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terça-feira, outubro 20, 2015

sábado, maio 16, 2015

BLASFÉMIA?


Recepção aos peregrinos.

domingo, março 22, 2015

Queirozianos

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"Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est."
Portugal existe?

quarta-feira, dezembro 31, 2014

As Figuras do Ano: os reis eméritos de Espanha e de Portugal

He-he-he...

Ando há que tempos à espera de que essa mania de escolher a figura do ano, a cada ano passa, passe ela-própria de moda como costumam passar, mais ano, menos ano todas as figuras do ano. Complicado? Nem por isso.
Desta vez a sorte quase universal coube ao Cristiano Ronaldo. Não houve cão nem gato que não inchasse um nadinha o papo para reconhecer que o futebolista do Real Madrid era a personalidade incontornável, e tal e coisa.
Não é o meu caso, que nem sequer me dou ao trabalho de detestar o futebol. Quero que ele vá dar uma volta e que volte o mais tarde possível porque ainda me lembro do Euro 2004 e das vuvuzelas.
Não, mesmo sem gostarmos dessa mania, aqui no Portugal, Caramba! decidimos que não podíamos ficar atrás de ninguém e escolhemos, não uma, mas duas «figuras do ano». E, como somos exagerados, não hesitariamos em dizer mesmo «figurões do ano» se não temêssemos que os nossos leitores o achassem assim tipo, pejorativo. 
São eles Juan Carlos de Bourbon e Ricardo Espírito-Santo Silva Salgado. 
D. Juan Carlos, lembram-se, dizia-se que era o Rei  de Espanha, mas, em calhando era só ali de Castela e não muito mais: sabe-se lá o que pensavam dele os Catalães ou os Bascos, por exemplo. Mas adiante - D. Juan Carlos, portanto, farto da sua real pasmaceira, um dia, pimba! Deu cabo do canastro a um velho e enorme elefante que, provavelmente, gozava os seus idosos dias e uma merecida reforma algures numa reserva daquelas que, atroz eufemismo, se dizem "de vida selvagem".
Perguntarão: eufemismo porquê?
Ora, porque, por muito reservada que seja a reserva, há sempre um dia em que uma vida selvagem  lá consegue entrar com uma carabina Mannlicher nas unhas e zás! Elefante para o caraças.
Pobre rei. Se já não era muito amado, já não digo pela raínha Sofia, mas ao menos pelo povo leitor da Holla, o assassínio do velho elefante foi o golpe final.
Juan Carlos dignamente (ou não) abdicou.
Isto, como toda agente sabe, foi em Espanha.
Em Portugal também havia um rei.
D. Ricardo I, soberano disto tudo e, quem sabe se pretendente ao trono de Angola, tanto quanto é do conhecimento público, não matou o seu elefante. Aliás, tinha uma enorme manada deles, quase todos brancos. Quando já não conseguia mantê-los disciplinadamente a fazer habilidades no circo, consta que os terá largado na loja de porcelanas a que chamamos «a banca». (1)
E abdicou também.
Em Espanha havia um herdeiro, Filipe de seu nome que passou pelas Cortes e ficou bem no exame. Havia outra herdeira, mas, infelizmente, do sexo feminino. Em Espanha pode-se ser discriminada por muita coisa, por exemplo, por ser partidário da autodeterminação do seu cantãozinho natal. Ou então, por ser mulher. A pobre princesa teve menos sorte do que a cunhada D. Letícia que era plebeia e chegou onde chegou.
Mas o que é que isto interessa? Nada.
Mas, dado que Sua Majestade El-rei D. Ricardo I também abdicou, e estes lugares não costumam ficar vagos por muito tempo, seria, talvez, engraçado que o príncipe herdeiro, chame-se ele José Maria ou qualquer outra coisa, passasse ali pela Assembleia da República a receber a vénia dos deputadecos que por lá estivessem.
Ao menos ficávamos a saber a quem irão, a partir de agora, prestar vassalagem os nossos representantes.
Era fixe, não era?
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(1)  Ainda andam por lá a varrer os cacos. Mas do que já se vai percebendo, a «loja das porcelanas» afinal o que tinha por lá mais era umas canecas tipo manhosas, importadas de Singapura ou de quaisquer outros sítios desses. 

sexta-feira, agosto 08, 2014

Que fazem os bancos?

Ainda alguém me há-de explicar o que raio faz um banco.
Não estou a perguntar nem quem é que os faz, nem o que acontece aos seus balcões. Vai-se lá, assinam-se uns papéis, usam-se os cartões de crédito ou de débito e por aí fora. Lá que têm alguma utilidade, parece-me óbvio. Eles, por seu lado agarram nos nossos ordenados, numas poupanças ou outras e investem tudo isso
Mas produzem o quê? O que é que eles fazem realmente?
Reparem:
Desde miúdo que me habituei a ver o Sr. António da Ponte, carpinteiro de moínhos de profissão, pregar pregos, aplainar, serrar, brocar. Via-se as coisas que saíam das mãos dele. Uma forquilha para virar a palha dos cereais, um alqueire, uma roda de carroça reparada...
Também o Victor era carpinteiro ou marceneiro, talvez. Nunca soube o apelido que usava, mas era catequista e foi o meu padrinho de crisma. Trabalhava na serração do Pio e fez-nos, ao Zezé Abrantes, ao meu irmão e mim uma belas espadas de pau.
Ainda conservo a minha, quase, quase intacta.
Outros cavavam as vinhas, podavam, faziam as vindimas. As adegas eram uma roda viva, baldes de uva a caminho dos tonéis, mosto a fermentar, os carros de bois para trás e para diante.
E havia os tanoeiros, os ferradores, o António da Loja e o João da Carolina que tinha uma fabriquinha minúscula onde se fazia pirolitos e laranjadas...
Foi mais ou menos assim, entre a aldeia das férias e a vila dos tempos da escola, que o meu mundo começou.
Não tenho bem a noção de quando me apercebi de que A ilha de coral, O cavalo preto, e os Dois anos de férias, além dos tipógrafos da Tipografia União, por exemplo, que os imprimiam, e do Sr . Aspra onde os íamos comprar, tinham de ter um autor (1).
Quer dizer, tinha de haver alguém que, sem «fazer» os livros propriamente ditos, os fazia, não era só a Balada da Neve e Os passarinhos tão engraçados que tinham de ter sido escritos. As poesias não eram excepção.
Acho que foi um salto qualitativo nessa coisa de entender o mundo onde eu vivia.
Havia pessoas que trabalhavam, escreviam histórias fascinantes, mas depois não eram elas que faziam os livros.
Eu via que maior parte das pessoas que trabalhavam faziam «coisas»: a nossa Mãe fazia o comer, a Avó levantava-se tarde - era um nadinha preguiçosa, há que dizê-lo - mas tinha as suas tarefas: dava corda aos relógios, de comer ao gato e às galinhas, apanhava salsa e uma ou outra flor para enfeitar as jarras e depois sentava-se a tricotar camisolas ou a fazer crochet.
Os livros era diferente.
E depois comecei a reparar que as aulas e ser professor também.
Havia «coisas» que tinham de ser feitas, mas que eram como que invisíveis: podia-se ler um livro, mas as letras tinham sido lá postas pelo tipógrafo; podia-se dar uma aula, mas se nenhum de nós aprendesse coisa nenhuma, que «coisa» é que ficava «feita»?
Confesso que é uma questão que ainda me deixa algo confuso, sobretudo agora, com esta história do Banco Espírito Santo,  pela enésima vez: 
Que «coisa», mesmo invisível, é que os bancos «fazem»?
Alguém me sabe dizer?
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(1) Claro que eu sabia que o Sr. Janeiro Acabado, que tinha feito a cartilha por onde me ensinaram a ler, era o seu autor. Mas, o que isso significava tinha ficado soterrado, penso eu agora, no engraçadíssimo que era um Sr. professor de todo o respeito chamar-se assim.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Rescaldo das Eleições Autárquicas

 

 
1) Período de reflexão

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2) Cadernos eleitorais
 
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3) As lições da Democracia
 
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Conclusão:
Post coitum omne animal triste est.
Depois das eleições ainda é pior. 
 
 

sábado, maio 25, 2013

Avaros de todo o mundo

Falando com franqueza, não vale a pena sofismar: a Direita governa esta coisa a que chamamos Democracia desde o 25 de Novembro de 1975 - pelo menos.
O Mário Soares, aliado ao Carlucci, embaixador do Presidente Reagan, fez uma opção clara: as indemnizações às vítimas das nacionalizações, desocupações de herdades e empresas que tinham sido abandonadas pelos proprietários, a autorização para a reconstituição de grupos como os Melo, tudo isso, se expulsou definitivamente o Partido Comunista da área do poder, teve como contrapartida amarrar o Partido Socialista à direita mais oportunista.
Maçonarias, Opus Dei ou sabe-se lá o quê, Rotários, Associações de Ciclistas e a Mão Negra (para não falar da Cabala) foram fazendo o resto. A Direita é o «arco governativo», Regeneradores e Progressistas deste rotativismo parlamentar e governativo em que os grandes gestores e os grandes administradores vão sendo sempre os mesmos.
Obviamente, na direita nem tudo são rosas.
As diversas fações que se vão alternando no poder digladiam-se pelas razões lá dela própria, mas os golpes e contra golpes, as espadeiradas pela frente ou as punhaladas pelas costas, nunca vão demasiado fundo.
O arguido é condenado a um ano, com pena suspensa, aguarda com a pulseira eletrónica ou recorreu à espera da prescrição. No final acaba por se safar porque Direita não se esfrangalha a si própria: mesmo sem serem leais, as refregas têm árbitros.
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Para começar e porque vai a votos, tem como árbitro primeiro a opinião pública. As sondagens mudam os discursos e obrigam a disfarçar as obras. Encomendam-se entrevistas às televisões, a serem conduzidas pelos apresentadores mais mediáticos, mandam-se comunicados, em último caso muda-se um ou outro ministro.
A necessidade de se perpetuar no poder ou, pelo menos, adiar a queda e dar tempo aos apaniguados para ficarem menos mal na vida, obriga a contorções dignas do Plastic Man, o Borracha das histórias aos quadradinhos da nossa infância.
(Se não são desse tempo, não sabem o que perderam, digo eu.)
 
File:Plastic Man 17.jpg
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Mas, adiante.
Os árbitros segundos são as empresas.
Os seus administradores, que são ao mesmo tempo os Barões dos diversos partidos, porventura ex-governantes e conselheiros dos actuais ministros, estão sempre uns com os outros. Aproveitam alguns momentos de conversa à margem das reuniões dos concelhos a que pertencem, encontram-se em jantares em casa uns dos outros ou de uma Tia velha,  nos Spas ou em lugares de menos confessável natureza - mas que davam um romance ao Stieg Larson se ele não tivesse já falecido. E nesses encontros, as coisas vão sendo combinadas, distribuídas, os lugares tenentes e os testa-de-ferro recompensados.
A Direita partilha. A Esquerda não.
A Direita recebe o pão e dá as côdeas ao capataz que lho trouxe.
Mas partilha.
E mantem presa à esperança toda uma coorte de invejosos úteis a quem as côdeas entretêm enquanto esperam pelo jantar.
Umas vezes a comida vem.
Outras não.
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O poder e o dinheiro andam, na Direita, demasiado unidos, entrelaçados, no bolso um do outro, como se o conteúdo contivesse o continente que contem o conteúdo que contem...
E é assim que o dinheiro, a Banca e as grandes sociedades financeiras acabam por ser o último dos árbitros. Se uma coisa não dá dinheiro, se não dá o poder que dá o dinheiro, a espiral está em perigo, alto lá! Os meninos portam-se bem, se não, cartão vermelho e rua! Saem de jogo. 
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Na Esquerda não.
Primeiro porque não há dinheiro. Ou vai havendo, mas nunca tanto que possa ser partilhado. As estruturas partidárias ou sindicais, as acções de propaganda, os eventos consomem-no todo e ainda falta. Os militantes, em vez de receberem, contribuem.
O que a Esquerda tem é um pouco de poder, o poder que lhe conferem aqueles que não querem ou não podem aceder ao dinheiro: alguma influência eleitoral, meia dúzia de lugares aqui ou ali, cada vez menos, na Administração Pública, no Parlamento, em Escolas ou na Universidade, em Sindicatos.
E torna-se avara.
Cada capelinha, cada grupo de amigos ou tão só de cúmplices, intriga, elege e faz-se eleger, representa e abarbata o que pode desse poder que é, no mais das vezes, apenas o de negar, de parar, de encravar e não deixar andar para a frente. Como o do funcionário no guichet que nada mais pode senão servir de escolho aos mareantes.
Aos descontentes nada mais resta.
Separam-se, sectarizam-se e formam grupúsculos. Levam consigo os pedaços do poder que conseguiram amealhar e por lá ficam, seja onde for que foram ter. E divisionistas são sempre os outros.
Voltar a unir-se significaria partilhar o bocadinho de poder que se tem, juntá-lo ao bocadinho de outros, perder agora para participar num poder maior, mais amplo, mais eficiente, e quem sabe, ganhar no fim.
Avaros de todo o mundo, uni-vos!

quinta-feira, abril 11, 2013

O Gato e o Rato

INQUIETAÇÃO
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"Credibilidade, credibilidade,
é só credibilidade, credibilidade...
(há sempre qualquer coisa que está para acontecer,
qualquer coisa que eu devia perceber)
Credibilidade, credibilidade...
Porquê, não sei,
Porquê, não sei.
Porquê, não sei ainda...

segunda-feira, março 18, 2013

quarta-feira, março 06, 2013

Beppe Grillo e a água do banho

Há muito tempo, confesso para minha grande vergonha, que não seguia o blog do Beppe Grillo. 
O meu italiano não é grande coisa, por isso costumava preferir a edição em inglês onde lia frequentemente comentários algo contundentes às políticas europeias. Talvez porque nos idos de 2006, 2007, a Crise, esta malfadada Crise, era ainda uma ameaça longínqua, e porque tínhamos aqui mais ao pé coisas com que nos preocupar, uma direita cada vez mais agressiva e um partido que se dizia socialista e cada vez mais colado às mesmas políticas, esqueci-me do Beppe Grillo. 
A sério: esqueci-me.
Erros meus, má fortuna, e, suponho, infortúnio de muita gente.
Quando voltámos a ouvir falar dele, foi em grande. 
A Itália resolvera correr com o seu eurocrata de serviço - nós ainda não conseguimos livrar-nos dos nossos - e o Movimento Cinco Estrelas (raio de nome!), acusado de populismo por todos os lados, recusava-se a emprestar os seus 25% de votos às soluções tipo «mais do mesmo».
Beppe Grillo, que já era o «comediante» para toda a gente, sobretudo para quem nunca o tinha lido, foi promovido: passou a ser o «palhaço».  
E entretanto toda a gente se esquecia de que o movimento M5S, tem muito mais gente e que não é assim tão certo que sejam todos tão apalhaçados como se gosta de pensar que é o seu chefe: reuniram-se, elegeram por braço no ar os seus lideres no parlamento e no senado e declararam-nos cargos rotativos.
Será populismo, não tenho a certeza. 
O populismo é, diz o meu dicionário, um «movimento protagonizado por um chefe carismático e paternalista que apela à simpatia das bases populares». 
Quanto a «carisma», estamos conversados: estou farto dos moscas-mortas tipo Cavaco Silva, Vítor Gaspar ou Miguel Relvas. Prefiro as pessoas com o tal carisma - seja isso o que for - aos velhacos, aos sonsos, aos que dissimulam a sua mesquinhez e as suas ambiçõezinhas medíocres.
E quanto ao «paternalismo», francamente, qual é o político que se pode gabar de nunca a ele ter recorrido? O Gaspar, quando se põe a dizer que somos «o melhor povo do mundo»? O Soares? O Barroso? Os banqueiros, como o o João Salgueiro quando nos manda limpar as matas se perdermos o emprego?
Mas populista ou não, o M5S tem lá imensa gente muito, muito jovem. 
E a «revolução», escrevi eu próprio em 75, a um ano do 25 de Abril, «é quando os jovens enxotam os velhos e realizam, com a doce inconsciência de que são capazes, as coisas impossíveis». 
Quem sabe?
A esperança é como o bebé: não deve ser deitado fora com a água suja das políticas profissionais, pois não?

terça-feira, fevereiro 19, 2013

O Número de contribuinte, o Topless e os Buracos negros


Calhou. Ou veio a propósito, tanto faz.
Eu sei que não é bonito falarmos assim de nós mesmos, mas as constipações, sobretudo aquelas que nos aprisionam num aquário de infelicidade e de mal estar, são propícias a estas recapitulações. E por estes dias lacrimejantes e de nariz entupido, a estante do corredor sempre nos vai fornecendo um ou outro livro, alternativa aos jornais da véspera onde o Pacheco Pereira nos adverte de que "num computador do fisco está toda a nossa vida já inventariada e cruzada através do número do contribuinte e dos poderes discricionários da Autoridade Tributária". E acrescenta que esse "verdadeiro número único dos portugueses [...] permite todos os cruzamentos de dados e uma violação sem limites da privacidade de cada cidadão" (Público de .16 de Fev.)
E de facto, qualquer Pide (ou pior do que isso, qualquer chefe de segurança de um Banco), subornando um funcionário ou, as leis dão para tudo, tendo acesso legal, pode saber que livros compro ali na Bertrand, o que costumo comer ao pequeno almoço e que prendas ofereço à minha amante.
É, como nota Pacheco Pereira, a realização do pesadelo Orwelliano retratado em 1984. E é curioso pensar que a personagem do Big Brother e a sociedade a que ele pertencia se inspiravam sobretudo no modelo soviético. Mas o pesadelo tornou-se realidade, pelo contrário, no mundo que nos diziam livre, sob o mais absoluto regime liberal de que há memória.
Irónico, não é?
Sentimo-nos como se nos tivessem roubado as próprias palavras: liberal, para não irmos mais longe, quis sempre dizer «generoso», «tolerante», «de espírito aberto»; era uma palavra que trazia implícita a ideia de liberdade, de oposição à tirania e ao poder absoluto dos Senhores Dons Miguéis e dos seus Salazares de serviço.
Agora, pelos vistos, traz consigo apenas a ideia de abandono: desenrasca-te, pá. Emigra! Rebenta para aí. Se fores demasiado pobre, anda cá que te damos uma sopa e agradece que já vais com sorte.
Nós que nos julgávamos homens livres e orgulhosos lá iremos, humildes, de boné na mão e os olhos baixos, à «sopa do Sidónio». 
Luis Spúlveda, no livro que a constipação me fez tirar da estante, narra que os que voltavam ao Chile post Pinochet, vindos do exílio, "andavam desorientados, a cidade não era a mesma, procuravam os seus bares e encontravam lojas de chineses, na farmácia da sua infância havia um bar de topless, a velha escola era agora um concessionário de automóveis, o cinema do bairro uma igreja dos irmãos pentecostais." (A sombra do que fomos, 2009, Porto Editora, p. 87)
A nós, mesmo sem sairmos de cá, mudaram-nos o país sem nos perguntarem nada. Em Lisboa, o Monumental, ali ao Saldanha foi abaixo, o Europa em Campo de Ourique também, o velho Império das sessões clássicas está nas mãos de uns outros irmãos que dão pelo nome de IURD.
Mas não foram só os cinemas: os cafés, os velhos e grandes cafés onde nos reuníamos, onde estudávamos, trocávamos livros e discutíamos sem fim, também deram de frosques: o Montecarlo, por exemplo, ou o Vává. Ou então, tranformaram-se em restaurantecos mixorucas, uma sopa, bica e nata ao balcão e fecham todos lá pelas dez horas quando tens sorte. Em compensação, vá lá que nem tudo é mau, barzinhos iam abrindo por tudo o que é lado.
E, de um dia para outro, zás! A cidade cobriu-se de parquímetros (que nós pagamos, mas que dão prejuízo) sem que o estacionamento tenha melhorado grande coisa e os táxis, esses mudaram de cor por causa de uma tal CEE de que éramos bons alunos.
Mas houve mais.
Lembro-me, por exemplo, do dia em que, lá no emprego, nos começaram a exigir que andássemos com um cartão plastificado pendurado ao pescoço a dizer que nós éramos quem toda a gente sabia que nós éramos, excepto uns rapazes supostamente «seguranças», contratados a peso de oiro para substituir os velhos contínuos que faziam de porteiros e conheciam toda a gente.
Tal como no Chile de Pinochet e de Kissinger, a nossa vida "encheu-se de buracos negros que surgem em qualquer parte; alguém diz luz e é engolido pelas sombras..." Ibid, p. 62 (com a adaptação dos tempos verbais).
Claro, tudo isto quer dizer que envelhecemos, que o tempo - um dos mais implacáveis de todos os buracos negros - foi comendo os nossos amanhãs que cantavam, ó sim, se cantavam!
E até o Fidel Castro, quando aparece na Televisão, ou quando o vemos numa fotografia, tem o ar de um velho náufrago, encalhado na praia do comunismo - ligeiramente primário, é certo, mas, que alternativa tinha ele face ao poder das máfias de Chicago e do exército americano?
A guarda morre, mas não se rende, não é?
É o que dizem.
Mas que remédio tem ela senão poisar a arma de vez em quando e assoar o nariz congestionado pela constipação?
 
 

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

segunda-feira, dezembro 31, 2012

O Gato e o Rato (fábula interminável)

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O Portugal, Caramba! deseja-vos a todos - excepto ao governo, claro - um Ano Novo espetacular.