Lisboa: Quetzal, 2020
«Madrid, 24 de maio [de 1881]
Eduardo Rosales - El Salón del Prado y la Iglesia de San Jerónimo, ca. 1871.
Museo Nacional del Prado
«Enquanto Madrid tiver o seu museu e o deixar ver aos estrangeiros, os estrangeiros não terão direito de pedir nenhuma outra coisa a Madrid. [...]
«Entrar no museu de Madrid é na arte um facto tão importante como é na religião o entrar no Santo Sepulcro, em Jerusalém. [...]
«Mas no museu de Madrid há alguma coisa excecional e única, tanto na arte antiga como na moderna.
«Há Velázquez e há Goya.
«Quem nunca viu Velázquez e Goya não conhece as duas mais poderosas forças artísticas que ainda produziu a natureza. [...]
«Goya é o pintor da força e Velázquez o pintor da vida.
«Tudo quanto a arte da pintura tem criado empalidece e recua para um plano secundário, ao lado da obra profunda desses dois mestres imortais.
Goya - Bruxas de Sabbath, ca 1821-1823
«Goya achou a máxima violência que pode atingir a energia de uma conceção estética. [...]
«Goya representa na pintura a mais mordente expressão que pode assumir o sarcasmo, a mais explosiva forma que pode tomar o rancor e o ódio. A sua tinta insulta, infame e dissolve. Os seis pincéis açoitam como azorragues, lanham a pele, dilaceram as carnes. [...]
Velázquez - La meninas, 1656
«Velázquez é de per si só toda uma escola, todo um museu. A sua obra prodigiosa é a história inteira de um século. [...]
«O largo raio da sua visão abrange a vida em todas as suas manifestações, e fixa para a imortalidade todos os tipos preponderantes da sociedade do seu tempo., os tipos da corte e os da Igreja, os tipos da rua e os da taberna, o claustro e o século, a nobreza e a vilanagem, o paraíso e o bordel. É um mundo inteiro o que sucessivamente desfila aos nossos olhos, perante a contemplação dos quadros de Velázquez.» (p. 43-47)