As redes descansam no cais. Vieram prenhas de peixe
brilhante, reluzente nas suas escamas de prata, ouro para os pescadores, pois é
peixe que lhes põe o pão na mesa, que os veste e torna possível dar aos seus
filhos uma instrução mais cuidada do que aquela que tiveram.
Eles correram descalços pelos areais das praias na procura
de búzios e conchas para brincar; iam à
maré para trazer para casa lapas que serviam de almoço com uma mão cheia de
figos torrados. Brincaram ao cavalinho corrido e os joelhos tinham feridas
constantes que a água salgada desinfetava mas não curava. Passavam frio no
inverno e um prato de papas de milho era, muitas vezes, o substituto do peixe
que não vinha nas redes, nos dias e dias
de vendaval em que o mar zangado, vá-se lá saber porquê, afastava o peixe para
outros mares e o pão faltava na mesa .
Hoje, os seus filhos estudam para doutores, calçam ténis de
marca e não querem saber do mar. Não sabem o que é ir à maré mas sabem
equilibrar-se numa prancha de surf e deslizar sobre as vagas até à praia. Não
sabem o que é alar a rede mas sabem navegar na net. Não saltam ao cavalinho
corrido mas saltam de parapente das altas arribas das nossas praias. É isso e
muito mais o que as redes que descansam no cais lhes proporcionam quando vêm
prenhas de peixe.
Elas também precisam de sol.
foto e texto de Benó