terça-feira, janeiro 21, 2025

Muralha

MURALHA


1990. João Simões durante a abertura do segundo lance da via "Oceânica"

Na Serra da Arrábida, desde o miradouro natural do sector de escalada desportiva do Fojo dos Morcegos, é possível observar a grande faixa de falésias de aspecto decomposto que se estende para leste. Na faixa de calcário que encabeça essas falésias, uma parede em especial realça a sua presença. Trata-se da MURALHA, um paredão amarelado que atrai o olhar de qualquer escalador amante da aventura. Nos anos 80, o Fojo constituía, por excelência, a escola de treinos para um determinado grupo do qual fui membro, o Grupo de Montanha do Barreiro. Sempre que descíamos o trilho empinado que conduzia ao sector, o perfil da “Muralha” (como a batizámos então) ia ganhando forma, até que tomava a sua real dimensão quando a avistávamos desde a chamada “varanda do Fojo”.

Naqueles tempos, aquele muro vertical impressionava-me sobremaneira e mexia de tal forma com a imaginação que não tranquilizei até ter a possibilidade de lhe tocar com as minhas próprias mãos. Este sentimento era acompanhado pelos meus dois companheiros de cordas da altura. Também o Fernando Brito e o João Simões sonhavam escalar aquele pedaço de rocha provocador.


1990. Paulo Roxo a inaugurar o quarto lance da "Oceânica"


1990. João Simões na saída técnica da "Oceânica"



Em 1989 surgiu a oportunidade. Eu e o Fernando Brito juntámos vontades e equipamento (quase todo do clube) e resolvemos tentar a nossa sorte. Destrepámos o Fojo, atravessámos as praias pedregosas, eternamente torturadas pelo mar e, iniciámos a nossa escalada por um afiado esporão que constituía a única entrada de rocha razoável, em toda a extensão de calcário decomposto. Dois lances nervosos (especialmente o segundo, constituído por rocha realmente má e terreno exposto, praticamente improtegível), colocaram-nos na grande plataforma de matagal que antecede a parede principal da “Muralha”. Após um retempero de energias e de um acalmar de nervos, retomámos a nossa escalada, desta vez por terreno muito mais sólido. O fim daquele dia viu-nos no topo da falésia, muito cansados, desidratados mas, mais que tudo, felizes. Acabáramos de “conquistar” a tão sonhada “Muralha”. O Fernando lembrou-se de um famoso poema épico de Álvaro Campos (uma das várias entidades de Fernando Pessoa) e a via foi batizada com o nome inspirado de “Ode Marítima”.


1990. Fernando Brito, numa pausa "para um cigarrito" na via "1313"


1990. João Simões a assegurar e o Fernando Brito a escalar, durante a abertura da via "Noite"



A partir daquela primeira ascensão, inevitavelmente, começámos a estudar os outros aspectos da parede. No entanto, o acesso desde o mar foi considerado demasiado perigoso e rapidamente ficou descartado. A partir daí realizámos o acesso sempre desde o topo. Para as seguintes ascensões, o João Simões juntou-se à cordada da via original e, a 5 de maio de 1990, inaugurámos a via “Noite”, cujo próprio nome denúncia o pequeno épico final de uma saída nocturna e às apalpadelas. Nos dias 19 e 20 de maio desse mesmo ano, caíram as vias “Rota do vento” e a “Oceânica”. O doblete ofereceu-nos o privilégio de poder realizar dois maravilhosos bivaques no topo da “Muralha”, à luz de milhões de estrelas brilhantes da Via Láctea.


1990. Paulo Roxo de martelo em rite, a pitonar o segundo lance da "1313"


1990. Paulo Roxo durante a abertura da "1313"



Retornámos a 16 de junho de 1990 para escalar a via “1313”. O nome foi inspirado no Irmão Metralha que, nas histórias de banda desenhada do Tio Patinhas (Walt Disney), era o vilão mais trapalhão e azarado. Durante aquela escalada recordo-me de termos perdido vários pitons de rocha e um martelo que, na sua queda, razou a cabeça do Fernando (naquele tempo o capacete não estava na moda). No fim, pareceu-nos uma sucessão de azares adequada para merecer aquele nome.

No ano seguinte (1991), desta vez sem o nosso companheiro João, o Fernando Brito e eu escalámos a “Joshua Tree” e, finalmente, ainda encordado com o Fernando, inaugurámos a última via da década dos anos 90. A “Sentinela” nasceu a 7 de abril de 1996. Esta última aventura marcou o final de uma época romântica de sonhos rebeldes de juventude sob o mote “dureza total”, um cunho privado que pretendia realçar a nossa forma de encarar a montanha e a escalada.


1990. João Simões assegura e Fernando Brito "limpa" um dos lances de escalada 


1990. Paulo Roxo durante a abertura do segundo lance da via "Noite"


Durante muitos anos a parede da “Muralha” ficou esquecida, longe da vista e dos corações dos escaladores, a maioria embarcados na recente expansão da escalada desportiva. Longe também da minha visão, surgindo, aqui e ali, apenas nas memórias das belas páginas de vivências. Com o tempo, a cordada desfez-se. Até que, no ano 2007, agora na companhia da Daniela Teixeira, resolvemos revisitar o sector. Durante essas visitas, repetimos algumas daquelas velhas vias, surpreendidos pelo bom estado aparente do equipamento fixo, constituído por vários pitons e spits, apesar dos anos que nos separavam das primeiras ascensões. Ainda em 2007 equipei a via “Pânico, horror e dor”, que se revelou durinha e um bom objectivo de aventura “desportiva” para o futuro, uma vez que se encontra bastante equipada. Só realizámos uma tentativa de a encadear e tivemos de nos agarrar a algumas protecções para a ultrapassar e sair por cima. Até hoje, a “Pânico, horror e dor” permanece sem uma ascensão absoluta em escalada livre.

No dia 10 de fevereiro de 2008, a Daniela e eu abrimos a bela “Yellowviper”, que parte desde o meio da parede (partilhando os primeiros lances com a via “Noite”) e ultrapassa uma semi-fissura que corta na vertical uma placa compacta e lisa.

Pouco depois, a “Muralha” voltou a afundar-se no obscurantismo, durante vários anos.


1990. João Simões a escalar o fantástico diedro do terceiro lance da "1313"


1990. Fernando Brito e Paulo Roxo a descansar na famosa plataforma de acampamento, a meio caminho entre a estrada e o Fojo dos Morcegos


Chega o ano de 2013 e surge alguma curiosidade por parte de alguns escaladores que decidem verificar se a “lenda” que atesta a “Muralha” como um lugar de rocha aceitável é verdadeira. Entre eles apareceram João Gaspar, Fernando Pereira e Nuno Pinheiro. A confirmação da parede por parte destes escaladores inspira inclusivamente a inauguração de duas novas vias, pelas mãos do Fernando Pereira e do Nuno Pinheiro. Assim, nasceu a “Javali, aperta aqui”, um único lance que ultrapassa o atraente muro amarelo entre a via “Noite” e a “Sentinela”. Ainda nesse ano a mesma cordada abriu a “O Elefante de Aníbal”, um itinerário de três lances que se cruza com algumas das vias históricas da parede. Durante o processo dessas novas escaladas Fernando e Nuno aproveitaram para reequipar as reuniões da “Ode Marítima”, que constitui a linha actual de rapel para aceder a todas as vias.


Em 2008, durante a abertura da "Yellowviper"


Em 2008, durante a abertura da "Yellowviper"


Daniela Teixeira em 2008, durante a abertura da "Yellowviper"


No momento da publicação deste artigo (janeiro de 2025), a magnífica falésia da “Muralha” permanece um lugar tranquilo e, de certa maneira, esquecida da generalidade da “população”. Sim, trata-se de uma parede “vintage”, reservada apenas a amantes da escalada clássica (no melhor sentido da palavra) e uma bela varanda para o infinito oceano Atlântico. Existindo, talvez, como um testemunho, hoje em dia cada vez mais raro, da aventura em estado selvagem.


Paulo Roxo



TOPOS


Apresentam-se todas as vias existentes e, para a maioria das vias, os respectivos croquis por ordem numérica mas não tratados, ou seja, na sua forma original. 
















quinta-feira, janeiro 09, 2025

Ramazotti

RAMAZOTTI, UMA AVENTURA ESQUECIDA

 


João Simões em plena escalada dos primeiros lances da via "Alampa"


Esta é a história resumida de uma via obscura numa das mais bonitas falésias de calcário da Serra da Arrábida.

Em 1988, eu e o João Simões começámos a “namorar” a impressionante parede de extra-prumos góticos que se ergue por cima da famosa gruta dos Morcegos, no Fojo da Arrábida. Na altura achámos ser ainda muita areia para a nossa camioneta e resolvemos seguir um regime apertado de escaladas preparatórias. Repetimos algumas vias do Espinhaço, no Cabo da Roca e abrimos uma nova via no Penedo da Noiva, a “Dança da Chuva”. Esta última, devido ao seu elevado grau de compromisso e aventura, encheu-nos de confiança para tentar o projeto da grande parede da Arrábida.


Paulo Roxo a utilizar os velhos pitons do primeiro lance da "Alampa", anos antes de ter sido retroequipada com plaquetes por outro escalador


João Simões a escalar o segundo lance da "Alampa"


O início do mês de maio de 1989 viu-nos suspensos nos primeiros pitons ferrugentos da via “Alampa”, um itinerário extraordinário cuja existência não conhecíamos e sobre o qual, apenas anos depois, viemos a saber que tinha sido terminado em 1979 por Paulo Alves, Mário Cardoso e Carlos Teixeira. A “Alampa” ultrapassa os primeiros tetos da grande abóboda até um pequeno jardim que alcunhámos de “Éden” e depois desvia-se para a esquerda, saíndo por um evidente diedro vertical, muito para a esquerda dos últimos tetos que caracterizam o final da falésia e que constituíam o objetivo irresistível da nossa investida.


Um dos monstruosos rapeis das grandes abobodas, durante as retiradas da "Ramazotti". Saíamos sempre pela travessia do "Corrimão do Fojo"


Uma pausa para hidratar


Durante esse ano de 1989, investimos alguns fins de semana a repetir (sempre de baixo, nunca com reconhecimento desde o cimo) a primeira parte da via “Alampa” e a escalar a nossa própria via, que se ergue a partir do meio da parede. Durante essas aventuras sofremos vários percalços, como uma enorme queda do João no terceiro lance da “Alampa”, devido a quebra de uma velha cordeleta, atada a uma sólida (!) cunha de madeira. Também “conseguimos” cometer a proeza de partir um spit (mal colocado) numa das reuniões da nossa nova via, um incidente que nos ofereceu um bom susto. Previsivelmente, foi o grande teto final que proporcionou as maiores dificuldades. Num dos ataques, entre a escalada desde o nível do mar e a abertura quase total do grande teto, consumimos 22 horas seguidas de trabalho, para terminar esgotados, com os rins desfeitos e desistir de terminar a via naquele dia. Finalmente, a 17 de fevereiro de 1990, após 12 horas de escalada, o João Simões e eu, pudemos dar o grande abraço de vitória no cimo da mais fantástica falésia da Arrábida, inaugurando assim a via “Ramazotti” e vencendo o grande teto que fervilhava a nossa imaginação.


Riso nervoso do João Simões, após a sua grande queda no vazio. Subida obrigatória com jumares


João Simões desaparece por detrás das formações caóticas das grandes abobodas


Um descanso a meio da abertura. Estilo "Rebuffat"


Paulo Roxo a ultrapassar o Grande Teto horizontal, o penúltimo lance da "Ramazotti" e o mais trabalhoso


A reunião que antecede o Grande Teto, que chamámos "Hotel Belavista". Passámos aqui algumas noites, suspensos em hamacas de rede


João Simões a trabalhar no Grande Teto


Vitória!


Algumas semanas mais tarde, voltámos a repetir o itinerário, desta feita com o equipamento todo ajustadinho e sem a parafernália necessária para as aberturas, reduzindo o horário da ascensão total para as oito horas.


 

Após a escalada, o merecido descanso


Algumas curiosidades da aventura:

- Descobrimos uma pequena garrafinha, suspensa num arbusto da plataforma “Éden” (quarta reunião da via “Alampa”), com uma mensagem no seu interior que ditava o seguinte:

“Por aqui passaram os alpinistas do C.N.M. (Clube Nacional de Montanhismo de Lisboa) com os tomates na mão e o coração… (ilegível)… Noite de luar, nuvens cheias, a feliz cordada abaixo mencionada, Rui Neves, João Cardoso”.

A mensagem datava de 8 de dezembro de 1981, provavelmente a última repetição daquela escalada antes da nossa (1989).

- Durante a abertura, realizámos um bivaque muito incómodo na plataforma “Éden” e dormimos algumas noites suspensos em hamacas de rede, na reunião que precede o grande teto. Batizámos essa reunião de “Hotel Belavista”.

- Que eu saiba, até à data de hoje, a combinação “Alampa + Ramazotti” foi repetida quatro vezes. Em 1995 fiz a escalada com João Garcia. Em 1996 foi repetida por José Carlos e João Schiapa. Em 1996 ou 1997 foi escalada por Ricardo Nogueira e Miguel Loureiro. No dia 1 de dezembro de 2003, o Miguel Grillo e eu formámos cordada para a última escalada conhecida.


Paulo Roxo

 

Paulo Alves, durante a abertura da "Alampa", Anos 70



Miguel Grillo na reunião que antecede o Grande Teto, durante a repetição de 2003


Miguel Grillo a escalar o terceiro lance da "Alampa". 2003

 



Paulo Roxo a escalar o Grande Teto, durante a repetição de 2003


Os topos








quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Pinheirinhos selvagens

PINHEIRINHOS SELVAGENS


A chuva no nosso caminho.


“Caramba! A chuva é toda para mim!” – gritei à terceira molha, já no ultimo largo.
Sabíamos que o dia não ia estar solarengo, mas a fome daquele calcário era tanta, que decidimos ainda assim tentar escalar na baía dos Pinheirinhos.
Passou-se mais de ano e meio sem uma única visita, resultado da recuperação do acidente do Paulo. Este local de beleza indescritível, indiscutível, que carinhosamente chamamos do “nosso quintal”, não nos via desde... nem me recordo de quando! Foi como se estivéssemos estado ali ontem mesmo, a mesma grandeza, a mesma água límpida azul-turquesa, onde os cardumes de peixes se avistam desde uma altura de noventa metros. Noventa metros acima do mar, enquanto preparávamos o rapel para a base do “Esporão do pé descalço”, víamos os cardumes de peixes lá em baixo, umas quantas medusas que dançavam ao sabor da corrente, as gaivotas e os corvos marinhos, a fauna residente da baía à qual naquele Domingo nos juntámos. Sentíamos que fazíamos parte de tudo aquilo, creio mesmo que aquele pedaço de terra sentiu a nossa falta, por isso acolheu-nos num dia que... dificilmente se imaginaria que seria um bom dia para escalar uma nova via.
Arriscámos rapelar até á base da parede e, recuperadas as cordas, caíram os primeiros pingos.
“Podia ter começado a chover à meia hora! Escusávamos de descer!”. O comentário do Paulo era mais do que justificado. Já não havia escape. Entre nós e as mochilas havia uma centena de metros para escalar, ou seja, a perspectiva de o fazer com rocha molhada não era algo que nos agradasse, mas... naquele momento não tínhamos outra opção senão conformarmo-nos com a situação e desfrutar o que de bom ou mau os Pinheirinhos tinham reservado para nós naquele dia.
A chuva parou e a rocha que ainda não estava encharcada secou. Secou o suficiente para o Paulo escalar o primeiro largo de travessia tranquilo. Aquele primeiro largo foi uma espécie de aproximação à via. Olhando para o Cabo Espichel viam-se nuvens grossas e chuva, muita chuva que ainda não tinha chegado até nós.


Lá ao fundo, vêm mais nuvens e... chuva! Entretanto ainda nos maravilhamos com a parede principal dos Pinheirinhos.


“Podes viiiiiir!”. Conheço bem este grito e quando o escutei já tinha os pés de gato calçados, pronta para me fazer à rocha. De repente, o branco do calcário sarapinta-se, sarapinta-se de gotas grossas, o calcário e o meu impermeável que por sorte - ou não - já ia vestido. A primeira molha já ninguém me tirava.
Chego à reunião, confortável por debaixo de um pequeno tecto. Nessa altura a chuva já tinha parado e o calcário secava com rapidez, afagado por um sol forte que dava ao dia um sabor de contrastes. As nuvens, essas seguiam espessas no horizonte escondendo por vezes a luz do astro rei.
Com rapidez o Paulo inicia o segundo largo, este já com menos sabor a travessia. Eu, na reunião avaliava a direcção do vento...das nuvens...


A escalar o primeiro lance... à chuva!


“Reuniãããããooooo! Podes viiiiiir!”. Segundo largo. Inicio novamente de impermeável bem fechado. “Já pinga... já chove!”. Gotas gordas teimam em estragar-me o gozo da escalada. Mãos enlameadas, pés a patinar, tento progredir com rapidez e para isso o preconceito deixa de existir. Um friend significa apenas dois metros conquistados com mais rapidez. Chego à segunda reunião algo encharcada. A chuva pára. Curiosamente parece respeitar o primeiro de cordada... é justo! Quem vai à frente safa-se com rocha seca, as forças da natureza conspiram a favor do Paulo e lá vai ele apressado no terceiro largo, a meu ver, o mais bonito da via. Vejo-o ultrapassar uma sequencia de fissuras ligeiramente extra-prumadas de presa boa. Venho depois a confirmar a excelência da rocha, que até ao momento se revelou de muito melhor qualidade do que esperávamos.
Desta tenho sorte, desfruto de um belíssimo largo, rocha boa, fissuras atléticas de presa grande, um largo de deixar qualquer um sorridente. Chamam os espanhóis a este tipo de escalada “desfrutona”, confirma-se! E pela primeira vez no dia, escalo um largo seco. “YEAHHHH!” Desta safei-me, chego à terceira reunião sem chuva. O Paulo segue outra vez... tudo seco, sorte. Eu aproveito para apreciar aquela paisagem da qual tive tantas saudades.


Uma breve trégua de céu azul, permite desfrutar do largo mais bonito da via.


O dia vai agora longo e falta apenas um largo para atingir o topo da falésia. Três a quatro metros acima e... ”AHHHHHH!!!”. Conheço bem aquele grito de pânico, é uma verbalização de medo que me deixa de imediato tensa, na verdade, assustada. No segundo que durou o drama, olho para cima à espera da queda do escalador e vejo sair um falcão, disparado em voo rasante à cabeça do Paulo. O susto cedeu o lugar a um enorme sorriso e a umas quantas gargalhadas.
- Está aqui um ninho!
- E tem ovos?
- Não, não tem nada.
- O bicho deve ter apanhado um susto ainda maior que o teu!


O Sol deixa-se cair no horizonte. Ambiente "National Geographic!"


Já comentávamos que o dia parecia saído de um qualquer programa de “National Geographic”. Uns minutos depois, é a minha vez de gritar:
- Golfiiiinhoooooos!!! Golfiiiiiiiinhos! Paaaauuuuulo, olha para a base do esporããããooo! Montes de golfiiiinhos!
- Espectáááááculo!!!! São buéééés!
Nada como um bando de golfinhos a saltitar, rebolar, cambalhotar na água para tornar dois seres humanos ainda mais felizes. Naquele regresso aos Pinheirinhos, a falésia recebeu-nos como se fossemos da casa. Aproveito para continuar a apreciar aquela paisagem da qual tive tantas saudades. Algumas gaivotas, certamente agradecidas pela abundância de peixe naquele dia, alimentam-se, mergulham com elegância para aparecerem segundos mais tarde à superfície. Delicio-me com o sabor da natureza selvagem do lugar, mas o azul do céu volta a desaparecer e percebo que vou levar a terceira molha... a terceira bátega de água. O Paulo, escala todo o largo com rocha seca.
Após o novo grito de reunião apresso-me. A escalada não é difícil, ainda assim as mãos e pés-de-gato molhados tornam o largo menos prazenteiro.
Algures pelas cinco da tarde estávamos os dois no topo da “PINHEIRINHOS SELVAGENS”, húmidos e felizes com a forma com que os Pinheirinhos nos acolheram neste regresso.
Mas o dia ainda não estava terminado! Sim, faltava ainda o regresso ao carro, ao cair da noite, e claro, com uma grande bátega de água para concluir em beleza! Desta, levámos os 2!
Daniela – 4 molhas!
Paulo – 1 molha!

Nota final: Entretanto retornámos ao sector para inaugurar uma nova via. Escalámos a “DESENGANA-TE” durante um belo dia de aventura em que sentimos a falta dos Golfinhos e… da chuva!

Daniela Teixeira



 A escalar o terceiro lance da "Desengana-te". Desta, a chuva não nos atormentou.


 A chegar ao final de mais uma nova via na "mais bela" grande falésia da Arrábida.


 Foto-cume!


Claro, os topos: