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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Love is a place - E. E. Cummings



love is a place
& through this place of
love move
(with brightness of peace)
all places


yes is a world
& in this world of
yes live
(skilfully curled)
all worlds

domingo, 29 de novembro de 2009

Tanto de meu estado me acho incerto - Camões



Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.


É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.


Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.


Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


Hoje andei particularmente feliz ao ler um "sem número" de vezes este poema - sem dúvida um dos meus predilectos de Camões. Todos os anos, quando chega o momento de dar a conhecer a lírica de Camões aos alunos, é uma festa para o meu espírito. São semanas felizes, trabalho sem trabalho, feito só de prazer de leitura, de leitura de prazer. E penso sempre ao reler este poema (e tantos outros): Que novidade poderá ser escrita pelos novos poetas perante um amor assim dito, nestas palavras desmesuradas de tensão e, simultaneamente, contidas em sílabas certamente contadas pelos dedos? Palavras nuas, palavras sóbrias para um amor, que como verdadeiro amor, não cabe no peito de quem o sente.

Apaixona-me a forma servidora (tal como na poesia trovadoresca) de como o poeta se refere distanciada e respeitosamente à mulher - "minha Senhora" - e ao mesmo tempo se vincula no humanismo renascentista de que afirma o seu sentir, tenso e exacerbadamente inquietado pela dúvida do "sentir-se enganado pelo seu sentir"... Conflui ainda no poema um modo maneirista de viver o amor, pelo exagero da hiperbole e do paradoxo. E é simplesmente incrível como um sentimento descrito em pleno século XVI é a mesma matéria, a mesma língua, a mesma expressão final do século XXI. Hoje, durmo mais apaixonada.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pranto de Ménon por Diotima - Friedrich Holderlin





Pranto de Ménon por Diotima

De nada serve,ó deuses da morte,enquanto tiverdes
Em vosso poder,prisioneiro,o homem acossado pelo destino,
Enquanto,no vosso furor,o tiverdes lançado na noite tenebrosa,
De nada serve então procurar-vos,suplicar-vos ou queixarmo-nos,
Ou viver pacientemente neste desterro de temor,
E escutar sorrindo o vosso canto sóbrio.
Se assim for,esquece a tua felicidade e dormita silenciosamente.
No entanto brota no teu peito uma réstea de esperança,
Tu ainda não podes,ó minha alma!Não podes ainda
Habituar-te e sonhas dentro de um sonho férreo!
Não estou em festa,mas gostaria de coroar-me de flores;
Não me encontro eu só?Mas algo apaziguador deve
Aproximar-se de mim vindo de longe e sou forçado a sorrir e a admirar-me
Por experimentar alegria no meio de tão grande sofrimento.

(tradução de Maria Teresa Furtado)




Alguns apontamentos sobre Diotima (a Diotima de O Banquete de Platão é a mesma de Holderlin em Hypérion bem como do poema de Vasco Graça Moura. Ela não é mais do que o símbolo do amor ideal e romântico):

"No Simpósio, de Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As idéias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor.

Diotima de Mantinea é uma filósofa grega com um papel importante no Simposyum de Platão. A filosofia de Diotima está na origem do conceito platónico de amor. A única fonte sobre ela é o próprio Platão e por isso não é possível assegurar se era uma personagem ou alguém que de facto tenha existido. Entretanto, praticamente todos os personagens dos diálogos platónicos correspoderam a pessoas que viviam na antiga Atenas. Na obra, há uma passagem sobre o significado do amor. Sócrates é o mais importante dentre os homens presentes. Ele diz que na juventude foi iniciado na filosofia do amor por Diotima, que era uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor e por isso as ideias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platónico do amor. Segundo Jospeh Campbell, “não é por acaso que Sócrates nomeia Diotima como aquela que lhe deu as instruções e os métodos mais significativos para amar/falar. A palavra falada por amor é uma palavra que vem das origens.”

domingo, 11 de outubro de 2009

ADEUS PORTUGUÊS - A NORA MITRANI

Querida Anabela, há uma história por detrás deste poema que fascina os alunos... Este poema de O'Neill dirige-se a Nora Mitrani, uma francesa ligada ao movimento surrealista de André Breton, lindíssima, nova e encantandora. o poeta conheceu-a em Lisboa e apaixonou-se de imediato. Diz-se que este "coup de foudre" foi recíproco... dando lugar a uma paixão e amor intensos.
Entretanto Nora parte para França, a muito custo, ficando a promessa de um encontro breve na cidade da luz. Porém a P.I.D.E. impede o poeta de viajar, ao confiscar-lhe o passaporte. Completamente destruido, sentiu que tinha apenas uma saída: a criação poética. A escrita a partir daquela enorme dor. Assim, " Um Adeus Português" é um grito de amor e de revolta contra um país repugnante.
Logo que pôde, foi ao seu encontro, a Paris, tentando vê-la no seu apartamento. A porta foi aberta por uma senhora vestida de negro que lhe dirige palavras devastadoras. Quando este pergunta por ela, obtém como resposta: "Mademoiselle Nora est morte."
Nora suicidou-se em 1961 fazendo, assim, O'Neill perder a sua mais absoluta concretização de amor. "Seis Poemas Confinados à memória de Nora Mitrani" são escritos com a mão pesada de dor, um ano após a sua morte:
" Para ti o tempo já não urge, / Amiga. / Agora és morta. / (suicida?) " (...)
" (...) Com ou sem sorte, / não será tempo de viver, / de amar, de resistir à morte?"
"Ouve o amor-o-eterno e o que ele diz / a quem se dá. / Não esperes pelo tempo : sê feliz / que a felicidade é já!" (...)
" Passem então, os anos a deitar-nos / línguas de fora... / Se morrermos será de nos amarmos / em cada hora!" (1)

(1) " Seis poemas confinados à memória de Nora Mitrani ", in Tomái lá do O'Neill- uma antologia, Pref. António Tabucchi, Círculo de Leitores, Dezembro de 1986


Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada


Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor


Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver


Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual


Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal


Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser


Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
e puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal


Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti