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3 de fevereiro de 2014

Por que o Tietê continua sujo – Malu Ribeiro

 
Poluição no rio Tietê, SP
Rio Tietê. Foto de José Luiz da Conceição-AE

Por que o Tietê continua sujo


Malu Ribeiro

Os esgotos domésticos, responsabilidade dos municípios e do Estado, continuam sendo lançados e são o maior vilão das águas
Sem água de boa qualidade, São Paulo não pode mais se dar ao luxo de desperdiçar rios e córregos para diluir esgoto. A média das análises da qualidade da água realizada no período de setembro a dezembro de 2013, em 78 testes feitos pela Fundação SOS Mata Atlântica com grupos de voluntários em rios do Alto e Médio Tietê, aponta melhoria em 49 pontos de coleta. Mesmo assim, não há muito o que se comemorar.

Dos rios e córregos analisados, 13 pontos têm índices péssimos de qualidade e somente quatro saíram dessa condição para regular, graças à integração do projeto Córrego Limpo nas ações de despoluição.
Ao longo do Tietê, de Mogi das Cruzes a Barra Bonita, 16 testes obtiveram índice ruim, 46 regular e apenas três aceitável. Esses indicadores descrevem o cenário de 21 anos do projeto de despoluição do Tietê, que está em sua terceira etapa e já demandou U$ 2,1 bilhões.

A recuperação da bacia do Alto Tietê, com 18 milhões de habitantes distribuídos em 39 municípios, começa a se consolidar em um programa de saneamento ambiental. É possível medir e comprovar que, para cada metro cúbico de esgoto tratado na Região Metropolitana, um quilômetro de rio renasce no interior.

O monitoramento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica aponta que, no início de 1990, metade do Tietê estava morto. A mancha gerada por esgotos domésticos e industriais cobria mais de 500 quilômetros e os rios de São Paulo eram os mais poluídos do Brasil.

Em uma década, a indústria cumpriu a legislação e tratou efluentes. De 1.210 lançamentos de cargas tóxicas nos rios, restaram 400, feitos por indústrias controladas pela Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo). Porém, os esgotos domésticos, responsabilidade dos municípios e do Estado, continuam sendo lançados e são o maior vilão das águas (no Estado, causam 60% da poluição).

Somente em 2010 a população começou a perceber singelos resultados. Na capital, o odor deixou de ser o principal incômodo. No interior, o Tietê fomenta a economia e voltou a fazer parte da cultura paulista.

Mas, para que apresente resultados efetivos na capital, é preciso tirar do papel o pacto pela despoluição anunciado pelo governador Geraldo Alckmin. Esse pacto político, que conta com apoio da iniciativa privada, precisa ser capaz de promover a gestão integrada do saneamento na bacia.
Dez municípios da Região Metropolitana não são operados pela Sabesp, responsável pelo projeto Tietê. A divisão de competências e as diferenças político-partidárias resultam em entraves que fazem com que a despoluição seja mais difícil do que em países que recuperaram grandes rios, como o Tâmisa e o Reno.

A ocupação desordenada e o aumento de moradias irregulares desprovidas de coleta e tratamento de esgotos impõem a necessidade da atuação integrada do Estado, União, municípios e da sociedade.
É preciso conectar mais 200 mil domicílios à rede de esgoto, o que representa mais de 1,5 milhão de pessoas com acesso ao saneamento, elevando os índices de tratamento de esgoto a 84%. Somente o esforço conjunto permitirá que os rios de São Paulo voltem a fazer parte do cotidiano das pessoas e das cidades de maneira positiva.

MALU RIBEIRO, 48, é coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/150487-por-que-o-tiete-continua-sujo.shtml

foto: http://www.ecodebate.com.br/2010/07/08/ao-menos-35-milhoes-de-pessoas-na-grande-sao-paulo-sem-esgoto-tratado/

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ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

29 de outubro de 2012

Rio Tietê, SP – Projeto enfrenta problemas como descontinuidade e uso político – Malu Ribeiro


Primeira Travessia a nado no Rio Tietê em 1924 (Crédito de imagem: Acervo do Clube Esperia)

Projeto enfrenta problemas como descontinuidade e uso político

MALU RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA


Passadas duas décadas desde que o jacaré Teimoso - como foi apelidado pelos paulistanos - apareceu nas águas poluídas do Tietê, na capital, e despertou a atenção da sociedade para a necessidade de despoluir o maior rio do Estado, persistimos engajados nessa luta.

A descontinuidade das obras do projeto Tietê durante as sucessões administrativas, o descaso com o saneamento básico, a falta de entendimento da sociedade de que os investimentos em saneamento resultam em saúde pública e, sobretudo, a transparência na gestão do programa ainda são os principais desafios a serem vencidos.

A falta de transparência e a ausência de um pacto para gestão integrada da bacia hidrográfica do Alto Tietê - que engloba os 34 municípios da região metropolitana - durante a primeira etapa do projeto, associada a seu uso político, com a divulgação em ano eleitoral de que, em curto espaço de tempo seria possível beber água do rio, por pouco não fizeram com que ele caísse em descrédito.

Desde 1993, a SOS Mata Atlântica faz a coleta e a análise da qualidade da água do rio, ao longo dos seus 1.100 km.

Durante a segunda etapa, realizamos análises mensais de qualidade da água em 350 pontos de coleta e conseguimos comprovar que o Tietê está "saindo da UTI" na medida em que o volume do esgoto coletado e tratado aumenta na região metropolitana e que a carga de poluição exportada para outras regiões recua.

A meta divulgada para 2015 é exequível. A sociedade pode priorizar o projeto Tietê e pressionar para que obras e ações planejadas para a quarta etapa sejam antecipadas e executadas conjuntamente com as metas desta fase atual.

A Sabesp tem capacidade técnica, financeira e política para isso. Assim como para trazer outros atores para promover ações conjuntas de recuperação de matas ciliares, para aumentar a eficiência na coleta e reciclagem de resíduos sólidos, promover o replanejamento integrado da bacia e a desmarginalização de rios urbanos, entre outras ações, como educação ambiental.

Esses esforços podem contribuir, em muito, para os avanços esperados e para que o cidadão possa voltar a usar o rio.

MALU RIBEIRO é coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica
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Jacaré do rio Tietê agora vive em parque ecológico


Muita gente não se lembra, mas o poluído rio Tietê, em São Paulo, já teve um morador inusitado: um jacaré-de-papo-amarelo.
Ele morava em uma área bastante urbanizada e com poucas chances de vida. Mesmo assim, sempre escapava das tentativas de captura feitas pelos biólogos. A teimosia do bicho era tão grande que ele até recebeu um nome: "Teimoso".
Essa história aconteceu há 20 anos, em 1992. E, na época, Teimoso se tornou um símbolo da luta pela despoluição do rio Tietê.
Mas onde está Teimoso agora?
Pois o bicho segue vivo e mora atualmente no PET (Parque Ecológico do Tietê), na zona leste da capital. Mas, desta vez, em uma área tranquila e livre de poluentes, com mais de 15 milhões de m².
Quem quiser visitá-lo deve entrar em contato com o parque, que promove atividades ecológicas como trilhas.
Divulgação
Jacaré "Teimoso", em parque ecológico em São Paulo
Jacaré "Teimoso", em parque ecológico em São Paulo
PARA VISITAR
Parque Ecológico do Tietê
Horário: das 8h às 17h
Onde: r. Guira Acangatara, 70; agendamentos pelo telefone 0/xx/11/2958-1477
Quanto: grátis




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ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

22 de setembro de 2012

Cidadãos somam esforços para 'desmarginalizar' o Tietê – Malu Ribeiro

As metas apresentadas e os cronogramas planejados são exequíveis, mas o resgate do rio dependerá da atitude de todos os paulistas

22 de setembro de 2012 |
MALU RIBEIRO - COORDENADORA DA REDE DAS ÁGUAS DA FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA - O Estado de S.Paulo
O Tietê, maior rio paulista, espelha de forma caricata o retrato do modelo de desenvolvimento que adotamos até agora e os conflitos de uma sociedade que quer desenvolvimento sustentável, porém sem compreender o que isso significa.
Nada mais paulistano que esse rio marginalizado e esquecido, que corta a metrópole em meio ao caos do tráfego de carros, caminhões, balsas, dragas, trabalhadores e pessoas, tão próximas e ao mesmo tempo tão invisíveis, como o próprio rio.
Chegar à beira do Tietê em São Paulo não é fácil e pode render até multa. Ainda hoje, ao percorrer a Marginal, na capital, na tentativa de chegar o mais próximo possível do rio para coletar uma amostra de água, na região da Ponte das Bandeiras, me deparei com pessoas que vivem em canais de drenagem e tomam banho nas águas que vêm por essas galerias. E, com uma alegria distante dessa realidade, cantavam trechos de uma música para o velho Tietê. Já havíamos presenciado cenas surreais como essa.
Inspirados nesses personagens anônimos e nos grandes artistas brasileiros que retrataram, compuseram canções, poemas, versos, produziram filmes e levaram o teatro e as artes para o rio, a SOS Mata Atlântica organizou uma homenagem singela ao Tietê, um sarau contemporâneo para celebrar o rio. Isso ocorreria ontem, na véspera do Dia do Tietê, comemorado hoje, na hora em que as Marginais ficam lotadas, na boca da noite.
A poluição e o modelo de ocupação urbana que adotamos até agora afastam os cidadãos do convívio com os rios e córregos das cidades. Essa poluição rouba de nós não apenas a qualidade de vida e a saúde, mas, principalmente, nossa cultura e memória, além de mudar os valores da sociedade, de forma radical, a ponto de destruirmos o que nos é essencial e escasso: a água.
Para reverter essa degradação ambiental, há 20 anos destinamos recursos financeiros, tecnológicos e institucionais por meio do projeto de despoluição do Rio Tietê, a cargo do governo de São Paulo, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, da Sabesp e de outras instituições financeiras. Fiscalizamos, monitoramos e nos mantemos mobilizados, porém, com a sensação de que ainda há muito a ser feito para que o rio deixe de ser fétido e volte a ser utilizado pelos cidadãos, ao longo dos seus 1,1 mil quilômetros.
As metas apresentadas e os cronogramas contratados são exequíveis, porém dependem do nosso comportamento, das atitudes de cada cidadão paulista, do entendimento de que nosso descaso retorna a nós mesmos, na forma de doenças de veiculação hídrica, na insalubridade das cidades e na incapacidade de revertemos quadros como esse. O que não sabemos é como essa falta de atenção e respeito para com os recursos naturais influenciará a cultura e o comportamento das futuras gerações.
Vamos reviver o Tietê e resgatar por meio da recuperação das suas águas e da cultura o espírito de cidadania e a capacidade de mudar o retrato deste tempo.
(artigo enviado pelo amigo e colaborador Raul Motta)
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