Mostrar mensagens com a etiqueta JCDuarte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta JCDuarte. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre livros e quem os vende





(por JC Duarte)





Fotografia de JC Duarte (2013)




Para cada problema, uma solução específica. Ou mais que uma, se formos engenhosos.
Esta é uma solução para um problema que não temos.

Em fotografando no exterior usamos o sol como fonte de luz. Maior ou menor intensidade, maior ou menor difusão, mas é ele que alumia os assuntos que fotografamos. Geralmente. Mas em interiores ele não chega, ou pelo menos, não chega com a quantidade e qualidade que queremos. Geralmente. Por isso, e desde sempre, os fotógrafos procuraram formas de trazer para o interior a quantidade de luz necessária ao seu ofício.
Uma dessas formas – das primeiras – foi o velho flash de magnésio. Vemo-lo nos filmes, que já não se usa. Aquela luz intensa, não tão instantânea quanto isso, e, principalmente, muito fumarenta. Que resultava da queima rápida de magnésio com um nico de pólvora. E, em interiores, depois de cada fotografia, havia que abrir bem as janelas e criar uma valente corrente de ar, para dissipar os fumos daí resultantes.
Esta é uma forma de contornar o problema: um saco, feito a partir de um guarda-chuva, e que se coloca por cima do local da combustão. Assim que se extingue, fecha-se por baixo e vai-se com ele para o exterior, abrindo-o e libertando a fumaça nele contida.
Talvez seja um sistema complicado de usar, mas seria o melhor que existia na época. E soube-o através de um livrinho comprado num simpatiquíssimo alfarrabista. Recomenda-se a visita.
Da simpatia, cada um poderá aquilatar aquando da sua ida lá.
Da qualidade e eficiência dos seus proprietários, posso dar um exemplo:

O livro de onde tirei esta imagem intitula-se “Fotografa parte segunda”. Escrito em Castelhano, data de 1952 e foi impresso na Argentina. Quando por ele perguntei o preço, disse a simpática senhora: - “Olhe que é o segundo volume. Não tenho o primeiro.” Qualquer outro vendedor teria calado essa informação, tratando de despachar este talvez mais que encalhado livrinho de bolso. Que a grande maioria pouco dariam por ele, a menos que, como eu, saibam que os antigos tinham sabedorias que as modernidades esquecem. E um dos exemplos dessa sabedoria consta naquilo que não está na imagem: “Bórax – 75gr; Ácido bórico – 60gr; Água – 1 lt”. Trata-se da fórmula que haveria de executar para impregnar o tecido deste saco para o tornar ignífugo ou incombustível.
Pequenos detalhes ou sabedorias que hoje escapam à maioria.

Interessante mesmo foi também o que sucedeu depois de sair desta excelsa loja com este tesoiro no saco.
Sendo que se tratava de um dia feriado, nem sequer estava à espera que este alfarrabista estivesse aberto. Mas estava, ao invés de todo o resto do comércio que não pastelarias ou restaurantes.
No passeio pseudo-fotográfico que dei, acabei por entrar num centro comercial, um dos mais antigos da cidade e que foi uma referência, ainda que hoje preterido por outros que têm a desvantagem de serem todos iguais.
Neste existe, desde sempre, uma livraria. Mas como é um comércio em declínio – infelizmente – já lhe conheci vários donos e nomes ao longo dos anos. E, desta vez, nova mudança, desta feita uma sucursal de uma outra livraria bem conhecida. Enquanto olhava de fora, aquilatando do que ali estava à venda, lá dentro apenas três pessoas: dois potenciais clientes e uma empregada. E foi esta que fez toda a diferença:

De pé, atrás do balcão, estava embrenhadíssima na leitura de um livro. Livro que marcou com todo o cuidado e pousou ao lado quando fez uma venda, e que a ele regressou de seguida. Ora batatas! Uma “menina do shopping” a vender livros e a ler o que vende não é normal. E não pude deixar de ir atrás do meu nariz comprido e meter conversa com ela. Não me recordo do título ou autor, mas não esqueço o mais que ela me disse: - “Sabe, gosto de ler por inteiro pelo menos uma obra de cada autor que temos. Que, assim, posso melhor aconselhar os clientes.”
Perfeito, como já é raro de encontrar!

Falta referir que o alfarrabista é a Folio Exemplar, ex-Ulmeiro de boa memória, na Av. do Uruguai, Lisboa, e que a livraria é a “Apolo 70”, no CC Fonte Nova, também em Lisboa. Concorrências? Nada disso, que são produtos e clientes diferentes, excepto algum menos convencional como eu mesmo.






quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Et maintenant...







(por Jc Duarte)




Fotografia de Jc Duarte (2011)




Caminhava calmamente pelo corredor, saindo da luz do sol e entrando na obscuridade das lâmpadas do centro comercial.
Entre o seu cabelo alvo, já um pouco rarefeito, e o casaco de cabedal um pouco coçado, um bigode farfalhudo e bem aparado compunha-lhe a cara.
A sua mão esquerda apoiava-se numa bengala, que manuseava com destreza, bem a compasso do seu caminhar e parar.
Porque ele parava! A cada meia dúzia de passos olhava para quem lhe estivesse mais próximo e cantava-lhe. Desafinado e já com falta de voz, repetia sempre os mesmos acordes e o mesmo verso antigo de nem sei quantos anos: - "Et maintenant, que vais-je faire?…"

Eu, bem como os demais que ali estavam a almoçar, olhámos uns para os outros, meio espantados como insólito da situação. Mas nem a empregada que ali atendia, nem o segurança a uns metros de distância, lhe prestaram atenção. Deduzi que se trataria de um frequentador habitual do espaço, como tantos outros reformados que usam os centros comerciais como forma de matar o tempo que lhes sobra.

Este… bem, este ainda verbaliza o seu problema, de quem se viu sem ocupação e, talvez, sem com quem partilhar a sua amargura.

É tão difícil – e absurdo – definir normalidade!






sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Ulmeiro"





(texto e fotografia de JCDuarte)





“Então, e quanto custa este tripé?”, perguntei regressando da cave.
Tinha-o visto assim que descera, que estava num baú logo ali, emparelhado com balanças, raladores, tigelas metálicas, batedores manuais e outros artefactos de culinária.

Pois a Dª. Lúcia olhou para mim, segurando o tripé, que lho havia passado. E olhou para o tripé. E para mim de novo. E de novo para o tripé, que se mantinha fechado, com as suas deliciosas ponteiras meio redondas, meio aguçadas, ao abrigo de um qualquer acidente.
E quando os nossos olhares se encontraram outra vez, vinha com aquele sorriso que lhe é peculiar:
“Pois, euh, pois então… cinco euros por perna, pode ser?”

Já não sei quando foi a última vez que larguei tamanha gargalhada num alfarrabista, cheio de preciosidades. Incluindo peças soltas, recolhidas aqui e ali, junto com os livros. Acho que nenhuma das pilhas de livros estremeceu o suficiente para que caísse.
Foi assim que saí da velha “Ulmeiro”, ali à Av. do Uruguai, em Benfica, com um belíssimo tripé, dois livros que já não via há muito e que me recordaram o prazer que havia tido em os ler, e um terceiro, que não conhecia, com belos retratos feitos por João Martins, que para além da olhada que já lhe dei, estou a guarda-lo para um momento de calma para com ele me deliciar.

Não conhece o local? Pois não sabe o que tem perdido. Nos livros e outros que aguardam para serem re-descobertos, na simpatia e boa-disposição que a Dª. Lúcia tem para nos dispensar.






quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Instruções




(texto e fotografia de JCDuarte)







Este carro estava parado onde se vê: em cima de uma passadeira de peões, quase esparramado em cima dela.
Não gostei. Até por ser habitual, tanto aqui, em frente da estação de Benfica, como em frente à gare do Oriente. Deve ser uma questão de química: a ferrovia atrai a instrução automóvel.

Ao volante um rapaz quase que imberbe, que soprava, remexia-se no banco e esfregava as mãos, como se estivessem húmidas. Daria para apostar, dobrado contra singelo, em como se tratava de um instruendo numa das suas primeiras incursões no trânsito.

Estive vai-não-vai para lhe dizer das minhas acerca do local de estacionamento, que a aprendizagem é logo desde o início. Mas o seu nervoso era tanto que metia dó. Preferi esperar pelo respectivo instrutor. Que seria, supunha eu, um dos três homens que conversavam a uns metros de distância. Quando um deles se aproximou do carro, indaguei-o a esse respeito. Era!

Nessa altura confrontei-o com o local de estacionamento, ao que recebi uma resposta esclarecedora:
- “Isto a gente pára onde pode ser.”

Quase perdi as estribeiras mas, mantendo a compostura, perguntei-lhe se aquele era o exemplo a dar ao instruendo lá dentro sentado. A resposta foi ainda melhor:
- “Oh pah! Agora não tenho tempo para isso!”
E, entrando no carro pela direita, ligou o motor, deu algumas instruções a quem aprendia, e seguiram à suas vidas.

Fala-se em prevenção rodoviária; em segurança rodoviária; mostram-se os números negros das estradas, nas épocas festivas e fora delas…
Mas o que se pode esperar dos automobilistas se os exemplos que têm para seguir são deste calibre?
Seria bom que instrutores, formadores, monitores e professores tivessem plena consciência da importância que têm na sociedade, mesmo depois de terminado o curso que ministram!








quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Chamada caída




(texto e fotografia de JCDuarte)






Será difícil pensar, nos tempos que correm, em alguém deixar abandonado um telefone. Mesmo que um dos clássicos de fio.

Esta chamada caída foi, quiçá, o último gesto útil neste prédio de esquina na Estrada de Benfica.

O próximo será o camartelo em que nem os ferros forjados se aproveitarão. Com ele, mais um pedaço da nossa memória, pessoal ou colectiva.

E se o Futuro é importante - que o construímos no Presente - se não for alicerçado no Passado, pouco mais sólido será que um castelo de areia.






domingo, 12 de dezembro de 2010

O Teatro





(texto e fotografia de JCDuarte)







Ver, na penúltima representação de uma peça de teatro, a sala confortavelmente cheia até meio, é um prazer.
Bem sei que é uma sala pequena, de bairro. Bem sei, também, que a maioria do público que ali esteve reside nas proximidades, por aquilo que fui ouvindo enquanto esperava que as portas se abrissem. Também sei que a divulgação da sala e da peça foi feita nas imediações, com abundante mas inteligente distribuição de cartazes, conversas entre vizinhos e na dinâmica da Internet. Da mesma forma que sei que, sendo sábado, a gestão de tempo e as opções de entretenimento diferem notoriamente das dos chamados dias úteis.
Mas constatar que uma sala de teatro, em Lisboa, enche até meio na véspera de sair de cena uma peça, é uma satisfação.
Parabéns ao Teatro Turim, em Benfica, por o estar a conseguir.

E parabéns ao Teatro Turim por ter conseguido deixar-me a pensar no que vi, no lugar de ficar a pensar, apenas, que foi um bom espectáculo. Nos tempos que correm, isso é cada vez mais difícil.
Fico à espera da próxima montagem, mantendo o bom nível da companhia no seu todo e dos actores em particular.








quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sinais dos Tempos




(texto e fotografia de JCDuarte)






Ali mesmo a meio da Av. Gomes Pereira, em Benfica.

A reciclagem de tudo o que tem valor ou talvez o tenha, e onde cada vez mais há gente a lá ir vender e a lá ir comprar.

Mas, confesso, tenho um outro indicador dos tempos de crise que vivemos. Mais prosaico e comezinho, não consta das estatísticas nem os economistas ou políticos dele falam.
Refiro-me ao aumento, continuo, da quantidade de pessoas que pedem cigarros na rua a desconhecidos. Não importa que seja numa zona nobre da cidade, num bairro típico ou num dormitório suburbano: quer estejamos parados à espera de transporte ou caminhando pela rua, raro é o dia em que se não é abordado várias vezes para dar apoio ou vício, que nós mesmos temos.
Em que circunstâncias dou? Bem, depende do meu próprio estado de espírito. Mas, garantido, se a abordagem se inicia por um “Oh chefe!” ou um “Eh pah!”, aí não há nada p’ra ninguém.





sábado, 2 de outubro de 2010

O passeio público




(texto e fotografia de JCDuarte)






Acredito que os especialistas em comportamento humano (supondo que esta especialidade existe) saibam dar uma explicação.

... Certo é que não me recordo de uma vez em que tenha estado neste local por mais de uma hora sem que tenha assistido ao que aqui se vê, neste ou noutro grau: manifestação de afecto.
Entre crianças, entre adolescentes, entre adultos, entre idosos, no cruzamento de qualquer um destes grupos, certo é que, aqui, as pessoas se beijam fraterna ou apaixonadamente.

O local nem sequer será, digo eu, o mais propício a tal: um passeio largo, na berma de uma artéria com bastante movimento, onde a intimidade ou privacidade é difícil de encontrar. Mais ainda: do outro lado da via encontra-se uma igreja, que sabemos não ser muito permissiva ao que aqui se vê. E, nas costas do fotógrafo, uma esplanada muito concorrida, onde, pela certa, algum conhecido destes ou de quaisquer outros dois poderiam testemunhar o acto.
Mas certo é que aqui, enfim, mais ou menos uns vinte ou trinta metros, é facílimo de assistir a situações destas.

Para quem se sentir mais em baixo, menos de bem com o mundo ou com menos fé nos Homens, sugiro que venha até aqui, à Estrada de Benfica, junto à Igreja, no largo fronteiro ao Café Nilo, e por aqui se deixe ficar, na esplanada ou nos parcos e concorridos bancos de madeira que a autarquia instalou.
Acredito que, em passando uma hora ou semelhante, daqui saia com um pouquinho da felicidade e afectos a que poderá assistir.
Assim como que ir a banhos no passeio público.





terça-feira, 28 de setembro de 2010

Contrastes Fotográficos

(textos e fotografias de JCDuarte)




"Ser Bonito"






Ser bonito, ou feio, não é uma característica intrínseca do que quer que seja: gestos, pessoas, objectos.
Depende, antes sim, de quem vê, dos conceitos que tem e da interpretação do que vê ou analisa.
Dirão alguns que este prédio é feio. O revestimento, se bem que prático e, em tempos, na moda dos construtores civis, não será aquilo que os estetas chamarão de belo. A uniformidade com que a parede está rasgada por aquilo a que damos o nome de janela é também algo que só o Homem produz: a natureza não quer nada com simetrias e regularidades. Também, dirão alguns, não é bonito exibir (ou ver) a roupa a secar ao sol, quantas vezes roupa que mais valeria estar escondida. Por seu lado, os simulacros de jardim ou, em o preferindo, o faz de conta de não se viver aereamente, serão bons de ver em estando perto e não a esta distância.
Mas, caramba, eu gosto de ver isto! Cada uma destas janelas, e dos vasos, e da roupa, e das persianas, até das antenas parabólicas e da ferrugem que escorre pelos azulejos e estendais, me fala de quem lá vive, dos pequenos nada que constituem cada uma das vidas de quem atrás das vidraças vive e dorme, de quem aquele vestuário usa, de quem aquelas plantas rega.
E se o Ser Humano, na forma como existe enquanto indivíduo ou grupo, não é belo, então o conceito de beleza não existe, mais não sendo que pretexto para justificar os enquadramentos sociais, regras e consumos impostos.
Este prédio é bonito, pelo que é e pelo que significa.




"Pequenas Preciosidades"






Esta imagem poderia ter sido feita numa qualquer vila ou mesmo cidadezinha deste país.
Casas de piso térreo, com o beiral do telhado decorado singelamente, a roupa a secar ao sol, sem medos ou pudores, o asfalto que não chegou ao fim do arruamento, um poste de madeira…
Mas não! Esta imagem foi feita na Rua do Açougue, ali mesmo em Benfica.
Claro que estas edificações de fachadas mais ou menos arranjadas, têm as traseiras em péssimo estado, deixando mesmo perceber em quão mau estado estão os telhados. E, com eles, a restante estrutura.
Claro, também, que estas edificações, todo este quarteirão, terá os dias contados, que o centímetro quadrado nesta zona da cidade vale fortunas nas mãos dos construtores civis.
Teremos que ser nós, cidadãos, a decidir se queremos que estes vestígios da cidade se mantenham ou que sejam engolidos por megatérios, como os que se encontram a escassas dezenas de metros das costas deste fotógrafo e nesta data.






quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Passeio por Benfica (2)




A Vítima


(texto e fotografia de JCDuarte)






“- Ora boa tarde! Então vossemecê foi enforcar o bicho? Que mal é que ele lhe fez, homem?
- Mal não me fez, mas desde que ali está os cabr*es dos melros nunca mais cá voltaram. Eles e o resto da passarada! Vai abanando, abanando e eu cá vou semeando e colhendo que é uma alegria.
- Então e importa-se que eu faça ali uma fotografia?
- Pois faça à-vontade, que já cá estiveram da televisão e tudo. Até cá esteve um filho-da-put* de um fiscal da câmara, que queria que eu tirasse daqui a vedação mais umas pedras que fui amontoando ali ao lado… Mas a senhora que vinha com ele piscou-me o olho, assim ‘tá a ver, e eu nem lhes liguei. E eles se quiserem a minha identificação, que vão lá à câmara, que têm lá a minha ficha. Trabalhei lá mais de quarenta anos e nunca faltei ou estive doente.”

Este diálogo aconteceu à tardinha, paredes-meias com o cemitério de Benfica, quase num beco atrás de uns prédios.
Confesso que, para além da conversa que ainda se esticou mais um pedacinho, ficou-me uma dúvida: Porque diabo hão-de murar os cemitérios? Quem lá está não vem para cá, quem cá está não quer ir para lá…?




Fim ou início


(texto e fotografia de JCDuarte)





Bem que sabia eu!
Que algures na cidade haveria de estar o início ou o fim dos trilhos de bicicleta.
Pintados no asfalto, a direito nos passeios ou atalhando pelos parques, vamos vendo estas vias ciclaveis que, diria eu, mais são cartões de visita eleitorais que outra coisa.
Não que não sejam úteis ou bonitos. Mais, o seu piso é óptimo para caminhar. Mas, diga-se em abono da verdade, é particularmente raro ver um ciclista a usá-las.
Ou porque há poucos ciclistas em Lisboa, ou porque os traçados são os mais cómodos para políticos, engenheiros de secretária e empreiteiros com olho para o negócio, verdade verdadinha é que nem em dias úteis nem nos inúteis os vejo.
Mas esse incrincado politicamente correcto haveria de começar (ou acabar) nalgum lugar. E é aqui, neste jardim que ombreia com hortas, couves, searas, poços e até uma nora.
Por cima das árvores podemos ver um dos novos hospitais privados da cidade. Se olhássemos para a direita, veríamos um dos templos do consumo, um centro comercial de grandes dimensões. Atrás à esquerda, um bairro residencial e de comércio, com vida própria e tradições na cidade. Atrás à direita, depois do cruzamento desnivelado de duas artérias de grande movimento, um estádio de futebol.
Onde estou? Em Benfica, pois claro.






quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tem dias assim!







Fotografia e Texto de JCDuarte




Tem dias em que nada sai certo!

Saí eu de casa domingo, com o decidido intuito de ir recolher imagens para ilustrar um tema. Versava ele as alterações arquitectónicas na utilização de frente e traseiras de prédios.
Como elas são menos bem cuidadas quando viradas para um logradouro fechado, tanto no desenho como na utilização por parte dos residentes, e como tudo muda quando o lado oposto à entrada principal do edifício está virado para um espaço público, eventualmente um jardim ou rua. Os estendais de roupa e o acumular de tralha nas varandas é muito menos notório e até mesmo as cortinas e vasos na janelas são mais bonitos.

Para consubstanciar esta minha teoria, escolhi o bairro de Benfica. Tem ele de tudo, desde edificações do início do séc. XX até às bem recentes, já do séc. XXI. Logradouros fechados, jardins e espaços públicos como interior de quarteirões, prédios concebidos em “T”, sem que se possa bem definir qual a frente qual a traseira. Em Benfica há de tudo para esta minha tese.

Acontece, porém, que devido ao calor, ou a um almoço mais pesado, ou a um qualquer outro motivo que desconheço, não consegui fazer em fotografia o que me ia na cabeça. Lá fotografias fiz, agora que fizessem jus ao que pensava… As coisas estão lá na câmara, mas não me agradam.

Fazendo uma pausa junto da igreja para me refrescar na esplanada, constato que os sinos tocam e a porta se abre. “Bem”, pensei, “se isto não me está de feição, vou dar ali uma olhada, que acho que nesta nunca entrei.”

Sou agnóstico convicto, pelo que as igrejas ou templos mais me falam dos seus utilizadores que de deuses. E isso é sempre algo que me interessa. Fui dar uma olhada.
Fiquei boquiaberto! A missa das 17 horas de domingo (eu, que pensava que aos domingos de tarde as igrejas fechavam…) encheu por completo o templo. A ponto de, além de já não haver lugares sentados, as coxias laterais estarem repletas, bem como o espaço junto à porta, onde me quedei.

Fiquei um pouco, tentando com a minha presença não perturbar quem ali estava, observei espaço e fieis e aproveitei uma pausa entre a leitura e o sermão para sair.
A coisa – a enchente de gente num domingo de tarde – ficou a cucutar-me. Os hábitos dos estendais e dos dias para lavar e estender a roupa já não são o que eram, tal como a hora de ir à missa ao domingo. Nem bom, nem mau. Apenas diferente, ajustando-se ao mudar dos tempos.

Eu é que não estava de maré e não consegui fazer uma imagem que fosse que se aproveitasse sobre o tema. Ainda andei de volta da igreja, tentando tirar partido da bonita luz que havia, mas nada. Há dias assim!

Acabei por esquecer o que a cabeça me dizia e deixar-me levar apenas pelo que os olhos me mostravam. Isto, a poucos metros!
Não tem que ver com estendais, traseiras ou templos. Mas está intimamente relacionado com o domingo ser um dia bonito, em que as coisas bonitas se mostram e se vêem. Por dentro e por fora!

Tem dias assim.







domingo, 12 de setembro de 2010

Cumplicidades






Fotografia e Texto de JCDuarte



Há mais de uma trintena de anos que existem cumplicidades entre mim e a Estrada de Benfica.
Cumplicidades photográphicas, entre outras, já que ao longo dela, ou pelo menos de metade dela, são inúmeras as referências que nesta área tenho.
Começando por quem entra na Cidade por ela, temos à esquerda o Bairro das Pedralvas. Nele residiu por muitos anos um companheiro, amigo e mestre. Foram alguns milhares de metros de película que expusemos juntos; umas centenas largas de quilos de equipamento que transportámos; um incontável número de horas de conversas, discussões e projectos que partilhámos; tudo entremeado por uns quantos tonéis de bom vinho.
Se mais não aprendi com ele foi porque não soube ou não quis. E vou-lhe sentindo a falta, nos tempos que correm.

De volta à Estrada, temos mais à frente e à direita a Av. Grão Vasco. Mais ou menos na sua metade, incrustada num edifício cuja traça era, na sua época, modernista, uma loja de fotografia. Não lhe sei o nome mas os seus clientes-alvo eram os habitantes do bairro, fornecendo-lhes trabalhos de laboratório de qualidade um pouco acima da média.
Mas o que lá me fazia ir era o que tinha exposto nos escaparates ou guardado nas gavetas e armários. Fazia questão de ter artigos de fabricantes não muito comuns, pelo menos por cá, com peças difíceis, senão impossíveis, de encontrar noutros locais. Recordo de lá ter comprado o pára-sol e filtro de protecção para o meu fotómetro spotmeter Pentax. Ainda tenho os três, em perfeito estado.
Fechou a loja e o que se vê pelos vidros é uma tristeza.

De volta ao trilho original – a Estrada de Benfica – sei da existência de um fotógrafo uns trezentos metros depois da Igreja. Dele não me recordo, mas contou-me quem ali viveu até se casar, já trintão, que sempre foi ali que fez as fotografias para a escola, as fotografias para o passe, as fotografias para os BIs…
Seria uma loja pequena, de fachada modesta, que nunca me chamou a atenção. Hoje, se por ela procurarmos, não a encontramos. Talvez que seja aquela de telemóveis, ou aqueloutra de oculista, símbolos indiscutíveis das evoluções tecnológicas e do envelhecimento das populações residentes.

Um pouco mais à frente, temos um cruzamento. Um cruzamento importante na circulação viária do bairro em geral e da Estrada de Benfica em particular. O lado esquerdo começa a Av. Do Uruguai. E, na esquina, ficam as Galerias Uruguai. Um arremedo de centro comercial, destinado ao comércio local e que, como não poderia deixar de ser na época, tinha uma loja de fotografia.
No caso concreto, vendia mesmo e quase que exclusivamente fotografias, que os eu negócio de base era a revelação e impressão, usando um minilab. Aliás, era esse o nome da loja: “Minilab”. Espreitei-lhe a montra uma ou duas vezes, mas nunca me seduziu. Não me recordo de lá ter entrado.
E fechou, na linha dos pequenos negócios mal calculados.

Do outro lado do cruzamento começa a Av. Gomes Pereira. E, a meio dela, outro centro comercial: “Centro Comercial Santa Cruz de Benfica”. E no seu interior, aí sim, uma referência fotográfica em Lisboa. A loja do D’Artagnan.
Não creio que fosse esse o seu nome e nunca tive o atrevimento de o dizer na sua presença. Creio, antes sim, que a alcunha adviria da forma como tinha a barba e o bigode aparados, um pouco em linha com o que imaginamos que as figuras de Dumas usariam.
O seu negócio era equipamento fotográfico usado. Também o tinha novo, uns rolos, lâmpadas e assim, mas o grosso era usado. E ainda que o espaço fosse exíguo, de cada vez que lá entrava sentia-me como um petiz numa loja de doces coloridos.
Foi lá que comprei uns chassis de película rígida para a minha Linhof 9X12; Foi lá que comprei um raro carregador 6X9 120 para a minha Linhof Teknica 70; Foi lá que encontrei uns muito mais que raros chassis 6,5X9, também para a Teknica… Para já não falar em adaptadores de filtros improváveis, pára-sois incomuns e outras minudências que, não sendo vitais, iam ajudando nos trabalhos que ia fazendo.
Fechou o D’Artagnan e fechou o centro comercial.

Voltando costas ao que fechou e retomando o fio à meada, em passando um pouco o quartel de bombeiros, agora desactivado e substituído por um outro bem mais moderno junto ao Colombo, temos um fotógrafo.
A loja dá pelo nome de “Estúdio Matos” e a sua montra exibe algumas fotografias de noivas e de crianças, bonitas de ver. Nunca me fez inveja, já que nunca quis entrar neste ramo da fotografia. Mas o que me liga a esta loja é ter tido um parente do seu dono como aluno. E, pelo que lhe recordo, até que tinha jeitinho para a coisa. Uma questão de genes, suponho.
Tal como suponho que, se não estiver à frente do negócio, será uma das pessoas que continua a fotografar nubentes e pimpolhos, para mais tarde recordar.

Já perto do fim da “minha metade” da Estrada de Benfica, encontramos o Centro Comercial Fonte Nova.
Referência incontornável na zona, local muito “in” durante algum tempo, chegou a ter três lojas de fotografia em simultâneo. E em duas delas cheguei a fazer bons negócios, sendo que o último primou pelo caricato:
Tinham eles na montra uma objectiva que me interessava para a minha Pentax Digital Reflex K100D. Entrei, perguntei pelo artigo, pedi para fazer uns testes ali mesmo na loja, que levava a câmara comigo, pedi para que, do cartão de memória, me imprimissem algumas para tirar teimas, fiquei satisfeito e fechámos o negócio.
No final a mocinha (típica “menina-do-shoping”) ofereceu-me três rolos fotográficos. Fiquei a olhar para eles e exibi-lhe a minha câmara digital. Insistiu ela na oferta e eu tentei explicar-lhe que, por muito que tentasse, nunca os conseguiria usar naquela câmara. Ripostou-me ela que nunca se sabia, que talvez um dia me desse jeito… Creio que ainda os tenho por aí guardados.
E, das três lojas deste centro, resta uma, bem colocada junto a uma das entradas. Com o tipo de fotografia que se vai fazendo nos tempos que correm, não sei bem como sobrevive, mas está lá.

Falta, nesta minha cumplicidade com a Estrada de Benfica, uma referência, um pouco mais atrás: uma loja de objectos em segunda mão. Tem de tudo ela, de electrodomésticos a computadores, de instrumentos musicais a relógios, também passando por fotografia, eventualmente.
Não é artigo que apareça muito neste tipo de comércio, mas já ali tive a sorte de encontra pechinchas a que não resisti. É uma questão de sorte.

Se outras cumplicidades não tivesse com Benfica, a fotografia seria uma amarra suficientemente forte para me deixar ligado a este bairro para sempre.








quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Passeio por Benfica




O olhar externo de JCDuarte, num passeio matinal pela nossa Benfica...




"Aos Domingos"


Fotografia de JCDuarte



Aos domingos é assim:

... Um corropio em roda do quiosque, uns em busca do diário, outros do semanal, outros ainda só para ler as gordas, os mais novos pelas BD, os já mais velhinhos pela revista da especialidade, alguns pelas colecções que fazem vender jornais. E, claro, de quase todas as idades ou géneros, por um macinho de cigarros.
Depois, já com o negócio feito, vão em busca da ou do consorte, que ficou mais atrás na fila do pão quentinho, ou vão gastar o resto da manhã de ócio na esplanada do Café Nilo.
Aos domingos, de manhã, é assim no largo fronteiro à Igreja de Benfica.
Aos domingos e nos outros dias também!




"E tinham?"



Fotografia de JCDuarte



Tinham pois! Tal como tinham pastéis de nata, mil folhas, bolos de arroz e outros do costume. Tal como tinham rissóis, croquetes, merendinhas e demais salgados.
Mas também tinham Éclaires. E tinham Duchesses. E tinham rins. E tinham delícias de morango. E tinham frutos de massa-pão e amêndoa. E tinham pirâmides de chocolate. E tinham suspiros. E tinham…
Por mim… Por mim deliciei-me e lambuzei-me com um Babá comido à garfada, acompanhado com um café cheio (assim tipo banheira, está a ver?).

Na pastelaria "Bola de Mel", ali na Av. Do Uruguai, olham de lado os estranhos que entram. E entenda-se por estranho aquele que lá entra a primeira vez e tem um aspecto incomum. Mas à terceira investida, ou entrada, já nos saúdam com um sorriso que, em não o sendo, nos faz sentir como que em casa.

E este aviso à porta é mesmo para atrair os que não da casa. Porque esta avenida, entre a Estrada de Benfica e o Colombo, tem vida própria, com comércio diversificado e gente que usa os cafés ou pastelarias como que um prolongamento de suas casas ou locais de trabalho. E, em havendo bom tempo, as esplanadas marcam a sua presença e fazem a diferença. Diferença no movimento de caixa e diferença na clientela. Que divertido e interessante é constatar como as idades, os vestuários, os animais de companhia e os consumos variam de uma esplanada para outra, passeio acima ou mesmo em frente, em cruzando a avenida.

Transformar estas ruas e bairros, com características e vidas endógenas em franshisings, construções atípicas e vivências estereotipadas é destruir o que somos (de bom e de mau) e negar a nossa própria história, recente ou distante.
Porque aqui, na Av. Do Uruguai, em Benfica, temos. De tudo um pouco.



Textos de JCDuarte





terça-feira, 7 de setembro de 2010

Paredes que Falam (4)




Esta fotografia já tinha sido "vedeta" aqui, mas, desta feita, vêmo-la sob o olhar de um dos redactores mais recentes aqui do "Retalhos de Bem-Fica"...



Fotografia e texto de JCDuarte





Esta parede com estes dizeres poderia estar em qualquer lado.

A ideia aqui expressa em letras grandes, desta forma ou de outras semelhantes está disseminada, estou em crer, no mundo dos graffiteiros.
Afinal, entre demarcação de território, forma de expressão artística ou simples protesto, a contestação está na raiz dos graffitys.
Mas o que faz esta parede ser perfeitamente identificável com uma zona da cidade de Lisboa é o que está lá ao cantinho, escrito com outra cor e há bem mais tempo. Há vários anos.
A palavra de Cambrone está espalhada ao longo da estrada de Benfica, bem como nas suas transversais. Tantas vezes ela está repetida que, ao que julgo saber, esteve na origem de uma tese de mestrado de estudante universitário do Porto. Por outras palavras, a estrada de Benfica, em Lisboa, pela mão de um graffiteiro, elevou a palavra Merda ao nível da erudição universitária.

E se da gripe A, daqui por uns anos, sobrar apenas a recordação de que se tratou de um embuste político ou económico, de mentiras e merdas continuaremos a viver.




segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Casa do Adro




Fotografia e texto de JCDuarte







Claro que, em havendo um “Adro da Igreja”, teria que haver uma “Casa do Adro”.
... E se dermos com o primeiro, encontrar a segunda é mesmo só uma questão de rodar a cabeça, que lhe fica logo ao lado.

Bem cuidada de paredes, muros e jardim, cujas frondosas sombras falam da idade do edifício, este azulejo (vermelejo? amarelejo?) de singelo que é só pode ser bonito. Pena é que este, como tantos outros por esse país fora, deixem no anonimato o autor do desenho e a fábrica.

No entanto, aqui por estes lados não se deixam os créditos do que têm em mãos alheias. Passear nestas ruas velhas de Benfica de câmara fotográfica na mão, apontando para aqui e para ali, é quase que como ter um cartaz nas costas pedindo indicações. Numa mesma tarde, e com pouco mais de uma hora de intervalo, dois velhotes (que fizeram questão de não se deixar fotografar) trataram de me ir indicando algumas preciosidades do seu bairro. Quer fossem apontados com o boné, tirado para limpar a careca, quer fossem apontados com a bengala, que a outra mão segurava o saco de pão fresco da tarde, não deixaram de me ir dizendo que fosse fotografando antes que no lugar de azulejos, cornijas ou águas furtadas viessem apartamentos, garagens e escritórios.

Não conheço o bairro o suficiente para saber se tem uma “Transportadora Ideal” ou um “Café Central”. E sei que a única “Rua Direita” de Lisboa fica ali para os lados do Paço do Lumiar, agora com o nome de “Qualquer Coisa, Antiga Rua Direita”.
Mas espero que neste bairro de Benfica, bem como em todos os outros, não surjam placas com “Antiga…”, deixando aos seus residentes os tesoiros que possuem e de que se orgulham.




sábado, 4 de setembro de 2010

Não adianta!




Fotografia de JCDuarte



Não adianta mesmo! Não serve de nada procurar!

Sendo que Lisboa possui, pelo menos, uma igreja por bairro e que, muitos deles, as têm também de outras confissões que não apenas a Católica Apostólica Romana, imagine-se a quantidade de igrejas que por cá existem.
Isto já para não considerar todas aquelas bem antigas que deixaram de ser locais de culto, umas transformadas em armazéns, outras em garagens, outras ainda em condomínios. Acrescente-se ainda aquelas outras mais pequenas, chamadas de capelas, que integram locais privados como palacetes, hospitais, hotéis e, também, centros comerciais.
No entanto, e por mais voltas que possamos dar, apenas existe um “Adro da Igreja”. Com direito a placa toponímica e tudo.

Curiosamente, e ao contrário daquilo que eu imaginava, este adro não fica fronteiro à igreja. Também seria difícil, já que mesmo em frente à sua porta principal fica uma artéria importante e velha na cidade. E não sei qual a mais antiga: se a igreja se a estrada.
Assim, este adro fica “de ladecos”, contíguo à parede sul do templo e está vedado ao trânsito automóvel, excepto o funerário. (Curioso: apesar da escassez de lugares na zona, neste caso todos respeitam a proibição de estacionar no passeio! Será que têm receio de bloquear o seu próprio funeral?).
Falta referir a localização do único “Adro da Igreja” de Lisboa: Benfica, pois então!



Fotografia e texto de JCDuarte




Pode consultar informação histórica sobre o Adro da Igreja neste excelente post do nosso amigo Fausto Castelhano.






quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Paredes que Falam (3)




"Velharias"


Velharias
Fotografia de JCDuarte



"Ainda que possa aparentar o contrário, tanto estas letras aqui pintadas são originais como a fotografia foi feita agora.
E, a menos que esteja enganado, estas letras estão aqui pintadas desde 1975, ou parecido. Uma velharia para um graffity, convenhamos.

O que me leva a perguntar se o dono deste prédio, ali em Benfica, será coleccionador ou comerciante de antiguidades e estará a guardar esta pintura com intuitos de a vender por bom preço."





Fotografia e texto de JCDuarte (mais um amigo que se juntou ao "Retalhos de Bem-Fica" como redactor-fotógrafo).