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segunda-feira, 21 de março de 2016

Redes




As redes descansam no cais. Vieram prenhas de peixe brilhante, reluzente nas suas escamas de prata, ouro para os pescadores, pois é peixe que lhes põe o pão na mesa, que os veste e torna possível dar aos seus filhos uma instrução mais cuidada do que aquela que tiveram.

Eles correram descalços pelos areais das praias na procura de búzios e conchas para  brincar; iam à maré para trazer para casa lapas que serviam de almoço com uma mão cheia de figos torrados. Brincaram ao cavalinho corrido e os joelhos tinham feridas constantes que a água salgada desinfetava mas não curava. Passavam frio no inverno e um prato de papas de milho era, muitas vezes, o substituto do peixe que não vinha  nas redes, nos dias e dias de vendaval em que o mar zangado, vá-se lá saber porquê, afastava o peixe para outros mares e o pão faltava na mesa .

Hoje, os seus filhos estudam para doutores, calçam ténis de marca e não querem saber do mar. Não sabem o que é ir à maré mas sabem equilibrar-se numa prancha de surf e deslizar sobre as vagas até à praia. Não sabem o que é alar a rede mas sabem navegar na net. Não saltam ao cavalinho corrido mas saltam de parapente das altas arribas das nossas praias. É isso e muito mais o que as redes que descansam no cais lhes proporcionam quando vêm prenhas de peixe.
Elas também precisam de sol.
 
foto e texto de Benó