sexta-feira, julho 07, 2006

Blocos online na constelação cultural

Desde cálculos simples até as complexas dívidas dos países, os números influenciam o comportamento humano. Quantificamos e atribuímos valor a tudo que nos cerca, mesmo o que não é muito importante.

Neste ano, o Brasil tentou ser hexacampeão na Copa do Mundo e os números dos votos decidirão o próximo presidente da nação. Há pouco tempo, muitos se admiraram com a data 6 de junho de 2006. Sem os zeros, 666. Não causou tanto temor quanto há um milênio a data de 06/06/1006, mas, entre os supersticiosos, a data gerou expectativa.

Segundo o bíblico Livro do Apocalipse, 666 é o número do anticristo e já teve muitas interpretações. O anticristo já foi o imperador Nero e até Bill Gates, o bilionário presidente da Microsoft.

Enfim, a data passou e o mundo não acabou, mas há outros números e datas temidos e adorados. Uns evitam o número 13, outros o adoram, depende do objetivo e da importância social, religiosa ou cultural que a época confere a certo número, ou da experiência pessoal de quem teme ou adora.

Para os místicos e religiosos, ainda há previsões a temer. No calendário Maia, o fim de mais um ciclo está previsto para o nosso ano de 2012. Alguns acreditam que será o fim do mundo. Parece que os maias previram seu declínio e abandonaram seus centros urbanos há alguns séculos. Até hoje os pesquisadores procuram descobrir o motivo, enquanto estudam seu complexo calendário. As últimas especulações dizem que foi por causa da mudança nos campos magnéticos e radiações solares.

Sempre que acontece algo marcante na história, alguém busca sua relação com os números, como aconteceu na queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Acharam relações entre os números de passageiros, o número do vôo, entre outros elementos.

Estudar os números não é uma atividade atual. As tradições antigas estudavam os números inclusive para tentar explicar o Universo, como a Cabala, em que letras e números têm significados ocultos.

Na história da humanidade já surgiram vários sistemas de representação de escrita dos números, como o romano, o arábico e o maia. As bases também se diferenciam, como as bases 2, 5 e 10. O sistema indo-arábico, que usamos atualmente, é de base 10. Usando dez símbolos numéricos diferentes, podemos representar qualquer quantidade. O número dez é um dos mais antigos da nossa história.

Na Grécia antiga, o filósofo e matemático Pitágoras tentou desvendar os significados ocultos dos números e disse que eles estavam na origem e formação do Universo. Pitágoras aprendeu Cabala, doutrinas matemáticas no Egito e estudou com o sábio persa Zoroastro. O filósofo concluiu que o número 10 era perfeito, o receptáculo de todos os números, por ser a soma de todas as possíveis dimensões geométricas.

A Numerologia é a ciência que estuda os significados dos números e suas influências. Nos números estão as previsões, as propensões, o que é favorável ou desfavorável, os números harmônicos ou negativos, entre outros elementos que os numerólogos dizem que estão no nosso nome e na nossa data de nascimento.

Pela data de nascimento, o portal Blocos online é do signo de câncer, simbolizado pela figura do caranguejo. O caranguejo está relacionado ao segundo trabalho do herói mitológico Hércules, que enfrentou a Hidra com várias cabeças.

Héracles, mais conhecido pelo nome romano Hércules, é um dos maiores heróis da mitologia grega, filho de Zeus com a mortal Alcmena. Hera, a esposa ciumenta de Zeus, provocou uma loucura temporária em Hércules, que foi obrigado a realizar doze trabalhos difíceis, conforme uma das lendas, para se purificar por ter matado seus filhos quando estava fora de si. Hera fez de tudo para atrapalhar Hércules na realização dos trabalhos.

A Hidra de Lerna foi criada pela deusa Hera para testar as habilidades de Hércules. Cada vez que sua cabeça era cortada, nasciam outras duas no mesmo lugar. A ciumenta Hera, depois de ver que o herói estava ganhando a batalha, enviou um caranguejo para atrapalhá-lo. Hércules pisou no bicho, fazendo-o em pedaços. Hera levou os restos do caranguejo para formar a constelação de câncer no céu.

Não será coincidência que Blocos online, do signo de câncer, tenha um legado de tantos blocos, textos, poemas, prosa e verso em tantos caminhos e links que podemos percorrer na grande constelação da internet.

Se os números possuem conexões ocultas, e Pitágoras já falou tão bem sobre a década, Blocos online está no seu momento mágico, ao completar 10 anos e com seus “pedaços” que, juntos, preenchem nosso céu cultural.

E que venham outras dezenas de aniversários.

Solange Firmino

Coluna Orkultural n° 21


* Figura: Hércules e Hidra de Lerna


Viva Blocos online!


terça-feira, julho 04, 2006

Labirinto, caminho para o centro

Vários mitos utilizam o simbolismo do centro como Fonte da Vida, Realidade Absoluta, Verdade, Justiça, etc. O centro pode ser representado por montanha, pedra ou árvore. Na tradição taoísta, por exemplo, uma montanha guarda a fonte da vida eterna; na Grécia, o centro do mundo era o omphalós , “Umbigo da Terra”, rocha mítica situada em Delfos.

O caminho para o centro está na experiência de Teseu no labirinto de Creta; na busca do Velocino de ouro; nas peregrinações aos lugares santos, como Jerusalém e Meca; nas sinuosidades dos templos e nas adversidades do devoto em busca do caminho para o centro do ser. Esse caminho pode ser um labirinto tortuoso, além de estar em lugar de difícil acesso e guardado por monstros.

A superação do caminho é a metáfora da jornada espiritual, e permite desenvolver as virtudes guerreiras que o ser humano pode alcançar, se vencer o combate com o monstro que guarda seu labirinto interior.

(...)

Solange Firmino


* Leia o texto integral e um poema na coluna Mito em Contexto, em Blocos online.

domingo, junho 04, 2006

O Amor move o mundo



“Amor - pois que é palavra essencial”, diz o poeta Carlos Drummond de Andrade no poema de abertura do livro “O amor natural”. Os poemas falam sobre o amor físico e sexual:

O corpo noutro corpo entrelaçado, / fundido, dissolvido, volta à origem / dos seres, que Platão viu completados: / é um, perfeito em dois; são dois em um.

Na época do lançamento, o livro em questão provocou discussão sobre os limites entre palavras eróticas e pornográficas. Vejamos aqui o termo erótico. O adjetivo erótico é derivado de Eros, o deus grego do Amor, e refere-se, no sentido amplo, a tudo o que se liga ao Amor.

Tão difícil quanto descobrir a origem do mundo e dos homens é definir as nuances do amor. Há muitos séculos, os filósofos tentaram explicar a criação do mundo. Para alguns, forças atuavam com os quatro elementos, terra, água, fogo e ar. Para os poetas, essa força era chamada de Eros, o Amor.

Antes de ser representado como deus do Olimpo, Eros esteve presente nos mitos que contavam as primeiras criações do mundo e dos deuses, e permitiu a aproximação dos seres. Conta um mito que o Caos, o Érebo e a Noite procriaram juntos e deram origem a tudo o que compõe o Universo, inspirados pela energia cósmica de Eros.

O filósofo Platão chamou Eros de “daimon”, uma espécie de ser espiritual que habitava entre os deuses e os homens. Na obra “O Banquete”, Platão conta sobre a união de Poros, o deus dos recursos, e Pênia, a carência, na festa de nascimento de Afrodite, a deusa da Beleza e do Amor. Desse encontro nasceu Eros, carente como a mãe, sempre em busca de algo que o satisfaça, mas com recursos para alcançar o que deseja, como o pai. O amor, quando sente-se carente, busca conquistar o outro para preencher seu vazio.

(...)

Solange Firmino

Leia o texto integral na coluna Mito em Contexto, no portal Blocos online.


sábado, junho 03, 2006

O amor está sempre no ar


Comemos bastante chocolate em abril ao relembrarmos o amor de Cristo. Ao mesmo tempo, já preparavam as prateleiras para os presentes das mamães. Depois de comemorarmos os amores cristão e materno, ainda é tempo de mais amor, com a chegada do dia dos namorados em junho e mais um feriado cristão no dia quinze.
No dia seguinte às comemorações dos pombinhos é estréia da seleção brasileira na Copa, e o melhor presente para os namorados pode ser uma camisa nas cores verde e amarela. Ou branca e azul.
Em outros países, o dia dos namorados é comemorado no dia 14 de fevereiro. Na antiga Roma, esse dia era dedicado a Juno, deusa que abençoava os casamentos. São Valentim também morreu nessa data. Ele contrariou a proibição do imperador Cláudio II, que preferia os solteiros nas guerras, e realizou casamentos secretamente. Tornou-se patrono dos namorados. Quem não tem namorado ainda pode fazer suas preces a Santo Antônio, que tem sua data festiva no dia 13 de junho.O amor patriótico está colorindo as ruas de verde e amarelo querendo nossa torcida. Seria de mau gosto falar mal da alegria que contagia o povo nessa época e querer que falemos de outros assuntos. Sou professora da rede estadual, em greve novamente esse ano e meu pai está internado em um hospital da rede pública. Falar da educação e da saúde no país realmente não está na pauta de junho, mas estará depois da copa, quando lembrarmos que é ano eleitoral.
Mesmo que estejamos tristes com a corrupção dos políticos e com todas as tragédias, como os dias de terror que o estado de São Paulo viveu, talvez possamos esquecer as tristezas e lembrarmos somente das comemorações ao torcermos pelos gols. Devemos esquecer também que a seleção que vai jogar na copa não é toda composta de brasileiros. Não somos sempre enganados? Não vivemos fazendo de conta que está tudo bem?
Os funcionários públicos estamos alegres porque teremos ponto facultativo nos dias de jogo do Brasil. Afinal, é tudo o que ganharemos com a Copa, a não ser que orgulho pelos campeões milionários do futebol encha a barriga de alguém.
Mesmo se o Brasil perder a copa, devemos permanecer com muito amor até as eleições, afinal, a pátria amada, mãe gentil, que mais parece um filho levado, precisando de palmadas mais que colo, também precisa de amor e de uma boa educação.
Solange Firmino

(Texto publicado na Coluna Orkultural n° 19)

terça-feira, maio 16, 2006

Gaia, a mãe primordial

Gaia
Um dos mitos gregos sobre a criação do mundo conta que no princípio havia o Caos ilimitado e indefinido. Depois surgiu Gaia, a Terra, que criou a si mesma e a Urano, o Céu.  Do encontro entre o Céu e a Terra nasceram os filhos da fase inicial da formação do planeta, Titãs, Ciclopes e Hecatonquiros. O Caos, organizado com as divindades primordiais, passou a ser Cosmos.

Gaia personifica a Terra, a Mãe Primordial dos deuses e dos homens, doadora da vida que estruturou o Caos. Na mitologia, Gaia tinha tantos nomes quantas fossem as suas representações na natureza, como as deusas Géia, Telus, Cibele e Ops.

A frase “mãe é uma só” é verdadeira nesse aspecto, pois todas as Deusas são uma única Deusa. Todas são manifestações da Grande Mãe, a energia criadora que dá a vida, nutre e mantém os filhos.
A figura da Deusa foi uma das primeiras representações divinas criadas pelos seres humanos. Descobertas arqueológicas sugerem que os arquétipos femininos presentes em diversas culturas visavam ao culto da Grande Mãe.

Religiões antigas cultuavam imagens femininas como sagradas por suas relações com a natureza e a fertilidade.
O culto da Mãe Terra na Grécia acontecia em vários locais, mas Delfos era considerado seu “umbigo”, o centro da sabedoria. Gaia permitia que as fendas e grutas de Delfos falassem através das sacerdotisas sobre a origem do mundo e dos deuses.

A serpente Píton era guardiã do Oráculo de Delfos, mas Apolo matou a serpente e passou a ser o guardião masculino do local.
O masculino suplantou o feminino. As divindades masculinas ficaram em evidência e o patriarcado passou ao seu longo período de domínio. Com o passar do tempo e com a consolidação do cristianismo, as sociedades se afastaram das religiões que cultuavam divindades femininas.

Atualmente as sociedades vivem em época de crise em vários aspectos, como os religiosos e ambientais. De todos os cantos do planeta, vários grupos e líderes conduzem o questionamento de que a Terra é o nosso lar e precisa ser preservada para que as espécies sobrevivam.
Diante do despertar de valores ligados à preservação das formas de vida no planeta, várias religiões tentam modernizar antigos rituais de adoração à Deusa Mãe e suas manifestações.

Com a valorização de figuras arquetípicas femininas, até quem nunca teve muito prestígio ganha importância, como Maria Madalena, presente nas histórias da Bíblia como a prostituta que viu Jesus Cristo após a ressurreição. Sua figura foi reavivada depois do papel principal que teve no best-seller “Código da Vinci”, de Dan Brown. Vários escritos situam sua figura como esposa e verdadeira líder da Igreja de Cristo. Que evolução no pensamento histórico e religioso...

A evolução dos seres vivos no planeta é um processo seletivo, espontâneo ou simbiótico?
Quanto mais os cientistas e pesquisadores estudam, mais confirmam que os organismos vivos mantêm uma interdependência. Mesmo as relações aparentemente destrutivas apresentam equilíbrio, como estudamos na cadeia alimentar de várias espécies.

A consciência da diversidade de espécies convivendo no planeta trouxe de volta o símbolo de Gaia como energia primordial que cria e mantém.
As políticas de desenvolvimento sustentável levam em conta agora a controversa teoria da Terra Viva, proposta há poucas décadas pelo biólogo inglês James Lovelock com o nome de "Hipótese Gaia".

São parte de Gaia os oceanos, a atmosfera, a biosfera e todos os elementos que compõem o planeta e fazem dele um grande sistema vivo. Segundo Lovelock, a Mãe Terra regula sua própria estrutura, busca seu próprio equilíbrio, não só cria a atmosfera, como mantém todos os elementos favoráveis à sobrevivência dos filhos, por isso mesmo, com todas as ações que temos feito ao ambiente, ela também pode ficar doente. Se uma parte é afetada, tudo sofre. E nós, com nossas ações, somos responsáveis pelo equilíbrio que afeta o Sistema Gaia.

Quando olhamos para o mundo dos mitos, sabemos dos encantamentos das religiões e dos deuses e por que reverenciavam a Terra.
Se olharmos igualmente nossa história no planeta, saberemos, com ou sem hipótese Gaia, que estamos agindo mal e que toda recuperação possível passará pela visão holística e consciente dos nossos passos na busca do equilíbrio para o futuro.

Se essa busca reverenciar os princípios femininos de Gaia, ótimo! Assim estaremos de olhos abertos para a magia da natureza e a beleza e os encantos do planeta como um ser vivo e integrado. E sagrado.

Solange Firmino


segunda-feira, maio 15, 2006

Geometria de Ícaro




O céu côncavo 
abarca o voo 

O sol oblíquo 
derrete a cera 
e o sonho 

O mar convexo 
recebe 
a queda

Solange Firmino


* Imagem: Herbert Draper, The lament for Icarus.

domingo, maio 07, 2006

Orkut contra o voyeurismo virtual

A Curiosidade pode ser uma virtude. Graças ao desejo de conhecer, o ser humano descobriu e inventou muito, como a captura da energia elétrica e o computador, que permitem que utilizemos a internet, entre outras maravilhas.

Mas a curiosidade nem sempre é bem-vinda. Na mitologia grega, por exemplo, muitos curiosos foram punidos. Psiquê perdeu Eros, antes de ficar com ele eternamente. Orfeu perdeu Eurídice, depois de tê-la recuperado no Hades. Pandora abriu a caixa com os males, levando a culpa, como a Eva cristã, pela perda do paraíso humano na Terra.

Existe um limite no desejo de saber demais, principalmente querer saber demais sobre a vida alheia. O ser humano tem a mania de espiar a vida do outro, seja por fetiche ou curiosidade, por isso programas como pegadinhas e reality shows fazem tanto sucesso.

Além da espiadinha básica, existem outros olhares nada inocentes. A psicopatologia classifica o olhar compulsivo como voyeurismo . O voyer observa, mas prefere que não saibam que ele está vendo. O exibicionista gosta de ser olhado.

No Orkut, voyerismo e exibicionismo se entrelaçam propiciando grandes encontros que se tornam amizade, inimizade e até amor.

As opiniões se dividem entre as pessoas que se expõem. Apesar de ser um portal público, uns gostam de ser olhados, outros acham que ninguém que não esteja na sua lista de amigos deve olhar o seu perfil.

Agora há uma novidade, que é a possibilidade de saber quais foram os seus visitantes. Não é novidade a identificação de usuários de serviços. Quem usa a internet está acostumado com os cookies e os endereços do IP. Há serviços de estatísticas em blogs e outras páginas, inclusive em Blocos online, que sempre indica nos boletins informativos os acessos de cada cidade e país ao portal. Se não fosse esse tipo de “rastreamento”, como saberíamos da visita de 66 países no mês de abril?

Fora da internet, há o identificador de chamadas no celular e também no telefone fixo (bina) e há o nosso número de telefone (e até endereço) na lista telefônica. Muitos desses serviços podem ser desabilitados, assim como o fofoqueiro serviço do Orkut, que você pode configurar, mas não reclame por não saber quem vigiou você.

Sem discutir políticas de privacidade, voltemos para a curiosidade do ser humano. Digamos que Fulano de Tal visitou você. Será que você não terá curiosidade de saber que é essa pessoa e por que ela teria lhe visitado? Lá vai você fazer uma visitinha também...

Afinal, o Orkut não é um portal de relacionamentos? As pessoas se relacionam quando se conhecem e elas se conhecem se encontrando. No Orkut, isso pode acontecer depois de uma olhadinha nos perfis, que podem ser vistos em uma comunidade ou rede de amigo...

Como diz um ditado, olhar não tira pedaço, mas quem fazia bisbilhotagem só por fofoca ou só para ver quem andou escrevendo recado para o namorado terá que tomar mais cuidado.

Solange Firmino

Publicado na Coluna Orkultural em Blocos online.

Amor e instinto maternos

Escultura de Otto Moroder

Ser mãe é padecer no paraíso. A mulher só se realiza plenamente com a maternidade. O instinto materno existe em toda mulher, mesmo naquela que ainda não é mãe e nunca será. Esse é o mês em que mais ouvimos e lemos frases como essas.

Não conheço o paraíso, mas em quase três anos como mãe, sem contar os meses de gravidez, já padeci bastante e sei que ainda tenho muito pela frente.
Padecer é também continuar ouvindo e lendo frases feitas. Ser mãe é isso, ser mãe é aquilo, mãe tem que ser assim, mãe tem que ser assado, mãe não pode mais isso, não pode mais aquilo. Mas o que sempre incomodou foi o tal instinto materno.

Essa questão não reforça ainda mais a sociedade sexista em que vivemos? Pai não tem instinto? A mulher só se realiza plenamente com a maternidade? As mulheres que não correspondem a esse modelo tradicional de maternidade têm que ser punidas emocionalmente? Por que ser mãe é algo tão puro e nobre, se nem todas as mães são nobres?

Acredito na capacidade que todo ser humano tem de criar vínculos, de amar. E até de amar incondicionalmente alguém, principalmente um filho. Qualquer afeto precisa da convivência e da conquista diárias para crescer. E considero o amor materno um desses afetos. O amor que cresce em mim pelo meu filho começou com o aprendizado diário em ser mãe dele, não existia antes da concepção e tornou-se diferente e mais intenso desde a primeira vez em que o vi.
O amor materno é diferente como é diferente o amor em cada relação. Talvez o que chamam de instinto materno seja o instinto de preservação da espécie, que também está presente nos animais.

Ser mãe é uma experiência única porque a mulher sente o bebê mexendo na barriga e pode amamentar? Quem não amamenta não é mãe integral? Mãe adotiva não tem instinto materno? Mãe de bebê de proveta não é mãe?
Conheço mães adotivas que têm mais amor pelos seus filhos do que muitas mães naturais que não se comprometem nunca com a maternidade e que, em uma situação de escolha, sempre optarão por si mesmas.

Se existe o instinto materno, para mim ele está no tipo de mãe de um relato da bíblia, em que o rei Salomão teve que dar um veredito sobre o caso de duas mulheres que disputavam uma criança. Salomão sugeriu que cortassem a criança ao meio e cada um ficaria com uma parte. A mãe verdadeira não deixou que cortassem a criança, preferindo que ficasse com a outra, desde que ficasse vivo.
Ser mãe é escolher o melhor para o filho, mesmo que tenha que perdê-lo.
A maternidade não é uma auréola. As mães não são santas, são seres humanos, com capacidades de amar, detestar e fazer escolhas, mesmo que não sejam as ideais.

Solange Firmino

sábado, abril 08, 2006

E-Zine Entre Palavras nº 1

Senhor passageiro,

próxima parada:

ENTRE PALAVRAS E-ZINE

Nº 1.

A Chegada, Sônia Menna Barreto

Data da chegada:



Sexta-feira,

7 de abril de 2.006.


Estação:


www.e-zine.entrepalavras.com.br


Nosso trem alcançou a primeira estação, hoje, às 18 horas. A ENTRE PALAVRAS E-ZINE n° 1, edição oficial, está no ar.

É a primeira parada dessa nossa viagem rumo ao futuro. Futuro da E-ZINE. Futuro dessa Trupe formada por você, amigo leitor, e por nós, loucos mambembes, que fazemos com sua colaboração a ENTRE PALAVRAS E-ZINE.

Juntos, sentemos nos bancos dessa estação. Deliciemo-nos com todas as histórias e causos dessa primeira etapa. Com vagar e carinho, conheçamos melhor cada artista-passageiro dessa maria-fumaça - lendo-os, vendo-os, ouvindo-os.

Troquemos impressões sobre a aventura com os integrantes da Trupe. Teremos tempo para colocar a conversa em dia. Sem pressa ou atropelos. Como toda Trupe mambembe, nossa casa fica onde nossa ARTE está.

Aproveitaremos essa parada ao máximo. Depois, colocaremos nosso trenzinho, outra vez, em movimento. E continuaremos a aventura, sempre em sua companhia, até a próxima parada - a Estação N° 2.

Mas não esqueça: nosso destino é o AMANHÃ!

Esperamos por você, ansiosos, na Estação!

http://www.e-zine.entrepalavras.com.br


ARTE para quem FAZ ARTE!

ARTE para quem AMA ARTE!

sexta-feira, abril 07, 2006

Por ti América - CCBB mostra legado de nossos povos.


Cultura marajoara: urna funerária.

Muito nos encantam, atualmente, lugares inusitados das Américas, como Machu Picchu; pirâmides escondidas nas selvas; trilhas incas ou o enigmático calendário Maia que os pesquisadores até hoje estudam. Esses são alguns dos poucos elementos, que restaram para que entendamos o passado desse continente – batizado de América em homenagem ao navegador italiano Américo Vespúcio.


No território latino-americano, os destaques são as áreas localizadas na Bolívia e Peru, onde existiram culturas como a Inca, Moche, Nazca, Chimu e Chavín. Nas áreas do México, Honduras, Guatemala e Belize habitaram os Olmecas, Toltecas, Maias e Astecas. O navegador italiano Cristóvão Colombo chegou à América no final do século XV. Os povos e civilizações daqui receberam, posteriormente, o rótulo de pré-colombianas, outra homenagem duvidosa. Já sabemos que nem foi ele quem chegou primeiro... Mas, enfim...


Dependendo da concepção antropológica da época, variam os nomes: ameríndios, América Indígena pré-histórica e outras denominações. Tentativa de excluir a atitude europocêntrica com o continente, que desenvolveu grandes civilizações antes da invasão européia. Essas culturas se formaram ao longo de milhares de anos. Estudos mostram esses povos possuíam organização
social e política e realizaram grandes obras.


Valorizamos nos livros didáticos os Incas, Maias e Astecas. A história da América, porém, não começa com Colombo, nem somente com essas três civilizações.

Faço esses comentários provocada pela Exposição Por ti América, no CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil). A mostra reúne um pouco do legado de alguns desses povos. O acervo é de uma coleção particular e instituições públicas de países como Guatemala, Peru, Brasil e México, totalizando 350 objetos. A exposição, que ficou no CCBB até 29 de janeiro passado, está, agora, em Brasília (DF).

Está organizada em cinco temas: Cosmovisão; Sociedade e Assentamento; Sociedade e Religião, Política e Sociedade – elementos simbólicos fundamentais para compreender as visões de mundo das culturas ameríndias. Intencionalmente, a divisão é feita pelas temáticas que as aproximam, não pela origem regional – o que nos revela marcas comuns em culturas tão diferenciadas regionalmente.


O que falar de povos sem escrita? Que são primitivos? Escrita é só um código alfabético? A exposição também está organizada com esse objetivo: mostrar que se busca, hoje, decodificar a linguagem e compreender outras formas de escrita. Afinal, a linguagem codificada nas pinturas, códices e objetos não são um tipo de linguagem?

Antes de ver as famosas peças, há um espaço de introdução à arqueologia. Relata as especulações atuais sobre a migração dos povos no continente. Uma linha do tempo comparativa situa as civilizações da América indígena entre os principais acontecimentos da história universal, como a construção das pirâmides do Egito.


(...)


Leia o texto integral na E-Zine Entre Palavras.

Dioniso: um deus no teatro

Na Grécia antiga eram cultuados muitos deuses. Eles tinham vontades e personalidades como as dos homens, e muitas das suas características eram ligadas aos elementos da natureza. Um deus especial era Dioniso (Dionísio), cultuado como deus do vinho, da fertilidade e do Teatro.

Não sabemos muito sobre a origem do teatro, mas muito do que já se especulou sobre o assunto levou a acreditar que os elementos que fazem parte da história da Arte Teatral começaram a aparecer nos festivais em honra ao deus Dioniso.

Algo parecido com as procissões relembrando a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, os antigos gregos também faziam em homenagem a Dioniso. Rituais e festas eram realizados contando sua história de dor e alegria, desde o nascimento conturbado, a destruição pelos titãs até o renascimento.


(...)

Leia o texto integral na coluna Célebres Cenas, na E-Zine Entre Palavras.

Um louco de juízo

Imagine um cavaleiro forte, corajoso, honrado, cortês, leal e belo. Ele luta heroicamente contra as injustiças e os monstros em um mundo de objetos mágicos, fadas, magos e belas donzelas, que inspiram os mais puros amores. 
Você pode encontrá-lo na história de Amadis de Gaula, uma famosa novela de cavalaria do século XIV, de autoria disputada entre portugueses e espanhóis.
No século XVII, as novelas de cavalaria ainda eram populares na Europa e Miguel de Cervantes y Saavedra escreve Dom Quixote de La Mancha. Apresenta a história ao público em duas partes, a primeira em 1605 e a segunda em 1615. A intenção de Cervantes não era, exatamente, dar continuidade ao estilo de novelas como Amadis de Gaula. Ao contrário. Sua intenção era ridicularizar e criticar heróis como Amadis, tanto que até fazia parte da biblioteca de Dom Quixote.
(...)


Leia esse texto integral na coluna Transversais do Tempo, na E-Zine Entre Palavras.

Quixotesca

[Para Simone Sales]

Se musas me visitam
com rimas de velhas cantigas
Se vivo os dramas de Shakespeare
Se vejo os infernos de Dante
Sou mais um louco a sonhar?
Louco é o mundo
sem guerreiros
sem um Sancho amigo
e donzelas em perigo
Ergo a espada sem temor
em lutas nada vãs
com meus moinhos diários
que insistem em ser gigantes

E cada um não tem
seu gigante a combater?
Minha loucura é acreditar
que meus gigantes
são moinhos

Solange Firmino


Imagem: Quixote de Gustav Doré


domingo, abril 02, 2006

Páscoa


Marcamos o ritmo dos dias pelas horas, datas e celebrações. Damos sentido e significados aos fatos para serem lembrados e, principalmente, comemorados. A Igreja tem definido muitas dessas celebrações, como a Semana Santa, mas não conheço ninguém, inclusive eu, que vá celebrá-la na Igreja. Espero mesmo ficar em casa pelo menos dois dias a mais com o feriadão do funcionalismo público.

No sentido da Páscoa não falamos, mas esperamos muito pelo chocolate, bacalhau e feriadão. Aliás, a cada ano como menos chocolate, a não ser que eu mesma compre. Há alguns anos, eu saía das escolas onde trabalhava com bolsas de presentinhos doces recebidos dos alunos. No último ano nem lembro se ganhei uma bala.

Não sei quem compra tantos produtos anunciados, afinal os comerciantes vivem se gabando do lucro das vendas e que a cada ano aumentam seus estoques de ovos e barras de chocolate, mas não recebo - nem compro - quase nada disso.

Não sei do preço do bacalhau, mas dizem que custa caro. Não compro porque não sei fazer nem quero aprender. Quem sabe um dia aproveite os pacotes de feriadão e vá comer direto na Noruega, onde deve ser mais gostoso e tem a fabulosa vista dos fiordes.

Se no último Natal comi pizza, na Páscoa devo comer lasanha.
Sei que não contribuo em nada para que as festividades tenham seus símbolos reavivados. E não posso culpar as religiões, pois não sei se elas têm cuidado disso com os fiéis.
Acho que salvam o feriadão da Igreja as montagens que contam a Paixão de Jesus Cristo. Claro que elas devem chamar a atenção porque são feitas por artistas famosos.

O calendário desse ano está cheio de feriados e feriadões. Até circula na internet um resumo dos enforcamentos (Tiradentes é depois da Páscoa, mas falo do outro tipo de enforcamento) que nos aguarda, inclusive com os feriados que não se juntam todos os anos, como o da Copa do Mundo e das Eleições. E em nenhum deles, principalmente os religiosos, os significados originais são lembrados e exaltados pela maioria da população.

Em tempo: Páscoa, para os cristãos, é a lembrança da ressurreição de Jesus Cristo, da sua passagem da morte para a vida. Para os judeus, a pessach, passagem, representa o êxodo dos hebreus do Egito, onde eram escravizados.

E parece que essa história de coelhinho da páscoa nada tem a ver com as histórias religiosas, mas foi um símbolo inventado por causa da fertilidade dos coelhos. Mas eles não colocam ovos, tadinhos.
Falando em ovo, meu preferido é o prestígio. Se for em barra, caju com passas.
E bom feriado.

Solange Firmino

Publicada em Blocos online e Caros Amigos.

sábado, abril 01, 2006

Meteora - Grécia



Mosteiros de Meteora na Grécia

Para quem pensa que na Grécia só tem ilhas "gregas" e ruínas do século de Péricles, vale a pena visitar Meteora. É um lugar pouco divugado, longe de Atenas, mas imperdível.
Meteora é como uma grande floresta de pedras e uma das comunidades mais inacessíceis da Terra.

Meteora fica na região da Tessália, região da Grécia continental, e os mosteiros bizantinos construídos dentro e no alto de enormes rochas são a principal atração. Algumas fontes dizem que foram construídos a partir do século IX d.C. Foram descobertos mosaicos, moedas, inscrições, jarros e outros objetos que datam da época romana.
Hoje restam 6 mosteiros, dos 24 originais. Visitei apenas 3.


À direita, Monastério da Transfiguração de Cristo (ou Grande Meteora), a 613m acima do nível do mar.


Os primeiros mosteiros eram alcançados escalando escadas removíveis. Mais tarde, os monges subiam em redes puxadas por guindastes, método usado até os anos 20 - tinha uma em um dos mosteiros para os turistas observarem.
Os visitantes medrosos se perguntam quanto tempo levava até que as cordas fossem substituídas e a resposta é "quando o Senhor as partia".


Hoje em dia o acesso aos mosteiros é através de escadas construídas nas rochas e os guindastes servem para o transporte de provisões - claro que eu não me arrisquei nas redes.

Os museus dentro dos mosteiros são um luxo, com peças ricamente fabricadas pelos monges, manuscritos, documentos, selos, pergaminhos, decretos de Constantinopla e magníficas pinturas bizantinas - mas que não pode filmar nem fotografar no interior dos mosteiros.

Mulheres não podem entrar de calça, mas com alguns dracmas pode-se comprar saias ou cangas à venda em todo lugar. Melhor do que pegar os saiotes horríveis que eles emprestam, acredite.


A cidade de Kalambaka, conhecida por esse nome desde a época da dominação turca, fica a 5 km de Meteora e tem uma bela vista da floresta de pedras que é Meteora, além de local onde ficam o comércio e as hospedagens para os turistas.
A guerra civil dos anos 40 acabaram com o país, mas as freiras se prontificaram a reconstruir o que restara de Meteora. Veja na foto abaixo a vista de Kalambaka.


Publicado aqui, em Blocos online.

Haicai para Penélope tecedeira


teço dia e noite

 

faço e desfaço em rotina

 

meu próprio destino

 

Solange Firmino

 

Ulisses, protagonista do poema épico "Odisseia", deixa sua esposa Penélope e vai para a Guerra de Tróia.
Durante os vinte anos em que fica fora, Penélope faz de tudo para se livrar dos pretendentes. Uma das suas últimas estratégias é desmanchar de noite o trabalho que tecia de dia, nunca ficando pronto.

sexta-feira, março 24, 2006

Cópia e plágio na internet

Foto


Quando quero enviar para alguém um poema ou texto de minha autoria, e ele está em minha página na internet, acho mais rápido encontrá-lo escrevendo um verso em algum buscador. Fiz isso há pouco tempo e encontrei vários poemas meus em um fotolog. As fotografias e os poemas combinaram bem, e não seria tão mau ter uma fã se ela tivesse colocado meu nome como autora.

O mesmo aconteceu com a organizadora da coluna Orkultural, Chris Herrmann. Nós duas conversamos sobre o assunto e achamos bom ter fãs internautas, e muitos autores gostam, mas ficamos chateadas porque os autores merecem e precisam do crédito pelas suas obras, já que muitos apreciadores não pedem autorização quando copiam e publicam obras alheias. Mas algo pior pode acontecer a um texto solto pela internet: tornar-se apócrifo.

Na tradição cristã, apócrifo é um texto de origem desconhecida que não faz parte da Bíblia. Os textos apócrifos falam sobre a vida de Jesus Cristo e dos apóstolos e são considerados ilegítimos, como o Evangelho de Maria Madalena.

A palavra apócrifo vem do grego apokryphos, que significa não autêntico, oculto. Para a literatura que circula na internet, o texto de autoria desconhecida, ou sem autenticidade, é apócrifo.

Recentemente, Dan Brown, com o livro “O código da Vinci”, tentou mexer com os segredos apócrifos (no sentido de ocultos) do Cristianismo, tramando um enredo em que seitas e igrejas tentam proteger as verdades sobre Jesus Cristo e Maria Madalena. Além de sofrer os ataques das igrejas e seitas mencionadas no livro, ele também foi acusado de plagiar o enredo de outro livro escrito há duas décadas. Esse caso com Dan Brown traz a repercussão sobre a lei dos direitos autorais, que indica também as formas de se “tomar emprestadas” as idéias dos outros.

A internet parece estar livre de direitos autorais, mas não está. Para maiores detalhes, há em Blocos online vários artigos e notícias sobre direitos autorais, inclusive sobre ética na internet.

As obras que circulam na internet têm autorias atribuídas muitas vezes a escritores famosos, como Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. Há um texto chamado “Viver não dói” que cita Drummond como autor, e é semelhante em muitos versos ao poema “Canção”, de Emílio Moura. “Ter ou não ter namorado” é uma crônica que já recebi várias vezes como sendo de Drummond, mas é de Artur da Távola.

Muitos autores vivos, como Luis Fernando Verissimo e Arnaldo Jabor, já cansaram de falar sobre a falsidade dos textos atribuídos a eles. Em Blocos online, José Nêumanne - Jornalista, editor, comentarista, poeta e escritor, na sua coluna de 9 de fevereiro de 2006, alertou sobre um texto apócrifo que critica o programa Big Brother Brasil e cita seu nome como autor. Nêumanne diz na sua coluna que sequer assiste ao programa. Além de tudo, o apócrifo em questão está assinado por um “autor” chamado Neumani.

Na semana do Dia da Mulher, recebi de uma página para professores um texto chamado “Te desejo”, com autoria atribuída a Victor Hugo. Fiz o que muitos fazem, ao tentar atestar uma autoria, pesquisei na internet e dezenas de páginas constavam-no realmente como o autor. Nelson Rodrigues dizia, e acho que não é uma frase apócrifa, que “toda unanimidade é burra”. Não devemos acreditar em páginas que não sejam confiáveis. Acreditei em dezenas delas e repassei o texto para os amigos.

Parece incrível, mas repassei para a autora seu próprio texto com autoria falsa. E ela ainda teve a humildade de dizer em sua página que “se espalhou por aí deve ser porque teve ar de uma boa semente...” Enquanto conversávamos sobre isso, ela me passou outra semente, um arquivo em Power Point com fotos belíssimas atribuídas a Salvador Dalí, mas logo reconheci que eram de Vladimir Kush, pois já tinha tomado como empréstimo uma foto dele para meu blog – com autoria e fonte.

De uma loja virtual, recebi uma mensagem pelo Dia da Mulher sem autoria. Repassei a mensagem e outra amiga a reconheceu como presente que o próprio autor lhe deu. Disse que ele trabalha para a empresa que me enviou e me deu o endereço da página pessoal dele, onde ele assume a autoria. Pelo menos não foi plágio da empresa.

E as mensagens não param de circular. Ainda este mês recebi de um grupo de mensagens virtuais um famoso texto chamado “Instantes”, escrito há anos e publicado em todo lugar como sendo de Jorge Luis Borges. O caso foi bem falado durante muito tempo e a autoria negada, mas continuam dizendo que é de Borges.

Há poucos dias, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, alertou sobre o aumento dos casos de plágio entre os estudantes, que copiam trabalhos inteiros da internet e não citam autor ou fonte. Nessa universidade, os estudantes assinam contrato contra plágio, o que não garante que os estudantes parem de copiar e colar indiscriminadamente.

A internet se torna maior a cada dia, a cada nova linha escrita. Não dá para fiscalizar o que acontece em todas as letras e imagens. Muitos se aproveitam do acesso fácil e da impunidade para roubar o material intelectual alheio. Mas isso não faz da internet uma terra sem lei. Nosso papel, como autores e leitores, é tentar dar o devido crédito ao texto alheio, mas o crédito certo, não apócrifo ou anônimo.

Como já disse Millôr Fernandes, “copiar um autor é plágio, copiar muitos autores é pesquisa”. Aliás, se alguém ficar sabendo que essa frase não é dele, por favor me avise.

Solange Firmino


* Texto publicado na Coluna Orkultural nº 14 , em Blocos online, no dia 24 de março de 2006. E também na Caros Amigos e Garganta da Serpente.




sábado, março 18, 2006

Silêncio


Silêncio,
presente na ausência do som
e na mudez da palavra,
quando gesto e olhar têm voz

Se o corpo inteiro quer falar,
o mímico reinventa o mundo
nos gestos silenciosos
e diz tudo

Solange Firmino






Homenagem ao poeta, mímico e artista plástico jiddu Saldanha.
Na fotografia, sua apresentação no Largo do Machado, em 18/03/06.

segunda-feira, março 13, 2006

Palhaço

Eu, de palhaça Borboleta


Sou palhaço
quando me disfarço.
Se por dentro
a dor não tem maquiagem,
por fora,
sorrisos e cores me fazem
contente.

Quando me escondo
em cambalhotas diárias,
sou mágico-equilibrista.

Se quero chorar,
máscaras não escondem lágrimas.
Mas se esqueço a tristeza,
logo volta o sorriso.

Solange Firmino




Comemora-se o Dia do Circo em 27 de março, numa homenagem ao palhaço brasileiro Piolin, que nasceu nessa data, no ano de 1897, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo.

Considerado por todos que o assistiram como um grande palhaço, Piolin se destacava pela enorme criatividade cômica e pela habilidade como ginasta e equilibrista. Seus contemporâneos diziam que ele era o pai de todos os que, de cara pintada e colarinho alto, sabiam fazer o povo rir.

Fonte: IBGE

sábado, março 11, 2006

Borboleta...

Borboleta,
quero ser flor
para beijar
teu arco-íris
quando pousas

Quero todas
as tuas cores
para pintar
paisagens
por onde eu passar

Quero o sossego
do teu vôo
saltitante e feliz

Solange firmino


*Nesse dia, à noite, era minha apresentação como Palhaça Borboleta.

Poesia

Para ti sussurro
o que dita a Musa
no silêncio
no princípio e
no fim do dia

Fonemas, palavras, dígitos
impressões tatuadas
nos papéis e nas telas

Tu és minha
permanência
meu rastro pelo caminho
efêmero

Solange Firmino



Figura:Erato, musa da poesia lírica


domingo, março 05, 2006

Equilibrista

Foto de Faísca

Na corda bamba do dia,

equilibro-me subindo e descendo
na ampulheta das horas.

O minuto seguinte
é um abismo
de expectativa.
Mas de tanto renascer
diariamente
já não sinto vertigem.

Solange Firmino

sábado, março 04, 2006

Ser mãe, ser mulher


A dor de Deméter
é minha dor.
O retorno de Perséfone
é minha alegria.
A prece de Maria é
meu silêncio.

Pandora, ordem do mundo,
é rancor para os homens
e corrente
para as mulheres.

Meu ventre, casulo de semente,
foi o único descanso real
do meu filho,
minha dor e
meu consolo.

Solange Firmino