do casal Obama. Ele gosta de Homeland, ela de Downton Abbey. Eu vejo as duas e como em Portugal acabaram agora as temporadas destas séries aqui fica mais um ponto de vista a acrescentar ao do casal Obama. 

Gostei da temporada 1 de Homeland, era uma série diferente, ousada em termos políticos e psicológicos, bem pensada e construída e com um surpreendente leque de bons actores. No entanto sentia que faltava alguma coisa para que a série saltasse do bom para o óptimo. E isso aconteceu certamente na temporada 2 que achei excelente. As personagens ganharam em densidade, a história ganhou em complexidade e crueza sem que no entanto, por um segundo, deixássemos de a sentir como credível ou que achássemos uma aberração ou fantasia o que víamos. A série vive nesse limiar e foi esse o segredo: a capacidade de nos fazer acreditar no que vemos. É também essencial referir a excepcional qualidade dos actores principais; algumas das cenas que protagonizaram são de antologia (o interrogatório de Brody por Carrie, por exemplo) e colaram-nos ao sofá. No meio de tanta qualidade só lamento que o último episódio (que passou ontem) tenha sido um dos mais fracos; por uma vez a série pareceu-me ultrapassar os limites do que conseguimos acreditar, (um pouco ‘over the top’), os diálogos foram mais frouxos e de circunstância, e sobretudo notou-se que a preocupação de preparar a 3ª temporada se sobrepôs à vontade de fazer um bom e credível episódio. Homeland é uma prova da teoria que tenho lido de que a televisão (as séries televisivas) que se produz nos EU, consegue tantas vezes ir mais além em inovação e qualidade do que o cinema americano. Para o ano há mais Homeland e ainda bem. 

Li que Michelle Obama gostou tanto de Downton Abbey que mal conseguiu esperar pela 3ª temporada tendo pedido à produtora para a ver antes da transmissão na televisão, coisa que a produtora, acredito que agradecida e solícita, fez enviando-lhe uma cópia. A terceira temporada de Downton Abbey viu-se como quem cumpre um dever. Se a segunda já tinha perdido em frescura e se tinha enredado em rodriguinhos e mais rodriguinhos, a terceira levou isso ao exagero, e ficamos com a sensação que já não sabiam que mais inventar para manter a série com vida. Então o último episódio (à semelhança do último episódio da temporada anterior) foi quase penoso de ver: por um lado a tentar servir o imaginário Escocês numa bandeja ao público americano, por outro, a matar uma personagem central - a razão da série Dowton Abbey, se bem nos lembramos. Porque é que se mata uma personagem, só porque o actor não renova o contracto? Não haverá outros actores de igual ou superior talento e com cabelo igualmente pintado de louro, ansiosos por tomar esse lugar? Esta terceira temporada sobrevive quase só do folclore que lhe dá audiências e que ninguém se opõe a ver: as mansões, as roupas, os jantares, os mordomos, e Maggie Smith. Shirley MacLaine, a grande promessa desta temporada foi um flop, alguns dos actores continuam 'fraquinhos' e sem graça e o enredo desenvolveu-se aos solavancos e de forma inconsistente. Deviam arranjar argumentistas da HBO, ou de outra boa produtora americana para tirarem a série do coma em que se encontra, e depois deixavam que fossem os ingleses a escrever (traduzir) para o inglês dos anos 20, e a introduzir as peculiaridades necessárias para que seja ‘inglês’. Nem quero imaginar como será a 4ª temporada, que a Senhora Obama verá também antes de mim, certamente. E não, não vem mal nenhum ao mundo por isso...

03/10/12

Wallander


Acabou no fim de semana passado a terceira série de episódios Wallander, uma série policial centrada num detective sueco que pertence à polícia duma cidade do sul da Suécia. Poderia ter escrito mais uma série TV policial, mas não o fiz de propósito pois Wallander é uma série diferente da maioria de séries que a televisão oferece e, no meio de tanta oferta, há algumas muito boas. Mas esta é diferente. 

É uma série para adultos e diria mesmo, só para alguns adultos. Não vejo os jovens (idade biológica, ou teimosamente em espírito) a interessarem-se e gostarem dos episódios desta série. Cada episódio funciona à volta de uma investigação policial, sendo o detective o centro da série. O ritmo é um andante com alguns momentos de maior tensão, longe do ritmo acelerado e de cenas curtas tão popular nas séries hoje. Não há grandes sub-intrigas, nem suspense, nem paixões sentimentais (amores, ódios, vinganças) a fazerem correr as personagens. Os diálogos não são ‘gripping’, nem abundantes. Wallander não é especialmente simpático nem antipático, não fala muito, não se explica, não proclama a felicidade, nem sequer parece procurá-la ou esforçar-se para mater uma ilusão de que é feliz. Também não há ‘gente gira’ na série, as personagens são banais e nunca parecem modelos: não têm os músculos esculpidos, têm rugas, dentes desalinhados e vestem roupa sem história. O ambiente físico e a paisagem não são tropicais, nem propícias ao uso de camisas abertas, calções ou bikinis e havaianas. Não há sol luminoso, mas sim uma ‘mood’ sombria entre os cinzas e verdes que convivem sempre com uma neblina. 

No entanto ver Wallander é sempre um desafio. Há um profundo reconhecimento do material que faz de nós seres humanos genuínos, e não saídos do estudo das estatísticas de audiências, algo raro nestes produtos televisivos. A personagem principal, introvertida e algo enigmática, bem como os crimes e criminosos que se atravessam no seu caminho, levam-nos e lembram-nos recantos dessa genuína humanidade que tantas vezes fingimos ignorar, e então reconhecemos os medos, a solidão, o desequilíbrio, as frustrações, o silêncio, a impotência, a dúvida, a violência, o vazio, um raio de luz de esperança que desaparece, uma ilusão que se desfaz, um sorriso breve que se crispa, uma alegria contida que dificilmente se abraça. Este reconhecimento de que falo, não reconforta, incomoda; não é exactamente aquele pathos mais frio e automatizado de Bergman mas, e mantendo-se Wallander (a série) também herdeira de um existencialismo protestante e nórdico, assume uma forma mais nostálgica e melancólica: a humanidade prisioneira de si própria, incapaz de se resolver. Essa mesma humanidade também prisioneira de uma sociedade tão politicamente correcta, tão aberta e livre que a própria liberdade é incómoda, a liberdade de questionar é quase uma subversão, e qualquer gesto fora do espectável é a origem de uma culpa que, de uma forma ou de outra todos expiam, (como ao longo dos séculos a expiaram), às vezes sem saberem nem que o fazem, nem porque o fazem. 

Kenneth Branagh é um Kurt Wallander excelente, e do seu trabalho resulta uma personagem complexa, tantas vezes em circunstâncias limite – um detective que procura culpados de crimes violentos convive com o limite – mas sempre totalmente credível nessa humanidade que partilha connosco espectadores,  e nesta terceira série foi especialmente convincente com momentos a que chamaria sublimes. 

Espero pela quarta série.

28/10/11

Interessante

Ontem enquanto folheava o Expresso online vi uma notícia sobre a Gala Dragão de Ouro. Sou portista (de sofá) desde que me lembro de existir embora tenha apenas uma incipiente paixão por futebol. Sou portanto uma portista muito básica: saber se o Porto ganhou ou não, em que lugar vai no campeonato, saber por quanto ganha ao Benfica, e saber como anda nas competições europeias. Sigo alguns jogos (com o Benfica sobretudo), vejo, com um só olho, três ou quatro jogos por época das competições europeias, e às vezes até aprecio o humor de Pinto da Costa. É tudo; mas é o suficiente para abrir a galeria de fotografias da Gala Dragão de Ouro - ver quem lá estava, quem foi premiado, e claro, ver as toilettes das ‘esposas’ dos futebolistas. O facto é que nenhuma das toilettes me surpreendeu tanto quanto as personagens que vi na primeira fotografia da galeria que se revela muito interessante: um risonho Miguel Relvas está lá. Apesar de ser o ministro que tutela o desporto, esse facto não me parece motivo suficiente para marcar presença numa gala de um clube que premeia exclusivamente pessoas desse, ou a trabalhar para esse clube: será que MR também vai às festas e galas do Portimonense, do Paços de Ferreira, do Gil Vicente ou do Rio Ave?

Presumo então que seja portista, coisa que não sabia. Aliás sei muito pouco sobre Miguel Relvas, é uma personagem que nunca me interessou nada. Mas estou a ver que isso vai mudar e a pouco e pouco Miguel Relvas começa a interessar-me: onde há dinheiro, poder ou influência ele ‘está lá’. E até está mais ‘lá’ do que o nosso Primeiro-ministro, algo que me intriga. Está na controversa privatização do BPN, está no imbróglio da (também controversa) privatização da RTP que ele decidiu e por ele assumida, mesmo antes de serem conhecidas as conclusões do grupo de trabalho sobre Serviço Público (nomeada por ele) e que poderia/deveria influenciar a decisão e condições de privatização do canal público, e agora está com Pinto da Costa na gala do FCP. Eu se fosse jornalista não perderia o rasto deste senhor.

11/10/11

Uma Good Wife


As terças-feiras são uma boa (e cada vez mais rara) noite televisiva. As segundas são do Dr. House (estamos ainda à espera da nova, e parece que última, temporada), mas as terças são de Alicia, Alicia Florrick, uma verdadeira good wife, da série The Good Wife, título bem achado a insinuar a ambiguidade da sempre discreta e enigmática Alicia. Alicia e House só têm em comum a inteligência, pois ela é o que House não é, mas é-o tão bem que exerce sobre o espectador o mesmo tipo de fascínio e a vontade de não perder um único episódio. Finalmente Hugh Laurie encontra rival à sua altura e nós encontramos uma boa série. Julianna Margulies, que conhecíamos como enfermeira em ER, e ‘namorada’ de Clooney nessa série, merece os prémios que tem ganho.

Por falar em séries, Dowton Abbey (que já vi há uns tempos) já aí está na Foz Life para os saudosos de Upstairs Downstairs e de uma vida com mordomos, nostálgicos de outros tempos em que as pessoas se vestiam para jantar e amantes de séries históricas britânicas. A sempre fantástica Maggie Smith é Violet, Dowager Countess of Grantham, uma personagem impagável.

Nota: Hugh Laurie, um improvável 'beauty icon' nos recentes vídeos dele como modelo da linha L’Oréal para homem. Fiquei convencida.

09/02/11

The Delicious Miss Dahl

Até parece que me ouviram na SICM: desapareceu o Chakall e apareceu Miss Dahl (rima e tudo), simpática e tranquila, a ler uns poemas de quando em quando. Confesso no entanto que este programa em que a cozinha se encaixa nos “afectos” e cheia de nuances conforme a nossa “mood” do dia, não me convence muito. Mas Miss Dahl já há muito tem a minha simpatia. Não é qualquer um (neste caso uma) que faz fotografias como esta.

Sophie Dahl na publicidade ao perfume Opium da YSL do ano 2000.

02/02/11

Inspiração e Concentração

Fiz uma sanduíche rápida para almoçar com o que tinha à mão: pão de Mafra barrado com um pouco de mostarda, um resto de salmão marinado, queijo fresco e agrião. Levei um tabuleiro para a sala, sentei-me em frente da televisão, liguei-a para ouvir novidades sobre o Egipto (a RTP já escreve Egito, e confesso que custa ver), mas antes de chegar a uns canais de notícias esbarrei com o chefe Chakall naquele programa em que ele anda numa carripana indescritível e com uma “cadelinha amorosa” que teve o azar supremo de lhe sair como dono o chefe Chakall e de andar a fazer figura de parva ao seu lado. É verdade: Chakall é um dos meus odiozinhos de estimação...

... desde a primeira vez que o vi. Aposto que o turbante que “lhe proporciona inspiração e concentração” (haja pachorra) esconde uma bela careca que não assume, o seu sotaque irrita-me, os olhos azuis são entediantes e previsíveis, a sua atitude carece espontaneidade e sinceridade, a sua conversa é mole. Sobram as receitas: não passam de umas combinações “espertas” que considero absolutamente dispensáveis e sem o mínimo “sentir” do que é a nossa cultura gastronómica. Nunca as consegui ver até ao fim com vontade, curiosidade ou apetite e por isso a vontade de as experimentar ou comer é absolutamente nula. Por favor, SICM, repitam o Jamie Oliver ou a Nigella (esses sim bons comunicadores e espontâneos nas suas “experiências gastronómicas”), ou vão à concorrência buscar o Henrique Sá Pessoa, mas tirem-nos o Chakall sobretudo neste programa em que tenta confraternizar espontaneamente com as minhotas e dialogar vivamente com os alentejanos.

24/11/10

Agora Sim, Está Tudo Explicado


Bonham Carter co-starred with Pride and Prejudice actor Matthew Macfadyen in BBC Four biopic Enid, which offered an unflinching view of the Famous Five author's difficult childhood, portraying her as an inadequate mother to her two daughters. Só depois de ter visto o filme (Bonham Carter merece o prémio seguramente, e o filme é realmente um duríssimo retrato da autora) percebi porque a minha avó, senhora de muitas leituras e grande biblioteca, não gostava de Enid Blyton e nunca me encorajou a lê-la.

01/11/09

Ídolos de Nada

Sinto-me sempre um pouco constrangida quando vejo programas tipo Ídolos (SIC; hoje à noite) que geram ondas de entusiasmo e que lançam novos talentos a quem prometem um futuro radioso. De facto, revelam apenas a nossa pequenez. A pequenez mental e a pequenez do nosso mercado e da nossa capacidade de “aproveitar” algum real talento que venha a ser relevado. Portugal é assim: pequeno. E nos locais pequenos não cabem todos. Nem chega a ser má-vontade, é quase uma questão física: não há espaço para todos. Dizem que nos EUA e noutros países, nomeadamente em Espanha alguns, senão todos, dos 12 finalistas destes concursos têm uma carreira de sucesso assegurada, há exemplos de muitos que hoje são mundialmente conhecidos: Leona Lewis, David Bisbal ou Jennifer Hudson que até já conta com um Oscar. Aqui nada disso acontece: com excepção da Luciana Abreu, que de cantora passou a ser actriz, nomeadamente a Floribela, também foi (ainda é?) sex-symbol, namorada ou não de algum futebolista, e não-sei-que-mais, não me lembro (serei eu distraída?) de nenhum finalista, nem sequer de um vencedor desses concursos tipo Ídolos ou Operação Triunfo que tenha mesmo triunfado e construído uma carreira com alguma visibilidade e credibilidade, apesar de mostrarem talento. Os concursos podem fazer audiências, mas não fazem nem triunfos nem ídolos de coisa nenhuma. O seu objectivo é uma mentira que os milhares de jovens que acorrem aos castings não querem, ou não sabem, perceber.

Depois há sempre aquele momento penoso em que tantos concorrentes fazem figura de parvos (começam cedo) cantando sem saberem o que isso é. Será que a vontade de ter esses 15 minutos (neste caso segundos) de fama se sobrepõe a qualquer tipo de bom senso e a um julgamento minimamente racional da parte dos concorrentes e de quem os incentiva a ir “tentar a sorte”?
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17/05/09

Uma pergunta que fiz aqui, encontrou resposta aqui. Fantástico! Afinal existe mesmo uma “papa maizena”, tem receita e tudo e houve quem a tivesse comido. Alguns, claramente em excesso. Coisa de deixar más recordações


Pede-me Nelson Reprezas para mencionar séries televisivas, não percebi muito bem – nem procurei perceber, confesso - com base em que critério. Mas creio que seja que critério for andará sempre à volta da nossa experiência e gosto pessoal. Embora avessa a correntes blogosféricas, gostando de poucas e quebrando-as todas, este pedido revela-se um pretexto para escrever sobre algo de que gosto, e instantaneamente – mesmo antes de eu ter tempo para pensar, accionou a minha memória porque toda a vida gostei, e gosto de séries televisivas. Lembro tempos em que a semana funcionava em função de um determinado dia de semana em que a televisão (quando televisão era algo que não tinha mais do que dois canais, e até quando era a preto e branco) dava esta ou aquela série. Agradeço o DVD (e antes o VHS) que tornaram possível comprar alguns packs de séries completas (ou temporadas) antigas e recentes, que me permitem uma saudável e total alienação da realidade durante um fim-de-semana ou uns dias seguidos. Vi muitas séries, boas e menos boas - estas últimas são sobretudo muito marcadas por uma determinada época ou “moda” - mas há algumas que lembro com saudade pois marcaram a minha infância ou adolescência e remetem para um mundo diferente e para um momento de inocência quase rousseauniano. Só essa inocência permitia que gostássemos das séries que hoje não me apetece propriamente rever, no entanto fica a nostalgia dos momentos em que fui feliz a vê-las, fica a espécie de ternura pela recordação. Todas as séries que mais à frente menciono foram vistas, até fora de Portugal, e algumas vistas e revistas. Sei que com mais tempo a minha memória se avivaria e lembraria outras tantas. Opto por umas escolhas sobretudo nostálgicas, de séries de outras décadas e de outros mundos, à excepção do Dr. House. que está presente porque é a única que hoje recria um pouco o ritual de ver uma série “em directo”: é a única que me obriga, todas as semanas à segunda-feira no canal Fox, a repetir esse ritual que já é quase de outros tempos: sentar em frente à televisão quieta e parada. Outras séries actuais vejo-as normalmente em diferido falhando alguns episódios, ou vejo posteriormente em DVD se gostei particularmente.

Get Smart (Olho Vivo), Green Acres (Viver no Campo), Bewitched (Casei com uma Feiticeira), Gabriela Cravo e Canela, Upstairs, Downstairs (A Família Bellamy), Brideshead Revisited (Reviver o Passado em Brideshead), La Piovra (O Polvo), We’ll Meet Again, A Town Like Alice, The Jewel in the Crown (A Jóia da Coroa), Hill Sreet Blues (A Balada de Hill Street), The Muppet Show (Os Marretas), Blackadder, Twin Peaks, Yes, Minister e Dr. House.
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21/04/09

Da Cultura

Neste Domingo que passou fiquei admirada por estar tanto tempo sentada em frente da televisão a ver um programa “cultural”. Não me acontece com frequência tal coisa. Os programas culturais normalmente têm o condão de, mais cedo ou mais tarde me aborrecerem ou irritarem, por isso já nem me preocupo em vê-los ou em saber quem quem é o convidado, qual é o tema de que programa. Neste Domingo enquanto zapava já naquele impulso de “ah, não há nada, desliga-se” apanhei o Câmara Clara com António M. Feijó e Vasco Graça e Moura a falar de Shakespeare e fiquei a ouvir. O programa estava a começar e não era sobre Shakespeare, mas sim sobre Grandes Romances de Amor em que se pedia a cada um dos convidados para levar alguns romances e falar sobre eles. Nunca resisto a nada que tenha a ver com romance quando sinto o séc. XIX por perto, (coisa que considero inevitável quando se fala em romance), e por isso encostei-me para trás e deixei-me levar por aqueles dois amantes de literatura no percurso que cada um talhou com as escolhas que fez.

AMF e VGM falavam com uma voz tranquila e baixa, opinavam, teciam relações, encontravam referências, ajustavam ideias e nada era complicado, obscuro ou rebuscado, só transparecia a simplicidade de quem se deixa levar pelo verdadeiro prazer da leitura de cada uma das obras, a vontade de mostrar os caminhos que elas abrem, de pousar o olhar de uma ou de outra forma. Foi bom relembrar umas, querer ler outras e sobretudo foi bom tentar perceber porque se perde tanto tempo a ler tralha e mais tralha com tanta boa literatura que passou o teste do tempo e das modas a merecer ser (re)descoberta e desvendada. O paraíso poderia (também) ser algo parecido com aquilo. As poucas interrupções e gargalhadas de Paula Moura Pinheiro destoavam um pouco, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma pois quebrava o ritmo e o tom que os convidados impuseram ao programa. Mas pior do que isso foram as ruidosas interrupções, sem aviso e no meio da conversa, de pura propaganda “cultural” a filmes, temporadas musicais ou concertos. Porque é que era preciso aquilo? Não é mais importante para a “cultura” saber passar o prazer de a usufruir do que cansar-nos com a lista exaustiva daquilo que vai acontecer, e que já todos tivemos oportunidade de ver e ler nos jornais e nos cartazes espalhados pelas cidades?
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04/10/08

Sim ou Não

Ainda a propósito do programa “Momento da Verdade”, dizia-me pessoa amiga que interessante seria ver José Sócrates nele. A uma primeira reacção de “o quê?”, pensei melhor e confesso que acho interessante, e aposto que reveladora, a ideia, não só para ele como estenderia a intenção para os restantes líderes políticos, ou outros políticos relevantes, que temos: Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, para começar. O modelo teria de sofrer algumas adaptações uma vez que vida privada destes cidadãos, não seria (nem teria que ser) objecto de escrutínio para além do facto de ser irrelevante para o objectivo em vista. No entanto tudo o que dissesse respeito à vida pública destes políticos nomeadamente escolas e universidades em que estudou, desportos ou outras actividades que tenha feito, associações a que pertenceu e pertence, trabalhos que fez e onde, casas onde morou, e à vida política poderia ser alvo de escrutínio na base da pergunta em binómio: sim ou não. Por muitas explicações e justificações, por muita pedagogia política que se use, no fim ou fica um “sim”, ou fica um “não”. Um programa assim eu veria.

03/10/08

Lixo Televisivo e Honra

Há alturas em que me sinto desfocada deste mundo. Pareço vinda de umas longas viagens que nos fazem demorar a reconhecer a casa onde moramos. Anda por aí, este “aí” num sentido verdadeiramente lato e indefinido, que tanto pode ser pelas ruas que percorremos, lugares em que pousamos, textos que lemos ou gentes cá da terra com quem falamos, uma certa indignação com um programa da televisão que passa na SIC e parece que se chama “Momento da Verdade”. Ao que parece perguntam coisas que, para sossego dos próximos e do mundo em geral, nunca se deveriam perguntar, e muito menos querer saber. Mas os concorrentes acham que não, e lá contam a vidinha toda, entre poses mais ou menos indignadas e ar compungido dos familiares, e vão respondendo a essas ditas perguntas para ganhar um prémio final. Pelo menos isto foi o que consegui detectar nos breves segundos que vi o dito programa, enquanto zapava. Breves segundos mesmo, porque tenho real incapacidade de ver estes programas, Big Brothers e afins. Irritam-me, incomodam-me questionam demasiado as minhas crenças sobre o género humano , fazem mal à alma e poluem, porque todo o lixo polui, incluindo o lixo televisivo.

Tenho, no entanto, seguido na RTP Memória uma série inglesa da LWT (a mesma que fez a Família Bellamy ou Upstairs Downstairs) passada na Ilha de Guernsey durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Nesta época de Dr. House, Perdidos, Donas de Casa Desesperadas, Anatomia de Grey ou Prison Break, é com curiosidade que revemos estas séries doutras épocas. Toda a narrativa é diferente, o ritmo, os enredos, as filmagens, a composição das personagens, os episódios parecem mais decalcados de uma sólida tradição teatral do que da vontade de exploração da televisão ou apostas em complicadas produções. Tudo prima pela sobriedade e ritmo adagio incluindo as paixões que movem as personagens, se é que adagio e paixão são conceitos compatíveis. Num complexo mundo em guerra, conseguem arrumar direitinho as pessoas por categorias: cavalheiros, oficiais, soldados, gente comum, políticos, militares de carreira, militares dos serviços secretos, espiões, etc. O mais interessante na série é ver estas divisões no lado alemão onde a tendência é serem catalogados na gaveta dos “maus”. Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é. Talvez se soubessem não fossem ao “Momento da Verdade”.

11/09/08

O Expresso da Meia Noite

Ao longo dos anos que não me habituo a ver o anúncio na SICN do programa “Expresso da Meia Noite”, e pasmo como é que ele se mantém inalterado e nunca ninguém se indignou com ele. O título do programa liga-o ao jornal Expresso uma vez que revela a manchete do dito, aliviando aqueles portugueses que não conseguem aguentar a tensão e a expectativa em relação à edição do Expresso do dia seguinte, é revelador de um estilo cúmplice que o anúncio explora ao exagero. A imagem dos dois jornalistas que conduzem o programa de debate, em conversa cochichada e risinhos cúmplices, é a pior imagem de jornalismo que se pode dar ao cidadão comum, pois desacredita-o da seriedade da profissão. No entanto esta é a imagem infelizmente tão aceite e tantas vezes tão real.

Jornalismo não deveria ser (como o anúncio do programa ilustra) conversa cochichada entre dois interlocutores, sempre propícia à criação conspirativa quer de confidencialidades múltiplas quer de factos e/ou de tabus que se faz em gabinetes diversos e nas redacções dos diferentes meios de informação. A recolha, compilação, estudo, escrutínio e tratamento da informação nada deveria ter de cochichado, mesmo quando nas alturas em que deve ser discreta ou até confidencial. Insistir na imagem do jornalismo cochichado é insistir nessa nuvem pantanosa que nada tem de sobriedade onde são geradas mais ou menos espontâneamente e onde fervilham as notícias que enchem os diferentes tipos de jornais, que por vezes não são a informação pertinente, e que não se sabe bem nem de onde vêm nem para o que vêm e que nos fazem sempre perguntar ao serviço de quem, ou de o quê, é que são feitas.

Debate político, ou debate sobre outros temas da actualidade, também não deveria ser um somatório de risinhos cúmplices bilaterais com eventual desdém por quem não partilha a cumplicidade, tal como a imagem do anúncio sugere, dando-nos uma ideia de algo fechado e limitado em que o preconceito existe. Ora um debate deveria ser o contrário: um espaço que se quer aberto, transparente e exigente porque isento de preconceito e onde impere a todo o momento um rigoroso respeito pelo outro e pela sua opinião mesmo quando diametralmente oposta à da maioria. O combate é feito com argumentos e não entre pessoas coisa que risinhos cúmplices deixam dúvida.

As coisas são o que são, e sugerem o que sugerem. Duvido que este anúncio sugira algo muito diferente do que aqui se escreve. E é uma infelicidade para a estação que se quer de notícias e para os jornalistas que o fazem. Talvez andem todos distraídos e nunca tenham reparado.

22/09/07

Ratos, baratas e lagartos 3

E minhocas também; vi-as ontem na sua jaula numerada.

Corro o risco de ser radical ou de exagerar, mas não consigo impedir-me de pensar que nestes casos, de pessoas que voluntariamente e em troca de uns minutos de fama, de um frigorífico, uma viagem, ou de um outro prémio, se degradam publicamente, estamos perante uma forma de prostituição. O verbo prostituir tem a ver com conceitos como expor-se, levar à degradação, desonrar (uma consulta a dois dicionários confirmou-o) e estes conceitos são amplos. Habituámo-nos a pensá-los em termos sexuais, de tal forma que hoje socialmente um(a) prostituto(a) é aquele que se degrada, desonra e se expõe vendendo favores sexuais, e sobretudo habituámo-nos a condenar socialmente (e hipocritamente) tal prática, mas degradar-se, expor-se, abdicar da dignidade e da honra, é mais do que uma questão de venda de favor sexual. Prostituir-se tem a ver com a pessoa humana na sua integridade e nas suas múltiplas facetas, nomeadamente a intelectual. Parece que a integridade intelectual não só não é identificada como nem sequer é valorizada, pois televisões, concursos e demais programação dos canais genéricos, livros, jornais, revistas, músicas, e todo o universo subreptício de marketing ao serviço dos mais variados interesses, nomeadamente dos políticos, vivem tantas vezes da exploração da estupidez humana, da tontice e dos instintos mais básicos que impedem o momento de reflexão e os dois breves momentos que podem despoletar o espírito crítico bem como a noção do ridículo. Também parece que para o divertimento convém esquecer as faculdades mentais. Por isso todos os dias vejo os ratos, baratas, lagartos e minhocas, ajuizados nas suas jaulas à espera que uma mão os visite e tire o envelope que tão zelosamente guardam. Isn’t it fun?

20/09/07

Ratos, baratas e lagartos 2

O concurso da SIC de que falei no post anterior deverá ter como objectivo o aumento de audiências que a estação tanto procura numa altura em que estas estão baixas, em que a Floribella II não foi o sucesso previsto. Se o conseguirá ou não, eu não sei, mas a ideia de fazer um espectáculo, e ter espectadores, claro, à custa da exposição, abuso e degradação das pessoas não é inédita. Nos tempos áureos do Coliseu em Roma a população divertia-se vendo pessoas combater até à morte ou animais a comer os indesejáveis e marginais. Uma das diferenças em relação a hoje não está tanto nos espectadores, que pelos vistos não perderam a vontade de ver outros companheiros da condição humana em situações de degradação e humilhação, está sobretudo nos “concorrentes” que no Coliseu tinham a ponta de dignidade, que faz toda a diferença, a de lá estarem contra a sua própria vontade de lá estarem porque eram obrigados a fazê-lo. Claro que nos concursos televisivos e Reality shows que promovem a exposição da fraqueza e tontaria humanas humilhando e degradando concorrentes, o desfecho raramente é trágico e definitivo nem está em causa a vida dos concorrentes, mas o espectáculo de exposição, humilhação degradação estão. É só uma questão de graduação, o princípio é o mesmo. E se me pergunto como há pessoas normais que gostam de assistir a tais espectáculos, pergunto-me sempre também o que levará pessoas normais a inscrevem-se em tais programas de entretenimento, e se os prémios ou dinheiro em jogo são suficientes para aliciar tantos potenciais e alegres concorrentes. Dizem que vão para “se divertirem”, mas creio que no mundo mediático de exposição permanente e falsamente igualitário, todos querem o seu “direito” à fama, nem que sejam apenas os tão desejados dois ou três minutos, neste tipo de concursos, os prémios raramente são aliciantes.
(Continua)

19/09/07

Ratos, baratas e lagartos

Descobri recentemente que a SIC tem um novo concurso, cujo nome não fixei, que passa antes do Jornal da Noite. Como frequentemente ligo a televisão um pouco antes das 20h tenho, malgré moi, apanhado o final do concurso. Fico espantada com o que vejo. Para além de um cenário de gosto duvidosíssimo e de um apresentador inenarrável, vi umas gaiolas com ratos, baratas, grandes lagartos, e vejo a mão das concorrentes (haverá discriminação sexual na escolha dos concorrentes, será que não há quotas apara homens?) dentro das gaiolas a procurar e agarrar, entre gritinhos e alaridos de vários tons, um envelope que deverá ter ou uma chave para prémio ou mesmo o prémio, não cheguei a perceber. A coisa é má, muito má mesmo, tão má que a Floribela e as suas fadinhas pareceram-me, por instantes, um interessante desafio intelectual.

14/02/07

O Pior Português

Ontem espreitei uma meia hora, na SICN, o programa “O Pior Português”. Uma dúzia de espertos, não no sentido anglo-saxónico de “expert” bem entendido, em ambiente solene e iluminado não só não me mantiveram interessada, como não me informaram, nem me divertiram. Uma perda de tempo pouco digna da SICN que me fez mudar de canal e me deixou perplexa quanto ao objectivo de tal votação e de tal programa. Se pensasse um bocado aposto que iria concluir que tinha estado perante o pior do que Portugal tem para oferecer, por tanto se querer distanciar do mau sem conseguir sair de lá. Ainda bem que não perdi tempo a pensar.

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