quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Agenda imperialista de entidades apoiadas pelos EUA na Síria

 

A “economia de mercado livre” imposta pelos EUA na Síria revela uma agenda imperialista que destrói a região sob o pretexto da reconstrução.

Por: Nahid Poureisa

A declaração de uma “economia de mercado livre” para a Síria pelas entidades apoiadas pelos EUA agora no comando expõe efectivamente a agenda imperialista que alimenta a destruição da região em nome da reconstrução.

Longe de promover a prosperidade ou a autonomia, este sistema funciona como uma fachada para a exploração, onde tudo – recursos, soberania e dignidade – é apresentado como “gratuito” para o controlo imperialista.

Esta abordagem exemplifica como o capitalismo, disfarçado de “reconstrução”, prospera no caos e na dependência enquanto apaga a identidade nacional.

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Imperialismo em ação

O dramático colapso da Síria após a saída do Presidente Bashar al-Assad, invadido por grupos militantes e despojado da sua soberania, não é acidental. É o resultado de uma estratégia imperialista deliberada.

A queda da Síria demonstra como o imperialismo cria crises, desestabiliza nações e impõe sistemas que servem poderes externos à custa da população.

Neste “mercado livre” imposto, os seguintes padrões são evidentes:

  • Israel bombardeia livremente, destruindo infra-estruturas críticas sem responsabilização. 
  • Grupos militantes, armados e financiados por patrocinadores estrangeiros, continuam as suas operações sem controlo. 
  • Alguns países regionais mobilizam e financiam milícias, aproveitando a instabilidade da Síria para os seus próprios fins geopolíticos. 
  • Os EUA e os seus aliados roubam o petróleo sírio, obtendo lucros flagrantes com o caos que perpetuam.

Um “mercado livre” sob tais condições não serve o povo sírio, mas antes facilita a pilhagem de recursos e permite o domínio de empresas estrangeiras.

A soberania é a primeira vítima deste sistema e, sem ela, a Síria não pode definir o seu próprio futuro.

Em vez disso, o império garante que a terra se torne “livre” para exploração. O cenário actual reflecte uma ordem imposta pelo império, onde a terra, a dignidade e até a resistência estão “livres” para a dominação imperialista.

O Estado sírio é despojado de soberania, dignidade e estatuto de Estado: uma visão delineada pelo imperialismo para o controlo total do país. Sem soberania, não há opção para uma nação aceitar ou rejeitar um sistema de mercado livre.

O Estado, a dignidade e a independência da Síria foram sistematicamente desmantelados, abrindo caminho para uma ordem imposta imperialmente, onde Israel consolida o seu domínio na Ásia Ocidental.

A Geopolítica da Ásia Ocidental: O Papel do Irã

Nas terras tensas e férteis da Ásia Ocidental, o imperialismo prospera com base na instabilidade. Para o império, uma região deficiente – dividida, dependente e fragmentada – é o objectivo final.

Isto torna o papel do Irã na resistência a estas forças ainda mais crítico. O Irã não deve perder tempo em negociações com potências ocidentais que procuram minar a sua soberania e força. Tem que:

  • Aprofundar os laços com os defensores de uma ordem multipolar: Alinhar-se mais estreitamente com nações como a Rússia e a China, que partilham a visão do Irã de um mundo multipolar onde a soberania e a igualdade prevalecem. 
  • Reforçar o Eixo da Resistência: A Palestina continua no centro da luta pela justiça e pela independência na Ásia Ocidental, e o apoio inabalável do Irã a esta causa é vital. 
  • Concentre-se no Sul e no Leste, não no Oeste e no Norte: A ordem global emergente apresenta oportunidades para construir parcerias com países que reconhecem os EUA como a principal ameaça a um mundo multipolar democrático e próspero.

O papel crescente do Irã na definição desta ordem global em mudança não pode ser sobrestimado. Ao posicionar-se como líder da resistência e ator-chave no movimento multipolar, o Irã reforça o seu compromisso com a soberania, a justiça e a igualdade.

O software Resistance e o custo dos compromissos

O genocídio em Gaza e o assassinato do líder do Movimento de Resistência Islâmica Libanesa (Hezbollah), Seyed Hasan Nasrallah, são exemplos dolorosos da brutalidade implacável do imperialismo. Negociar com o inimigo nestas condições não é apenas um fracasso moral, mas também um erro estratégico que compromete o software da Resistência – a unidade, a ideologia e a determinação das nações oprimidas em permanecerem unidas.

Para resistir eficazmente, o Irã deve:

  • Reforçar o seu compromisso com nações oprimidas como a Palestina, fortalecendo a base moral e ideológica do Eixo da Resistência. 
  • Enviar mensagens claras e contundentes de retaliação aos erros de cálculo de Israel, demonstrando que a agressão contra o Irã ou os seus aliados terá graves consequências. 
  • Evite compromissos que enfraqueçam a soberania ou dêem às potências imperialistas uma vantagem sobre a região.

Os riscos são elevados e a sobrevivência da resistência depende da firmeza face à agressão imperialista.

O apelo do Líder da Revolução Islâmica, o Aiatolá Seyed Ali Khamenei, para “aprender com a Síria” é um lembrete claro das consequências dos compromissos com as potências imperialistas.

O destino da Síria destaca as seguintes lições críticas:

  • A soberania é insubstituível: o desmantelamento da soberania síria abriu a porta à exploração imperial. O Irã deve salvaguardar a sua independência a todo o custo, reconhecendo que a perda de autonomia convida à dominação. 
  • O inimigo é implacável: as forças imperialistas, lideradas pelos EUA e apoiadas pelos seus aliados regionais, nunca cessarão as suas tentativas de minar a resistência e desmantelar as nações soberanas. 
  • A resistência não é negociável: sem resistência firme, a Síria sucumbiu completamente à dominação imperialista. O envolvimento do Irão com o Eixo da Resistência reforçou a capacidade da região para resistir e sobreviver.

A experiência da Síria demonstra que o império vê a soberania como uma ameaça e não irá parar diante de nada para desmantelá-la. Para o Irã, a lição é clara: a resistência é a única forma de garantir a soberania e a dignidade.

Negociações nucleares com o Irã: uma agenda mais ampla

As negociações nucleares em curso entre o Irão e as potências globais vão muito além do enriquecimento nuclear. Estas conversações expõem a agenda imperialista mais ampla que visa enfraquecer a influência regional do Irã e desmantelar o seu papel como líder da resistência contra o sionismo e o imperialismo:

  • Poder dos mísseis: O programa de mísseis do Irão funciona como um elemento de dissuasão crucial contra a agressão externa, especialmente por parte do regime israelita. As potências ocidentais exigem limitações a este programa, mas o Irão reconhece-o como uma pedra angular da sua soberania e segurança. 
  • Apoio aos movimentos de resistência: O apoio do Irão aos movimentos de resistência HAMAS e Hezbollah continua a ser um ponto-chave de controvérsia. Estas alianças são essenciais para contrariar as ambições expansionistas de Israel e manter a força do Eixo da Resistência. 
  • Influência regional: Os EUA e os seus aliados procuram reduzir a presença geopolítica do Irão no Iraque, na Síria e no Líbano. O enfraquecimento destes laços abre caminho à dominação imperialista da Ásia Ocidental.

Estas negociações não se limitam apenas à conformidade técnica, mas também à preservação da soberania, da segurança e do compromisso ideológico do Irão na resistência ao imperialismo. Qualquer compromisso coloca em risco o papel do Irão como protector da justiça e da independência na região.

A promessa de um mercado livre vazio

A “economia de mercado livre” imposta à Síria é uma fachada para o controlo imperialista. Permite que potências externas ditem os termos da reconstrução da Síria, transformando o país num Estado dependente, sem capacidade de definir o seu próprio futuro. Esta abordagem permite ao imperialismo:

  • Explorar os recursos sírios, especialmente o petróleo, ao mesmo tempo que nega ao Estado o acesso à sua riqueza. 
  • Introduzir empresas estrangeiras que priorizem o lucro em detrimento do desenvolvimento, explorando a força de trabalho local. 
  • Fragmentar ainda mais a região, garantindo que nenhuma nação seja suficientemente forte para desafiar os interesses imperialistas.

Para a Ásia Ocidental, a promessa de um mercado livre é falsa. Não se trata de prosperidade económica ou independência, mas de facilitar a pilhagem de recursos e a erosão da soberania.

O papel vital das alianças multipolares

À medida que a ordem global evolui para a multipolaridade, o Irão deve aprofundar as suas alianças com parceiros estratégicos que partilham a sua visão de soberania e justiça.

A Rússia e a China, juntamente com outras nações do Sul Global, reconhecem os EUA como uma ameaça primária a um mundo democrático e próspero.

Ao reforçar estas relações, o Irão pode:

  • Fortalecer a sua posição como ator-chave no movimento multipolar. 
  • Neutralize a influência das potências imperialistas na Ásia Ocidental. 
  • Reforçar o Eixo da Resistência, garantindo que a região permaneça resiliente face às pressões externas.

Este alinhamento não tem apenas a ver com economia ou política, mas com a preservação dos princípios de soberania, dignidade e resiliência que definem o papel do Irão na região.

As consequências da capitulação

Aqueles que defendem a negociação face ao genocídio não compreendem os riscos. A matança em Gaza, que ceifou mais de 45 mil vidas em 437 dias, revela a brutalidade implacável do imperialismo.

Negociar sob tais circunstâncias legitima o opressor e mina décadas de resistência construída com base no sacrifício e na unidade.

O imperialismo prospera com base na divisão, no compromisso e na submissão. Qualquer tentativa de ceder às exigências das potências imperialistas apenas as encoraja, levando a mais exploração e opressão.

O Irão deve permanecer firme no seu compromisso com a resistência, sabendo que ceder corre o risco de desmantelar tudo pelo que lutou. O actual estado da Síria demonstra como o imperialismo explora o caos, corrói a soberania e impõe sistemas que servem os seus interesses à custa do povo.

Para o Irão e o Eixo da Resistência, as lições são claras: resistir, reconstruir e aprofundar alianças com defensores do multipolarismo que dão prioridade à soberania e à justiça.

*Nahid Poureisa é um analista e pesquisador iraniano focado na Ásia Ocidental e na China.

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