Meu pai sempre me disse que somos constantemente avaliados. Eu não entendia direito o que era constantemente, nem o que era avaliado (na realidade confundi essa palavra, com avariado, até os 11 anos); mas entendia que era constantemente observado, quer eu estivesse nos campos do Quiriri, onde criávamos abelhas, ou em minha primeira viagem junto a meu pai, quando fomos de caminhão conhecer o parque eólico das salinas de Cabo Frio. Eu, quando criança, queria ser igual a ele, e se fosse eu hoje a criança de ontem, teria guardado dele outras imagens que as que trago em recordação, desde o dia em que ele partiu para seu novo sistema lunar: meu pai não gostava do sol, e preferia a noite!
Sou eu um pai sem nunca ter sido. Ainda não experimentei essa grandiosidade, mas com afeto me transporto, para a rotina daqueles que se tornam aos adultos, lembranças tão meigas de quando estes eram crianças.
Procuro nos álbuns de outrora, ele viçoso, ele compromisso, ele grandioso com seu 1,70 cm; gigante para uma criança de 7 anos. E dentro de uma caixa de recordação de esperas, sua Rolleiflex toda cheia de história, tão indiferente ao fato de ter custado tão cara, tão indiferente ao fato de ter guardado coisas tão preciosas, registrado as imagens perfeitas...meu pai dizia que nenhuma máquina produzia tanto fascínio nele quanto aquela máquina fotográfica, modelo SL66.
Pessoas já me ofereceram dinheiro alto por esta relíquia. Preta e prata, de 1966, dum tempo em que eu ainda não era nascido. Já pensei em doá-la a um museu, mas não consigo. Ela não é somente uma máquina, é a impressão digital de uma época que nada era digital, e tudo era fascínio...até esse olhar romântico sobre o que é passado.
Imagem é tudo, dizia meu pai, até os seus cinquenta e quatro anos. E isso não estava condicionado ao corte do cabelo ou a reserva no restaurante. Nem mesmo à Rolleiflex que ele tanto gostava, e que deixou estática, para sempre, aquele seu rosto, teimoso em não sorrir. Para ele, a imagem estava na imponência de ser visto sempre, ou com uma mão estendida, oferecendo cumplicidade, ou com as mãos recuadas, demonstrando a hora certa de retroceder. Assim como fazem os presidentes. Assim como ele está retratado, em frente ao portão, em sépia, pela Rolleiflex SL66. E registrado em mim, em cores, na imaginação reportada da infância. Que nada tem de presidencial, mas de majestosa.
Marinaldo de Silva e Silva é joinvilense, é formado em letras e em língua italiana. Ele já escreveu os livros “O Beijo de Mephisto”, de 2002; “Cânticos de Eva”, de 2006; e “Poesia para as Crianças quando Ficarem Adultas”, de 2009. Desde janeiro, escreve crônicas no “Anexo” todas as sextas-feiras, e também faz a coluna “Mr. President” na revista “Premier”. Marinaldo é funcionário público da Biblioteca Pública Gustavo Ohde, em Pirabeiraba, e promove a leitura entre crianças e adultos.
Parabéns e felicidades aos Pais!!!